O homem que fazia chover

Data 22/11/2010 20:12:55 | Tópico: Poemas

Porque havia sírios e cedros e chuva sem ti.
Porque a cinza do céu e o tumulto dos pássaros me inventaram o só.
Porque tudo era escravo do futuro defunto em adeus…
Porque o mundo partido aos bocados tinha horas do ontem onde existias.
Lembrei-me do homem que fazia chover.
Musical e passado um harmónio vadio vagueava os Outonos.
Hipnotizado ataúde que moravas eterna no nojo da terra abaixo dos pés.
Crepita de crentes, vizinhas e gente que não conheci…
Com os seus sentimentos ao meu abandono com saudades de ti.
Então vaporou do tempo um tempo sem tempo de nós…
Um harmónio de frio, tempestades e rios correntes na voz.
Depois tremente, doente, invisível, estacou sem corpo…
Meu olhar no vazio, que sentiu tal frio de me sentir morto.
Perdi-me então por ali…
Num tempo de lençóis brancos que cheirava o verão…
Agua salgada e lágrimas de sol pela calçada.
E á frente toda a gente…que sente…
O tonto da tasca, o Tadeu tanoeiro e o sacristão…
O padre, os amigos, o pai sentido, a Conceição.
O Zé a Celeste, o tempo agreste no dia chorar…
Foram todos levar-te, aonde me foste abandonar.
Cravos, crisântemos, arranjos com faixas abraçadas nos lírios…
Olhei para o ar como se fosses pairar por cima dos sírios…
Depois melodia, que fiquei para ultimo no teu ultimo dia.
A harmónica e o homem que fazia chover… e chovia.
Emperrou á entrada do campo num calar sepulcral.
Tu que me amavas e acreditavas e por sinal…
Eu descrente…creio que deus…foi ao teu funeral.

Mãe.


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