 
  
    	Sobre a Calçada, um Abraço e...
    	Data 23/11/2010 07:47:57 | Tópico: Prosas Poéticas
 
  |  Os passos nesta calçada que com os meus fazem coro, de quem são, de quem? Caminho e caminho, sem atinar com sentidos, sem dar por quem comigo vai por esta ampla calçada... Estou sem rumo... mas vamos lá...
  Enquanto a tarde trota ligeira, e um enterro sobe a Rua do Rosário, as maritacas estridentes baixam  o seu voo sobre a minha cabeça, confundem-me, e cortam-me a voz:  de quem são... de quem eram...
  Vou te contar...  o fio da meada de minha vida vara as décadas, estende-se  até o Desemboque, e lá se perde numa fazenda de 22 janelas... Vêm de lá, aqueles passos, será?
  Contaram-me tantas histórias,  tantas histórias de mim, em tempos que nem aqui eu estava, que hoje, eu até acho pesado o ter nascido em Minas, e ter andado, ainda cedo na vida, por aquela calçada, esta de agora que eu transtemporalizei! Sim, esta mesma, com suas placas de arenito; rejuntadas pedras de beleza despojada,  singeleza que parece amaciar os passos...
  Olha só, minha bela, é tão comovente, tão evocativa essa lembrança que reparto contigo,  que eu até me esqueço daqueles passos, [oras... o que são passos de fantasmas...] penso em outro compasso, e sobre a maior das pedras desta calçada, eu te dou um abraço,  um beijo, e num rodopio, olho os teus pés no ar...  sobre a calçada!
  Eu não te disse? Perdi o rumo... Tudo isto, só pra te dar  este abraço, este beijo? Com efeito, Carlos  — onde já se viu, tanta timidez?! Fica desde já pactuado: não vale te apaixonares por mim, pois eu não tenho futuro,  eu descreio de futuros... 
  [Penas do Desterro, 25 de maio de 2010
 
  |  
  |