INCERTEZAS ESPERTAS DA VISÃO

Data 08/11/2010 19:23:36 | Tópico: Poemas

OBS: O texto me veio algo assim, inteiro, de uma forma um tanto inusitada e achei interessante postar.
INCERTEZAS ESPERTAS DA VISÃO

O que te orienta é o cordial deleite do refute...
Não há furor de paz na quintessência
De tua arquitetada essência embasada e planejada,
De tua meticulosa e encimada altitude...

Nenhuma complacência ao amor, ao ódio, à dor,
À carência... Só o temor destemido da inocência, da indecência,
Do tudo a ter de convencer em tua lépida mente
Da sensação, para ti, confusa, desta tal indolência
Que toma formas nebulosas num teu céu plúmbeo nubente

Convence-te a clarividência do ambicionado esplendor?
Não vigora, nesta cedente incumbência, um bem-dado chute?
És um bicudo flanando no espaço sem teres um bico de beijador...

Por que não te soldas na intenção visceral da prosa
E moldas-te, sem glosa, nesta imensa e enigmática rosa,
No rubro matiz do tema humano que é ser a ti mesmo,
Nas reverberações serenas das emoções que tu ensejas,
Mas que, vendo, não percebes, conquanto bem prevejas?

As palavras, de servil ponderação exata
Saem presas, circunspectas, anêmicas...
Endêmica, feneces na arguta ponderação sistêmica
Do sim e do não... A regrada certeza negra da dúvida acesa
Nas incertezas espertas da visão de interposta clareza...

O que é a reflexão mais do que refutar um erro
Que bem pode ser, do sentimento, justo o elemento
Poderoso do centro furioso de todo o cerne de tua desrazão,
Advindo do óbvio fim em consenso ao claudicante e trôpego começo?

Vai, desimpede-te...
Desenterra-te do enterro do jazigo beneplácito
Desenrola-te, tácito, sem calma desse novelo estático do consenso
Enredado pelos supostos engates apáticos do teu intelecto apto

Vejas, sem fitares os reflexos no espelho da razão
De que pode haver no não pensar um pleno e integral sentido
Que na própria retidão da razão
Há, ao mesmo tempo, a semente d’um flagelo, um lapidar descuido...

Um equívoco lógico imenso pode revestir-se
Do acerto pleno da emoção, em sua insidiosa e eterna finitude,
Em seu essencial sentido rude de nutrir-se
Do que a vida, com a devoção do estares aqui, te permite...

E aí, só então aí, serás inteiramente capaz
De versares, pelos grotões do ar, as grandes e imensas verdades,
Mesmo quando mentires nos poemas entoados por tua alma, ora infeliz...



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