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 Homenagem a António GedeãoData 24/11/2010 12:01:56 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
 
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 Sabia ele muito bem
 Que “o sonho comanda a vida”…
 Não há chegada ou partida
 A quem deseja ir além.
 
 Poeta, és “ribeiro manso”
 Sem urgência de passar…
 Vá o sonho seguindo a par
 Dando à vida o seu balanço.
 
 Meu sonho desde criança
 Tem arco-íris abstractos…
 Não venha nenhum Pilatos
 Derrotar esta esperança.
 
 24.11.2010, Henricabilio
 
 *-*-*-*-*
 A 24 de Novembro de 1906 nascia em Lisboa Rómulo de Carvalho, licenciado a Ciências Físico-Químicas em 1931.
 Apenas aos 50 anos surge o seu trabalho poético a público com o livro “Movimento Perpétuo”, assinado com o pseudónimo de António Gedeão.
 Até 1990 continua a publicar e não apenas poesia, mas também livros de investigação e divulgação científica.
 Alguns dos seus poemas ganharam merecida fama ao serem musicados por renomados cantores e compositores portugueses.
 Destaque para “Pedra Filosofal”, “Lágrima de Preta”, “Fala do Homem Nascido”, “Poema da Malta das Naus”, “Estrela da Manhã”, “Poema para Galileu”, etc
 Homem de muito saber – poeta, professor, historiador – viveu em relativo anonimato. Faleceu em 19 de Fevereiro de 1997, aos 90 anos.
 
 Eis o seu poema emblemático – Pedra Filosofal – que pode ouvir na voz de Manuel Freire neste link:
 
 http://www.youtube.com/watch?v=DuGbpW-pGYg&feature=related
 
 
 Pedra Filosofal:
 
 Eles não sabem que o sonho
 é uma constante da vida
 tão concreta e definida
 como outra coisa qualquer,
 como esta pedra cinzenta
 em que me sento e descanso,
 como este ribeiro manso
 em serenos sobressaltos,
 como estes pinheiros altos
 que em verde e oiro se agitam,
 como estas aves que gritam
 em bebedeiras de azul.
 
 Eles não sabem que o sonho
 é vinho, é espuma, é fermento,
 bichinho álacre e sedento,
 de focinho pontiagudo,
 que fossa através de tudo
 num perpétuo movimento.
 
 Eles não sabem que o sonho
 é tela, é cor, é pincel,
 base, fuste, capitel,
 arco em ogiva, vitral,
 pináculo de catedral,
 contraponto, sinfonia,
 máscara grega, magia,
 que é retorta de alquimista,
 mapa do mundo distante,
 rosa-dos-ventos, Infante,
 caravela quinhentista,
 que é Cabo da Boa Esperança,
 ouro, canela, marfim,
 florete de espadachim,
 bastidor, passo de dança,
 Colombina e Arlequim,
 passarola voadora,
 pára-raios, locomotiva,
 barco de proa festiva,
 alto-forno, geradora,
 cisão do átomo, radar,
 ultra-som, televisão,
 desembarque em foguetão
 na superfície lunar.
 
 Eles não sabem, nem sonham,
 que o sonho comanda a vida.
 Que sempre que um homem sonha
 o mundo pula e avança
 como bola colorida
 entre as mãos de uma criança.
 
 In “Movimento Perpétuo”, António Gedeão
 
 
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