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    	Data 07/12/2010 12:32:33 | Tópico: Poemas
 
  |   Boca da noite... Caminho a esmo até chegar àquela velha ponte de assoalho já apodrecido. Ao longo da extensão da ponte, duas pistas de tábuas de madeira sobre grossas vigas  —  é o que está disponível aos veículos, carroças, carros, caminhões, cavalos e burros viajadores. 
  Olho as águas, olho... e dirijo-me para o centro da ponte. Ao chegar ali, dou com um belo ramalhete de flores caído na lateral da ponte  —  mas não havia ninguém à vista, nem numa margem, nem na outra  —  ninguém!
  Lá embaixo, as águas correm, correm, e correm... parecem exercer uma atração  —  seria um impulso fatal de saltar sobre a guarda da ponte, como aquele impulso que uma arma carregada exerce sobre a gente? 
  E agora, maldição, agora isto! Por que estas flores caídas na ponte, a esta hora da tarde... mil coisas penso: alguém... uma partida,  a desistência de tudo, o desamor, a morte...  onde — nas águas? 
  Tenho esta implicação com as coisas que me atingem  —   por que eu? Por que diabos, as pessoas, o mundo hão de me escancarar visões assim, como a destas flores cujas pétalas o vento agita... num adeus?
  O mundo não me poupa, e as pessoas, se me poupam, eu as amaldiçoo até... O melhor é nada, nada mesmo, nem existir  —  existir está em excesso, faz mal à saúde... Está... e também, não está!  Ao certo, nada sei... 
  Agora, enquanto eu viver, nada me apagará da mente a visão deste maldito  —  sim, maldito, maldito sim!  —  ramalhete de flores!
  Por que não passou alguém antes de mim e o atirou às águas?  Quem sabe se, na corredeira,  elas cantariam com as águas a mensagem que ocultam de mim...
 
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