SONHO DE NATAL

Data 06/12/2010 08:12:47 | Tópico: Contos -> Natal



SONHO DE NATAL


Era Natal. Eu não entendia o “por que”, de crianças bem vestidas, cheirosas, ter a companhia de seus pais e com eles brincar alegremente nas praças e parques, enquanto, eu, vendia balas, para a minha sobrevivência. Descalço e com minhas roupas surradas.
As crianças corriam alegremente em suas bicicletas, outras brincavam com uns carrinhos que tinham motor e uns botões que eles apertavam e, os carros andavam... sem cordões. Que bonito! Como eu queria brincar, estavam tão felizes. Conversavam alegres, mostravam os seus brinquedos, a sorrir, dizendo: foi o Papai Noel que me deu!

Segurando o meu tabuleiro de confeitos, eu ficava a olhá-los pensando: Papai Noel... Será que ele dá presentes aos pobres?
Comecei a conversar com uma das crianças. Eu queria saber sobre papai Noel. Quando a mãe do garoto nos viu conversando, gritou: Vem Marcos! Correndo o pegou pelo braço levando-o para distante de mim.
Ah! Eu queria perguntar tantas coisas ao Marcos... Ouvi falar de um homem bom, barrigudo e amigo
das crianças. Um velhinho, que satisfazia os desejos de cada uma delas; que as fazia felizes.

Pensei: no próximo Natal, eu vou fazer um pedido a ele. Fiquei muito alegre e esperançoso. Perguntei aqui, ali e acolá... Como fazer? Como ele vai saber o que eu quero? Como ele vai saber onde moro?
– Escreve... Pede a ele!
Disse Paulinho, o meu vizinho. Mesmo pobre, ele pediu um brinquedo e Papai Noel atendeu. A mãe dele era doméstica e trabalhava na casa de uma doutora que morava num bairro nobre da cidade. – Ah! Como demorou a chegar o próximo Natal. Enfim, chegou!
Fiz uma carta pedindo uma bicicleta. Quero nova, como as das crianças da praça. Um carrinho para os meus irmãos e uma boneca para a minha irmã. Se ele dá tudo novinho para as crianças da praça.., vai nos dar também!

Paulinho o meu vizinho, disse que pediu um carro de bombeiro... Ele, colocou o pedido dentro do seu sapato.

Paulinho... Eu não tenho sapatos, posso colocar dentro do meu chinelo?

– Acho que sim!

Coloquei. Quase que não dormi. Não pelo desconforto – eu dormia apertado entre os meus cinco irmãos, em um colchão velho, no chão de barro batido – mas, pela ansiedade... Eu queria ver a alegria dos meus irmãos e também, poder andar de bicicleta.

Aos sete anos de idade, eu trabalhava para ajudar a por comida em casa. Sentia-me responsável.
Pela manhã... Nada! Nenhum presente. Nem bicicleta, carrinhos, nem mesmo a boneca... Que decepção!
Chorei e chorei muito. Minha mãe assistiu tudo, chorando comigo. Ela era diarista, no dia seguinte, mamãe trouxe de uma casa onde trabalhou, uns pacotes, tão diferentes daqueles que se faz nas lojas... Uma boneca velha e careca, para a minha irmã e uns carrinhos com as rodas quebradas para nós, os meninos.

Entendi que papai Noel não é o mesmo para todas as crianças. Ele dá brinquedos ricos para as crianças ricas e pobres para as crianças pobres.., Muitas vezes, não dá nada!

O real entendimento veio depois... muito depois. Quando eu cresci. Descobri que papai Noel é só fantasia.


EstherRogessi.Escritora UBE. Mat.3963.Conto:Sonho de Natal, Categoria:Narrativa.Imagens Web. Fotomontagem: by EstherRogessi. 06/12/10

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