
MEUS SONETOS VOLUME 051
Data 05/12/2010 06:48:20 | Tópico: Sonetos
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01
Desaba uma esperança em qualquer brisa, Se amor foi feito em solo movediço. A mão do agricultor se aromatiza No bem de cada flor, perfeito viço.
Eu trago o peito aberto, sem defesas, Não temo mais as dores que virão. A primavera exposta em tais belezas Entrega ao nosso amor, forte verão.
Amor que se mostrando solidário Metamorfoseando, me domina. Não quero prosseguir mais solitário Retendo a fonte clara, doce mina.
Bebendo cada gota deste arroio, Amor já separou trigo de joio... Marcos Loures
02
Desaba desta enorme ribanceira O sonho de um mineiro em descaminho, Vivendo a vida inteira sem carinho, Procuro no final alguém que queira
Fazer do amor perfeito uma bandeira, E nessas esperanças eu me aninho, Sentindo aproximar devagarinho A dama que talvez fosse a primeira.
Mas logo percebi no belo rosto, A marca mais cruel deste desgosto Que vem e que destrói sem ter nem hora.
Prevendo uma derrota depois disso Quem teve em pensamento um compromisso, Perdendo no começo, vou embora. Marcos Loures
3
Derrubas num segundo o velho império Das tolas emoções que nos afligem, Enquanto as fantasias já se erigem No templo dos desejos sem critério.
O amor quando se mostra qual vertigem Esconde seus segredos. Tal mistério Permite o mais terrível voluptério Nas mãos que maltratadas nos dirigem.
Não sei se ainda quero ter em ti O que deveras nunca conheci, Esquecido nos cantos, becos, bares.
Abrasas com teus falsos diamantes, As águas poluídas. Transbordantes Delírios, demoníacos altares...
4
rramo sobre ti fogos luzentes, Amor farpas e línguas, aridez, Atados os teus braços em correntes, Profana intensidade, insensatez.
Marcando a minha pele com teus dentes, Penetras com vontade minha tez. Dois corpos se entregando, vis, dementes, Encanto que em delírios já se fez.
Vergastas e chibatas, noite afora, A chama se consome e nos devora, Felina que cavalga este corcel,
Nos lúbricos prazeres, saciados, E Furiosamente acorrentados, Às marcas que; sanguíneas vertem mel.
5
Derrame teu suor em nossa cama, Numa ardorosa noite de prazer. Acende-se por certo nossa chama Vibrando em cada cena. Passo a crer No mundo que se mostra em cada trama, Deliciosamente em ti, viver...
Na renda que cobria esta nudez, Na seda que se espalha em nosso leito. Amor que tantas vezes amor fez, Do jeito mais divino, enfim, perfeito, Roubando o que restou de lucidez, Amor para ninguém botar defeito....
Mas feche meu amor, esta cortina, Que a lua ciumenta, se alucina...
Marcos Loures
6
Derramas; feito a lua, raras pratas Por onde tu caminhas; noite afora, E cada nova fase revigora A intensa claridade em que arrebatas
Argêntea fantasia cobre matas E tanta maravilha assim decora Uma alma sonhadora que te adora Enquanto os meus delírios; arrematas...
No intenso plenilúnio, a claridade Estende-se infinita sobre os céus, Cobrindo as madrugadas, fogaréus
E a chama inebriante, tudo invade, Mesmo minguante, ou nova, ou na crescente Tua beleza imensa, iridescente...
7
Depois do temporal, tranqüilidade Que há tanto tempo eu sempre perseguia E sinto vir o vento da amizade, Em mansa sensação de calmaria,
Trazendo para a treva, claridade, Raiando em emoção santa alegria, Quem sabe ser possível liberdade, Além do que pensara, até sabia,
Refazendo o meu canto, em novo verso, Alçando em pensamento outro universo Embora muitas vezes caprichoso
Que possa permitir um canto leve, No amor que uma amizade sempre ceve Um dia que virá, maravilhoso... Marcos Loures
8
Depois do que depôs meu coração Não vejo entre nós dois qualquer futuro. Se o tempo se tornou bem mais escuro No fundo não terei mais solução.
Requebros da morena, furacão, O jeito é disfarçar e sem apuro O chão já sem estrelas; frio e duro, Decerto em aridez se torna vão.
Melancolia às vezes me sacia E traz à poesia um novo tom. O amor que a gente quis, sublime dom
Morreu e seu cadáver: agonia. Insepulto fantasma pesa tanto Trazendo tão somente o desencanto...
Marcos Loures
9
Depois do assassinato de seu filho Enquanto o outro por Deus foi deportado, A dor servindo assim como estribilho Futuro de repente mal fadado,
As mãos do Pai deslindam novo trilho E mudam com certeza o triste Fado, Ao dar à luz a Set, outro novilho, O continuar da vida, assegurado,
De Enós diversas, várias gerações Até chegar Noé, homem bendito Esposas e maridos, concepções
Multiplicando assim por sobre a terra Até quem sabe além deste infinito, Mas o homem pouco acerta e maldito erra...
5010
Depois destes meus versos que te fiz, Depois deste meu tempo, enfim, sozinho. Sonhando eternamente, ser feliz, Percebo em minha flor, dorido espinho...
Não chore, minha amiga, estou aqui. Não deixe que a saudade te maltrate, Bem sabes que também já me perdi, A dor que nos desfaz, nosso combate...
Querida tantas vezes fomos sós Os ombros se apoiando mutuamente, De tanto que sofremos, nossos nós Estão guardados; firmes, nossas mentes...
Amiga em teu carinho, meus carinhos. Decerto não estamos mais sozinhos!
11
Depois desta tormenta apenas queimaduras Restando em nossa pele, algumas cicatrizes. Depois, já mansamente envoltos em ternuras, Recuperamos tudo e somos mais felizes.
Nossa pele marcada em tais arranhaduras Nos ensinou bastante. Os meros aprendizes Depois de tanta busca, imersos nas procuras Já sabem decifrar acertos e deslizes.
Voltando para a luta após tanta sangria Só resta descobrir qual o melhor caminho Que possa nos guiar durante a ventania.
Amiga, passo a passo, espero que esta andança Leve-nos finalmente a maturar o vinho Guardado numa adega em forma de esperança.
12
Depois desta quimera, tanta luta... Eu não descansarei desta batalha... A força que promete ser mais bruta Me corta como beija uma navalha...
A lua que por vezes vai astuta No céus mais nebuloso traz mortalha. Amor é conceber semente e fruta É vida que transforma e que se espalha.
Sacrossanto desejo de rever As vastas amplidões que já não cabem... Nos braços de quem vivo, vou morrer.
Perdi todo o sentido e mocidade... As noites que clareiam nunca sabem Amor que representa a liberdade! Marcos Loures
13
Depois desta arruaça já formada, Peixeira foice e faca, o pau quebrando, A festa que começa alvoroçada, Depois de certo tempo desandando.
O começo da briga, da porrada, Parece, minha amiga que foi quando Ao ver moça sozinha, madrugada, O cabra já chegou se apresentando.
Porém a moça estava com a amiga, Mulher valente, amante da menina, O troço desandou, virando briga,
O bucho do sujeito foi furado. Amor esteja certa, assim domina, E o resto nós deixamos já de lado...
14
Derrama sobre nós farta beleza Constelação de cores mais diversas, Unindo sensações antes dispersas, Traz raras iguarias para a mesa.
E o quarto se transborda em correnteza, Voando o pensamento em belos persas Tapetes maviosos, gozos versas E deitas fabulosa uma certeza
De ter as soluções nos frágeis frascos Quebrando dos temores os seus cascos, Eu sigo em tal magia, satisfeito,
A solidão distante e já sem prumo, Sem norte ou direção, perdendo o rumo Ao ver o seu caminho contrafeito.
15
Derrama em mil prazeres, recompensa O bem do amor que tanto se entregou, O pesadelo insano já domou E torna a minha noite menos tensa.
Felicidade agora segue imensa Tristeza no meu peito, enfim passou, Vivendo tão somente o que restou A sorte de sonhar se mostra intensa.
O quanto te desejo nunca nego, Andara tanto tempo amargo e cego Agora me permito ser feliz.
Vencendo toda forma de tristeza Coloco este banquete sobre a mesa Prenunciando o bem que tanto quis... Marcos Loures
16
Derradeiro botão do meu canteiro A rosa não viceja, morre aos poucos. Neste canto de amor, o derradeiro, Os gritos não serão sequer mais roucos.
Antigo carpinteiro da emoção, Os móveis não suportam mais cupins, Causando esta total devastação, As flores não farão belos jardins.
Ariscas alegrias não são minhas, Orquídeas e bromélias sem xaxim, As ervas tomam conta, são daninhas, E a seca vai tomando tudo em mim.
Não pude perceber o rude inverno Que tornou nossa vida neste inferno...
17
Depressa em alegrias nos assoma Enquanto nos domina, satisfaz, Reféns do amor imenso que nos toma, Fazendo desta vida, glória e paz,
Dois corpos multiplicam cada soma E a vida nos propõe um canto audaz Quebrando a solidão, já sem redoma, O manto da alegria, a noite traz,
Constelação divina, rara e bela, Deitando em minha cama, reina a estrela Girando neste espaço, carrossel.
O beijo de quem amo me redime, Viver sem ter amor é quase um crime, Olhar tão solitário é mais cruel... Marcos Loures
18
Depois do triste inverno que passei Distante deste amor que é plenitude. Agora que, de novo, te encontrei, A sorte vai mudando de atitude. As flores do jardim já vão se abrindo Em novas primaveras ansiadas, Revendo este sorriso manso e lindo As mãos tão delicadas, perfumadas... Que bom poder saber que estás aqui Promessa de verão, de quente estio, Depois de tanto tempo que perdi Nas noites embaladas pelo frio... Meus olhos que morriam tão tristonhos, Parecem que estão vendo velhos sonhos...
19
Depois de ter tocado imenso céu, Achado que era Deus por um momento, Provado da ilusão, perfeito mel, Ausência se tornando sofrimento.
Vagando sem destino o meu corcel, Refaz esta ventura em pensamento Felicidade? Um barco de papel Que esvai e se destroça em fogo lento.
E; viva, uma saudade faz do afago A tempestade imensa em calmo lago Deixando como herança, ausência, o nada.
Marcado por lembrança algoz, ardente Quem dera se eu pudesse, de repente Viver o que perdi na longa estrada.
5020
Depois de ter tentado ser feliz, Aquele cidadão tão sem cuidado, Expondo a mais terrível cicatriz, Vivendo o seu caminho desregrado.
Sonhando com o amor que, inútil, quis, Por um tormento insano, já tomado Destino solitário, vida gris, Penando por jamais haver beijado.
Sedento de desejos sem espanto Cegado pelo imenso desencanto Pra seu grande prazer, doce regalo,
Sem ter quem inda possa, enfim, amá-lo - Como alguns coleguinhas do recanto, Felicidade encontra, num cavalo!
21
Depois de ter tentado inutilmente Singrar farta alegria em minha vida. O sonho deste velho decadente Encontra esta resposta descabida.
O tempo vai passando e de repente, Minha alma sem defesas, distraída Tomada pela noite plenamente Sem nexo vai sem rumo, está perdida.
Acordo deste negro pesadelo, Mal posso, na verdade, assim contê-lo Transborda em cada poro, hemorragia.
Qual cego que tateia, escuridão Recebo esta tristeza, solidão Tornando as ilusões sem serventia... Marcos Loures
22
Depois de ter somente solidão Colecionando espinhos no caminho, Vagando pela vida; tão sozinho, Debruço o meu olhar nesta amplidão.
E vejo o que sonhara em solução Trazida pelas mãos feitas carinho, Da sorte de viver eu me avizinho, Vencido vou, talvez, pela ilusão.
É nesta conjuntura que eu me perco, O corpo servirá de algum esterco, Porém uma alma tola se despreza.
Ao ver-me verme só e sem destino, Com toda realidade eu já me afino: O fardo que carrego tanto pesa. Marcos Loures
23
Depois de ter perdido a minha força Eu vi o que restou da caminhada A boca se mostrando arreganhada Por mais que a gente tente esquece a morsa.
Vontade de seguir quem não se esforça Mas tendo como herança a debandada Dos sonhos não sobrando quase nada, Nem mesmo uma esperança inda reforça.
A cor dos meus cabelos dizem tudo, E mesmo que inda tente não mais mudo E mudo cambaleio quase caio.
A moça rebolando os seus quadris, Os olhos cortejando, por um triz Pensando em novo amor, quase me traio... Marcos Loures
24
Depois de ter passado tanto tempo, Vestido de ilusão não mais me mostro. Não quero ser teu simples passatempo, Sorver da vida a força de um colostro.
Que faço desses versos, te pergunto; Que faço dessa vida sem meus versos? Não vejo mais leveza neste assunto, Seguindo por caminhos mais diversos.
De versos, diversões, tuas versões São várias as verdades que inventaste. Vencido sem saber mais de verões Não quero que me trates como traste.
Eu amo, simplesmente, nada mais; Por isso meu amor, até jamais...
25
Depois de ter passado a vida inteira Numa procura insana por amor. Uma ilusão completa costumeira Forrando este meu peito sonhador.
A sorte nunca foi a companheira Deixando em suas marcas, sempre a dor. Inverno vem chegando, vou sem eira Restando só tristeza a me compor.
Quem dera a juventude retornasse, Pudesse retornar aos belos dias. Quem sabe assim amor eu encontrasse...
Mas nada me restou. A vida passa, Retoma o que me trouxe em fantasias, Cobrando pelo que me deu de graça...
26
Depois dessa esperança que perdi, De novo meu amor já se apresenta. Não quero mais saber se já sofri, Uma dor no meu peito; se aposenta!
Eu quero te encontrar, de novo; amor. Dançarmos sem parar, a noite inteira. Nos braços inebrio sem pudor, Procuro teu carinho, companheira...
Não deixo mais tristeza vir comigo, Jogada n’algum canto, se perdeu. Amar sem ter limites, eu prossigo, Imerso em teus carinhos, já sou teu...
Eu sonho nossa vida sempre assim, Comparsas; somos cúmplices enfim...
27
Depois de um tempo amargo, ora remoto O amanhã se promete mais airoso De estrelas, coração em paz eu loto Provendo amanhecer maravilhoso.
Recôndita emoção já se aflorando Refaz antigo passo, trama a festa Um dia que virá; decerto brando, Felicidade plena, cedo atesta
Vivendo o que me resta do teu lado, Não temo mais as pedras nem espinhos. Num tempo tão perfeito vislumbrado, Certeza de alegria, lua e pinhos.
Que toda fantasia, num instante Em glória extasiante nos encante...
28
Depois de um dia inteiro trabalhando Chegar à nossa casa e te encontrar. O quarto em tantas velas perfumando; As janelas abertas... O luar... Champagne bem gelada, borbulhando, Morangos, chantilly... vou desfrutar
Essa lingerie preta, cútis morena; Deitada nos lençóis, alvos, macios Uma delícia rara que me acena Convida para novos desvarios... A noite que começa assim, tão plena, Em gostos delicados, arrepios....
Levado pelo amor, em correnteza; Na pura excitação desta surpresa... Marcos Loures
29
Depois de trabalhar feito cachorro Mereço simplesmente a recompensa Que chegue mansamente no socorro Do amor que me domine e me convença.
As pedras destroçadas no caminho, As curvas da morena que não veio. O medo de perder me faz carinho E nada da morena, perna e seio.
A noite que começa em botequim Termina matinal, bruta ressaca, Amor que não começa não tem fim, A sorte novamente mente empaca.
Por que diabos sempre foi assim? Amor não quer saber mesmo de mim...
5030
Depois de ter tomado uma aguardente Em plena solidão, perdi meu rumo. Eu sou um sonhador e agora assumo Que tudo não passou de dor de dente.
Amar e ser feliz me faz contente, Refaço em minha vida, antigo prumo E bebo da alegria, todo o sumo. É bem melhor assim, meu peito sente.
Florida a senda maga da esperança Chamando-te querida para a dança Que trança entre as estrelas, sentimento.
Vencer as tempestades com sorrisos, Não quero mais meus versos imprecisos, E espero ter de ti, amada, alento... Marcos Loures
31
Depois de ter nadado até cansar Esbarro neste cais e já me afundo. Perdido sem saber do amor profundo Vencido encontro a morte no teu mar.
Não tendo nem mais onde te buscar Eu vago pela casa num segundo, O coração se veste vagabundo Torrencial a chuva a me molhar.
Recolho os meus escombros me formato, Porém sem ter sequer algum retrato, Eu mato o bem que outrora já queria.
Fazendo deste amor o meu saveiro, Plantando em solo frio e sem canteiro Encontro a tempestade dia-a-dia. Marcos Loures
32
Depois de ter corrido a noite inteira, Fugindo do Diabo sorrateiro, Minha alma sem juízo, aventureira Encontra um paraíso verdadeiro!
Mulher igual àquela, eu nunca vi, Beleza sem limite cheira à flor; Amor que se transforma em colibri Esquece do passado qualquer dor.
Deitando com vontade de fazer Aquilo que Deus sabe e nos mandou, Porém ao encontrar tanto prazer, Imagem tão faceira transformou.
Bem antes que o desejo se obedeça, O fogo mostra a mula sem cabeça! Marcos Loures
5033
Divago sobre sonhos e promessas Adagas que penetram o meu peito, E mesmo que pareça satisfeito, Enfrento nuvens negras, tão espessas.
E quando em novo rumo recomeças Adentra a solidão e invade o leito De quem farto desejo fora o pleito Inúteis fantasias que confessas...
Medonhas cordilheiras entre nós, No vale que vislumbro logo após A solução deveras esperada.
Mas quando tu virás? Ninguém responde, Da história novamente perco o bonde, Procuro e tão somente encontro o nada...
034
Ditoso sentimento que de outrora Dissera minha sorte em teu tormento. Ninando meu amor, mandando embora Carinho que se foi do pensamento.
Aquela que gritara redentora Morrendo bem distante, em frágil vento, Não posso mais gritar que a vida chora Causando nos teus olhos, sofrimento.
Do lodo onde surgiste, perla falsa, Armando minha sina em tais frangalhos. Amada minha, perdendo nau e balsa,
Apenas esperança suja e frágil. Quebrando minha sorte em podres galhos. Meu coração se mostra bem mais ágil...
035
Ditoso quem amou e de amor foi semente... O brilho, em sua, vida espelha as esperanças, Enquanto minha dor espera por mudanças Que nunca mais virão. Vagando qual demente
Em meio ao negro céu; o meu olhar, ausente, Guardando, na minha alma, o resto das lembranças, Com meu final, medonho, estreita as alianças... A dor deste vazio, o meu coração sente...
Quem dera ser feliz! Um vento mais ameno, Um sono mais tranqüilo, um mar de amor sereno... Será que enfim mereço, um dia, ser feliz?
Não creio e não persigo, os maus presságios traçam A linha do futuro e nem sequer disfarçam... O quadro doloroso escrito em sangue e giz... Marcos Loures
036
Diversos sentimentos que nos movem Mostrando em tal relevo as diferenças, Tuas lágrimas, querida, não comovem, São sempre diferentes nossas crenças.
A cada nova queda, o meu sorriso Tua vitória causa desengano A glória que se mostra sem aviso Da dor que tu carregas eu me ufano.
Mas ando lado a lado o tempo inteiro Não posso mais de ti me libertar. Se precisar, talvez de um companheiro, Comigo pode sempre, enfim contar.
Já tive meus momentos de amargura, Por isso eu te darei tanta ternura...
037
Diversos e devassos sentimentos Confluem meus desejos e prazeres. Sentindo que são vãos os meus tormentos Invado totalmente os teus quereres... É minha amada amante, ar e promessa, Fazemos de um momento, toda a festa, No amor tão delicado e assim, sem pressa... Na cama, os dois exaustos, o que resta De toda essa volúpia, da loucura... As mãos silenciosas se entrelaçam Num gesto de pureza e de ternura. Dois corpos seminus quando se abraçam Nos dão este sentido mais preciso, De como deve ser o paraíso!
038
Diverso do que outrora fora vil Solidão, nosso amor nos extasia. Beleza sem igual jamais se viu, Traçando em realidade, a fantasia.
Dois corpos que se tocam plenamente Por sobre estes lençóis, sedas, cetins, Fragrâncias divinais rondam a gente Mostrando a plenitude dos jardins.
Enamorados vamos noite afora, Suspiros e gemidos, doce alento. Eu quero teu amor, e desde agora Não tenho sequer outro pensamento.
Desejo nestas noites sensuais, Somente ser só teu e nada mais.
039
Diverso de mim mesmo me procuro E tantas vezes fujo do que sou, Da claridade encontro o céu escuro Colhendo o que em verdade não restou.
Se o chão que cevo- louco se faz duro, Meu sonho no vazio mergulhou, Saltando num abismo, nego o muro Antítese que a vida me legou.
Por isso sou poeta, um fingidor. Pessoa que me habita vez em quando, Jamais serei de mim, o tradutor
Nesta disparidade, minha fonte Permite que eu prossiga me enganando Quebrando com meus versos, cada ponte... Marcos Loures
5040
Diversas emoções teu canto traz, Ao fenecer da tarde, trama a lua Desnuda em plenitude, mais audaz Enquanto a poesia em ti, cultua
Além da eternidade, imensa paz, Espalha tantos brilhos pela rua. O amor que tão somente satisfaz, A cada nova noite, continua...
Graciosa melodia que alma entoa Adentra o meu saveiro pela proa E molda com suprema galhardia
O alvorecer que tantas vezes quis, Gritando em liberdade: sou feliz, Num cântico infindável irradia... Marcos Loures
042
Diversas as facetas de um Amor, Permitem que eu me sinta sempre à bordo, A dúvida persiste, não discordo, Matizes desta mesma, única cor.
Na tela que em palavras quis compor, Nos braços deste encanto quando acordo Mal vejo o seu contorno, o seu rebordo, Mas tento ser um bom navegador.
Recíprocos desejos que se tocam, Provocam vendaval ou calmaria. Porém, se convergentes sempre enfocam
O sentimento imenso que traduz, Às vezes tanta dor, ou alegria, Mas traz em si a terna e frágil luz...
043
Distante desse amor que mora longe Tão longe que não posso mais pensar Amor que tão distante vou por onde Buscando nessas ondas desse mar.
Distâncias são detalhes tão pequenos Que nada impedirá nossos anseios, De noite nos teus braços mais morenos Roçando minha boca nos teus seios...
Saudade de viver sem mais temer Vivendo sem distâncias nosso amor. Nas saias que pretendo me esconder Procuro teus desejos, meu ardor...
Amada estás mais perto a cada dia, As asas meu amor, por certo, cria...
044
Distante de teus olhos de teus seios, Meus dias invernosos vão sem brilho... perco-me nos caminhos que não trilho; Sonhando com delícias meus anseios...
Distante de teu corpo caço veios; Mas nada encontrarei então me estilho. Não tenho mais nem cais nem tombadilho, Sem rumo, minha vida sem recheios...
Quis muitas vezes longe de teus braços Tentar seguir, mas perco meus espaços, Esvaem os meus dias, pelas mãos...
As horas, meus minutos, todos vãos... Sonho com tua boca rubra, manso; Te procuro, onde estás? Mas não te alcanço! Marcos Loures
045
Distante de teus braços por uns dias, Vaguei qual cão danado em lua cheia Uivando minha dor, em agonias, Lateja a solidão em cada veia.
As noites se tornaram bem mais frias, Somente uma ilusão inda permeia Os medos e as angústias. Ledos dias, Perdidos sem luar, em cinza areia...
Mas vejo que voltaste, sorte imensa, Mergulho então num mar de fantasia. Mal sabes, meu amor, quanto eu queria
Receber de ti farta recompensa Nos lábios tentadores da morena, Certeza de uma vida mais serena... Marcos Loures
046
Ditoso caminheiro, tanto engano! As pernas andam bambas, disso eu sei... Renovo a cada dia um velho plano... Fantasias de amor? APOSENTEI!
Quem faz de sua vida uma promessa De sonhos que não pode mais cumprir Depois de tanta vida se confessa O resto do que fui, e não quis ir...
Mas amiga, te peço uma atenção, A vida noutra vida se revela. Meu velho estropiado coração, Sem dentes vai ficando mais banguela...
Mas trago uma esperança sem malícia, Viver amor intenso? Que delícia!
047
Ditando meus caminhos, alva lua Trilhando por sertões e pelas ruas Minha alma assim noctâmbula; flutua, Procura pelas ninfas, belas, nuas...
Nas folhas prateando minhas sendas, Mostrando qual destino perseguir. Na femina presença sedas, rendas; Pretendo te tocar e te sentir...
Nas floridas searas, rumo e sina, Pairando meus segredos, teu canteiro. Tua presença, amada, diamantina Com brilho sensual e verdadeiro...
A lua com seus rastros... tudo quieto... Polvilhando o meu sonho mais secreto...
048
Distantes do que foram os teus sonhos, Os dias se passaram sempre em tédio. Herdaste com certeza, os mais medonhos Desastres dos amores sem remédio.
Agora que em tristezas se debulha, Agora que o sorriso já se esconde; Granando o sofrimento, tanta bulha, O canto se escondeu, não sabe aonde...
A noite se tornou uma quimera, Do riso manso, a dor em tempestade. No salto perigoso desta fera Da víbora terrível, a saudade...
Agora que percebes solidão, Amiga, estendo a ti, a minha mão...
049
Distante, tão distante minha infância... Os jogos que passamos na ribalta, Não resta nem detalhe nem substância. Saudade fustigante me maltrata...
Nos altos desses cerros, discrepância Incêndio destruindo a mansa mata. Perdido no meu barco, intolerância Aberrações, minha alma, me arrebata...
Sei que deveras, finjo que eu existo... Os olhos se perdendo subjetivos... Infância machucando, virou quisto...
Vivendo a procurar, vasculho o lodo, Meus sonhos perecíveis sobram vivos. Sou apenas pedaço, caço o todo... Marcos Loures
5050
Distante dos teus braços, fico triste, A vida vira logo uma bobagem, Amor que tu bem sabes já resiste Não sendo mais um sonho, uma miragem.
Convida para a vida que persiste Com força e com carinho em boa aragem, No coração, amor que sei existe, Fazendo no meu peito uma viagem
Que leve aos olhos teus, olhos sedentos Dos teus, momentos lindos de viver. Rondando tua cama, fortes ventos,
Chamando para a noite em tal prazer Que invadem todos estes sentimentos E fazem nosso amor, meu bem querer... Marcos Loures
051
Distante do que outrora fora sina O medo transtornando cada passo. Amar demais. Ao estender meu braço A voz de uma esperança desafina
Um canto mais tristonho determina Sentido em perfeição, já não mais traço Perdendo pouco a pouco o meu espaço Saudades sem limite me azucrina.
Os restos do que fomos pesam tanto, A noite se cumprindo em desencanto, Minha alma se perdendo em explosão
O vento da lembrança, sempre forte, Mudando a direção, sonega o Norte Deixando tão somente a negação... Marcos Loures
052
Distante do mar morro lentamente Nesta infindável sede em um ocaso Que toma o coração, saber e mente E leva, de repente ao fim do prazo Gerando este momento mais urgente Da sorte que se fez ao léu, acaso..
Se pensamento fosse liberdade Renasceriam campos e jardins. Pousando no que fora eternidade As horas prometendo pelos fins Restando-me, quem sabe, uma amizade Que torna nossos medos mais afins.
Do mar que não navego, nem pressinto, As cores da saudade em que me pinto...
053
Distante do deserto que eu soubera Há tempos em areias escaldantes, A solidão carcome feito fera Meus dias mais felizes, tão distantes.
A vida sem perdão já degenera Os sonhos que pensara triunfantes Rondando a minha cama esta quimera Terrível dilacera por instantes
Prazeres que eu tivera há tantos anos... Apenas na amizade soberana Talvez encontre forças para a luta.
Deixando para trás os desenganos, Uma palavra amiga e mais humana Permite sossegar a força bruta... Marcos Loures
054
Distante deste amor, do calor dos teus braços, O frio me tomando; espero a tua volta. Eu quero recompor a força destes laços Minha alma sem carinho, aos poucos se revolta
Reclamo tua boca ausente... Perco os passos; O pensamento leve; eleva-se e se solta Voando pelo céu seguindo por espaços Precisa de teu colo e nele sua escolta.
Amor por onde andaste... Aonde te perdi? Só sei que a tarde chega eu te procuro e nada... Vontade de gritar: Meu bem; estou aqui!
Sentado em plena areia, as ondas me tocando, Sinto no manso vento, a voz de minha amada, Dizendo: Meu amor... Aguarde... Estou chegando...
055
Distante desta boca que eu beijara Uma amargura toma toda a cena, Até uma esperança me envenena A luz se torna frágil, mesmo rara.
A queda se promete e desampara Saudade se tornando forte e plena, Corrói o que plantara a paz amena. Matando o que tão pouco inda restara.
Os dias se tornando pesadelos, As dores se entranhando, vis novelos E toda uma existência morre em trevas.
Sem lume, sem faróis, eu sigo cego Traído pelo barco que navego Tristezas dos meus olhos fazem cevas. Marcos Loure
056
Distante das quimeras desta vida Meus braços encontraram seu valor Nesta presença amada e tão querida Que trouxe minha amiga em tanto amor.
Se a sorte parecia já perdida, Se o dia foi perdendo o seu calor, Na força da amizade uma saída Que traz para o destino um esplendor.
Eu agradeço a Deus a todo instante Por ter te colocado em meu caminho. Iluminando o rumo em deslumbrante
Farol que se demonstra a cada dia. Cada palavra tua de carinho Trazendo para mim, tanta alegria!
057
Distante da magia de um encanto Que move com firmeza cada passo, Sabendo deste sonho neste canto Um verso carinhoso a ti eu faço.
Descanso meus caminhos no teu braço Cadenciando a vida eu me agiganto Vivendo o que desejo, eu amo tanto O verso que me serve de regaço.
Não posso mais negar que necessito, Vertendo o meu olhar sobre o infinito, Dos laços que nos unem. Da união
Que é feita com ternura em precisão Vislumbro a maravilha que me traz O doce encantamento feito em paz... Marcos Loures
058
Distante da amargura e sem lamento, Apenas alegria traz a voz, Atando uma esperança em fortes nós, Abrindo o peito aguarda o manso vento,
Que volta de repente ao pensamento, E mata a solidão cruel, atroz, Sabendo deste amor que vem após Os dias tão vazios, sofrimento...
A chama deste amor jamais se apaga, Curando esta ferida, dura chaga, Soltando uma emoção em alto grito,
Vencendo a sensação de uma aspereza, Alçando num momento um infinito, Envolta em fantasias com destreza...
059
Distâncias sem igual, meu canto então alcança E traz felicidade a quem sempre sofrera Mostrando amanhecer em flórea primavera. Num bafejo gentil, agora vai mais mansa
A dor que me tomava; esta temível fera. Voltando num momento, a ser uma criança Que faz de cada dia a mágica festança, E toma cada estrela, e dela sempre espera
Um dia que será de eterno e calmo brilho, Selando com amor o rumo do andarilho Que ao ver a sua estrada, agora bem mais larga
Já sabe discernir, felicidade e luz, Pois tendo em amizade, amor que me conduz, Não quero mais comigo a vida insana, amarga
5060
Distâncias que são déspotas da terna Fantasia em que vivo tão somente O sonho de um desejo que, querente, Permite uma emoção, audaz e eterna.
Enquanto esta alegria ainda hiberna, Tomando o coração um mar ardente Da lava que se tem quando se sente Que escuna da esperança não se aderna.
Qual fora um vigilante em noite escura, Fazendo da ilusão, farol e lume. Estrelas vão girando num cardume
De luzes na sobeja e vã procura. Cuidando do canteiro feito em tílias, O amor vaga noturnas tais vigílias...
061
Distâncias que percorro embalde são vencidas... O canto que expressava agora vai calado... Uma ave que voava as asas já feridas, A noite representa o meu tempo passado...
Por vezes esperava as tuas mãos erguidas... O gosto do teu beijo, o grito torturado... A vida não passava, as dores incontidas... Destino desvendado, amor virou meu fado...
Meu coração batendo afoito sem sentido... Clarão que iluminava a noite dos meus sonhos... Amor nunca chegava esboçado no olvido...
A lua clareando o velho e bravo mar, Estrela que esvoaça os olhos meus tristonhos... No beijo que eterniza esta certeza: amar!
062
Distâncias que encurtamos num segundo, Sentindo cada toque em pensamento. Embora nos pareça mais profundo, O mar já não contém o forte vento.
De teus perfumes, lábios eu me inundo, E sinto-te vibrar em um momento, Por mais que seja vasto o grande mundo, Maior é com certeza, o sentimento.
Tocar a tua pele, te beijar, Roçando o teu cabelo entre meus dedos, Depois em teu destino mergulhar
Falando em teus ouvidos meus segredos. Deitar depois, envolto nos teus braços, Mais fortes que as distâncias, nossos laços...
63
Distâncias inclementes que me tornam Apenas um retrato do que fui. O mundo desabando logo rui E todos os fantasmas já retornam.
Espinhos em crisálida decoram Aquilo que jamais, pressinto, flui. O tempo de viver que assim me obstrui Permite assim desastres que me afloram.
Sou nada, nasci nada e morro inteiro Vencido por cruéis caricaturas. As horas que perdi, decerto burras
Na angústia de saber qual do tinteiro Das dores, cores mórbidas, agruras, Caminho sem saber, vivendo às turras...
064
Distâncias alongadas que me tramas Em versos e desejos mais ciganos Que sonham dividir milhões de camas, Com planos e armadilhas soberanos.
Amor sem ter remédio me vicia E torna nossa vida num inferno... De todo grande amor se propicia Os lumes que incendeiam meu inverno...
Amor que sempre trama uma esperança Nas horas mais difíceis, nunca falha... Amor que persevera sempre alcança Mesmo depois de tempos em batalha.
Portanto minha amada não mais tema, Amar sem ter limites, o meu lema!
65
Disseste-me insincera que não quer; Concebo tantas formas, novo estilo... Não me dizes jamais coisa qualquer, Lágrimas que choraste? Crocodilo...
Agora que me dizes teu affaire, Nas luzes que brilhaste não rutilo... Os teus fascínios vários de mulher, Resplandecem, deixando-me intranqüilo...
Nas horas que te quis não me querias... Agora simulando novo amor, Pensavas aquecer as noites frias,
Na cama com um simples vibrador! As mentiras sinceras que causei, Fortuitas, não garantem que te amei!
066
Distante de tão rara formosura, Meus dias se passavam simplesmente. Ausência de carinho e de ternura Tornando esta saudade que, latente,
Professa em duros cortes, amargura Volvendo sem avisos, de repente, Causando a sensação de noite escura Àquele que se perde, tolamente.
Encerro no meu peito uma esperança De um dia renascer em luz perene Cometa que se foi há tantos anos.
Assim, a sorte enfim, mostre aliança Sem mágoas nem desdita que se encene Mudando, de repente tristes planos...
067
Distante de quem quero e que desejo, Que faço do querer? Valha-me Deus! Se sonho todo dia com teu beijo, Na seca que invadiu os lábios meus...
Apenas te procuro e nada vejo, Temendo simplesmente um triste adeus Dos olhos tão risonhos num lampejo Que mate no meu peito tantas breus...
No ribeirão tão fundo da saudade, O medo de afogar vai me tomando. A vida é tão doída na verdade
Eu preciso aprender logo a voar. Tão longe vou vivendo suspirando, Querendo, nos teus braços, naufragar!
068
Distante de quem ama, se revela Em noite tão sublime esta saudade Roubando dos teus céus a rara estrela Que possa traduzir felicidade.
Do pensamento livre, corpo e sela Galopes nesta noite, em liberdade. Enquanto a poesia já se atrela Buscando no luar, felicidade
Entranhas os caminhos da tristeza, Bebendo a fantasia. Solidão Chegando mansamente põe a mesa
E muda dos teus ventos, direção. No passo que tu dás, tanta incerteza, Resquícios das loucuras da paixão...
069
Distante das quimeras, velhos amos, Em anuência mostram novos fados, Assim quando da vida desfrutamos Buscando em velha senda outros prados, Na solidão perversa nós achamos Os dias belicosos já passados.
Embora a fortaleza desmorone, Deixando sempre à mostra, na verdade, Fragilidade torna-me um insone Quem nunca divisou felicidade, A dor de uma esperança ao telefone Desliga. Foi engano. Falsidade...
Quem sabe se encontrando a ti, amiga, A liberdade plena, enfim, consiga...
5070
Discordo da verdade irrefutável, Toda unanimidade é mentirosa, Jardim com esperança em terra arável Permite tanto o abrolho quanto a rosa
A moça mais bonita é caprichosa, Porém nem sempre mostra-se agradável, Nas ruas do passado esta escabrosa Figura muito além do imaginável.
Penteio meus desejos com teu riso, Adorno os teus cabelos com carícias, Do quanto não mais sei sequer notícias
Aonde irei buscar o Paraíso? Não vejo outra saída senão esta Batuque na cozinha fez a festa.
071
Dirijo a geringonça desta vida; Freando vez em quando, eu acelero, Por mais que seja franco ou insincero O amor que tu me deste, Deus duvida.
Metade desta estrada está cumprida, Mas nada além do resto ainda quero. Criteriosamente não espero A data de sonhar está vencida.
Sem ter a validade de algum sonho, Retrato em desmazelo eu já componho E recomponho as coisas no lugar.
Medonho gargalhar de uma existência Sem riscos, gozos tolos, providência, Pressinto após a curva, o capotar...
072
Direi o amor que tanto desejei Sentindo o teu calor bem junto a mim, A solidão se perde num motim, A glória passa a ser a nova lei.
Dourando em alegria a nossa grei, Amor, este supremo querubim, Dizendo finalmente um claro sim, Responde ao que em delírios perguntei.
Os dias do passado, tão hostis, Moldaram tal futuro que hoje diz De toda a maravilha de um prazer.
Fartando-me de luz invado espaços, Seguindo com firmeza rastros, passos, Encontro este divino amanhecer... Marcos Loures
073
Disseste num rondel ser mentiroso O verso em que declaro o meu amor. Eu quero muito além de te propor Um tempo mais feliz, maravilhoso.
Também no meu passado tenebroso Eu tentei vislumbrar sol e calor, Que mitigasse, ao menos, o amargor De um coração de luzes, desejoso.
Mas saiba quanto eu quero o teu querer, E dele a maravilha de poder Seguir acreditando ser possível.
Por mais que a vida mostre-se irascível Queria que no amor acreditasses, Embora tão diversas suas faces... Marcos Loures
074
Disseram-me, não sei se isto é verdade, Que alguém por um momento, foi feliz. Amor prenúncio doce da saudade Determinando sempre a cicatriz
Que mostra quão cruel realidade Semente que abortiva, contradiz Gerando tão somente a falsidade, Deixando o céu deveras triste e gris.
Vereda que termina em triste abismo, Teimoso, ainda insisto e mesmo cismo Tentando vislumbra um horizonte.
Porém amor se empresta ao cadafalso, Procuro o diamante; estou no encalço Da falsa pedraria em podre fonte...
075
Dispersa entre as estrelas, segue a nave Chamada coração, sem timoneiro. O amor que se mostrou meu derradeiro Pudesse ser assim, manso e suave.
Segredo se perdeu sem lacre ou chave, À deriva sob vento costumeiro, O barco prosseguindo tão ligeiro Ancora esta esperança amarga e grave
Num cais onde pensara ser seguro. Usando da alegria, quero e juro Ser última viagem a que faço
Sabendo o teu olhar ser o meu guia, Ancoro sob o sol de um novo dia Tomando em claridade todo o espaço... Marcos Loures
076
Disforme, meritório de repulsa, Travas e trevas, fóbicos rejeitos. Vísceras em farrapos, trapos feitos, Nas vestes, hostes, cobras,dor avulsa...
Nos seus olhos sanguíneos, luz pulsa Vertendo pus, sorri, garras, nos peitos Expostos; restos, fogo, cáries. Leitos Procuras, mais lascivo, ris, expulsa...
Nos pântanos nos cântaros, servil; Nos âmagos dos néscios, dos bacantes, Caminha tortos passos, voas, vil...
Nos céus, seus pés por certo nunca mais... Repousa nos políticos tratantes, Descansa no Brasil, vil Satanás!
077
Disfarço cada lágrima num riso Que mesmo sendo falso, satisfaz, Abrindo o botijão, espalho o gás E perco o que me resta de juízo.
Se tudo o que nós fomos foi granizo, Não quero amor que seja capataz Tampouco a solidão que a vida traz Espalha cada sonho que organizo.
E quando num momento me arrebatas Sentir em minhas costas as chibatas? Criando carapaças, um crustáceo
Que sabe muito bem o quanto dói E mesmo assim se ilude enquanto sói Sonhar com vida mansa, calma e fácil...
078
Disfarces que assim trazes, eu conheço, Também tuas mandingas e artimanhas. Do amor eu conheci as suas manhas Depois de tantas quedas não tropeço;
Já sei dos teus recados e endereços, Partidas que tu jogas sempre ganhas, Olhando para os lados, as montanhas Não servem nem sequer mais de adereços.
Porém quem tanto quer, fica sem nada, E assim ao fim de tudo estás sozinha. Canteiro não suporta erva daninha,
Nem mesmo se em roseira disfarçada. Por isso, minha amiga, digo adeus, Jamais destruirás os sonhos meus... Marcos Loures
079
Disfarce que se esconde sob o mel Não deixa ver sequer a podre entranha, A dor que se promete ser tamanha, Impede, com cegueira ver o céu.
O vento que me assola, o mais cruel, Já sabe e concatena o quanto ganha, Na senda de minha alma, tão estranha, O verbo vem cumprindo o seu papel.
Mas tendo o meu cadáver insepulto, De toda esta verdade sigo inculto, Recebo tais mentiras em golfadas.
Olhando para frente escondo os ombros, Nego-me a ver assim, os meus escombros Jogados nas sarjetas, nas calçadas. Marcos Loures
5080
Disfarçando santidade As vadias se vingaram Rainhas da iniqüidade De santas já se postaram
Matam,sangram de verdade Nada mais aqui deixaram Os restos desta cidade Os olhos arregalaram
O pobre trabalhador, Acoitado não sabia Que essa mão que finge flor
Sempre foi a que batia Quem tão “puro”, “doce” amor De nosso sangue nutria... Marcos Loures
081
Discutir relação a noite inteira, Falar do que deu certo, o que não deu, Se eu quero balançar tua roseira, O amor entre conversas se escondeu...
Só peço, por favor, não dê bandeira Todo erro, se quiseres foi só meu. Depois vem a desculpa costumeira Nos dedos da rainha, um camafeu
Embora o diamante seja falso... A cada novo passo outro percalço, Descalço e recolhendo cada espinho
Eu vi que nada disso tem valor. O amor, nestas alturas, perdedor Caquético, morrendo sem carinho... Marcos Loures
082
Difícil caminhar se estamos sós! A solidão transforma-se em tristeza Aumenta, do riacho a correnteza E resta quase nada, mesmo após.
Ligados pela força destes nós, Aumentando o vigor que, com certeza Ajuda-nos a ver com mais beleza O que se apresentar perante nós.
E vamos, minha amiga, sem temores, Atravessando as sendas espinhosas, Nas mãos que se perfumam, tantas rosas,
Trazendo as esperanças por pendores. A sorte de viver, multiplicada, Sozinhos nessa vida? Somos nada Marcos Loures
083
Dimitri faz bagunça Mamãe logo reclama, Pareça uma jagunça Bota fogo na chama,
Não pode dar bobeira Ele aprontou mais uma, Fincou mão na roseira Bicuda, deu na Juma.
Moleque, já sossegue, Mamãe gritou do quarto, Batendo até no jegue, O bichano anda farto
De tanto solavanco... Mamãe trouxe o tamanco!
084
Dilúvios do passado deixam marcas Nos quase que jamais viraram sim. Naufrágios esperados, velhas barcas, Molduras esgarçadas dentro em mim.
A culpa dos meus erros, sei quando arcas, Mas nada valerá, sou estopim. Antigas promissórias, ledas, parcas, E tudo caminhando para o fim...
Não pesco sem anzóis e sem arpões, Os versos esquecidos das canções Que ouvíamos no tempo de criança.
No templo imaginário, nada resta, A cada novo sonho, apara a aresta, O corte amaro e lento da esperança...
085
Dilúvios apagando qualquer chama Não deixam mais o fogo me queimar, Paixão morrendo aos poucos, devagar, Apenas solidão, agora chama.
Torpeza faz das lágrimas a lama Aonde sigo o duro caminhar, Mudando as pedras todas de lugar, Não tenho mais nem limo, sequer grama.
E a queda que se faz em erosão, Exprime a força inútil da ilusão, Que toda noite chega, e nunca vem...
Vagando pelas sendas, vou sozinho, Não tendo mais ninguém vasculho o ninho, Buscando tão somente por alguém. Marcos Loures
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Dilapidados reinos e tesouros, Ausência de teu corpo, sofrimento. Os barcos procurando ancoradouros Encontram tão somente este tormento.
Amores que eu julgara duradouros Acabam, não restou nem um momento, Apenas os temíveis sangradouros Matando uma ilusão em fogo lento.
Macabras as saudades que ficaram, Ariscas emoções que permanecem. Desilusões, os medos ora tecem
Nem mesmo estas lembranças me anteparam, O que fazer se o reino se perdeu, Matando tudo aquilo que era meu... Marcos Loures
087
Dignificando amor em primavera A rosa que se deu matando espinhos Saltando sobre a dor, triste cratera Cuspindo em sentimentos mais mesquinhos.
A quilha do meu barco resistindo A toda ventania que vier, Beijando o rosto claro, manso e lindo Retrato mais perfeito da mulher
Que quer e que consegue o que pretende Estende suas mãos, e vem comigo, O abrigo necessário se desvende No canto em que entoando eu te persigo.
Consigo recolher a claridade Deixada pelo amor em liberdade...
088
Diga-me: como faço pra esquecer Aquela que chegou tão de repente E trouxe uma alegria de viver E já se foi embora, simplesmente... Eu era tão feliz e não sabia, Não tinha nem noção disso, querida, Agora que só tenho a fantasia, Só quero o teu amor, por toda a vida... Mas sei que nada mais sentes por mim, Seguiste tua estrada, o teu caminho, Porém eu tanto tenho amor sem fim, Que mesmo que eu encontre tão sozinho, Eu te agradeço amada, e rogo em prece, Quem ama de verdade, nunca esquece!
089
Difícil suportar a tua ausência, Eu sei quanto que peno quando vais Buscando noutros portos noutro cais Tomando minha vida em inclemência.
Às vezes é preciso paciência Mas logo te querendo sempre mais, Eu temo não te ver, amor, jamais, Isso seria, amada, penitência.
Respiro o teu amor a cada dia, E nada impedirá que isto me embale, Não posso permitir que alguém me cale,
Sou pássaro que canta de alegria Minha alma com a tua enfim decola, Arrebentando as portas da gaiola... Marcos Loures
5090
Difícil responder assim, amada, Eu sei que te desejo; isso me basta. Futuro renascendo em madrugada A noite que aproxima e nos afasta. Só sei que não mais sei de quase nada Imagem desta deusa pura e casta Se perde quando a deusa é observada
091
Difícil descobrir a direção Se o timoneiro está daqui ausente. Nem mesmo este passado mais recente Descreve com vigor a solução.
Negando a todo instante paz e chão , O medo de viver já se pressente E trama com saudade novamente O verso que se fez ingratidão.
Martírios e desejos incontidos, Contratos muitas vezes descumpridos, No fundo qualquer erro eu sempre assumo.
Mas vejo minha força se esvaindo Enquanto a noite fria vem caindo Roubando gota a gota todo o sumo. Marcos Loures
092
Diante da cultura universal Que tanto propalamos, eu estendo As mãos quando em verdade me contendo, Disfarço o que mais quero: ser boçal.
Um simples ignorante pontual Que vive pouco a pouco se perdendo, Segredos não conheço e nem desvendo Revendo cada passo, bem ou mal.
Não quero uma resposta, mas pergunto Fugindo muitas vezes deste assunto, Tentando parecer o que não sou.
Há tempos encontrei o que me basta, Se do amor meu verso já se afasta, Vazio simplesmente, o que restou.. Marcos Loures
093
Diamante que deixei na antiga gleba, Reverencia sempre o mesmo não. As flores do passado; em vão, receba Riscando cada nome, volto ao chão.
Amor de dinossauro até a ameba Merece mais um pouco de atenção. Quem ama quer o bem que se conceba, Calando o que se diz sem atenção.
Agora ao ver o brilho no horizonte Borrifo uma esperança, caço a fonte E nada voltará, eu sei bem disso.
Tentando reviver com tanto afinco, Às vezes sem ter como, quero e brinco, Olhando o meu retrato, mais mortiço... Marcos Loures
094
Diáfanos delírios de um amante! Na ebúrnea manhã abandonada, A procura do brado triunfante... Caminhando sem ponto de chegada,
Debruçado no umbral é fatigante A luta que se trava pelo nada. Transformada em imagem delirante Numa forma infeliz, mas rebuscada.
Meu destino por vezes falso, tredo; Em teus jardins se perde, sem proveito. Não consigo viver tolo segredo
Nem pressinto teu grito apaixonado, Delirar é decerto meu defeito, A morte selará meu triste fado... Marcos Loures
095
Diademas estrelares, liberdades, Orquestrando meus sonhos, passam breves, Compotas de emoções, felicidades Em cânticos noturnos, belos, leves...
Dos olhos de quem amo; claridades, Palavras de carinho- eu peço- leves Contigo para sempre – eternidades. Que as dores nos maltratam como as neves.
Eu te amo, simplesmente e nada mais. Sou teu parceiro, tenha esta certeza, A vida se apresenta em tal leveza,
Que mesmo sendo um barco de papel, Que enfrenta a correnteza até o cais Iremos, libertários. Asas. Céu... Marcos Loures
096
Devores o que resta da carcaça, Banqueteando em festa assim medonha. Imagem que se mostre mais bisonha, Da fera deglutindo a sua caça.
A fome de viver já não me abraça, Minha alma em desespero não mais sonha, O medo dentro em mim agora enfronha Enquanto uma esperança se esfumaça.
Eu sou, disso eu bem sei, um derrotado, Trazendo as cicatrizes do passado, Vivendo por viver e nada mais.
Num último desejo feito em verso, Embora até pareça assim perverso, Que o resto da carcaça, devorais...
] 097
Devora uma paixão solenemente Não cabe nem espaço para a paz. Tomando cada canto deste mente Paixão me inutiliza, tanto audaz.
Não penso mais em ter a liberdade Liberto que me encontro em tal paixão Brilhando não consigo claridade, Do sim sempre mergulho em pleno não.
Faminto nunca fico saciado, Sedento, no oceano em que me encontro. Não deixo respirar o ser amado, Em paz já necessito desencontro.
Mergulho sobre as pedras, sem ter medo, Apaixonadamente, um desenredo...
098
Devagarzinho eu chego do teu lado, Encontro-te desnuda, radiante. Teu corpo tão divino, desejado, A vida se transforma num instante.
Amor incontrolável nos domina, Prazer que nos espera, à flor da pele. Bebendo desta fonte, rara mina Ao gozo mais supremo nos compele.
Descubro teus caminhos, noite afora E nada nos impede: sou feliz. A fome do desejo nos devora Eu quero novamente, peço bis.
Assim, num fogo intenso, brasa insana A vida se mostrando soberana... Marcos Loures
099
Deus tarda mas não falta, minha amada... Espero que tu voltes para mim... Depois de ter sumido pela estrada, Cansada. Quase morta, bem no fim..
Minha saudade sempre emoldurada Plantada em cada flor do meu jardim, Mostrando que essa vida nunca é nada Se não te tenho mais, morrer enfim?
Mas ouço deste vento benfazejo A voz que acalentava meu passado. Da boca mais gostosa, meu desejo
Já diz que está chegando, minha amada. O sol vem renascendo iluminado... Mal abro a porta... vejo... não há nada...
5100
Deus salve quem trabalha e não se cansa De ter uma esperança libertária. Vivendo o nosso amor, eu sou um pária Mordendo o meu passado. A vida avança.
Deixando tão somente esta lembrança Que um dia se fez rude e necessária, De todos os meus erros, alimária; A lua se desnuda em temperança…
Macabros os escombros de nós dois, E embora não resista, no depois Exponho o que sobrou das ilusões.
O parto não surtiu sequer efeito, Mas sigo, desta forma, satisfeito, Bebendo os teus resquícios, podridões... Marcos Loures
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