Tudo por Nada:
Bastasse o queimor dos beijos Das tantas deslumbrantes noites As plangentes coxas enroscadas As juras descompensadas As costas em fogo, marcadas Os profundos rasgos das unhas
Bastasse conseguir transmitir Por sons de perfeitas palavras Aquilo que ninguém Que conhece que ama Em verdade, conseguiria Nem encarnado no próprio amado...
Bastasse escrever maravilhas Trovar aos recônditos do infinito Divinizar o corpo, o rosto, o jeito Os olhares tesos, canhestros Encarar esganado alma e carne Como fosse o melhor confeito...
Bastasse alinhavar-se A um monumental cordel O que o outro mais deseja... Aguardar ordens a cumprir Buscar buquês, laçar sóis Convencer a lua a sorrir
Bastasse jurar, renegar Conjugar o verbo amar E todos seus sinônimos Cuidar, ninar, alimentar Como uma devotada mãe De afeição imensurável Por sua isolada cria...
Tudo isso bastaria Se um pouco houvesse Do entender do outro De real empatia De sincero carinho Ininterrupto, resoluto? Pouco adiantaria...
Ao amor nada basta. Nada o justifica ou desmistifica Nenhuma palavra o explica Nenhum gesto o equipara Nenhum sacrifício o salva O amor é o tudo por nada
|