Maquina Infernal

Data 01/09/2007 00:49:37 | Tópico: Contos -> Romance

Maquina Infernal

Chovia, chovia e os pingos saiam de ti deslizando por teus cabelos, a brisa que trazia a chuva parecia desviar-se em ti, parecia ter receio de ti. As invisíveis folhas passavam por ti sem te tocar. As tuas vestes flutuavam e a tua silhueta explodia num bailar com o vento.
Mesmo à tua frente encontrava-se outro alguém, outro eu, outro ser. Fitava-te agora esperando pelo primeiro passo, pelo primeiro olhar, pelo primeiro sorriso, pelo primeiro golpe.
Tudo em ti parecia solene, tal qual um bando de flamengos banhando-se num rio, como uma menina ingénua que penteia seus cabelos antes de deitar.
Pelo contrario, tudo em mim tremia, todo eu suava, como uma mandada de Gnus que teima passar margem a margem pelo rio repleto de morte, como o ingénuo menino esperando o primeiro beijo.
Os nossos olhares cruzavam-se como peças de um jogo de xadrez.
Num jogo em que o primeiro golpe a ser disferido nos traz grande desvantagem.
Depois de desembainhadas as armas da-mos, agora, passos numa terrível dança onde desenhamos um circulo a cada avanço.
Olhamo-nos nos olhos procurando um ponto fraco, prevemos os golpes de cada um, improvisamos os golpes de cada um, desejamos pelos golpes de cada um.
O golpe existiu naquele segundo.
De quem terá sido?
As nossas armas foram-se cruzando, foram embatendo implacavelmente umas nas outras, saltavam faiscas, saltavam pedaços, saltavam gemidos de dor não só das pancadas.
Fomos prometendo conforme lutava-mos, fomos morrendo à medida que os nossos olhos se encontravam no bater do coração. O bailar das espadas era sublime, tocavam-se como o ritual de acasalamento de um cisne, como o descer de uma semente da arvore, como o sensual ballet de uma deusa. O guerrear das nossas almas alimentava todo o mundo à nossa volta, toda uma natureza eclodia ao bater das espadas, das mãos, dos pés...



...To be continued...


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