DE HILDA HILST

Data 26/11/2010 07:55:15 | Tópico: Poemas

"Quero brincar meus amigos
De ver beleza nas coisas."

Hilda Hilst
para sandra fonseca, que escreveu sobre ela,dedico.


A última vez que vi a poeta Hilda Hilst, ela estava feliz. No meio dos seus cães - eram quase cem-, ela estava feliz. Recebeu-me pela manhã, como de hábito, com uma taça de vinho do Porto e cigarro longo entre os dedos. Comentou meu poema Intróito e me pediu desculpas por não ter ido ao lançamento do meu Liturgia dos Náufragos, por problemas de saúde.
Lembro-me de que a última vez que fui visitá-la em sua Casa do Sol, Hilda já estava deprimida. Não falava mais com ninguém de imprensa. Mas comigo falou.
Gostava de mim como a um filho. A entrevista, eu pressentia, seria a última. O sensível repórter fotográfico Léo Feltran que me acompanhava pediu que tirássemos uma foto juntos na janela do seu casarão. E a fizemos,à revelia dela, que dizia que eu era um menino muito bonito e não merecia sair ao lado de uma velha. Hilda foi gênio. Em tudo o que escreveu.Até na pornografia teve elegância.
Quando nos ligaram, dizendo que ela estava no fim, tomamos um ônibus para Campinas, a escritora Lygia Fagundes Telles e eu. Viajamos as duas horas, que separam São Paulo de Campinas, lado a lado, sem dizer palavra.Já sabíamos o pior. E o pior já havia ocorrido. A grande escritora estava morta.

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júlio


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