
MEUS SONETOS VOLUME 076
Data 13/12/2010 08:11:40 | Tópico: Sonetos
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01
Inexoravelmente voltarás! O tempo me deforma e te conquista. Nada mais do que fomos restará, A não ser tempestade que resista
Por entre tamarindos, ananás Vergonhas de deixar a menor pista... Leio nos teus jornais tempos atrás, Que de mim nada mais nem sombra e vista...
Os meus segredos frágeis, necrofágicos, Formam um mausoléu que já cultuas... Os olhos demarcando são pelágicos,
Os tempos se trafegam necrológicos. As formas que deformas, carnes cruas. No coquetel vermelho, tons ilógicos... Marcos Loures
02
Invade qual posseiro, benfazejo. O amor que não se cala e nos entranha Vislumbra todo o sonho que eu desejo, A sorte nos teus braços sem barganha.
Durante muito tempo eu procurara Espelho de minha alma noutra face, A vida que se fora assaz amara Num novo amanhecer, destino trace
E deixe este perfume mavioso De flores sem igual no meu jardim. Amor, por tantas vezes caprichoso Expressa esta vontade dentro em mim.
Pensara no amor como passado, Porém eu encontrei, emocionado.
03
Invade o coração sem desengano Vorazes tempestades. Ainda creio Que o tempo sendo mago e soberano Transforme em alegria cada anseio.
Arando com vigor a terra agreste, O coração poreja fantasia. Enquanto decifrando o que me deste, Um Eldorado em vida, sonhos cria.
Arcar com tantos pesos, minhas costas, Nas áridas manhãs sem ter ninguém. Vencendo contra a morte tais apostas, Sabendo que ao final, ela já vem
Tomando toda a cena, sem pudores, Velando mesmo assim, com belas flores... Marcos Loures
04
Invade o coração de toda gente Amor tomando sendas tão formosas A cada novo dia, mais contente, Canteiro em profusão, perfeitas rosas,
Um sonho mais feliz, vida consente, Distante das outrora temerosas Tempestas em vazio penitente Agora em emoções maravilhosas,
O sentimento ganha da razão Na força desmedida, uma paixão Que de repente tudo transformou,
Encanto sem limites promovendo, Belezas infindáveis promovendo, Nosso caminho, amor determinou... Marcos Loures
05
Invade e assim goteja dentro em mim Intensa tempestade sem disfarce Beligerante algoz se mostra assim, Tramando a cada dia um novo esgarce.
Comparsa de meus risos, a agonia, Demonstra o seu poder quando me cala, A mão que me acarinha logo esfria Da solidão minha alma, eu sei, vassala.
Por mais que eu tente algum sorriso inerme No fundo eu sei que nada aplacará A fome que se estampa em cada verme A morte ao fim de tudo vencerá,
E o solitário corpo exposto à gana Expressa a solidão, vil soberana... Marcos Loures
06
Inútil sensação de ser feliz, Passado o tempo a limpo, o que restou? O gesto de uma amante que aprendiz Aos poucos, meu domínio penetrou Deixando na fumaça o que bem quis, Roubando quase tudo o que pensou.
Coração esmoler não mais resiste E bate em solitude e nostalgia. Mais nada me restando, o quase assiste, Bebendo o que sobrara se extasia. Não digo que fiquei, com isso, triste, Apenas fui bem menos que eu queria.
Recebo em troca o gosto violentado Do tempo em que pensei ter sido amado...
07
Inútil fantasia me rondando, O quanto ser alguém tanto queria Talvez eu contivesse esta sangria; Tristezas não viriam mais em bando...
Sentindo o meu prazer se debandando, Aonde procurei; o nada havia, Jazendo uma esperança que, vadia, Num rumo tão diverso; se esgueirando...
Escorrem pelos dedos; ilusões, Neste amargor constante enfim me embrenho, Aonde quis o fogo das paixões
Somente a mansa brisa: solidão, E agora que percebo: nada tenho, Eu sei que a fantasia foi em vão...
08
Inconseqüente penso nesta ausência Do que não fui nem mesmo procurei Viver é necessária a competência Sem sementes jamais eu cultivei...
Esqueço desta tal conveniência Matando meu juízo rasgo a lei. Rejeito o que precisa de anuência Em decadência minto o que não sei.
Saudade do que nunca foi sentido, Sentindo o que jamais tive, por medo. A mando do que fui tão distraído
Deixando a referência perco emprego, Brincando com a morte, meu segredo, Motivos para amar, por que carrego?
09
Incoerente verso, está no lucro, Eu tento disfarçar, mas não consigo. Cavalo dos meus sonhos, velho xucro, Voltando aonde enterro o meu umbigo.
Não quero ser teu céu nem teu sepulcro, Apenas me embasbaco, mas não ligo, Do amor em fantasias, quebro o fulcro, Conspurco com falácias teu abrigo.
A boca destilando um raro vinho, O coração transborda em vã peçonha Por mais que a poesia se proponha
Eu tendo esta incerteza, desalinho. Da inércia em poesia, sou arrimo, Nos laços do vazio, me deprimo... Marcos Loures
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Incendiando tudo, chama intensa Que ateias no meu corpo, estrela guia, A minha noite outrora foi tão fria E agora a chama ardendo, assim, imensa.
Além do que minha alma sonha ou pensa Tu és o fogaréu que sempre ardia Fomentando em nós esta ardentia Que é para o trovador, a recompensa.
Mantendo assim aceso este braseiro, Num incessante jogo corriqueiro Aonde não existe um vencedor,
Em ti, o meu sustento, a minha luz Que a imagem da fogueira reproduz Na terna sensação de pleno ardor...
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Incessante desejo me domina, Flutua como um ar tão impalpável. Por vezes tantas noites me alucina, Quem sabe, esse amor incalculável...
Tomando tantas formas, mais diversas, Invade o pensamento e se demora... Entranha minhas noites e conversas, Sabendo quem te quer e quem te adora...
Conduz-me aos momentos mais felizes, Não seca, nem deserta uma emoção. Repete sem cessar, sem ter deslizes, Não deixa de encantar o coração.
Pois saibas, todo o tempo em que vivi, Anoiteço, adormeço; penso em ti...
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Incauto viandante da ilusão, Canora assombração de antigos dias, Dos bardos e poetas, guardião, No meu rosto engelhado, vãs estrias.
Arpejos solitários da emoção, Relíquia das ignaras fantasias, Arqueiro que sem rumo ou direção Do gelo faz criar as ardentias.
Metáforas criadas, vãos caminhos, Estrada tantas vezes mal cuidada. Irrompe dos grilhões, manso ou medonho.
Entorpecendo, avilta ou rega em vinhos, Imersa fantasia vislumbrada, De amores o alimento insano, SONHO... Marcos Loures
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Incandescentes lavas borbulhando Nesta cratera imensa do desejo. Paixão sem precedentes nos tomando, Nos corpos dominados, um latejo.. Um látego prazer nos devorando As línguas são açoite em cada beijo...
Mistérios ministrados em paisagens Bordadas nestas telas, carne viva, As mãos vão vasculhando uma pilhagem Que faça nossa noite mais altiva. Os rastros desejosos da viagem Marcados pelos mucos e saliva...
Pois ébria destes vícios mais profanos, A noite se desnuda em vários planos...
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Inato sofrimento me acompanha, Tantas vicissitudes, brilhos falsos, Escondido detrás desta montanha Dos mares que não vi, os cadafalsos.
Persigo, sempre trôpego e não tendo Refaço novamente, torto e vão. À sombra do vazio vou vivendo, Revendo tão somente a solidão...
Um anjo desde então segue meus passos Diverso do que outrora sonhei estro, À margem, não define quais os traços Do velho desdenhado, ora canhestro.
Ser destro, seguir reto sem tropeço. Mas gauche prosseguindo, assim. Do avesso... Marcos Loures
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In vino veritas sei Nas orlas deste oceano Nos reinados puro rei A morte me traz seu plano
E se resta o que sonhei Não me trazes mais engano O que me exorcisa, lei É leve vai soberano...
As tropas estropiadas As pias mãos santificas Urtigais mães acoitadas
Nada mais contigo implicas Nas obras glorificadas Joelhos com torpes plicas...
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Impúberes amores do passado, Adagas que deixaram cicatrizes. Os tímidos olhares de aprendizes Caminham ainda hoje do meu lado.
De espectros o meu sonho povoado, Infernos entre medos e deslizes Cabelos se tornando, agora, grises, Porém vivo aos fantasmas, abraçado.
Espreita-me em tocaia esta pantera, Abismo da esperança, timidez. Imagem que nem mesmo o sol desfez
Não conheci jamais a primavera, E inverno a cada dia em pedras, cardos, Nas curvas do caminho, leopardos... Marcos Loures
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Impossível, querida; é não deixar Fluir o que nos manda o coração. Meu verso quando em sonho vai buscar O teu doce sorriso em sedução,
Sonhando com viagem ao luar Deitando do teu lado esta ilusão. Convido-te às estrelas explorar Com olhos desejosos da paixão...
Em ti percebo a vida a refazer-se Depois de tantas quedas no caminho. Não deixe que este bem, jamais disperse,
Menina, como eu quero-te mulher! Deitar sobre teu corpo, meu carinho. Te espero da maneira que vier...
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Império sanguinário dominante; Transforma em morte tudo que ele roça. Nas crinas dos cavalos, ruminante... As bombas são jogadas na palhoça...
Domina, torturando, a cada instante. Se ri, zombando, vive a fazer troça, De quem tentar seguir, ir adiante. Pois a todos que o temem; vil, destroça!
Águia, rapina, matas sem ter penas... Destróis a todos, marcas, envenenas. Em nome d’um Senhor mais egoísta.
Permita-nos Ó Pai, sobreviver, À fúria desmedida desse ser. Se nos queres servis, então desista!
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Império dos sentidos, gozo pleno, Até numa explosão que não se iguale, O amor que na verdade não se cale Demonstra com loucura, cada aceno.
Usando do prazer como um veneno Que acalma enquanto fere e me regale, Perfume que tortura tanto exale Além do que em verdade eu concateno.
Do amor em sua plena fantasia Extrema maravilha em dor suprema. Rompendo enquanto enlaça, traz a algema
Que mata num abismo de alegria. Cravando este punhal no coração No orgasmo vida e morte em explosão. Marcos Loures
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Impedem que o ribeiro chegue ao mar As tantas emoções que se diluem, Porém eu posso agora vislumbrar Os gozos que se tocam e confluem.
Despertas reais sonhos e desejos, Na soma que se mostra instransigivel De sentimentos plenos e sobejos Felicidade é sempre mais tangível.
A sensibilidade aflora em cada toque Sem medos nem rancores, simplesmente. A vida se mostrando em novo enfoque Permite o bom final que se pressente.
Meu verso que se farta em agonia, Ao teu lado conhece uma alegria...
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Impede que eu prossiga assim sozinho O olhar abençoado de quem amo. Aos passos mais macios eu me alinho E toda a noite em sonhos; sempre chamo.
Amor se aproximando tão mansinho Tornou-se; na verdade, quase um amo. Se eu bebo deste doce e raro vinho Um mundo em esperança agora eu tramo.
Eu quero o teu amor e nada mais, Sonhar com teus carinhos! Maravilhas... Sabendo que também tu compartilhas
Do mesmo sonho, amada encontro o cais E sinto que ao saber de nossa vida, “Minha alma de buscar-te anda perdida”
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Impede o alvorecer iluminado, A treva inesgotável que carrego, Por mais que uma esperança trame um brado, Meu passo assim prossegue; torpe e cego.
Sorriso tanta vez anunciado Espreita o vendaval quando navego, Num ato que decerto é tresloucado, Ao mais temível sonho; assim me entrego.
Esfacelando o resto que inda existe Voraz, embora amargo e mesmo triste Prevendo em meu futuro um final trágico.
Meu verso no final quase autofágico Explode em fantasias e ilusões, Sangrando estas barragens, turbilhões... Marcos Loures
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Impede em tantas nuvens, ver o dia, As nuvens que se formam neste céu, O quanto não se goza da alegria Nos fada a persistir vagando ao léu.
Se tento ou se talvez ainda havia O quase, jamais sei do meu papel, Versando sobre a noite quente ou fria, Vazio em desalinho o carretel...
Carcaça do corcel apodrecendo Enquanto, sem ninguém persisto tendo Um resto que me ateste uma fartura
Distante, em outros tempos, desde agora A força que sabia desde outrora Esboça em gesto estúpido, amargura... Marcos Loures
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Impede a liberdade, dura trava Cravada no meu peito, sem perdão Saudade me queimando feito lava, Ardendo assim me invade o coração,
Durante todo o tempo em que pensava Na força deste amor, na tentação Qual fosse a fera imensa, firme e brava Rasgando a minha pele mostra então
O tempo em que sozinho eu te buscara, Estrela radiante bela e rara. Em dias tão difíceis, traduzidos
Nos olhos marejados de quem ama. A vida ao apagar a nossa chama Fazendo os meus caminhos desvalidos...
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Impávida impressão de calmaria Mostrando quão possível ser feliz. O Amor ao espalhar farta alegria Expressa o que emoção há tempos diz.
Cardumes constelares vão passando Em noite iluminada, brilho farto. A sensação de paz já nos tomando Transmite esta esperança como um parto.
Colecionara dores, tristes sonhos, Refém de uma amargura hereditária, Olhares sem destino, vis, tristonhos, Vivendo tão somente como um pária.
Nas mãos tão delicadas de um amor, Novo caminho e rumo a se compor... Marcos Loures
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Impassível, sorrio da desdita, Que nunca imaginaste o quanto sinto... A noite de promessas tão bendita Esvai-se na desgraça em que me tinto...
Ceifado, um coração jamais traz lavra, Esconde meu segredo num disfarce. Iludo essa saudade mas, palavra, Sozinho, me deparo face a face...
Espelho de minha alma, refletindo, O canto que calei amargurado, Se encaro minha dor, assim sorrindo, Saudade traz o riso machucado.
Carrego tantas marcas, cicatrizes, Em busca d’outros tempos, mais felizes...
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Imerso num problema enfrentando ancestrais Vontades de saber do longínquo futuro Invento outra palavra em letras garrafais Que possam traduzir meu gesto mais obscuro
Sou quase um ser vazio em busca de imortais Desejos onde engano ultrapassando o duro Chão inda me traduza um ar que fosse puro Envolvendo o meu sonho e salvando animais.
Terrível predador, o ser humano mata Inconsequentemente assim tudo desmata E deixa no vazio; heranças sem valor.
Um povo que se faz letal e mercenário Terá a morte em vida, o fim como honorário Ao abortar a vida esquece o que é amor...
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Imerso no passado tão distante, Olhando para as nuvens chego a ti, Imagem que se mostra fascinante, Do amor que eu tanto quis e já perdi.
Paisagem nebulosa, assim, mutante Traduz a nossa história, estou aqui Sentindo-te querida, a cada instante, Dorida fantasia, concebi.
As sombras do que fomos, no meu quarto, As cinzas que deixaste no cinzeiro. Desta lembrança amarga não me aparto,
Tu foste em minha vida, um talismã Perfume que entranhaste o travesseiro Tua presença terna, embora vã...
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Imerso nas saudades que pressinto Dos dias que se foram mais felizes. Falar do que julgara assim extinto Pensando que só fossem cicatrizes.
Na beleza do amor que sonho e pinto Com cores tão suaves, mil matizes. Meu coração te espera. É teu recinto; Amor nos faz eternos aprendizes...
Mas ouço, te procuro e nada vejo... Apenas o silêncio que atordoa. Tu vives tão somente em meu desejo?
Marcando meu caminho, tal saudade, Qual pássaro que embalde sempre voa. Assim como se foi felicidade... Marcos Loures
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Imerso nas saudades que pressinto Dos dias que se foram mais felizes. Falar do que julgara assim extinto Pensando que só fossem cicatrizes.
Na beleza do amor que sonho e pinto Com cores tão suaves, mil matizes. Meu coração te espera. É teu recinto; Amor nos faz eternos aprendizes...
Mas ouço, te procuro e nada vejo... Apenas o silêncio que atordoa. Tu vives tão somente em meu desejo?
Marcando meu caminho, tal saudade, Qual pássaro que embalde sempre voa. Assim como se foi felicidade... Marcos Loures
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Imerso em velhas cruzes do passado Andara por caminhos mais estreitos, Os rios se extravasam de seus leitos E o pântano dos sonhos, encharcado.
O verso que tentara, burilado, Desmancha-se, mostrando que os defeitos Nem sempre deveriam ser aceitos Sentido fartamente embaralhado.
Escarpas que escalara em fantasia, Abismos, precipícios; pedregulhos.. As cruzes como fossem seus entulhos
Que o tempo pouco a pouco concebia Não deixam que vislumbre uma saída Demonstram quão inútil, sua vida...
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Inesquecível, quase que imortal, A força desse sonho inebriante Vivendo esta alegria em paz constante Não quero em minha vida outro final.
O corpo dessa deusa sensual Espalha em meu caminho, diamante, O beijo que roubei, tão delirante Encena a fantasia magistral
Andando junto a ti, a cada passo, Amor vou desfilando pelo espaço Em risos e delírios siderais.
As somas que buscamos nos completam, Mostrando as maravilhas que repletam, Teus sonhos em meus sonhos são iguais. Marcos Loures
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Inesquecível noite que tivemos Foi tanto amor que tudo parecia Vibrando muito além da fantasia, Desejos sem igual, nós concebemos.
Assim, eu quero crer, prosseguiremos Bem mais do que este simples, manso dia, O amor que nos tocou qual ventania Expressa o que em loucuras, nós queremos.
Batendo bem mais forte o coração Derramas no meu peito o sangue teu, Transfundes sem limites a emoção.
E quando vem a noite me lembrar Do amor que um dia a gente, em paz viveu, O coração começa a disparar...
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Inebriante sonho, um raro vinho, Melíflua sensação de gozo pleno. Chegando em minha vida de mansinho, Um mundo tão suave e mais ameno.
Descrevo em ti meu sonho predileto, Alvissareira luz que imaginara, A cada nova noite eu me completo Tocando a bela estrela, imensa e rara.
Jogada pelos cantos deste quarto, Saudade se esvaindo pouco a pouco. Da sílfide perfeita eu não me aparto, À dor os meus ouvidos são de mouco.
Néons vão clareando os passos teus, Deixando para trás qualquer adeus... Marcos Loures
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Inebriado bebe, em ti, absinto, O gozo num prazer raro e supremo. Contigo, com certeza eu nada temo, Nas cores de teus sonhos eu me pinto.
Felicidade enorme; assim, pressinto Amor, um beneplácito que extremo Permite que se tenha barco e remo Quem vive da alegria, tão faminto.
A par desta vontade soberana Minha alma em fantasia não se engana Pressente que terá tranqüilidade.
Um vento que decerto me abençoe No canto em minha alma sempre ecoe Amor me conduzindo à liberdade... Marcos Loures
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Indiferente aos teus tormentos tantos A vida prosseguiu sem ter, ao menos Momentos mais felizes ou amenos, Matando em nascedouro os seus encantos
Rolando na verdade duros prantos, Do cálice escorreram os venenos Que tragam e não deixam serem plenos Os sonhos que pudessem trazer mantos
Que amenizassem frio dentro da alma, Somente um vento manso que inda acalma Trará o gosto leve da verdade,
Vertendo uma esperança mais suave, Calando qualquer dor que ainda entrave Buscando um doce alento na amizade... Marcos Loures
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Inda quero da vida o gosto bom Da boca da morena mais sacana, Vibrando novamente em cada tom, A mão deste prazer que tanto abana,
Comendo desta fruta, do bombom, Quem sabe amar, querida, não se engana, Amar não é somente um doce dom, Levar a vida inteira, soberana...
Eu quero renascer em cada toque, Perfeito, mavioso e sensual. Amor que não se guarda, sem estoque
Permeia minha vida, meu astral, Menino que brincava com bodoque Agora se embrenhando em matagal...
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Inda me lembro quando propuseste Que o nosso amor pudesse ser eterno, Do jeito carinhoso que vieste Certeza de um porvir deveras terno.
Tomando toda a cena, lua imensa Deitando sobre nós a claridade, No encanto mais sublime a recompensa De um sentimento feito com verdade.
Ouvindo nossas juras, as estrelas São belas testemunhas deste fato, E quando em noite plena volto a vê-las Relembro desta cena onde retrato
O amor que se mostrando soberano Não deixa que se perca em desengano.. Marcos Loures
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Incrustada no peito trago a seta Que um dia desferiu sem direção O deus do amor, que além de ser poeta Faz pouco da vontade e da emoção.
Porém uma verdade mais concreta Permite me falar em tentação, Enquanto este desejo ele me injeta Eu vivo os desacordes da paixão.
Às vezes a palavra tão dileta Em outras ouço imenso palavrão Minha alma na tua alma se completa,
Mas sei que são tempestas de verão. A rosa com acúleos me espeta Depois vem cabisbaixa e quer perdão.
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Incrivelmente atados noite afora, A noite vai girando em carrossel, Lambuzo-me de ti, chegando ao céu, A lua qual balão já nos decora,
Partilha de prazeres, quero agora, Fartura de explosões, nudez é véu. Abelha em raro gozo explode em mel, A fome recomeça e revigora
Em águas de lavanda sei que és minha, Sinais que tu espalhas nesta cama; Num arco íris gigante a noite inflama
Estrelas fazem ronda, já se avizinha Caleidoscópio/sol na madrugada, Ejaculando luz numa golfada...
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Incrível como os raios deste sol Invadem a minha alma totalmente. Lutando tantas vezes, sigo em prol No rol de seus caprichos vou demente.
E sinto, enamorado, em cada raio; A força e a potência desta estrela. Me prende, não consigo, nunca saio, Da simples emoção de querer vê-la.
No toque carinhoso matinal, O sol do seu olhar, cedo me invade, Na praia dos desejos, sol e sal, Não posso mais lutar contra, quem há-de?
E quero que me beije com furor Entregue a seus carinhos, meu amor...
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Incontrolável sina da paixão, O intenso fogaréu que nos domina, Supera em claridade esta neblina Estende a fantasia em turbilhão
Turíbulos dos sonhos; sedução Galopa uma esperança, solta crina Cordel que nos unindo, determina A noite em mais completa tentação.
Embora a chuva caia noite e dia O sol de tanto amor trama em mormaço O corte mais profundo, lâmina, aço
Garoas espalhando a poesia Força sublime, audaz; chama insensata. Meu doido coração faminto se ata... Marcos Loures
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Imagens distorcidas e sirenes Rondando a madrugada. No meu leito A morte se arregaça e no seu pleito Os medos se tornando então perenes.
Recomeçando assim o pesadelo Abraços e mentiras, cuspe e gozo. O pote se arrebenta, fabuloso Dos olhos da pantera, este novelo
Que abarca minhas pernas, me angustia Enquanto a boca beija, amarga e fria Eu vejo o teu fantasma me rondando.
O teto da ilusão vai desabando Tornando a noite trágica e vazia Os pássaros dos sonhos vão em bando...
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Imagem/semelhança que não cria, A criatura pensa ser mais forte Que Aquele que nos dando rumo e norte Gerou este universo em harmonia.
Porém se assenhorando disso, um dia Julgando- se do Amor único aporte Tendo nas mãos poder de vida e morte A criação, em fúria destruía...
A Terra que foi dada por morada, Ao ser completamente devastada Tornando-se um deserto sem saída
Em lágrimas deixando o Criador Que fez tal maravilha com Amor, Sabendo ser inútil Sua lida...
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Imagem tantas vezes destroçada, Vendida nas esquinas, nas Igrejas Uma alma solitária e abandonada Enquanto tu, qual lobo, mal trovejas.
Palavra redentora engalanada Transformas da maneira que desejas, A consciência; às vezes alugada Insanas expressões, cruel, despejas.
Pavor que tu espalhas nos cordeiros Pastor de alma tão fúnebre e vazia. Imagem nababesca propicia
Momentos tão canalhas, sorrateiros. Vendendo com malícia este Diabo, Não tens como esconder o próprio rabo. Marcos Loures
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Imagem suave e plácida retorna Tomando já de assalto o pensamento. Olhar enamorado vem e adorna Causando no meu peito este tormento.
A noite que passara, outrora morna Ardendo mansamente em fogo lento, Em louca fantasia já se torna Poeira nunca toma mais assento.
E sinto tal volúpia me tomando, Na chama deste amor incendiando Trazendo em minha cama uma fornalha
Aos poucos me elevando chego ao céu Tomado pelo intenso fogaréu Que sobre estes lençóis prazer espalha... Marcos Loures
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Imagem refletindo a silhueta esguia Irradiada ao brilho intenso do luar. Em névoa delicada, explode em fantasia E aos poucos me invadindo, entranha devagar.
Cansado de vagar, viver sem alegria Procuro pelo amor que encharque o meu sonhar E mostre em riso franco, a vida em poesia Que me permita, enfim, saber do bem de amar...
Andara já descrente- ausência deste alguém Que em noite enluarada- agora, eu sinto, vem... A solidão, percebo, em lástimas morreu.
O fim do sofrimento aporta mansamente E tudo se transforma. O outrora penitente Viaja em liberdade ao sonho teu e meu...
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Imagem que transborda em poesia Trazendo uma vontade em que se ganha A força tão sublime da alegria, Ultrapassando assim, alta montanha. Fazendo em noite imensa a cantoria Que mostra em cada canto a luz tamanha
Que é para o sofrimento, um bom remédio, Figura se mostra sacrossanta, Aliviando o medo, acalma o tédio, A dor para bem longe sempre espanta. Deixando uma alegria como assédio, Em cada novo dia nos encanta
Poder que nos transforma em claridade, Revela-se mais forte na amizade...
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Imagem que acompanha o tempo inteiro, Qual fora uma miragem simplesmente. Tomando por completo a minha mente, Bem além do usual, do corriqueiro.
Eu sinto no meu corpo, aroma e cheiro Daquela que se fez inteiramente, Num único desenho se pressente Usando a mesma cor, uno tinteiro.
Qual sombra que acompanha cada passo, Eu sigo o teu amor, estreito laço Atando corações, vidas e sanhas.
Gemelares caminhos siameses, Unidos pelo sol que tantas vezes Verdeja em esperanças mil montanhas... Marcos Loures
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Estátua do Manequinho, símbolo alvinegro, sofre ação de vandalismo Escultura, que fica em frente à sede de General Severiano, tem o órgão sexual arrancado G1
Imagem do pecado, na nudez Da criança que cândida urinava Pedófila figura. Insensatez De quem sem ter pudores a exaltava.
Permita-me dizer, só tu não vês O quanto que esta cena denotava, Contrária a mais completa lucidez, Arranque, por favor, do olhar tal trava.
Eu sou um defensor dos bons costumes, Por isso é que percebo que em tal ato, O poder invejável do recato
trará na escuridão, sublimes lumes. Quem tem em suas mãos perfumes, sândalo, Não pode ser chamado assim de vândalo!
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Imagem delirante em raras tintas Matizes deste sonho inesgotável, No vento em que se expressa, o tom amável Com que, querida amiga, tu me pintas
Do sonho em aquarela, mãos distintas Permitem esta tela insuperável Num mote que perpétuo, interminável Ressurge de emoções várias, extintas.
Tu tens total domínio sobre as cores, Palavras multiplicas com tal arte Que a poesia vibra por tocar-te
Sabendo decifrar os teus pendores. Espalhas tantas flores no recanto Usando do talento em mago encanto...
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Imagem de mulher, tão bela e esguia Desnuda sob os braços do luar... Jamais descansarei de procurar Durante a noite entregue à fantasia...
Enquanto uma esperança, o sonho cria, Um brilho diferente em meu olhar Permite que inda possa vislumbrar Em meio à tempestade, a calmaria...
Por vezes uma imagem mostra quem Pensara tantas vezes ser meu bem, Porém no amanhecer se esvaeceu...
Calando a fantasia neste instante, O sonho num momento fascinante Levando o que restou, também morreu... Marcos Loures
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Imagem de mim mesmo que se espelha Reflete este mosaico que sou eu. De tudo o que passei, simples centelha Demonstra o que – faz tempo- se perdeu.
A face que ora vejo, em rugas, velha, À qual o temporal se ofereceu O reino da esperança se assemelha Ao tempo que prepara cada véu
Amando cada escombro do que fui Enquanto o meu castelo, ledo, rui Existo tão somente por saber
Que a morte que abocanho em cada trago Aos poucos se permite como um lago De imensa placidez, farto prazer... Marcos Loures
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Imagem de beleza feminina Deitada em minha cama, até que enfim, Tão cedo uma ilusão já descortina, Envolta em lençóis puro cetim,
Às vésperas da dor que me arruína, Brandura de emoção trazendo assim, O gosto de ventura vive em mim, E encontro em tua boca, seda fina.
A flor dos meus desejos sem abrolhos, Iluminando a vida em claros olhos, Vencendo a tempestade traz em si,
Amor que imaginei outrora em alma Que pura, satisfaze e já me acalma, O sonho mais gostoso que eu vivi...
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Imagem da esperança desfocada, Ainda me permite ver o brilho Daquela em cujas sendas andarilho Seguira desde a última alvorada.
A sorte doravante malfadada Na inútil romaria que ora trilho, Suplanto a cada dia um empecilho, Minha alma de esperanças, alijada.
O féretro decerto anunciado, Dirá do quão foi fútil meu passado, Jogado pelas ruas e sarjetas.
Ouvir a tua voz doce e macia, Momento de alegria propicia. Porém; as ilusões? Simples cometas...
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Imagem constelar perene e rara No afã de se fazer bem mais que lixo, A mão que ensandecida já dispara Não sabe nada além de algum capricho.
Propaga tenazmente o mesmo nada E pensa que com isso explica bem. Fugindo em descontrole dessa alçada Ousada quer a ossada de outro alguém.
Melindres de hipopótamo. Ironia... A vespa pica o rabo em suicídio Escorpiônica vontade cria Causando de si mesma este dissídio.
No amor que tanto quer vender teus peixes Decide se tu queres, mas me deixes Marcos Loures
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Imagem carcomida, ermidas desvendadas. Os dados que lancei, esquecem-se da sorte. Esgoto as emoções ausente rumo ou Norte, As mãos em desamor há tempos destroçadas.
Roto, vou percebendo as horas malfadadas, O mar que se perdeu, sem rio, sem aporte, Sem porto, temerário, enfrenta um vento forte; As fantasias vãs, paisagens esgarçadas..
Esplêndidas manhãs, minhas tardes sem sol. Escuridão tomando, inunda este arrebol, E as trevas que virão, soturnos pesadelos...
Herdando tão somente esta aridez imensa, Oásis esquecido, a morte recompensa O fato de jamais, sonhos, poder retê-los.
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Imagem carcomida do passado, Retrata este vazio que legaste, A lua faz contigo este contraste Deixando ainda o céu iluminado.
O dia renascendo de bom grado, O medo tão distante, frágil haste Que quebra à ventania que emprestaste Formando o temporal anunciado.
Infectos, estes versos buscam cura, Sabendo que o remédio diz ternura Ventura de poder ser tão feliz.
Será que inda terei alguma chance, A vida se mostrando num nuance Soprando sobre o céu que deixas gris... Marcos Loures
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Ilustre teu caminho, minha bela. Eu sei que irei te amar a vida inteira. Amor assim demais, amor revela, Amar passou a ser nossa bandeira...
Desprezo tais ciúmes de quem pensa Que amor é como guerra e quer batalha. Amor não preconiza recompensa, Também não nos permite qualquer falha.
Revolta-me saber que bem distante Dos olhos de quem ama, a solidão, Vagueia procurando a cada instante, Um jeito de matar essa emoção...
E quero ter teu corpo sempre assim, Vibrando meu desejo sem ter fim...
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Ilustre amor que leva toda a glória De ser, por certo, algoz e ser remédio. Paisagem se desbota na memória Não deixa mais romper o velho tédio...
De tantos esquecidos nas gavetas Também nosso contrato não vingou. Passado que vivemos não remetas Pois saiba que carinho não restou.
Amada sem amor um só fiasco, Dos campos e batalhas, teus troféus, Saltando dos amores, em penhascos, Despencam nossos sonhos lá dos céus.
A glória de viver tão louco amor Por certo despetala a mansa flor!
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Ilusões transformadas nos jardins Que tento semear nesta esperança. O vento que te trouxe já me alcança Lembrando dos tropeços e dos fins...
Meu triste sol morrente sem futuro, Furtando a claridade de uma lua Parece que a tristeza continua No templo das promessas, mais escuro...
Porém as ilusões, asas partidas Esperam mais um dia pelo vôo. Que nada... Tanta dor que não perdôo
Entranham minhas sortes já perdidas Matando o que restou de sentimento, Meu jardim assolado pelo vento...
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Ilusões povoando o pensamento, Flamejam sensações mais discrepantes. Torrentes que me invadem num momento, Nas carnes sensuais, dilacerantes.
No mundo dos meus sonhos toma assento. Teus olhos tão morenos, radiantes, Nos céus em brilho farto, tomam tento Meus barcos nos teus mares, navegantes...
Nas rútilas manhãs, o teu clarão, Inflama meu desejo, fico tonto. Atado estou às tramas da paixão
E tudo o que pensara aqui já conto Sabendo o quanto amor, sendo vital, Em tudo o que eu fizer, fundamental...
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Iluminando em glória este arrebol A lua se derrama em plenitude; Musa que nua e ousada em girassol Ao mesmo tempo atrai enquanto ilude.
No Forte da esperança, o meu farol. Amor em força intensa, em atitude Derrama sobre nós o imenso sol No gozo que se dá, farto e amiúde.
Entrego cada sonho aos seus desejos, Em ritos sensuais e tão sobejos, E nessa suavíssima loucura
Os corpos se entregando, dois bacantes, Nos ritos mais audazes, provocantes, Extremamos delícias e procuras... Marcos Loures
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Iluminando assim nossos bornais, Pirilampos colhidos da esperança Ao tempo prometido de mudança Os dias talvez sejam magistrais.
Aonde com certeza derramais Desejos de calor e de aliança A gente com vontade sempre alcança O porto mesmo em loucos vendavais.
Abarcas meus desejos e prazeres Na redenção das dores sei que queres Seguir essa viagem do meu lado.
Bornal em alegria iluminado Estende a fantasia mais perfeita Enquanto nosso amor, farto, deleita... Marcos Loures
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Ilumina o meu peito esta canção Que é feita com coragem por quem amo. Tocando bem mais fundo o coração Nos versos que me fazes eu reclamo
Amor que desvaria e traz paixão Não deixa ser cativo quem é amo À noite ponteando um violão Teu nome; na calçada sempre chamo.
Amar é verbo intenso que ilumina A quem se dedicar sem ter mentiras. Palavras carinhosas que desfiras
Já formam a riqueza de uma mina. Eu quero ter o doce, apaixonado, Nos lábios da morena, um bom bocado.
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Ilha sonífera traz manso mar... Quebrando as ondas maresia e lua... Permitindo-me então sonhar e amar... Em tantos mares e marés, flutua...
Quero os saveiros, cais e portos. Lar De um albatroz, distante continua. Velhos problemas? Esquecer, nadar Nas águas limpas, a minha alma é sua...
Subo o coqueiro, minha sede mato... Nos meus dilemas, nem guardo retrato. Sou simplesmente um sonhador, eu sei.
Mas meu sonhar me permitindo tanto, Me dá tal força que concebo encanto. Nesses meus mares sou com certeza um rei! Marcos Loures
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Igual medusa triste, envenenada Aquela que me trouxe desenganos Morrendo pouco a pouco, sobra nada De todo este veneno que em teus planos
Formado dos desejos sobre-humanos De ter a vida sempre desgrenhada Assim a cada dia traz marcada A tez em duros cortes soberanos.
Roubando toda a cena, esta saudade; Esvai-se quando chega outra paixão, Repondo em minha vida, a liberdade.
Quem fora tão vazio simplesmente, Amando, vai matando esta serpente. Imenso paradoxo da emoção. Marcos Loures
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Idílios entre exílios e mentiras, Eu não serei decerto um Odisseu, Penélope distante já morreu Enquanto noutros portos sei que atiras.
A moça rodopia em carrossel, E vende as bugigangas numa esquina. Eu dou um peteleco e chego ao céu Da boca tão safada da menina.
O beijo necessita um gargarejo Senão esta halitose nos derruba, Enquanto preferires meu desejo, O gozo com certeza sempre aduba
Depois de certo tempo, na colheita, Telêmaco no colo, satisfeita... Marcos Loures
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Imerso em melodias do passado, Encontro a Linda Flor que procurava Quando a Deusa do Asfalto me tocava, Um Ébrio se sentia iluminado.
A Malandrinha sempre do meu lado, N’ Última Estrofe logo se mostrava No Luar do Sertão se derramava, Dos Lábios que Beijei, enamorado.
Dos mares dos meus sonhos, Timoneiro, Sei que As Rosas Não Falam, meu amor. Divina Dama num verso encantador,
Num Último Desejo, o derradeiro, Com carinhos, Explode Coração. Mas o que restou: Bonde do Tigrão! Marcos Loures
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Imenso, imerso em paz, no paraíso, O rito que professo não se engana, A paz que se mostrando soberana Deslinda o toque pleno e mais preciso.
Não quero na verdade algum juízo Somente poder ter o mel da cana Que esvai em cada poro. Noite insana Que toma a nossa vida sem aviso.
Não nego este desejo imperativo De ser, do nosso amor, servo e cativo Vassalo deste gozo alucinante.
Tocando a tua pele devagar, Descubro quão fantástico é te amar. Um pouco a cada dia, em luz constante... Marcos Loures
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Imenso e prazeroso: o que eu preciso; Momento em alegria com fartura. A sorte transmudando sem aviso De todo o sofrimento me depura.
A boca da morena desejosa Espalha sobre mim felicidade, Sabendo da mulher maravilhosa O mundo se vislumbra em claridade.
Eu tenho aqui comigo esta certeza Que nada mais impede de ser nossa. A mão tão carinhosa não despreza O sonho que decerto nos remoça.
Enquanto a sorte imensa, gozos trama, Amor jamais apaga a velha chama. Marcos Loures
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Imensas catedrais distantes dos meus sonhos Intensos vendavais resumem serenatas. Às vezes me esquecendo o quanto são medonhos Os dias em que durmo além das luas pratas.
Por vezes sei o quanto em meus versos bisonhos Os rios negam mar, porejam nas cascatas Enfronho o meu desejo ao passo em que, risonhos, De cálices desfruto ouvindo tais sonatas
Emergidas do nada, alcançando os ouvidos, E traduzindo o quanto em nada eu me criei. Nos gládios deste sonho, o barco naufragado
O passo já previsto, os olhos nos olvidos Deixando para trás o que pensara lei. Amiga; por semente, o vaso já quebrado
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Imensa poesia já continha O olhar embevecido que buscava A voz que assim cantava essa modinha, Enquanto em paz a noite enluarava.
A boca que julgara ser só minha, E em sonhos tão felizes eu beijava, Agora em outros lábios; vã, se aninha. O céu neste momento se nublava.
De tudo o que eu queria; o nada veio. Só a desesperança aqui chegou Tropeço nas estrelas; busco um meio
Que possa permitir; mesmo falsária Uma ilusão que traga em luminária O amor que a realidade sonegou... Marcos Loures
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Imensa adoração que te dedico Com versos, com palavras, com amor... Ao ver tua presença; sempre, fico Extasiado e pleno em esplendor.
Num trono de fulgores, te elegi Rainha dos meus dias mais felizes, Certeza de saber que estás aqui Transforma as minhas chagas, cicatrizes...
Quando eu cruzava tristes, vãos desertos, Na busca pelo oásis da paixão, Os ventos que batiam tão incertos, Apenas prometiam solidão...
Agora que te achei não largo mais, Não quero te perder, amor, jamais!
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Imagino alvorada mais serena Invadindo toda a noite vaporosa. Depois de tanta dor bem mais amena, Nas hastes pontiagudas desta rosa...
Nos tímidos louvores da manhã, Os raios penetrantes deste sol. A vida se transforma neste afã, Querer me transportar ao teu farol...
Os olhos, diamantes mais precisos, Estrelas radiantes de tão belas... As tramas delicadas dos sorrisos, Que em sonhos, madrigais lindos, revelas...
Eu quero teu perfume minha amada, Nascendo nos meus braços, alvorada!
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Joguete da esperança tão somente. Afetos são apenas lenitivos... Por mais que um novo rumo já se tente, Os restos do passado sempre vivos...
Dos sonhos, fantasias, são cativos Os velhos sentimentos. Tolamente Ainda teimo crer nesta semente, Ausente dos meus campos, meus cultivos...
Qual fora um pirilampo, o rosto brilha E logo após se apaga, escuridão... Das trevas da saudade, o coração
Persiste em perfazer a antiga trilha Que ao nada levará, tenho a certeza. Cansei-me de enfrentar a correnteza! Marcos Loures
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Jamais em minha vida digo o não E caço a noite inteira estrela e lua, Deitando em minha cama a deusa nua, Provoca a mais completa perdição.
O vento que se faz em turbilhão Abrindo uma janela expõe a rua, Minha alma transparente assim flutua E bebe a tempestade, o furacão.
Chegando de mansinho, fez estrago O turbilhão tomando o calmo lago Promete um gosto bom, queima o cinzeiro.
Chacoalham-se quadris, louco balanço Prazer vem galopante quando avanço, Matando o medo algoz e feiticeiro Marcos Loures
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Jamais escutarei os teus conselhos, Embora; sei que dados com carinhos, Buscando noutras vidas seus espelhos, Diversos, os anseios e caminhos.
Estradas percorridas pelos velhos, Não são pra juventude firmes ninhos. Na ponta dos meus dedos, dos artelhos, Os medos e prazeres são vizinhos
Por isso é que decifro os meus enigmas E não suportaria mais estigmas Nem marcas ou sinais de sofrimento.
Não quero ouvir mais nada nem ninguém, Enquanto outra alvorada inda não vem Persigo o meu destino em ritmo lento...
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Joguete da ilusão, pregando peças Fazendo sem tempero a minha história, Paisagem desbotada da memória Criando este palácio em que tropeças.
E quando a solitária me confessas O corte preparando a falsa glória, Eu sei que sou um pária, leda escória E fujo dos enganos e promessas.
Sangrias e sementes, medos mares, As frutas apodrecem meus pomares E o tempo de viver vai se esgotando...
Ondas que se formaram na lavoura O sonho insanamente tudo doura E a vida buscando ávida; um comando...
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Joguei todos os sonhos no estuário Que percorre teus vales e montanhas Florada não passou de mostruário, Perfumes se perderam nas entranhas.
Não posso me livrar deste cenário Nem posso mergulhar águas estranhas Outono vai perdido. É necessário Perder enquanto eu sei que sempre ganhas.
Partindo, quase morto me deixaste, Nas profundezas da alma, tais relíquias Latejam desumanas paroníquias,
Causando ao coração frio desgaste. Guardando tão somente os teus defeitos Sem rumo, irei dormir em outros leitos... Marcos Loures
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Joguei minha toalha há muitos anos, Não posso mais sonhar com doces prados, Meus passos com certeza tão errados Condenam aos completos desenganos.
Amortalhando assim, os véus e panos Os dias sem destino, degradados, Os vinhos afinal, avinagrados, Meus versos que hoje cirzo, são insanos.
Patéticos cenários que imagino Veredas que traduzem desatino As águas sob as pontes, turbulentas...
Ouvindo a tua voz mansa e suave, O sonho percorrendo antiga nave Imerge neste mar no qual me alentas...
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Joguei as esperanças na sarjeta, Sou velho e quase inútil seresteiro, O amor sempre volátil vem ligeiro E morre bem distante, este cometa.
Por mais que a fantasia se prometa, Rasteiras; vou tomando o tempo inteiro. Dos erros mais comuns, os derradeiros, Derrubam querubins calam trombeta.
Enquanto uma emoção, o amor ejeta, As sobras vão ficando em meu cinzeiro. Quem dera se inda houvesse o mensageiro
Porém a refeição não se completa E o verso mais absurdo de um poeta Promete este romance verdadeiro... Marcos Loures
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Jogo os braços para o céu E agradeço ao Meu Senhor, Destilando puro mel No teu corpo encantador,
Vai cumprindo o seu papel Alegria no louvor Sorte gira em carrossel Nestas tramas de um amor
Que pensei que fosse meu E depressa se acabou, O meu rumo se perdeu
Já nem sei sequer quem sou, Céu depressa escureceu No meu peito até nevou...
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Jogo as cartas sobre a mesa E não minto nem um pouco, Se o amor não faz surpresa Sem ter voz, ficando rouco
Vou cevando a minha presa, Se não vem eu fico louco, No teu corpo esta beleza Faz ouvido assim de mouco.
Ser tão só melhor não ser Se seria o que eu quisesse Não rezaste minha prece
Descuidaste, eu pude ver, Sementeira sem cuidado Desperdiça um bom arado.. Marcos Loures
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Jogávamos verdades frente a frente. O jogo transcorria sem mistério, A vida não passava sem repente, Rompantes que tivemos, caso sério.
Um beijo, num segundo, cemitério... Tratávamos de amor sempre envolvente, Cabelos que caiam caspa e pente. Termino nosso jogo: necrotério!
Agora que não venho e que não vais, Não mando meus recados nem converso. Depois da brincadeira, quero paz.
Procuras por meus mantras no universo. Verdade maltratando? Não, jamais! Recados que darei? Num simples verso... Marcos Loures
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Jogaste nossa sorte pelo chão, Queria, manga rosa, o gosto e o sumo, Porém vento sem ter nem direção Deixou meu coração sem ter mais rumo.
Estrelas que roubaste da amplidão, Pisando no barraco, solidão, Do zinco deste amor não me acostumo, O barco sem ter leme perde o prumo.
O amor que não se dá com vibração, Aos poucos se esvaindo em tolo fumo, Sem ter sequer os traços da união
Não pode se fazer em teia ou grumo. Não dando nem talvez para o consumo, Queria ter teu sim, me deste o não... Marcos Loures
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Jogar esta saudade da janela Fechando esta tramela, com firmeza, Depois de ter amor por sobremesa O encanto que proponho é todo dela.
Se o coração diz tudo e não congela O beijo da mulher me traz leveza E tendo tudo aquilo que se preza Não quero mais saber de outra costela.
A gente faz das tripas coração Até saber do rumo ou direção Aonde pode ter felicidade.
Por isso não mais vejo alguma chance Além do que este olhar ainda alcance De sentir novamente uma saudade...
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Jogar contra a parede os meus enganos, Urino sobre os erros repetidos, Em repentinos golpes desumanos Os ecos distorcidos nos ouvidos
Bom dia, boa tarde, como vai? Mentira economiza uma conversa Das ilusões fazendo algum bonsai Arvoredo frondoso se dispersa
Pudesse cometer uma loucura, Romper os cadeados do bom senso, Talvez eu percebesse alguma cura, Não bastando acender qualquer incenso.
Usando do sensório sem bloqueios, Lambendo da morena, os fartos seios...
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Jogando o sentimento em pleno esgoto Cadarço que se deu desamarrado, Teu beijo traduzido em perdigoto Apenas verso podre e descorado.
Não tenho mais coragem, te garanto De beber uma água suja e tão salobra Legando o nosso caso ao desencanto Eu sinto o teu veneno, fria cobra.
Agora a vida cobra a solução E nisso vou seguindo em peito aberto. Apenas um bolor no antigo pão Criando tão somente este deserto.
Não quero mais ouvir tuas mazelas, Meu barco singra o mar em novas velas...
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Juventude perpétua sem queixumes, Promessas de viver felicidade... Amar sem sofrimentos, sem ciúmes, Guardar, bem escondida a vil saudade.
Princesa que me encharca de perfumes Não quero retornar à realidade! Na terra dos prazeres, bons costumes, A fantasia vive na verdade!
Qual Água que em pureza não se iguala, Perfume de lavanda solto ao ar. A vida com doçura, calma, inala,
Meus reinos pelo amor de ser teu rei! Amar é pouco, quero te adorar! Alessandra, princesa que sonhei!
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Jurubeba é remédio bom pra azia Dizia a minha avó já falecida Depois de caprichar numa bebida Ressaca prometida pro outro dia
Bebendo jurubeba; que alegria! A bosta da ressaca está vencida. Assim também querida, a nossa vida Que no começo, festa prometia
E agora ao embrulhar o “Figueiredo”, Querendo vomitar, pois desde de cedo Devoro uma infusão da santa planta
Ao ver outra beleza desfilando, Ressaca deste amor vai se acabando, Um cheiro de mulher, tudo suplanta...
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Jurando amor eterno tu partiste E logo não deixaste nem pegada. Não sei bem se fiquei decerto triste, Apenas me gastei na madrugada Fazendo um mutirão que não resiste Tomando um botequim quente e gelada, Se eu acredito ou não que amor existe O certo é que depois não sobrou nada... Somente uma vontade de dançar A noite inteira, fui pr’ Estudantina Bebendo essa morena sem parar. Não venha agora; amor; estás banida A sorte noutra vida descortina Juraste amor eterno? Que bandida!
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Junto do mar, deitando meu cansaço, Ao fechar os meus olhos, logo ouvi, O vento delicado num abraço, Pensei que te encontrei de novo, aqui... As ondas se quebrando em alva areia, Ouvindo este marulho, viajando... Percebo como um canto de sereia, Uma voz tão distante, me encantando... Sentindo um leve toque nos meus lábios, Em tal prazer imenso já me entrego. Há muito que perdera os astrolábios, Sem rumo, sem destino, não navego... Os olhos... Vou abrindo, lentamente... E sonho estar contigo, corpo e mente...
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Junto ao mar caminhando pela areia As coxas e as pernas bronzeadas, No fogo deste sol que te incendeia, Ao vento estas madeixas balançadas... Imagem formidável de sereia Por ondas, tuas pernas vão molhadas...
Ao ver-te numa saia deslumbrante Inveja desse vento, assim, me dá, Quem dera te tocar por um instante, Quem dera se viesses para cá, Ficar comigo, bela, irradiante... Ser o sol que contigo deitará
Depois dormirmos juntos sob a lua, A noite inteira, estrela seminua...
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Juntinhos, sem destino, essa viagem Gostosa de ser feita, pela vida, Amor não pode ser qualquer bobagem, Promete na verdade, uma saída.
Tecendo todo dia a sua teia, Ateia no meu peito, um fogaréu, Atéia sensação adentra a veia, Hasteia uma bandeira, eleva ao céu.
Assaz delicioso, o nosso amor, Nas asas deste gozo estou liberto, Libelos que hoje faço, com fervor, Libélulas em rumo solto, incerto.
Insetos e cometas, seixos, rios; Amores trazem mansos, loucos cios... Marcos Loures
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Juntemos nossas mãos para pedir Que Deus nos ilumine mais um ano, E a gente possa então usufruir Da presença de um ser que embora humano
Trazendo a divindade de ser pleno, Amigo dedicado e companheiro, Que se mostra sincero e tão sereno, Mostrando-nos amor mais verdadeiro.
Um querubim em forma de pessoa, Que agora ao completar aniversário E ao dar esta certeza- a vida é boa, Não deixa um coração ser solitário
Por isto, faço votos, comemoro Festejando esta amiga a quem adoro.
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Juntando os meus pedaços formo o nada, Na colcha de retalhos, ilusões Resíduos entre escombros, derrocada, Invernos destroçando os meu verões.
A fantasia aos poucos se degrada Nem lua, nem viola. Nem sertões. A sorte há tanto tempo malfadada Aborto de esperanças, só borrões...
Nas cinzas dos cigarros, na fumaça Os sonhos se esvaindo, puro tédio. Enquanto a morte mostra em seu assédio
O quanto a realidade já me esgarça Eu bebo cada gota deste fel Que forma negras nuvens no meu céu... Marcos Loures
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Juntando num orgasmo tais destroços, Cadáveres que somos; renascidos. Os olhos comem bocas, rangem ossos O quanto prosseguimos desvalidos.
Esquálida esperança não diz nada Apenas restitui um velho gozo A fantasia; há muito abandonada Persiste neste sonho sequioso.
Bebendo teus prazeres, um absinto Vermutes entre coxas entreabertas No sangue derramado, ora me tinto As horas preferidas, as incertas.
Assumo cada gota de teu sumo, Bebendo em teu prazer, caminho e rumo...
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Juntando nossos corpos, amor diz Que tudo o que fizemos sem pudores Trazendo para a vida os refletores Dos sonhos que me tornam mais feliz.
Não deixe que descore este verniz, Nem traga ao nosso amor velhos temores, Nem sequer rememores os rancores, Jamais permita um céu amargo e gris.
Abrindo com coragem, coração Amores do passado? Jogue fora Que a vida, meu amor não se demora
E mostra do problema a solução Pulsando junto a ti bebo infinito, No amor que numa estrela estava escrito... Marcos Loures
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Juntando com suor que bem salgado Ajuda a temperar o mel da boca. Amor pra ser assim bem temperado Apimentando sempre nos treslouca.
A voz quando se empolga fica rouca O corpo vai ficando arrepiado. Cabeça vai rodando, quase louca O resto do tempero está guardado
Pra festa que vier, nosso banquete, Soltando mil rojões, tanto foguete Termina com delícia em sobremesa.
Assim amor se faz de cama a mesa. E nessa comilança eu e você Sabemos o que é ser um bom gourmet.
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