
My Lady Blues
Data 01/12/2010 22:28:46 | Tópico: Poemas
| O teu olhar é uma auto-estrada que acaba no meu horizonte… Ao fim de mim guardo o tudo de tudo que em ti me nasceu. Resumir-te a seres minha era o nada de tanto que és. E conhecer-te inteira era um peito vazio que encerraria o passado. Aqui te guardo… Junto ao perfume das cartas que trocamos sentidas. Tu és o que eram os sonhos… Os livros e os filmes sentados no chão, o kerouak e eu numa poeira de música ou as rosas vomitadas na garganta do gowan e tu a dançar… Os borrões a girarem no pavilhão do “Dramático” E o Peter Gabriel a cantar para nós… “Climbing up sollsbury hill I could see the city light”… E mundo tinha princípio, e o fim... Era uma fronteira que transbordava de esperança na seda de um acorde dos Stones. Confesso que és isto e não terminas em ti… Como chuva… E tu na faculdade a cativares revoluções. Eu na alameda depois do trabalho, encharcado. E a greve, as palavras de ordem, os teus Gandhi´s, os Guevaras com o meu amor nos tempos de cólera. Amava-te, amo-te assim sem mais nem porquês, mesmo que não te achasse parecida com Audrey Hepburn, mesmo que o teu Guevara não fosse o meu Lenine e ainda que insistisses em ser do Benfica só para me gozares, amava-te e amo-te como tempo que foi. Os sábados na feira da ladra depois do “bar do loucos”, do “Gingão”… Eras o sol numa cidade de fado...eras o meu "blues". E nós ali, a ver o dia germinar no Jardim S.Pedro de Alcântara… A Fecundar gemidos numa pensão da baixa, trémulos a enrolar lençóis no rubor dos lábios que se tocavam em orgasmo… amo-te…e depois? E depois… O adeus...sem armas e sem Hemingway. Quando fui. E pensavas que era para sempre dorida de lágrimas, a sofrermos... Tanto... Mas até aí eu te amava. Sabes que pareciam socos no estômago? Eu e tu numa cena quase "felliniana" a adivinhar as certezas, porque os cem anos de solidão estavam na tua casa, na estante do teu quarto, no teu coração… Voltei para lê-lo, para te ler, para te ver, para dançar a “valsinha”, depois da “opera do malandro”… Achas que conseguia viver sem o Buarque, sem o Djavan a pintar de lilás, a estação do rossio sem os vinis, sem o Satre, sem os camaradas, sem os Velvet Underground... sem ti magic woman? Voltei num eléctrico chamado desejo e deixei o lodo que de mim restava, no cais das colunas. Agora o abraço sabe a tudo o que fomos e é enorme como o passado. Sei que és isto e não terminas em ti. Hoje consigo ver nos teus olhos, tudo… Porque o teu olhar é uma auto-estrada que acaba no meu horizonte... Ao fim de mim, guardo o tudo de tudo que em ti me nasceu… Amor.
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