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    	Data 07/12/2010 12:37:21 | Tópico: Poemas
 
  |  [Entardece no Arraial do Barreirão... Caminhos de Araguari - MG]
  O sino rouco que me entardece Toca repicando antigas plangências Capturadas pelos meus sentidos, Memorações que para sempre ficarão.
  Na montanha que azula ao longe, A estrada de cascalho branco Que serpenteia, erma, pelas encostas, É o caminho onde lua escreve mistérios.
  A gameleira, de dia, o refrigério da sombra, De noite, a copa cheia de assombrações. A revoada de andorinhas na torre da igrejinha Anuncia uma liberdade além das montanhas azuis.
  A ave-maria que se evola para o alto Conduz-me ao infinito e me convence De que o céu é tão bom, tão bom Que até me dá vontade de morrer!
  O campanário da igreja é a visão solitária Do viajante que pára e espia, do alto da colina, O lugarejo onde a vida — ainda bem! — Não tem possibilidade alguma de mudar.
  Para quem toca o fenômeno desse sino? Toca para aqueles bois carreiros Apenas descangados da lida, E para o burro já liberto do arado.
  Toca para onde se perdem os sentidos, Para o aberto das invernadas, De onde, o gado manso retorna Numa melancolia de passo lento;
  Toca para o cavaleiro Que esporeia o animal Na ânsia de apressar o passo Para não chegar de noite;
  Toca para a corredeira do corgo Que cantarolou alegrias o dia inteiro, Mas agora, nas sombras do entardecer, Murmura-me os medos da noite;
  Toca para alongar a espera ansiosa Por quem ainda não chegou da cidade... Toca até mesmo para quem nem liga Para o choro do toque do sino.
  No arraial que escapou das águas brabas, Ainda o sino tocará como antigamente, Chamando a todos para o concerto Eternamente impossível de Céus e Terra! 
 
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