VOU PARA SÃO PAULO DE TREM

Data 15/11/2010 18:10:21 | Tópico: Poemas


Vou para São Paulo de trem
E o rumo do meu ser é ignorado

Vou espremido, ao banco pardo,
Mal e porcamente sentado
E levo nada além d'um olhar aquém...
Ah... Exceto o livro amarelado do Pessoa
Que leio sem jeito ao ritmo sacolejado,
De modo messiânico, à toa,
Concomitante ao desconfiado observar
Das gentes humildes ao meu derredor...

Cá estou eu... Indo para São Paulo de trem...
Vago na bruma cinza deste vagão vago
Porque, rumo certo, quem aqui o tem?
Rabisco este texto no dorso velho do livro
Conspurco o branco rasgado da obra do gênio
Mas eu vou de trem, num deserto povoado
Acompanhado do olhar meu,
Do olhar de todos, do olhar de ninguém...

Pessoa haveria de entender-me, sem me recriminar
De que o rumo do meu ser é mesmo ignorado
E que não posso esperar aqui, apenas sentado
Sem ao menos sonhar que uma poesia
Entranhada neste vagão solitário
Viaje comigo também...



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