
O ENCONTRO COM DRUMMOND QUE NÃO HOUVE
Data 19/11/2010 14:31:29 | Tópico: Poemas
| Por ocasião da centésima edição de O Encontro Marcado, o melhor romance de geração que li, o escritor Fernando Sabino veio a São Paulo autografá-lo, na Bienal do Livro, que ainda era honesta. Ele estava hospedado com a mulher, a linda Lígia, no hotel Bourbon, no centro velho da cidade. Recebeu-me no bar do hotel com um generoso litro de uísque, logo cedo. Ele já havia tomado várias doses. Jornalista também, tinha trabalhado na Manchete. Daí que a entrevista não foi bem uma entrevista, mas mais uma conversa de quem exerce o mesmo ofício. Boa conversa, Sabino, bom mineiro, exige que eu almoce com ele, depois de termos secado o litro de uísque. Já estávamos os dois bêbados, mas Lígia, educadíssima, além de linda, fingia não perceber. Nem mesmo quando à nossa mesa veio uma garrafa de bom tinto solicitada pelo anfitrião. Drummond, mineiríssimo, e amigo de Sabino veio em pauta. Sabino havia gostado dos poemas de A Mímica do Vento, meu primeiro livro. E exigiu que eu procurasse Drummond. Deu-me o telefone do poeta. - Liga pro Carlos, diga que fui eu que mandei. Tímido desde o berço, liguei. O próprio poeta atendeu e eu não disse nada. Tentei de novo. Ele atendeu. Mas eu também não quis falar. Quinze dias depois, o poeta Carlos Drummond de Andrade morria, sem que eu ao menos lhe pudesse dizer olá.
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júlio
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