lira morta

Data 30/08/2007 22:54:48 | Tópico: Poemas

soltou-se uma limalha
do gume mal afiado
de uma faca canalha
bradida sobre um calado...

soltou-se ao raspar num osso
preso dentro de um peito
que continha um colosso
repulso e sem jeito,

o enorme desajeitado,
encolhia e inflamava
com corte de morte cravado
nas pancadas que o coração dava...

desajustado por provocação
mas soldado desde semente,
o siamês, inconho, chegado irmão
fenecia, caído em solo dormente...

oh lira que se lhe deu escrita
ao silêncio esfaqueado por sombra
de um corpo dado à desdita
por palavras que já ninguém lembra...

oh morte que mataste nova,
rasgando pele, ossos e tudo,
os resquícios fugídios da prova
que se cinge à voz do dono que é mudo...

morreu a lira...
o estro que nasce e foge
quando a alma se estira
para mais longe do que ontem e hoje.

Valdevinoxis



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