Eu conheço a pureza do ar E vivo fincado com os pés no chão
Eu já tive o prazer de viajar Mas sempre há um doloroso adeus
Eu já deixei de me vingar E sem querer fui vingado
Eu já quis abraçar a mudar o mundo E inerte, fiquei parado
Eu nunca de tudo desisti E mudando, fiquei mudado
Contra a injustiça me revoltei Mas conformado, atuei
Sem ver compreendi o visível De olhos fechados vi o real
E sabendo da realidade, coitado Optei, vez por outra, pela ilusão
Sentindo o hálito sagrado Profanei a mim mesmo
Levantando o cálice de ambrosia Certa vez, não o levei aos lábios
Luz tão forte me alcançou e sem querer Dei-lhe as costas e vi minha sombra
Quis ser eu mesmo, eternamente E de mim mesmo fui afastado
Sabendo tudo que sei Ignorei
Por quê?
Por que velejar e não levantar as velas? Por que voar sem abrir as asas? Por que lutar sem morrer? Por que nadar sem mergulhar? Por que viver sem ser?
Eu tive tudo e tudo o tenho Eu conquistei o direito de me ser À dama que a me aguardar Às noites destece seu tecido Eu lhe digo, Não desista, já estou a chegar
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