Ode a Fernando Pessoa

Data 30/11/2010 18:25:33 | Tópico: Homenagens

[Antes o voo da ave,
que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal,
que fica lembrada no chão.]
"Fernando Pessoa" - falecido a 30.11.1935


Ode a Fernando Pessoa:

Homem dos mil rostos, rigorosamente delirante!...
Poeta revolucionário, resignado fatalista!...
Homem, deste e doutros mundos, oculto atrás de inúmeras máscaras!...
Poeta intemporal, de eterna genialidade dramática!...
Homem insatisfeito, um inadaptado às realidades humanas!...
Poeta modernista, em busca dos elos perdidos da vida!

Viveste duas realidades distintas em obstinado desencanto!...
Adoptaste a língua portuguesa por melhor exprimir os teus sentimentos!...
Descortinaste as várias personalidades da tua Pessoa e, com elas, abriste uma nova janela para o Mundo:
- Foste Alberto Caeiro, filósofo das coisas simples da vida, numa perspectiva espontânea e positivista, mas sem falsos materialismos;
- Foste Álvaro de Campos, outro solitário, mas este de grande impetuosidade e de emoções fortes e intransigentes;
- Foste Ricardo Reis, o homem das odes tristes e resignadas e foste muitas outras personalidades na tua imaginação delirante, mas todas elas, seres sentidos, como se tivessem corpos e almas próprios.

Em vida conquistaste apenas efémeras vitórias!...
Mas, além de poeta, eras exímio actor e, apesar do ar austero e de muita timidez, guardavas para ti um sorriso irónico para lançar a este Mundo de vãs glórias:
- Um sorriso dos desencontros provocados;
- Um sorriso dos sonhos desencantados;
- Um rir, apenas por rir, talvez para não chorar…

Ah, poeta impiedosamente lúcido, iluminado pela áurea da genialidade, fracassaste na vida, dita racional, sendo dela um conformado subalterno…
Para ti, apenas fazia sentido a existência poética.
Os desejos materialistas faziam parte de um qualquer sonho mau – que outros desejaram – como se tudo não passasse de uma miragem patética.

Conquistaste a imortalidade simplesmente vendo,
descobrindo verdades que se tentam – desde sempre – ocultar dos sentidos, mas quando toda a névoa se desvaneceu, fez-se Luz em ti, pois nada neste mundo e nesta vida, deve ter a ousadia de perturbar o destino do ser.

E assim desnudado o Homem,
Nasceu um poeta para a Eternidade!


04/7/2005, Henricabilio


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