
MEUS SONETOS VOLUME 042
Data 02/12/2010 08:11:58 | Tópico: Sonetos
| 4101
Chegou; encantadora em contraluz, A tua silhueta demonstrava Na transparência, forma que produz Beleza que deveras esperava...
Mas logo dissipada, a tua imagem, Sumindo pelas ruas, galerias... Procuro te encontrar, talvez miragem, Quem sabe tão somente, fantasias...
Mas sei que existes, tenho esta certeza... Viveste dentro em mim, a vida inteira. Te encontro em cada sonho, uma princesa Desnuda do meu lado, companheira...
Roçando nas cobertas te imagino... Nas janelas abertas, descortino...
4102
Cheguei de tua vida neste passo Que passo no compasso mais ligeiro Procuro pelo espaço sem cansaço E pego num abraço, o corpo inteiro...
Nem tento nem disfarço mas te quero No verso que diverso tanto fiz... Vencido pelo canto que venero Espero que viver seja feliz
Me diz por ondas foste ver o mar Amar é se saber tão manso e forte. Armando minha rede no luar Na pesca deste amor terei mais sorte..
Brincando nessas rédeas sou corcel Procuro nossa estrela em nosso céu...
4103
Cheguei sem ter nem tempo nem idade, Meu nome o vento leva nada vale. O fato de trazer insanidade No impetuoso gesto monte e vale
Caminho com total sinceridade. Não deixe que esta música se cale Nem mesmo não pergunte quem há de Fazer com que este vento já te fale.
Apenas me receba sem ter medos, Singrando o quarto, o corpo, cama e gozos. Não sou sequer a sombra nem segredos.
Sou parte de ti mesma, rumo incerto, Meus olhos te parecem andrajosos, Espera-me, por favor, o peito aberto!
4104
Cheguei, em tua vida, muito tarde... Eu sei que não querias esperar O fogo que é tão calmo mas, manso, arde... Querias noutras chamas se queimar...
Entendo que não soube ser teu sonho, As asas que carrego já te assustam, O mundo que te trago, mais bisonho, São forças que contigo não se ajustam...
Agora, que proponho outra saída, Respondes que cheguei no entardecer. Amada se te dei a minha vida, Responde como posso então viver?
Destino me deixou meio de lado, Me diga o que fazer? ‘Stou atrasado...
4105
Cheio de rosas, de jasmins e lírios, O meu jardim carece de uma flor Que traga em cheiro o meu querer. Delírios De quem se torna jardineiro, amor. Meu verso blues, minha canção tristonha Depois de tanto tempo se encontrando Na paz e na alegria de quem sonha Aos poucos novamente, se entregando. Espero que isso passe tão somente Assim como uma chuva de verão, A raridade enorme da semente Em mil desejos trouxe uma ilusão. Aguardo novo tempo em primavera Brotando em meu jardim. Ah! Quem me dera! 4106
Cheira a terra molhada e forma o cio, As tanajuras voam, criam pares, Depois deste momento, no vazio, Os machos vão morrendo. Pelos ares As nuvens de saúvas neste estio Que nasce com as frutas e pomares, Calando a sensação de manso frio, Nas primaveras todas, mil altares... A noite vai se abrindo nos cometas Num zíper nos permite ver a lua. Estrelas vagueando qual gametas Permitem pirilampos sedutores, Beleza que se entrega mansa e nua, Nascendo novamente em mil amores...
4107
Chorando em cada verso, quando lê-lo, Quem dera se assim fosse, amada minha, Teria algum resquício de um desvelo Dourando o dia aonde amor aninha.
Selando uma esperança em carrossel, Galopes entre estrelas, sonho à solta, Voando eternidades pelo céu Acalentando um mundo sem revolta.
Virias neste instante, nua e bela, Vagando em fantasias pela noite, Rondando constelar, divina estrela Na cama em que prometo já se acoite
As marcas dos delírios nos lençóis Queimando em tanta ardência, raros sóis...
4108
chupins vão namorando um arrozal e os bicos preparando seus banquetes. Cenário desembesta-se usual Arremedando gozos em falsetes.
Ticoticoteando este jogral Não vou carnavear os meus confetes, Eu quero ter do corpo sol e sal Sem ser nos tentáculos joguetes.
Berrantes vão chamando para o cio, A luz em seu miolo, fantasio E trago o velho trigo feito em pão.
Por cima dos meus ombros, vejo a lua, Molhando este desejo veste nua Deste arrozal, eu farto-me de grão...
4109
Chuva caindo tranqüila Noite traz a mansidão Adormece a bela vila Sonhando paz e perdão.
Veneno de quem destila Atravessa a multidão Miséria, longe, se exila Todos sonham vinho e pão!
Menos os meus olhos tristes Não consigo mais dormir Por que, meu bem partistes?
Não consigo perdoar... Como pude prosseguir? Vem a chuva me contar!!!
4110
Cibele
Acima do que posso imaginar, Acima do que posso imaginar, Repousa tão fantástica beleza! O Olimpo, certamente faz brilhar, Com lume e com potência de princesa.
Dos seus braços, nasceram terra e mar Seu seio amamentou a realeza! À noite resplandece no luar, A vida fez nascer, sua grandeza.
O mundo, seus pecados e delícias, Etéreos passageiros, sombra e luz. O campo das estrelas, as malícias.
As ninfas, seu carinho e sua pele. Nas Plêiades, desejo seu transluz, Consorte, lhe encontrei, minha Cibele!
4111
Cicatrizando uma alma feita em pus O fardo se tornara bem mais leve, A transgressão insana já me opus, Porém amor sem tréguas já se atreve
E rouba cada gota desta chuva, Formando com mil lágrimas o açude Cabendo nos meus sonhos como luva, Mudando de repente uma atitude
Outrora tão passiva e mais pacata, Num ato de rebelde insanidade. O laço num instante se desata Trazendo em ar mais puro, a liberdade.
Aprendo num momento alvissareiro: O amor não se permite prisioneiro.
4112
Cidades não são verdes nem vermelhas, O povo não se mede por palavras No fundo labaredas são centelhas Quem dera se certeza desse em lavras...
As mentes que remetes são ovelhas Perdidas procurando por pastor... Nas distâncias, ofensas quebram telhas Deixando sem cobertas nosso amor...
Beija-me então, valhei-me meu Senhor... Quem caminhava por pedras e tropeços, Quem sonhava desejos e torpor
Não merece mais novos recomeços... Amanhecer sensatas calmarias... Descobrir as paixões de cada dia...
4113
Cigana que enganaste o peito vão Deixando as tuas marcas, vis profundas... As horas são eternas vagabundas Perdendo desde sempre a direção...
O quanto que encontrei somente o não O tanto que sonhei e não me inundas Com raios das estrelas. Mãos imundas Que tocam esperança e violão...
Outrora ainda tinha alguma luz O verbo sonegando amarga a cruz E torna a caminhada mais difícil
Do amor que quando o tive nem escombros O sol vem ressurgindo sobre os ombros, Seus raios me penetram como um míssil...
4114
Ciganas prediziam; profecias Que um dia tu virias para mim. Tu trazes em teus olhos tais magias, Florindo minha vida e sempre assim
Em torno de teus passos, alegrias, Prazer que me mostraste, sem ter fim, Vivendo em plenas luzes, fantasias, Recendes esperanças num jardim
Plantado e cultivado com carinho, Regado com fantástica emoção Por jardineiro sempre dedicado,
Eu quero estar contigo em meu cantinho, Envolto nos desejos da paixão Estando sempre assim, apaixonado...
4115
Cigarro não faz bem disso eu bem sei, Porém eu não consigo disfarçar Ladrão demais assim a nos roubar Não deve sem moral, fazer a lei.
De tanto que na vida eu já fumei E o tanto que inda tenho pra fumar Dinheiro algum dos outros maloquei, Não aprendi nem quero enfim roubar.
Eu peço ao Bom Senhor que assim me ajude Embora a maltratar minha saúde, Eu tenho esta certeza em devoção.
Pior do que cigarro, eu te garanto, Eu falo esta verdade sem espanto, Político safado e corrupção...
4116
Cigarros acabando neste maço, A noite não diz oi nem tudo bem. Caçando bar em bar peço um abraço E o tempo vai roendo sem ninguém.
O risco de viver é bem escasso, Amar sem perguntar e sem porém. Escadas que rolei, olhar que embaço Há tempos coração perdeu o trem.
Agora vaga mundos, vagabundo Metralha as esperanças num segundo, Rumina o que já tive; louco eclético.
Quem dera se amizade inda bastasse Talvez o coração já se acalmasse, Mas segue sem juízo; cego e cético...
4117
Cincadas que cometo vida afora Por vezes me transtornam, mesmo assim, Prefiro te dizer, querida, agora Que tenho uma esperança dentro em mim
De ter tua amizade, que se aflora E mostra quanto é bom o mundo. Enfim Eu te proponho, amiga, que nessa hora Estejas mais disposta a dizer sim.
Desculpe se eu errei. Isso eu admito, Não tenho a perfeição sequer por meta, Cambaleando perco a linha reta
Tropeço e quase caio. Estava escrito Nos búzios, almanaque, astrologia, Que a sorte de te ter, viria um dia...
4118
Cingindo meus amores, velho sol. Perdido entre esplendores, morre chuva... Os olhos disfarçados, sem farol, Escondem-se em teu pranto de viúva.
Ao gerar este vinho tinto, a uva, Da mansidão transborda em etanol; A mão que me maltrata perde luva. O brilho que me mostras, girassol!
Mas sabes que amanhã já me revolto, Não quero ser somente teu espelho. Amarras que me prendes sempre solto;
Amores se repetem, velha história! Em todos os momentos, me assemelho Na busca do esplendor que me deu Glória!
4119
Cinqüenta anos não são cinqüenta dias, Durante tanto tempo em dor e riso Vivendo sofrimentos e alegrias, É como padecer num paraíso.
O tempo diminui as fantasias, O passo muitas vezes impreciso Em noites tão divinas ou vazias, Transformam as tristezas em sorrisos.
A vida traz colheitas, filhos, netos, Amores tão diversos e diletos, Momentos de emoção, floradas, podas,
Porém a tudo o amor sempre supera Mantendo o brilho eterno; primavera Dourando toda a vida nestas bodas...
4120
Cinzas, a tarde cinza em nuvens, escondida. A chuva que virá decerto me entristece... Em lágrima vertida, em pranto, minha prece... Parece que perdi o rumo, em minha vida!
Quem fora mais sereno aguarda que decida A mão que me machuca, o canto se endurece; Na tarde nebulosa, a tempestade desce... A juventude morta esconde-se, perdida...
Um dia, a mocidade em toda plenitude, Sonhei com teu carinho, amor sempre se ilude. Manhã ensolarada, a primavera cálida...
Depois, entardeceu... Tantas nuvens chegaram... A tarde acinzentada; as manhãs se acabaram... Lembranças doces, Lívia, alvor da manhã pálida... Marcos Loures
4121
Ciranda da esperança dá e tira. O amor não pode ser somente assim, Vestindo de ilusão dita a mentira E mata esta semente em meu jardim.
E enquanto o sonho dorme e a Terra gira O beijo que recordo, carmesim, Errante pensamento perde a mira E acende da tristeza, este estopim...
A lua na varanda; dama bela, Rainha soberana me revela Que tudo foi somente uma miragem
E o peito enamorado então se esquece Desenho desigual, o sonho tece Tornando assim opaca, a paisagem...
4122
Cismando em solidão, procurando outras eras Aonde a poesia amiga e tão querida Cantava em harmonia as plenas primaveras. Agora tão somente é noite dolorida...
As horas vão passando em lágrimas severas A sorte já se foi, de mim tão esquecida Mostrando em ironia, as garras; duras feras Matando o que restou de luz em minha vida...
Pensando no que fui; o olhar perdido e vago Apenas o vazio, estende-se em afago E a fome de esperança esgota o meu jardim...
Num último suspiro, eu vejo um brilho antigo Chegando devagar, e num olhar amigo Percebo renascer a luz dentro de mim...
23
Cismando o pensamento, em busca de outras eras, Retrato de uma infância enveredada em risos. Amores maltratando, as garras destas feras Adentram bem mais fundo e negam paraísos.
Felicidade plena, eu lembro que tu eras A minha companheira em jogos imprecisos, Bebendo em tua boca eternas primaveras O jogo foi perdido em passos indecisos.
Olhando para o nada, o vazio corrói O vento em tempestade, a vida se destrói No meu rosto enrugado, as marcas deste amor.
As lágrimas caindo encharcam o meu rosto. O coração se mostra em solidão exposto, Aos poucos, mesmo em vida, a carne a decompor...
24
Cismando pelas roças e sertões, Debaixo desta lua inebriante. As cordas dos sonoros violões Janelas entreabertas... Lua amante. Cantando nosso amor em serenata, Em meio ao festival de grilos, sapos, Saudade desse tempo me arremata, O coração desfeito; restam trapos... “A lira do cantor...” A noite bela... Amada me esperando, com sorriso... Abrindo o coração, abre a janela, As portas para entrar no paraíso... Vieste e logo foste, nada além, Sobrou essa vontade de meu bem...
25
Cismando pelas ruas do passado, Das eras mais recônditas refaço A vida que perdi, procuro espaço, Verão há tantos anos invernado...
Nas ondas deste sonho, sou levado E tento reviver o antigo passo, Porém já não encontro o velho laço Que unira nossos corpos lado a lado...
Apenas abandono, nada mais... Insone, mergulhando no que tive, Buscando o Paraíso aonde estive
Em tempos tão distantes, magistrais.. A sombra do que fomos inda vive Quebrando, da esperança, os seus cristais...
26
Cismando pelas ruas, solitário, Recebo o vento amargo da ilusão... A vida vai expondo o meu calvário Formado pelos braços da paixão.
Amar assim demais é temerário, Dizia a sábia voz do coração. Amor que não respeita calendário, Causando a cada dia uma explosão...
Recebo tua carta, marinheira, Que busca em cada porto uma alegria. Embora reconheça verdadeira
Esta emoção que dizes em teus versos. Eu peço meu amor, bem que podia, Deixar os outros mares tão dispersos....
27
Cismando sem juízo, velhas sendas, Estradas que passei em outras eras, Permitem que iludido, creio, acendas, De novo num fulgor, as primaveras.
Tampando cegos olhos, outras vendas, Impedem-me de ver rotas severas. Abrindo bem profundas, grandes fendas, Expondo de tocaia, garras, feras...
Olhando para o longe, enfim divago, E penso que inda tenho algum afago. Depois, desiludido, volto a mim
E risco mais um nome desta agenda Porém, qual imbecil, retorno enfim, E volto a percorrer a mesma senda... Marcos Loures
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Ciúme simplesmente e nada mais... É bom que se varie este cardápio. Em corpos tão sublimes divinais, Ciúme é dos amores um larápio.
Não posso reclamar e fico quieto, És dona dos teus passos, disso eu sei. Porém vou ser mais franco e até direto, A cada pensamento sua lei.
Tu bebes de outras bocas a saliva, Somente pra lembrar dos lábios meus. Depois de algum prazer, simples adeus,
Retornas deste amor, cega e cativa. Mas saiba que o desejo sempre aguça, Porém não diz amor roleta russa... Marcos Loures
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Cravo branco serenado Gostoso perfume tem. Quem tem amor tem ciúme Quem tem ciúme, quer bem. Ciúmes são perfume de uma flor, Maiores quanto mais queremos bem. Vivendo em nosso caso, tanto amor, Não quero te perder para ninguém! Eu sei quanto é bobagem; o temor, Tu és toda a certeza que se tem De um mundo mais suave e sedutor. Mas sei que tens ciúmes sim, também... É claro que te tenho confiança, Não nego que jamais desconfiei. O amor entre nós dois, forte aliança É mais do que pensei ter algum dia. Por mais que tantas vezes disfarcei, Minha alma, mil loucuras, fantasia... A Trova Mote é da região Nordeste de Minas Gerais
30
Clamando por carinhos mais exatos Penetro tuas sanhas e te afago, Na terna placidez de um manso lago Deságuam sem tormento os meus regatos.
Se teimo em descaminhos inexatos Anseio pelo amor, temível mago, Moldando estes remendos que inda trago Terá ao fim de tudo fiéis retratos.
Alertas que espalhaste pelas brenhas Silvestres desventuras reflorescem, Nas mãos que doloridas inda tecem
Os ritos que não vês, mesmo desdenhas. Seria o que talvez houvera sido Se o sonho não houvesse renascido...
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Clamores que escutamos da platéia, Após o gran finale desta peça. Sem mágoa que me cale ou que inda impeça Alquímico desejo, panacéia...
Vencer tantas tormentas, na odisséia Do dia-a-dia, um bem que se confessa, Cumprindo os rituais desta promessa Uma alma que enobrece, não plebéia.
Tocando o corpo inteiro sem ter pressa, Na fúria delirante, insana, atéia, As dores que nos rondam, alcatéia
Em bando se perdendo. A luz regressa Trazendo com ternura cada idéia Como se fosse assim eterna estréia. Marcos Loures
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Com olhos embebidos em beleza, Inebriado bebo, gole a gole O quanto esta alegria já nos bole Tomando em nossa vida, com surpresa.
Sabendo ser de ti, apenas presa Não quero quem dos medos me console, Se a boca desta fera assim me engole, Desejo me fartar à mesma mesa.
Amor, um vencedor neste escrutínio Permite que se veja com fascínio Manhã de eterno sonho em carnaval.
Não temo mais, da vida, uma tramóia Sabendo que encontrei sublime jóia Gozando essa ventura magistral. Marcos Loures
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Com mesma devoção com que cuidais Daqueles que sofreram atentados Da sorte que se fez cruel demais Vivendo nesta vida tristes fados.
Além do que vos digo, costumais Agir em prol de tais desesperados Que sentem seus destinos desgraçados Mas vejo que carinho; sempre dais.
Atando meu caminho em pertinência Com atos de vanglória nesta vida, Agindo mais fiel ao pensamento
Eu sei que embora encontre resistência Que vós não permitais a recaída Daquele que também sei sofrimento
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Com luxo e com luxúria nos amamos, Nas noites sedas, linhos e cetim. E quando num segundo nos tocamos Prazeres estourando até o fim.
A paz que nós queremos, encontramos Deitando nesta cama, sempre assim, É bom saber que enquanto nos amamos Aumenta mais amor dentro de mim.
Sabemos dos espaços e queremos Ao navegar os mares mais profundos Usar dos artifícios que nós temos
E num mergulho insano e sem juízo, Ao menos por minutos ou segundos Chegamos afinal ao paraíso... Marcos Loures
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Com luvas de pelica eu peço a ti O que restou do antigo maremoto. Sabendo recolher o que perdi, Sorriso mais matreiro; não desboto.
Serenos os meus fardos? Não mais creio No quase ser talvez um vencedor. E quando o novo tempo assim receio, Não sei se ainda posso recompor
A imagem desbotada, enfim puída, De quem pensara ser além do nada. Minha alma quando pega distraída Repete sem sentir, mesma balada
Aonde ser feliz era possível, E o amor era o supremo combustível.
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Com lápis e papel sempre na mão, Arquétipo tão falso de um poeta Que quando chega enfim, a inspiração Anota a bela imagem, tão dileta.
Na sala, na cozinha ou no colchão Durante a refeição já se completa E mesmo em pleno amor, fornicação Dá um tempo senão ela se deleta.
Quem vê a tal figura pela rua Olhando para estrela ou lua cheia, Lunático fantasma que flutua,
E vez em quando toma uma topada Uma alma delicada, e quase alheia Entre beirais de sonhos, debruçada... Marcos Loures
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Com gosto de chuchu, o nosso amor, Faz feira e toma o preço de um remendo. Depois do temporal eu sigo vendo O que restou do caos, feito um andor.
Rapinas vão servindo de adereço, O beijo da fatídica loucura. Enquanto se desfez em pó, a jura Eu tenho o que em verdade já mereço.
Quaisquer figurações que se aprouverem Serão de serventia duvidosa. O peso que carrego é muito além
Do quanto os meus desejos inda querem, Aonde brotaria alguma rosa Abrolhos em buquês agora vêm...
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Com força e com vital intensidade Jamais alguém consegue derrubar, Aquele que adentrando a claridade, Encontra, finalmente praia e mar. O amor quando sincero e de verdade, É sol que em tempestade vem brilhar.
O amor em mim nascendo a cada dia, Refazendo os meus passos rumo a Ti. A cada novo encanto se recria. Amor que nos tropeços aprendi, Repleto de emoção e de magia, Desfruto quando estás, SENHOR, aqui.
Adeus à solidão, ao medo e ao frio, O amor do nosso Pai, eterno estio! Marcos Loures
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Com força de vontade Encarando pedreiras Somente esta amizade Nos mostra as verdadeiras
Saídas que podemos Usar tranquilamente Se enfim já nos perdemos, Encontro de repente
Nos braços desta amiga A mão que tanto apóia Fazendo que prossiga.
Tesouro em bela jóia Num átimo rebrilha Guiando em dura trilha...
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Com dias bem melhores, sempre sonho Trafego pela vida simplesmente, O quanto é necessário estar contente Deixando o meu caminho mais risonho.
A sorte nos teus braços quando eu ponho Traduzo a confiança plenamente Felicidade em versos eu componho Mudando o meu destino, num repente.
Teus olhos tão distantes trazem luzes E a tantas maravilhas tu conduzes A lava derramada na paixão.
Palavra que proferes, de carinho, Chegando à minha vida de mansinho, Tocando mais profundo o coração. Marcos Loures
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Com costas lanhadas Por sol e vergasta As bocas salgadas Mentira tão casta
Palavra açoitada No fundo já gasta No peito a porrada A sorte se afasta
Porém nesta luta Sincero alvoroço Vencer força bruta
Amor, um colosso, O grito se escuta Restando destroço...
42
Com coração fogoso. Amor, espreito A fim de me tornar conhecedor Entendo necessário este calor Que invade toda noite o nosso peito.
Eu quero na verdade é ser aceito, No enredo que se faz encantador E ao mesmo tempo vil torturador Jamais se imaginou insatisfeito.
Amaras impressões que carregava Do tempo que depressa se escoava Nas mãos de um infeliz apaixonado.
Macabras as palavras proferidas Por quem nem em bilhões de pobres vidas Teve um desejo ao menos saciado... Marcos Loures
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Com beijos carinhosos bela prenda Espalha dentre nós amor e paz. Futura jornalista sempre traz Nas mãos belo arrebol, divina senda.
Os segredos da alma ela desvenda Com toda mansidão se faz capaz E a todos com certeza satisfaz, Usando da emoção, sublime tenda.
Giana, eu te agradeço emocionado O amor que tens com fé já derramado, Sabendo da importância que isso tem.
Do Deus que é corajoso enquanto manso, Contigo, timoneira, eu quero e alcanço A força insuperável em raro Bem... Marcos Loures
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Coloquei minha saudade Num balão e já soltei. Agora com liberdade, Sem amarras, eu voei.
Nos céus voando liberto Encontrei o meu caminho, Incrível! Estava perto, Nas asas do passarinho.
Que me levou para a casa Me deu comida e abrigo, Acendeu lareira e brasa, E falou tanto comigo.
Aprendi: não há perigo Se você tem um amigo!
45
Colocas querosene na aguardente E queres que eu deseje gole a gole. Cravando em minhas costas cada dente Depois de certo tempo a noite engole
E faz do nosso amor, tonto e doente Um sonho em que se bise e se decole? Tu pensas que encontraste um penitente Roçando até que a gente já se esfole?
Bebi de teus prazeres e estou farto. Não quero mais teu gosto meio insosso Tá certo que sobrou apenas osso
O resto na verdade, eu já descarto. Não quero meu amor, ser educado, Desejo um gozo audaz e mais safado....
46
Colírio para os olhos, a morena Desfila em minissaia belas pernas. O corte que em malícia desempena Permite brilhos fartos de lanternas.
O cão que sabujando a bela cena Não deixa que se percam, pois eternas As ondas de calor nas quais se acena Delírio que em loucuras gozo infernas...
São ferrenhas batalhas que travamos, Enquanto calmamente caminhamos Nas ruas e calçadas da cidade.
Aponto o meu olhar, logo disfarço, Amarro sutilmente o meu cadarço E tenho sobre olhar, felicidade... Marcos Loures
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Colher-te, bela rosa do jardim Que cultivei em plena mansidão. Regado por amor que não tem fim, Adubo tão gostoso da paixão...
Perfume desta rosa sinto assim, Carinho com total sofreguidão Desejo nesta rosa carmesim, Abrir e te beijar, cada botão...
No deleite de ter-te aqui comigo, E perfumadamente me entregar Aos teus encantos. Já nem ligo,
Desfolho cada pétala da flor, Deitada no jardim, nua ao luar Entregue totalmente, ao bom do amor...
48
Colhendo todo o sumo que me dás Após nosso deleite extasiante. Na busca primorosa sou capaz De todo este torpor mais ofegante Que a noite tão insana sempre traz A quem em outro alguém se fez amante...
Sem fôlego depois destes passeios Ao ver o teu olhar ensandecido As mãos vão deslizando por teus seios, Renovado caminho decidido Em meio a tempestades sem receios Um mar tão mavioso percorrido...
Estertorando em gozo, num deleite... Nos doces e salgados, santo leite...
49
Colhendo o que plantei, na primavera, Florido este jardim feito esperança. Não temo mais tocaia e mato a fera, Usando tão somente a temperança.
Olhando para longe, inda me vejo, Sozinho percorrendo cada senda, Nas mãos imaculadas do desejo, Enigma crucial já se desvenda.
O amor quando em amor, amor produz, Resiste a qualquer chuva ou tempestade. No facho encantador da intensa luz, Eu posso perceber tranqüilidade
Tomando a minha vida em mansa paz, Mostrando quanto o amor se faz capaz... Marcos Loures
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Colhendo nos teus olhos tantos lumes, Espalho tais sementes em meu jardim; Granando tantas rosas e perfumes, Brilhantes diamantes guardo em mim...
Os olhos que plantei, multiplicaram, Os céus com tantos prismas diferentes. Ao verem tal beleza se encantaram E com ciúmes foram indolentes...
Não sabem que eu percebo cada gesto, Dos céus tão ciumentos, desejosos. Mas mesmo sob intenso e grã protesto, Os grãos foram levados, luminosos...
Sabendo das sementes tento vê-las Deparo neste céu, tantas estrelas...
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Colhendo em teus jardins, raros florais, Num ato de total insensatez. Nos céus, tão belos lumes que tu vês Representam o amor que eu sei, demais.
Trafego por espaços siderais Neófito ao sonhar sem lucidez, Encantos que esta noite, em altivez, Derrama sobre nós. Celestiais...
Elevo o pensamento ao infinito, Imagens deslumbrantes que ora fito Debruçam maravilhas. Sedução.
Entregue a tal delírio, vejo em ti Reflexos do que outrora eu concebi, Qual plêiade: real constelação! Marcos Loures
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Colhendo em minha cama, rara rosa A divina expressão de formosura, Àquela a que se busca e se procura Rainha do jardim, maravilhosa,
Porém ao colibri, tão caprichosa A rosa em seus perfumes me tortura, Embora se mostrando sempre pura, Decerto eu sei da flor tão vaidosa.
Deitando sob o sol do Amor, declaro O quanto é necessário perceber, Que a vida num segundo põe reparo
A seta desairosa de Cupido, Embebida no mais raro prazer Omite a direção, rouba o sentido... Marcos Loures
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Colhendo desta flor todo o perfume, Valeu a pena o tempo de cultivo. É necessário além de algum costume Trazer o coração atento e vivo.
Avivo nosso amor a cada dia, Numa estação diversa, o trem prossegue. Vencendo o sempre atroz melancolia Não me deixo vencer, jamais entregue.
Caminho pelas ruas; vou aos bares, E compro os meus cigarros, tiro um trago, Às vezes mal percebo estes luares, A lua encontro aqui, a cada afago.
Sentindo o vento doce no meu rosto, Amor seguindo manso em peito exposto... Marcos Loure
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Colhendo a flor mais bela do canteiro Um velho jardineiro não sabia Que poderia ter o tempo inteiro Ao lado desta rosa, uma alegria.
O amor quando sincero e verdadeiro Além de simplesmente fantasia, Domina este cenário e derradeiro Perfuma nossa vida todo dia.
Assim eu sei que tenho o privilégio De ter as chaves todas deste império. Amor que me trazendo refrigério
Protege contra a dor e o sortilégio. Sabendo desfrutar cada segundo, Sei que sou o homem mais feliz do mundo! Marcos Loures
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Colhemos; isto é certo, o que plantamos, Cuidar é necessário, e sempre bem. Às vezes sem querer nos deparamos, Sozinhos precisando de um alguém Que seja companheiro. Se tentamos Fugir desta verdade nada vem, Decerto muito mal nós cultivamos O jardim que a amizade mostra e tem. Semeando ternura e compaixão Teremos a resposta na colheita. Amar é conhecer todo o perdão. Não é difícil. Pense como é fácil Seguir tranquilamente esta receita. Porém muito cuidado: amor é frágil...
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Colheita em que se tramam paraísos Percebo no jardim de nosso amor. O quanto em sonho é sempre tentador, Amor jamais nos manda seus avisos.
Permita que eu adentre teus sorrisos, Chegando ao mais perfeito e encantador Canteiro; aonde eu sei que em cada flor Cuidados foram sempre tão precisos.
Botão quando roubado prenuncia Encanto bem maior, disso eu sabia Por isso minha voz se faz tenaz.
Paixões entre palavras reveladas, Estampam estas flores que; roubadas, Traduzem todo o gozo que amor traz... Marcos Loures
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Coleiro, canarinho e trinca ferro Sanhaço jaboti, cotia não O canto da alvorada no sertão Depois de tanto pranto o fino berro
Acendo meu futuro no desterro Meu canto não espera solução A vida sempre trouxe solidão A causa do meu pranto foi meu erro.
Mas venha se quiser espero um beijo De quem sempre me trouxe seu desejo Em forma de gaiola e sem saída.
Meu mundo sempre forma liberdade Em formas e desejos da saudade Agora por favor devolva a vida... Marcos Loures
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Colando nossas bocas, bebo a vida, Em cálices repletos de bom vinho. Bem antes da saudade sem saída, Detinha nos meus braços teu carinho...
Presságios, aventuras... despedida De quem já se perdeu e vai sozinho. A mão te procurando, tenta o ninho, Mas queda-se sem forças, esquecida...
Fantasmas doutros tempos infelizes Vagueiam minha mente, não suporto.. Não quero em nosso caso mais deslizes,
Aporto no teu corpo uma esperança. Nos dentes da tristeza não me corto Enquanto houver o sonho em nossa dança...
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Colando grau na base da porrada, Beirando os precipícios no caminho, Vagando vagabundo pela estrada, Piquei a mula logo bem cedinho
E varejei a sorte na beirada Do podre lamaçal de ser sozinho. A liberdade é sempre ensangüentada, Rasgada pelas garras de um ancinho
Aberta a cova rasa onde a semente Depois de bem aguada, brota e segue Crescendo, frutifica em esperança.
Mas aprendi no alpendre da saudade, Que ao lado de quem temos amizade, A vida bem mais fácil, cedo avança...
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Colado junto a ti qual tatuagem A cicatriz bendita do desejo, Que faço se, sozinho, o fim, prevejo Perdendo o meu corcel e a carruagem.
O amor sem ter amor, simples bobagem, Não passa na verdade de um lampejo, Distante do infinito que ora almejo Sem ter tua presença, é vã viagem.
Qual fora um passageiro da esperança Somente quando a voz do amor me alcança Cavalgo este alazão, a liberdade...
Adentro os mais diversos continentes Estrelas espalhando os contingentes Numa espetacular felicidade..
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Coisas de “vai idade” com certeza A neve vem cobrindo os meus cabelos, Por mais que encare em vão, a correnteza, Envolto pelo tempo e seus novelos.
As rugas vão tomando a minha face, As horas tão ligeiras já deslizam. Visão que se perdendo, tudo embace, Castelos desabados não avisam.
Apenas me restando a fantasia, E a velha teimosia em esperança. Enquanto a noite chega mais sombria, A juventude fica na lembrança,
E o velho libertário aqui resiste, Embora combalido, amargo e triste... Marcos Loures
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Cochilo,sem querer do coração, Deixando sua porta entreaberta. As garras tão felinas da paixão, Aproveitaram área tão deserta...
Ao ver que já não tinha mais saída, Deixei meu coração mais indefeso; Minha alma, simplesmente distraída, Entrou no mesmo barco tão coeso...
Jazendo neste canto, fico mudo; Aguardo as novidades mais calado. Lutei assim demais, lutei com tudo, Agora pelo amor aprisionado...
Cativo, de tal forma, na verdade, Não sonho nem sequer com liberdade
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Coçando a perereca a noite inteira Orgasmos explodindo em turbilhão. A moça num sorriso dá bandeira E mostra a sua cara de tesão.
Não pára e nem sossega esta coceira, Que toda noite traz repetição. Subindo nas paredes, companheira Entrega-se ao desejo e à tentação.
Bendita leucorréia ela proclama, Não quer nem mais saber desta pomada, Clamídia com certeza acende a chama
E deixa molhadinha a dita cuja, Ao ver o tubo vindo, alvoroçada, A perereca quer que a moça fuja
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Cobrindo vira circo, com certeza, No velho picadeiro uma esperança Funâmbula se entrega à mesma dança Que possa derrotar a correnteza.
É necessário ter tanta destreza Que mesmo a solidão que agora avança Não possa destruir nossa aliança Deixada qual banquete sobre a mesa.
Corsários da alegria, os teus ciúmes, Matando a rosa imersa em maus perfumes Fazendo do passado, um vil presente.
Não deixe que os espinhos tomem tudo. Eu quero, mas no fundo não me iludo, E o fim do nosso caso se pressente... Marcos Loures
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Cobrindo em duro pó todas as luas Deixando para trás uma esperança. O ser humano em glória sempre alcança Os corpos esquecidos, carnes nuas.
O sortilégio faz sempre das suas, E mata a ingenuidade da criança. Sabendo desta espera, alma se cansa E mesmo que amputado, continuas.
Esboça a reação, mas obedeces, Apenas executas tuas preces E deixa uma esperança no passado.
Contigo, vou seguindo, e a vida flui, Em outro ancoradouro; se conclui, O barco que me trouxe; naufragado... Marcos Loures
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cobra em seus chocalhos diz aviso Cuidado com seu bote, minha amiga. Olhando para o chão por certo eu piso Que a vida do imprudente já periga.
A faca se disfarça num sorriso, A chuva em tempestade desabriga, Se eu erro, com certeza não mais biso O resto empurro em paz, com a barriga.
É prático viver. Largue os queixumes Quem vê somente espinho, sem perfumes Maldiz a maravilha de um jardim.
Depois segue arredio o tempo todo, Queda prenunciada diz do lodo No logro que se esconde, bem no fim... Marcos Loures
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Coberto pela terra infecta e farta Os vermes são meus únicos parceiros, Usando a precisão de carpinteiros Necrófago banquete me descarta,
Enquanto da esperança, o rito aparta Expondo os frágeis ossos; carniceiros Na orgíaca festança vão inteiros Na podre provisão que se reparta
A realidade expressa seus humores. E paulatinamente cessam dores, Quem sabe até sorria depois disto,
Imerso nesta insana confraria, Por mais que isto pareça uma ironia, Eu sinto que deveras inda existo...
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Coberto de carinhos e cuidados O dia anunciado em paz e glória. Conhecerei no nosso amor vitória Encantos e delírios demarcados.
Os olhos tantas vezes enfadados Tentando vislumbrar em nova história Promessa resguardada na memória De tempos com certeza abençoados.
Nas mãos que se procuram, mansidão, Olhares que trocamos- emoção Viver felicidade é nossa sina.
Caminho concebido com prazer Permite a fantasia e faz viver Na força feita amor que nos domina...
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Coberto de alegria e de prazer Eu sinto o vento manso deste amor. Regado pela fome de viver Disfarço este meu peito sonhador;
Distante dos meus olhos pude ver A força da tristeza, imensa dor, Porém ao vislumbrar teu bem querer, Eu pude cada passo recompor.
A lua se mostrando assim desnuda Deixando a natureza agora muda Espalha a luz imensa sobre nós
É como se dissesse da alegria De quem ao desfilar já percebia O vento da paixão doce e feroz. Marcos Loures
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Coabitam vontades e temores, Minha alma se transforma em tal dilema, Contendo a fantasia, qual algema Perece neste inverno e seus rigores.
Cevar com alegria tantas flores, Teimando em perceber que a piracema Permite que; o sonhar seja o meu lema, Porém sentir do vão passos, rumores.
Vontade de sentir tua presença Tocando a minha pele, sendo minha, Enquanto a poesia em ti se aninha
Querer esta esperança bem mais densa, Urgência de saber se isto é verdade, Qual fora tempestade, o sonho invade...
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Como água transformada em tinto vinho Propulsionando o sangue em minhas veias, No instante em que dominas, incendeias E o abrasador verão toma o caminho.
E tudo se transmuda de mansinho, No mar feito em calor que tu anseias Vislumbro a magnitude de sereias Fazendo do meu peito, lar e ninho.
Das lágrimas de outrora, resta o nada Sorriso se esparrama pelas sendas, Florindo de esperanças, cada trilha.
E ao ver assim tão bela a minha estrada, Segredos mais recônditos; desvendas, E após a tempestade, o sol rebrilha...
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Como a floresta densa, impenetrável, Meu coração vivera tanto tempo. Temendo o sofrimento interminável Do amor, este difícil contratempo...
Assim também seguia em sofrimento Pela saudade fria do vazio. Não conheci sequer nenhum momento Da bela primavera ou dum estio...
Hoje entre os ramos mansos desta flor Conheço a primavera, sei do orvalho, Vivendo plenamente o nosso amor, Na solidez hercúlea do carvalho.
Tingindo esta floresta de outras cores Aprendo a conhecer frutos e flores...
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Como a criança sofre com os medos Noturnos pesadelos, tempestades. Por mais que intensamente, agora brades, Jamais decifrarás velhos segredos.
As mãos que não conhecem mais seus dedos, Atados sem direito às liberdades, Jogados em gaiolas, frias grades, Alheios aos outrora bons enredos
A força que decepa as ilusões, Aos poucos em temíveis turbilhões Invadem minha noite, e sigo insone.
A angústia de saber que tu partiste, Irônica esperança segue em riste, Revive num tocar do telefone...
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Comigo eu sempre quero esta presença Que é acalentadora, com certeza. Não há no mundo luta que não vença Um coração que viva em tal beleza.
Mulher maravilhosa, a recompensa De todo o meu passado em vil tristeza Sentindo tal ternura sempre imensa A vida em calmaria e com leveza.
Decerto ao te saber, felicidade Nas mãos tão delicadas de quem amo Teu nome pelas sendas sempre chamo
Nas águas mansas vejo a claridade Do amor que nos redime e nos liberta Trazendo tanta paz, em hora incerta... Marcos Loures
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Cometo os meus enganos quando vejo Reproduzida a foto do meu sonho, Caleidoscópio vago aonde ponho Metáforas em forma de desejo.
Se em cada verso, um riso inda porejo Talvez tente encobrir o sol medonho, Tacanho sentimento que, bisonho, Escarifica aos poucos medo e pejo.
Arcaico- na verdade eu sou jurássico, Fingindo ter um tom por vezes clássico Logro a fragilidade, a mimetizo.
Metamorfoseando, sou patético, No fundo movediço, poso eclético Tentando me esconder, vago e impreciso...
Marcos Loures
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Cometa que tão ágil nunca espera, Que foge se não dermos atenção, Espreita trama o bote, louca fera, A louca e desvairada inspiração...
É tanto traiçoeira quanto ingrata Perfura mansamente e me derrete Revólver que se atira, cura e mata, depois que já se foi, nunca repete...
Escravos desta deusa, nós, poetas, Vivemos tantas vezes tão cativos Dos deuses dos amores com as setas Das tontas loucas musas mortos vivos.
Estou tão embrenhado em suas garras Inspiração me explica, como agarras?
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Cometa que me guia, o bem do amor Permite que eu conceba em alegria, Palavra que em constância já me guia Cevando mansamente a bela flor
Roubada da emoção em gozo e dor. No coração mineiro, uma sangria Que aos poucos se tornando hemorragia Da rosa dos meus sonhos muda a cor.
Tu és e não percebes a tal rosa Que torna a vida bela em fabulosa Manhã enrubescida pelo sol.
Um trovador que encontra tal beleza, Usando a poesia quer e preza. Dos raios que me emanas, girassol...
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Cometa navegando por espaços Distantes coletando cada lume, Na bruma dos meus olhos teu perfume Estende-se em perfeitos, doces laços.
Os sonhos mesmo audazes e devassos, Contemporizam todo vão queixume. O passo tendo amor que cedo aprume Perdoa os erros tolos, simples, crassos.
Eu vergo sob o peso deste encanto Que marca a poesia de quem ama, Espalha-se a delícia em cada rama
Tomando este cenário canto a canto. Estrela que se deu eternamente Raiando em maravilha, enfim luzente... Marcos Loures
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Comerciais, meus versos? Me perdoe, Alguém roubou, decerto, a minha grana, Não ganho nem centavo por semana, Por mais que a poesia ainda ecoe.
Não digo que a palavra amor é chata Além de ser sutil ela é bacana, O Chico com o Tom, dupla sacana, Quando escreveu “Eu Te Amo” te maltrata?
“Eu sei que vou te amar”, meu poetinha Foi feito pro Vinicius ficar rico? Camões com tanto amor, pediu penico?
Ou fez o que bem quis ou que convinha? Vendendo assim meu peixe Predileto; E sem fazer miché, faço SONETO! Marcos Loures
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Comendo no teu corpo a sobremesa Eu quero ser eterno comensal. Sabendo quanto é boa esta surpresa Prazeres escondidos no bornal. Depois ao perceber tanta beleza Eu faço o meu retorno triunfal.
O amor é ritual, assim professo Meus credos, minhas preces, orações. Virando a minha vida pelo avesso, Nos versos eu declaro tais paixões. Aos braços deste encanto eu me arremesso E deixo vir incêndios aos milhões.
Tristeza se guardando na masmorra, Não tendo quem escute nem socorra... Marcos Loures
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Comendo este feijão feito um tropeiro Sonhando com os beijos da morena. O velho coração de um carreteiro Durante a tempestade mata a cena.
Enquanto a realidade vem e empena A morte traz no medo, o mensageiro, Que venha sem decurso, em paz, serena, Porém jamais de um jeito assim ligeiro.
Pardal que sempre quis ser curió, Caminho sobre pedras e vou só, Apesar dos temores, sigo em frente.
Querendo o teu querer, mas não me queres, Bendita maravilha entre as mulheres. No colo desta serra em gozo ardente...
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Comendo doces uvas, me inebrio Dos vinho que vislumbro num vinhedo Na adega devagar eu principio, A descobrir as chaves, o segredo.
Matando minha sede, encontro o fio E vago embriagado neste enredo. Agora a minha vida em puro estio, Não quer fugir jamais deste degredo...
Nos favos tão melíferos, licores, Os rios aumentando os seus caudais, Eu quero lambuzar-me muito mais
E ter em profusão os mil sabores Dos vinhos, méis e rios sensuais, Em gozos e prazeres sedutores... Marcos Loures
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Comendo do banquete que me dás, Teu corpo desejoso e tão gostoso Certeza de que amor demais nos traz A sobremesa doce feita em gozo.
Bebendo cada gota desta fonte Que vem da grota bela, delicada. Lambendo tuas pernas, seios, monte, Deixando tua gruta bem molhada.
Recebo o teu prazer em minha boca, E gota a gota seco com vontade Ouvindo-te gritar, gemer, tão louca, Até que chegue enfim, saciedade.
Vem logo que eu te quero, intenso cio, Rodando a noite inteira, um calafrio...
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Comendas que deformam a verdade, São dadas sem saber nem porque e como... São livros que não prestam, mero tomo... São coisas que não deixam nem saudade...
São pântanos que fingem claridade, De prata nada têm, somente cromo... Fingidas tais comendas são embromo, Estão distantes dessa realidade...
Comendas encomendas e mentiras. Disfarces de quem nunca soube nada... As balas reprimendas que me atiras
Raspando passam, deixam a certeza... Dos crimes que cometes, madrugada, Das mortes que carregas, da tristeza... Marcos Loures
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Comemorar o teu aniversário É como traduzir felicidade. Além do que parece necessário Eu faço destes versos de amizade
Um mundo onde não seja temerário Viver em santa paz; tranqüilidade. Amor já reconhece itinerário E busca no teu peito a liberdade.
Vivendo em harmonia, com certeza, Deixando sempre em paz a natureza Percebo a raridade da pessoa
Que faz a nossa festa, pois resiste, Não deixando, decerto ninguém triste, A vida vai levando, numa boa...
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Começaria tudo novamente Se fosse necessário, meu amor. A vida vai rodando em minha mente, No canto, riso e dança, sedutor.
Em minhas mãos, teu corpo tão febril, A cuba libre; o sonho que nos resta, Teu corpo delicado e mais gentil, A música tocada pela orquestra...
Uma certeza imensa de um futuro Melhor a cada dia, eternidade. Olhar pra trás e ver amor tão puro
O coração vibrando sem parar Mostrando com firmeza esta vontade, De sempre, meu amor, recomeçar...
HOMENAGEM AO GRANDE GONZAGUINHA
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Combinação perfeita que se deu Há tempos concebida sem remédio. Do quanto que eu te quero; sonho meu, A sorte vem fazendo manso assédio.
Sem tédio nem ressaltos, passo firme, Cruzando todo o céu, vago cometa. A cada novo enquanto que se afirme Vigora cada gozo que eu cometa.
A nave vai seguindo sem tremores, Diversas emoções riso sincero. No céu feito em mosaicos multicores O todo que desejo e sempre espero.
Na madeira de lei do pensamento, Nosso amor estradeiro, solto ao vento... Marcos Loures
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Comadre, puxe o banco e sente aqui, Cevemos este amargo com carinhos. O amor ao descobrir nossos caminhos Permite que me encontre junto a ti.
Por vezes tantas dores que senti Causando no meu peito burburinhos, Enquanto nos deixava mais sozinhos, Depressa então, o amor eu descobri.
São guapas as estradas que traçamos No meio das coxilhas, pelos campos. Aos brilhos da esperança, pirilampos
Dos quais, por solidão, nós nos guiamos Até chegar ao fim da nossa senda No amor que da amizade se desvenda... Marcos Loures
89
Com uma lupa busco a liberdade, Mas macabras figuras aparecem, Enquanto fantasias já se tecem O túnel se escondeu sem claridade.
Mecânica palavra diz verdade, Nem versos só reveses que me engessem, E mesmo que as lembranças não regressem O barco se perdeu, sem qualidade.
Deidade disfarçada em falsa cena, Não quero mais genérico, tampouco Desfilo este fantasma, pois é pouco
O quanto se fez tanto, a dor empena. Milagre avinagrado azeda tudo, Porém como imbecil, também ajudo...
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Com tua voz amiga, suave e franca Me dizes o bom dia que eu sonhara. A noite que passara toda branca Perfeita sensação divina e cara, Que a vida que queremos nunca estanca O rio de desejo em que se ampara.
Aberta a tua porta, escancarada, Deixando cada rastro bem marcado, A rosa que plantamos, encarnada, No olhar que me deixaste,apaixonado. Depois de tanto quase tive nada O resto, no teu peito preservado.
No quanto que queria me perdi, O bem que sempre quis, estava em ti...
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Com todo o meu carinho te proponho Vivenciar a dor que é feita em gozo, Destino muitas vezes caprichoso Matando desde então desejo e sonho.
Se a vida se transborda em mar medonho, Se o dia nascerá maravilhoso. O velho caminheiro que andrajoso Percorre a longa estrada tão tristonho
Não sabe recolher as flores tantas Que espalhas pela senda em majestade, Se eu bebo até fartar felicidade
Bem sei que com ternura sempre encantas, E quando te decifro e sei de ti, A paz do paraíso eu conheci...
92
Com toda paciência deste mundo Construí meu barraco na favela, Pra moça mais bonita e mais singela, Porém o coração é vagabundo...
Do quanto desejei amor profundo Que nem a poesia mais revela, Sabendo da morena, flor tão bela, Não deixo de sofrer um só segundo...
Ouvindo, na vitrola, o bom Waldick, Saudade arrebentando cais e dique, Exposto ao vendaval da penitência
Tentando imaginar dia bonito, Meu amigo poeta, eu exercito Sem ter nenhum descanso, a paciência...
93
Com toda magnitude arquitetônica Os templos dedicados ao amor, Nos sons de uma aventura supersônica Nas hostes desta luta sem temor. Numa emoção divina quase harmônica O gosto do prazer, semi-torpor Na beleza sem par, lua nipônica Mil versos desejosos te compor... Decifro teus mistérios e segredos, Teu canto sem igual sempre alucina. Eu quero me compor em teus enredos. Na bela flor de lótus mergulhar Trazendo para mim, essa menina Que bem cedo aprendi a tanto amar!
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Com sua vestimenta prateada, Seguindo todo passo que perfaço. Deitando sobre a relva luz sagrada, Regando meu amor em fino traço.
Desertos envolvidos nos seus lumes, Renascem em belezas transbordantes. As flores se embriagam; bons perfumes, Invadem nossos sonhos, deslumbrantes.
Ao ver essa beleza sem ter par, Ao ver a claridade feita em sonho; Desejos tão profundos de te amar, Um mundo tão em paz, eu te proponho...
Teu rosto refletido em pura prata, Na lua, transformada em serenata...
95
Com sede nestas noites mais febris Buscando o teu agreste gosto e gozo. Balanças tentadora teus quadris Libertas minha fera. É tão gostoso
Vontade de chegar e pedir bis Querer cada momento mavioso Eu sei que se quiseres sou feliz Senão o que fazer? Sofrer choroso?
Teus beijos me apontando ao infinito São festas prometidas mas não dadas. Teu nome nas estrelas foi escrito
Por olhos desejosos e sedentos. As pernas caçam pernas enredadas Aumentam as tensões teus movimentos...
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Com rosto imerso em lágrimas de amor; Rechaçando qualquer toque do carinho. Vivendo sem ter ganas, sonho ou cor. Rasgado pelo toque deste espinho.
Remontam tantas asas do passado, Onde restara cego, em vil tormento; O peito vai vazio e tão calado, Queimando meu amor em fogo lento.
Ralando o coração nesta saudade, Estrias dentro da alma pululando. Buscando me escapar da realidade, Depois de tanto tempo, assim, sangrando.
Eu vejo o teu olhar, meu caro amigo, Sentindo em tua força o meu abrigo...
97
Com quem o pensamento sempre alinho Traz sempre uma certeza de esperança; Cansado de lutar e estar sozinho, Convido minha amiga para a dança
Tomemos, com certeza um doce vinho, Brindemos, pois assim, uma aliança. Quem vive neste mundo com carinho, Futuro mais feliz, por certo alcança.
Assim, neste poder de uma amizade, Fazemos nosso canto benfazejo, A sorte que me trazes, eu desejo,
E peço a Deus que dê a claridade Bastante pra seguires sempre assim, Amiga, irei contigo até o fim... Marcos Loures
98
Com quantos paus se faz uma canoa? A gente vai tentando ser feliz Pensando estar agora numa boa, Depois que a casa cai, o quê que eu fiz?
A chuva de mansinho, uma garoa, Ao poucos vai molhando e por um triz Minha casa virando uma lagoa Fugir pro outro lugar, te juro, eu quis.
Assim no nosso amor feito Colgate Sorrisos de mentira, falsidade, A tua traição, triste arremate
Embora coerente esta atitude. Quem vive de ilusão, eis a verdade Pensando num banquete come um grude... Marcos Loures
99
Com paixão tão insana, nós singramos Na cama em rebeldia, insensatez. E logo que pudemos, entregamos Os corpos sem saber de lucidez.
Nos templos mais profanos adentramos Buscando cada altar, por sua vez. Depois numa avalanche mergulhamos Atados para sempre, sem talvez.
Em loucas convulsões, êxtase pleno. Fizemos moradia no infinito Fazendo deste amor, um gozo em rito.
Bebendo da loucura tal veneno, Que invade nos causando a sensação De um terremoto feito em explosão...
4200
Com os botes tristonhos da saudade, Procurei por teus olhos minha amada... Meu caminho de pedra e vaidade... A voz que solto vai desesperada...
Como posso saber felicidade? Não tenho rumo, nunca tive nada... Te procurei por toda essa cidade... Não te achei! Minha vida anda cansada!!!
Mas, pensando melhor, não vou sofrer! Preciso descobrir o meu caminho... Não quero viver vida tão vazia!
Eu vou procurar novo bem querer... Não quero mais seguir tão sozinho! Noutro bote, fazer a travessia!
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