Canteiros e cantinhos

Data 08/11/2010 01:06:42 | Tópico: Poemas

Às farpas, a minha sentida homenagem:
Sem elas não se trespassava
Nem se conheciam fronteiras
Hoje desprezadas.

Às rosas, o meu sincero nojo:
A textura dos seus espinhos
É o que de melhor se tira
Da mensagem perene que jorra.

Aos canteiros, a minha duvidosa condescendência:
Não é questão de obediência esta coisa
De achar que tudo o que de lá sai
É cheiroso e prestável,
É mesmo convicção que até de lá sair,
E mistura de algo que não existe.

Ao amor, cumprimentos!

E depois, aquelas coisas...
Velhotes sentados à beira da estrada,
Cestas de verga,
Caminhos e cabras teimosas!
Não digam que deturpo a vida,
Pois o que digo, desminto:
Do amor saíram canteiros,
Cuja falta de tratamento inspirou rosas
A trespassar as mais dolorosas carcaças.

Não digo que diga a verdade dita aqui,
Desmentida depois para não confirmar.
Mas que dá que pensar, a cesta de verga
Com uns furos aleatórios...
Dá que pensar.
Não falo em pensamento fútil
Daquele que dizemos antes de pensar em dizer;
Seria quase útil que desses
Nascessem canteiros vergados pelo caminho...

Falo apenas em coisas curtas,
Cuja brevidade se valoriza no leito de morte.
Às coisas longas, deixo canteiros,
Deixo farpas,
Deixo rosas,
Pouco mais que cumprimentos
Vagos, inúteis, necessários.



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