 
  
    	[A Furna da Palavra]
    	Data 25/11/2010 12:07:43 | Tópico: Poemas
 
  |   Enfurno-me, quieto... penso, mas em círculos infernais... Em horas assim, desconfio de tudo que eu disse, e do que ainda vou dizer!
  Esqueço-me de que sou um “ponto único de cruzamento dos aconteceres do mundo”, e num balanço de resignificação, surge esse impulso de anular-me em comparações sem nexo!
  A furna da palavra... A quietude necessária à contemplação de entornos, à rumorosa escutação profunda, ao apreender daquilo que,  em si mesmo, seja  mais que o cascalho, mais que a impureza [do olhar?]!
  A furna — o apurar, num crisol, das sensações? Fosse isto possível... E se o que de mim tem valor estiver justamente na ganga que eu tento lançar fora?! Pergunta inútil — sem resposta!
  Ah, nada mais vão, mais fútil que esta empresa, esta luta para escapar da furna, e enfim, ascender ao "estado de poesia"!
  Quem sabe uma brecha... Exatamente esta, por onde,  do fundo escuro da furna, vazaram estas palavras?
  [Em tempo — outra definição: — escrevo para não dizer Nada, escrevo para aprender a morrer!]
  [Penas do Desterro, 25 de novembro de 2010]
 
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