
MEUS SONETOS VOLUME 077
Data 13/12/2010 08:15:17 | Tópico: Sonetos
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01
Julgando quem jamais eu julgaria Se o jugo fosse ao menos redentor, No bote preparado pelo amor, A noite com certeza nunca é fria.
Marasmo não traduz amor Maria Tampouco amor perfeito é simples flor Nas mãos de quem se faz um lavrador Que sabe cultivar a poesia.
O quanto não pretendo e nem devia Carrego com meus sonhos tal andor, O vôo em liberdade do condor
Ultrapassando montes me inebria, E quando a solução mata o esplendor O jeito é mergulhar na fantasia...
2
Jorraste meus fantasmas pela porta Estarrecendo o gosto prometido Da companheira vívida que aporta Tragando meu martírio em vil gemido.
Minha alma transparente, a dor aborta, E corta penetrante, o decidido Momento de sangrar, por cava, aorta, No sonho deste amor apodrecido...
Antúrios que plantaste nos canteiros Trocados pelos lírios roxos, tétricos, Os túmulos do amor são corriqueiros
Em quem serpente veste; viperina... Escarras com teus risos sempre elétricos E ao mesmo tempo, acode e me domina... Marcos Loures
3
Jogado pelas ruas como um pária Andando entre as estrelas e botecos, Calçada da ilusão em cor tão vária Vazio refletindo os velhos ecos.
Nas tralhas da emoção, uma adversária, Os sons de um vão passado em repetecos Minha alma eternamente vil e otária Exposta aos pescoções e petelecos.
Não bebo desta fonte que inebria, Esperança não passa de um engodo. Quisera ter a luz, mas eu me fodo
Noctâmbulo se perde em noite fria, Vasculhando nos bolsos, nada vejo, Senão tais arremedos de desejo...
4
Jogado pela vida sem um cais, Sequer ancoradouros encontrei, O quanto que não trago e cultivei Permite já saber que dói demais
O fato de ter sempre este jamais, Fazendo do vazio, a sorte e lei, Distante de teus braços, naveguei Até só encontrar o nunca mais.
O coração pedinte segue vago, Buscando uma alegria, bebe um trago Não tendo por resposta um só retrato,
Quem sabe, no futuro um riso aberto Modificando enfim, o que era incerto Trazendo uma emoção que aqueça o prato. Marcos Loures
5
Jogado numa tumba malcheirosa Arcando com meus erros e defeitos, A carne apodrecida e pegajosa Entranha em frenesi, invade os leitos,
Carcaça carcomida tenebrosa, Persiste em desejar fartos direitos, Vislumbra a noite fria e tão chuvosa, Enaltecendo em trevas os seus feitos.
Sidéreas ilusões me destroçando Deixando em carne viva uma esperança, Do nada que me trazes, me inundando,
Restando tão somente este lamento. Amor rompendo os elos da aliança Apodrecendo enfim, o sentimento...
6
Jogado nas sarjetas, quase informe, Devoro o que restou de fino prato, Uma esperança morta já não dorme, Apenas esboçando o meu retrato. Quem teve um sonho breve, quase enorme Só vive destes restos que hoje, eu cato.
Elementares ordens que quebrei, Fomentos de vinganças descabidas. A morte simplesmente, traça a lei Invalidando sempre nossas vidas. Do pouco que não quis nem esperei As sobras vão embalde, repartidas.
Na paixão de viver, tão violenta, Do aborto em que nasci, restou placenta...
7
Jogado em algum canto, o violão Aonde tantas vezes me abriguei. Mentiras que trouxeram sensação De ser, dos teus castelos, quase um rei. Jogado em algum canto, o violão Aonde tantas vezes me abriguei. Mentiras que trouxeram sensação De ser, dos teus castelos, quase um rei.
A merencória lua do sertão Já se espalhou e foi para outra grei. Não resta no meu céu sequer monção. Não posso nem dizer aonde errei
Só sei que destas cordas um plangido Repete esta monótona harmonia Enquanto uma alma amarga fantasia,
E o norte há tanto tempo já perdido Não deixa que se cante em tom maior, Angústia dos meus versos, sei de cor... Marcos Loures
8
Jogada pelos cantos, mocidade, Perdida entre esperanças tão vulgares; Nos cantos esquecidos da saudade Encontro estes motéis e lupanares.
Em todos os caminhos, falsidade A solidariedade, sei nos bares Distante da premência de verdade Vasculho cada sonho em mil lugares
E vejo tão somente uma ilusão Nos olhos da mulher, a fantasia Ao mesmo tempo diz da solidão
Enquanto estou contigo, luz esparsa. O amor que a gente fez traz alegria, Mesmo que eu saiba ser somente farsa.... Marcos Loures
9
Jogada na gaveta do passado Lembrança que se fez um duro algoz, A noite vem trazendo a sua voz Deixando o coração desesperado.
O grito da esperança em alto brado Socorre o pensamento e vem veloz, De novo uma promessa traz os nós Do amor que em pleno se fez atado.
De sentimentos frios e servis, Marcando em ferro frio, a cicatriz Não deixa uma alegria transbordar.
Porém ao ter aqui tua presença Espero finalmente a recompensa Agora que encontrei o bem de amar. Marcos Loures
10 Jocosa esta figura que retrato, Deambulando trôpega na rua. Buscando feito um cão vadio, um prato, Porém a realidade é bem mais crua.
O tempo de sonhar. Um velho ingrato Que ladra em agonia, bebe a lua, Quebrantos que carrego, com maltrato, A sina deste espectro continua...
Irrompe em minha pele a podridão, E nela sinto o gozo quase absurdo, O coração no olvido segue surdo
E veste o que sobrou deste porão. Jogado sobre as pedras do caminho, Persigo desta morte, o vão carinho...
11
Jazigo da esperança, cemitério Dos sonhos e das almas sem proveito. O tanto que procuro e me deleito Deitando em verso tolo e sem critério.
O amor, velho idiota, sem mistério Maltrata enquanto adula um ermo peito. Sem nexo, sem vergonha esse sujeito Nos marca desde o antigo batistério....
Tremendo papelão. Não quero mais. Cansei de danças torpes e boçais O peso do passado? Muito leve...
Querendo ser talvez apenas isso, Um trovador alheio ao compromisso Que agora, sem ter travas, já se atreve... Marcos Loures
12
Jazendo sobre o corpo da esperança Num porre sem igual, galgo infinitos. Nos cândidos louvores, torpe dança, Nas garras das harpias velhos ritos.
Incensos e cantigas, uma aliança Que torna os rituais mais esquisitos De ricas iguarias enche a pança Quem fala em sacrifícios, ledos mitos.
As ímpias multidões sei que merecem As unhas afiadas das vinganças. Principalmente as tímidas crianças
Nem sempre a seus desejos obedecem... Mas creio no Judeu, o Pai do amor, Na lágrima que escorre em Seu andor...
13
Jazendo quem em jazz fez seu abrigo Já sabe do que gera em gesto fútil Apenas restará este jazigo O resto, jogue fora, pois inútil.
Numa melancolia melanínica Lembranças das senzalas de minha alma. A tua imagem tétrica e tão cínica Aos poucos me tirando toda calma.
Espalhas cancros, cacos e pedaços, Varrendo deste chão qualquer adubo. Meus olhos ao te ver, ficando baços, Nos mais longínquos éteres eu subo
Levando a minha carne em tantas postas Do jeito que preferes e até gostas. Marcos Loures
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Jazendo neste canto, sem juízo, Amor que me entranhara, enfim, suspira. Acende tanta luz do paraíso E queima eternidade numa pira...
Dos reinos encantados que viera, Amor se enamorou de quem pensava Que amor fosse distinto por ser fera, Porém amor a todos dominava.
Eu, vítima das garras do carrasco, Sem medo, rebelei-me, num segundo. Invade meu navio, rompe o casco, Em meio a seus desígnos, eu me afundo...
E submergido morro prazeroso, Entregue a tais delícias deste gozo...
15
Jaz tábida minha alma, expressa podridão... Anseio pela vinda amada do festim. Do nada para o nada: extrema solidão! Aguardo pelo beijo audaz, feroz, do fim...
Tristeza de viver... Tristeza nesse não Absoluto, final. O sonho acaba, enfim... Na boca que sonhei, um riso sem perdão... A pá da cruel terra expressa-se em carmim...
A larva que me beija, eterna camarada; Num sonho mau, deliro... Espera pelo véu. Na festa que termina a luz anunciada
Se esconde, escuridão! Nada mais restará! Na profundeza espero a salvação do Céu. Me sobra a solidão! Meu Deus, onde andará? Marcos Loures
16
Javé criou do barro à sua imagem Aquele que seria o preferido, Reinando sobre a imensa paisagem, De todos; o mais caro, o protegido.
Vivendo nos Jardins, sem ter noção Da dor e dos temores e receios Ao vê-lo condenado à solidão, Transforma; na mulher os seus anseios
Unidos por desejos e vontades Irmãos nos sentimentos e prazeres, Atados pelas mesmas claridades, Comuns os seus direitos e deveres...
Sublime perfeição de um Deus que quis Que o filho fosse amado e assim, feliz...
17
Jardins de nossos sonhos multicores Caleidoscópio vivo que carrego, Enfileirando lumes sedutores Eu sei que não irei seguir mais cego.
Adaga penetrando mansamente, A seta deste deus, louco menino. O tempo de viver vai de repente Mudando totalmente o meu destino.
Não deixa nem pegadas no areal, Tentáculos da sorte me tocando, Amor vem como um louco vendaval E todo este cenário vai mudando.
A vida em desamor já fragiliza, Desaba uma esperança em qualquer brisa... Marcos Loures
18
Jardim que se floresce em teu encanto, Inesgotável fonte de prazer. Deitando tua pele como um manto, Não canso de plantar e de colher.
Além deste jardim, existe o mundo, Girando vagabundo, carrossel, Percorro toda a Terra num segundo, Chegando de mansinho, vou ao céu.
Serenas serenatas que eu te faço, Debaixo do sereno – madrugada, Um novo alvorecer, eu quero e traço, Fazendo a noite intensa, alvoroçada.
A marca da pantera em minha pele, Ao fogo da vontade, me compele...
19
Jardim em tão sublime floração Também tem seus espinhos, disso eu sei. O quanto em nosso sonho é redenção Durante tanto tempo eu estranhei.
A rosa que permite um bom perfume Espalha com vigor no meu caminho Em forma de desejo, o seu ciúme Mostrando claramente cada espinho.
A dança necessita contradança O medo nunca pode derrotar O gozo tão sublime em temperança Deixando cada coisa em seu lugar.
Amor jamais permite calabouço, O vento do prazer em ti eu ouço...
Marcos Loures
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Jardim de uma alegria, florescente, Deitando no meu colo, a minha amada, O coração, feliz adolescente, Escuta em tua voz, uma chamada,
E grita ao doce amor sempre presente, Já dando em minha vida uma guinada, O quanto ser feliz tão simplesmente Na mágica emoção anunciada.
A trama que em teus lábios se mostrou, Em teu sorriso manso me entregou Deixando para trás qualquer mistério.
Assim, ao perceber tanta meiguice Relembro de outro alguém que um dia disse: Amor não tem juízo e nem critério. Marcos Loures
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Jardim de tantas rosas, todas belas, Esplêndido canteiro, com certeza, Que é feito em profusão, tanta beleza, Um céu que se emoldura nas estrelas...
Quem dera se eu pudesse, assim, vivê-las E ter com tal magia, e com presteza Louvores se desfilam, natureza; Um mundo é muito pouco p’ra contê-las.
Decerto o grande bardo inspirador Que emana em ricos versos que recebo, De toda a maravilha que concebo,
Força descomunal de um sonhador Que canta no conjunto a tal mancebo Em arco e seta, alado, o deus AMOR. Marcos Loures
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Jangadeiro que corre para o mar, Meu amor também busca por sereia; Distante, vou sonhando nesta areia, Nas praias onde tento te encontrar...
Saindo de manhã para pescar, Esse sol, escaldante, te incendeia. Saudades vai deixando, triste teia, Que enreda quem viveu só para amar...
Na jangada, correndo com o vento, Transportas esperanças, sofrimento; As lágrimas sinceras que ficaram...
No retorno, tristezas se alegraram, Outras vezes, as vidas acabaram; E quem partiu, ficou no pensamento... Marcos Loures
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Jangada solta ao mar em pescaria Uma esperança alerta aqui na areia Do dia que virá festa, alegria, Na boca pescadora da sereia
O canto não se cala, de magia, A pele bronzeada se incendeia Irrompe todo o bem da fantasia E a lua na varanda brilha cheia...
Se nas brancas velas de teu braço Plantei milhões de estrelas coloridas. Eu quero desfrutar de cada abraço,
Beber de tua boca, uma saliva. Na pesca, mil espécies tão sortidas... Mas guardas, entre as pernas, água viva...
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Jamais verei uma esperança em vida Cansado de lutar inutilmente Desarmonia me tomando; mente Mosaico em ilusão vã, distraída.
Reconhecendo no portal; saída A vida se transforma totalmente. Com tal vigor eu caminhei; demente Sabendo desde já da despedida.
A minha sorte, insana tanto bole E muda a direção da tempestade A solidão aproveitando invade
Impede que minha alma siga leve, Amor se mostra quando a luz se atreve Na sede que se mata a cada gole. Marcos Loures
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Jamais te trairia meu amor, Seria com certeza bem cruel Se fosse desta forma. Em teu calor Encontro com certeza doce mel. E digo, me acredite; por favor. O que mais sei na vida é ser fiel.
Eu quero todo o fogo que se emana Desta delícia imensa que me trazes. A força da paixão é soberana, Meus lábios te procuram mais audazes, Vem logo que esta vida não engana, Eu quero teus carinhos mais vorazes...
Menina és a razão da minha vida, Decerto não serás jamais traída...
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Jamais te esqueceria; saibas disso, Perceba a eternidade deste sonho, O amor mantendo sempre o belo viço, É tudo o que mais quero e te proponho
O quanto amanhecer se fez risonho, O coração entregue em reboliço, Enquanto nos teus braços eu me enfronho, Aumenta com prazer meu compromisso.
É claro que há espinhos; sempre os há; Porém nosso caminho mostrará As flores cultivadas com carinho.
Contigo sou feliz; isto me basta, Minha alma de tua alma não se afasta, Por certo não serei jamais sozinho...
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Jamais te deixarei minha querida, A vida sem te ter, não vale nada, Seguindo o teu caminho, doce estrada, Embora tantas vezes, distraída,
A mão que te acarinha, vale a vida, Não quero outra manhã nem alvorada Que venha sem te ter, querida, amada. Pois vejo em nosso amor, uma saída
Às dores que encontrei pelo caminho, Meu coração sofrido, um passarinho Distante de seu ninho. Na verdade,
Eu quero nosso amor, santa magia, Mesmo que dure assim, único dia, Já vale, para mim, a eternidade!
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Jamais te abandonei; minha morena, Tu tantas vezes disse: não te quero. Meu coração voltando à velha cena Sabe dizer o quanto que venero
E sinto tua ausência, não te nego, Andar sem teus braços é vagar Levando a dor que triste assim carrego, Sem chance de viver e de lutar.
Eu te amo e não consigo te esquecer, O frio dentro da alma me consome. Sem ter o teu carinho, sem prazer, A luz na minha vida, aos poucos, some...
Não fale de abandono, por favor, Em ti eu reconheço o meu amor! Marcos Loures
29
Jamais sou responsável se eu cativo A rosa apodrecida da esperança. Não digo que talvez eu siga altivo, Matando o que restou, mera lembrança;
Porém de uma alegria eu não me privo, Eu juro, não pari tola criança Que sangra, mas que tenta manter vivo O amor que, sem remédio, logo cansa.
Tu finges que me queres, mas não vês Que a vida não se move em teus porquês Deitando sobre amor farsa e mentira.
De ti, me libertando, loucas tramas, Enquanto o mel do sonho tu derramas A Terra sem descanso sempre gira... Marcos Loures
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Jamais serei romântico, querida, Por mais que te pareça ser tão lírico, Enquanto foi inútil minha vida O método que usei não foi empírico.
Não tenho as cicatrizes que propago, Tampouco grandes fatos, fardos, gozos, Da fruta não comi sequer um bago E os dias nunca foram caprichosos.
Somente, dos desejos, sanguessuga, Não devo aos grandes sonhos, uma ruga, Soprando como brisa, sem procelas.
Colecionando versos sem sentido, Às vezes sendo escravo da libido, Não conheci corcéis, voos nem selas...
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Jogando carteado noite afora, Ganhando experiência, perco a grana. Enquanto a sorte amarga assim me afana Eu tento e não consigo: vou embora?
Quem sabe com certeza faz agora, Porém que nunca cabe já se dana Eu devo confessar: sou um banana. E a turma outra vitória, comemora.
Quando eu chegar em casa, o quê que faço? Eu sei que a dona encrenca vai chiar; Mas já me acostumei e nem disfarço.
Rolo de macarrão no meu costado. Apanho, apanho, apanho até cansar, Mas jamais deixarei meu carteado!
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Jogados sobre a mesa: dados, cartas, Aviso aos navegantes, eis a praia, À vista ou mesmo à prazo, nunca caia, Nas velhas arapucas. Não te fartas.
Nem mesmo o paraíso que descartas Permite o canto livre da jandaia, A deusa dos delírios sabe a vaia, Porém dos teus caminhos nunca partas.
Servir a quem não serve; teu engodo, Remóis o teu passado e deste modo Jamais tu poderás beber futuro.
Augúrios decifrados por ciganas, Enquanto a solução; já desenganas, O grão não brotará neste chão duro...
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Jogados nas sarjetas, nas calçadas Na visceral vontade que me nos toma, O nada que se mostra em cada soma, Expressa-se nas duras caminhadas,
Nas câimbras de minha alma qual um coma As farpas penetrantes, entranhadas, Os olhos vão buscando os mesmos nadas, Insana dor de tudo já se assoma.
Redomas de ilusões não mais resistem Embora as cicatrizes que persistem Demonstrem coleções de desencantos
Eu tento ensimesmado resistir, Porém com solidão a me impedir Não ouço nem sequer antigos cantos. Marcos Loures
34
Jogados contra o vento; em cinzas, feitos Feitiços e feitios mais diversos, Amamos nossos sonhos já desfeitos Apenas revividos nestes versos.
Na podre hipocrisia dois eleitos Nas tocas mais ferozes, quais perversos Destinos esculpidos em trejeitos Bastardos tão unidos, mas dispersos.
No pão não repartido, na injustiça A boca se entupindo de carniça Jogada pelos donos do poder.
Escárnios, carnes podres, um banquete, Na marca deste corte em canivete O gozo alucinante de um prazer... Marcos Loures
35
Jogado sobre as pedras num naufrágio, O barco que criei em fantasias, Durante as tempestades, tu fugias, E o amor cobrou sem pena, juros, ágio.
À deriva tentara fugir, ágil, Porém as ondas tomam cercanias E tombam sobre as águas sempre frias, Mostrando o quanto o amor se torna frágil.
Tentáculos diversos, calabares, Ausência de esperança em vastos mares, Sangrias entre os dentes, meu grilhão,
Reveses decifrados, névoas fartas, Não tendo mais saída, me descartas, E deixas no lugar, a solidão... Marcos Loures
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Jogado sob olhares da Medusa Meus sonhos se fizeram infelizes, Nos dias acumulo cicatrizes A vida se tornando mais confusa.
Distante da beleza desta Musa Que finge não saber dos meus deslizes, Espero com certeza que divises Com toda a maravilha que produza
Uma amizade imensa e consagrada, Mostrando uma manhã bela e raiada Depois da tempestade malfazeja.
Amiga me permita conceber Um mundo mais tranqüilo onde o prazer Não seja simples meta que se almeja.
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Jogado sempre às traças, ventania, O barco se esqueceu que tinha um leme, A terra sem um porto sempre treme E muda a direção que bendizia.
A madrugada segue dura e fria O peito solitário tudo teme, O vento em assobio vem e geme Tornando mais macabra e mais sombria
A noite que se fez sem dar alento. Distante, bem distante o pensamento Procura dispersar o furacão.
Minha alma num momento, decomposta Ouvindo deste amor, cruel resposta: O quanto que eu amei, foi tudo em vão. Marcos Loures
38
Jogado pelas ruas, corpo imerso Em meio a duras pedras, na sarjeta O vento me invadindo, vai perverso No corpo a cicatriz, podre tarjeta
Restando a solidão de um simples verso Que toca a noite imensa e faz asceta Quem tanto vasculhou pelo universo Na busca pelo amor, velho cometa.
Escombros do que fui carrego agora, Batalhas que encarei, todas perdidas... Nas entranhas expostas, consumida
Ninguém ao ver-me verme inda deplora, Rolando encontro enfim o doce esgoto Refúgio terminal de um bosta roto.... Marcos Loures
39
Jamais permita a morte da criança Que habita o coração de quem se dá Sabendo a maravilha desde já É nisso que consiste uma esperança.
Tomando a tempestade, a temperança Reflete o sol que sempre brilhará Um mergulho na infância ditará O amor que deixaremos como herança.
Fonte da juventude, o carrossel Que ainda vibra em nós, roda gigante, Permite a paisagem fascinante
Guardada em nosso peito sob o véu Das dores que ofuscamos com a luz Farol ao qual o sonho nos conduz... Marcos Loures
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Jamais perecerá quem crê nos sonhos, Vertidos entre as luzes soberanas, Por mais que venham trevas desumanas, Mergulho nestes mares tão risonhos.
Desnudas a tua alma redentora, Sublimes fantasias que desfilas, Erguendo maravilhas das argilas Palavra encantadora em ti se aflora.
E gestas com teus versos, novo tempo, Vencendo a tempestade, o contratempo, Ungindo em paz um raro amanhecer.
Quem sabe já cultiva com perícia, Frutificando enfim, rara delícia, Moldando em plenitude, o bem viver...
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Jamais neguei que quero o teu amor, Se eu sonho o tempo inteiro possuir Morena mais faceira que há de vir Com toda esta vontade e com fulgor
Meu verso te percorre a te compor Rainha dos meus dias. Vou pedir Aos céus, aos mares, lua em pleno ardor, Que possa finalmente te sentir
Na cavalgada em louca maestria Teu corpo junto ao meu, forte atração. Tomado por insânia e por paixão
Além do que jamais eu saberia Dizer; deixo que fale o coração Ao decorar a tua geografia... Marcos Loures
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Jamais necessitei de ti, amiga. E disso com certeza fiz o ninho Aonde esta amizade já se abriga E trama noite e dia o seu caminho.
É preciso dizer que a forte viga Que liga nossos mundos é o carinho; Com toda confiança e sem intriga. Eu posso, mas não quero ir mais sozinho.
Uma amizade é forte enquanto sabe Que o caminho de outrem já não te cabe, Embora seja bom o caminhar,
Os passos sempre vão independentes. Os rumos escolhidos, diferentes, Porém nossa alma sempre gemelar.. Marcos Loures
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Jamais me esquecerei desta mulher Fantástica paisagem feita em luz, Da lua que em molduras me seduz A bela fantasia em seu affaire
Sabendo desde sempre o que mais quer, Amenizando o peso de uma cruz, À glória de ser livre já faz jus Vencendo a tempestade que vier
Por isso é que me orgulho de poder Gritar aos quatro cantos o prazer De ter tua presença encantadora.
Saber-te companheira de viagem É ter total certeza de uma aragem Sublime que meu céu doura e decora...
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Jamais me esquecerei daquele dia, Durante muito tempo, o pesadelo Tomando o pensamento num novelo, Tramando tão somente esta agonia.
Distante do que o sonho fantasia Não posso nem desejo mais revê-lo, O amor quando se mostra em tal desvelo Apenas solidão imensa cria.
Gerânios na janela do meu quarto, Na imagem que jamais dela me aparto Retrato de um passado mais feliz.
Agora o vento açoda estes umbrais Repete este estribilho: nunca mais! Escombros do que um dia, eu tanto quis...
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Jamais me esconderei, tenha a certeza, Sou teu e nada impede esta vontade De ter ao fim de tudo, a claridade Expressa com real, rara beleza.
Quem segue nesta vida com destreza Encontra em tanto amor felicidade, Bebendo deste sonho que me invade Terei ao fim da tarde, esta grandeza
Do amor que me domina e me conquista Além de uma utopia simplesmente. A vida do teu lado tão benquista
Traduz o meu desejo mais profundo Estar sempre contigo e ser contente, Paz no meu coração tão vagabundo... Marcos Loures
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Jamais irei viver alvorecer Em paz, leve sorriso eu já não tenho. Quem teve da alegria o seu empenho Percebe quanto é duro perceber
Que a sorte abandonada, de onde venho, Deixando bem distante o meu prazer. Apenas sofrimento, enfim, retenho, No sonho uma vontade de morrer...
Perdida, bem distante, a mocidade, Um resto de esperança esvai agora. A dor que no meu peito já demora
Resume o que senti na realidade. Meu canto, sem sorrisos, não resiste... E morro devagar, vazio e triste...
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Jamais irei temer um pensamento Que fale, sem pensar, em desenganos... Soltando meus segredos neste vento, Passando, sem mentir, por tantos anos...
Eu vivo sem cobiça ou ambição De coisas que não tragam meu prazer. Eu vivo com total sofreguidão, Espero, em cada curva, o meu lazer...
Hedonista, bem sei que assim eu sou, Não quero nem tristezas nem saudades. Quem vive em plena nuvem que passou, Não pode vislumbrar felicidade.
Pois abra teu sorriso, companheira, Amiga, trague a vida, beba inteira!
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Jamais irei perder o meu caminho Que leva para ti a todo instante, Meu passo permitindo que adiante Em direção ao barco aonde aninho
Um coração que outrora foi sozinho, E agora vai contigo, um par constante, No encanto que se mostra radiante Expressa a sensação de amor e ninho.
Vem logo e não permita que a saudade Invada minha cama e ponha a mesa. Depois que encontrei vou sem defesa,
Pois sei do sentimento que, em verdade, Fez-se sinceridade em plenitude. Moldado na esperança e na atitude...
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Jamais irei buscar outra saudade, Por isso não consigo mais amar. Viver ou conceber realidade De certo modo, engajo-me em teu mar,
Mas faço deste amor fatalidade, E digo que não posso descansar Enquanto não houver felicidade, Afogo meus delírios neste bar.
E travo com vontades, uma luta A chama da paixão, bem mais astuta Agita em fogaréu, mas eu disfarço.
Amarro da ilusão qualquer cadarço Pois sei que a queda marca em alvoroço. Deixando os teus sinais em meu pescoço... Marcos Loures
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Jamais irão trilhar ledos enganos, Os pensamentos plenos de saudade. Por mais que tenhas vários os teus planos Rastreio os teus caminhos. Claridade!
Os gozos inda vibram soberanos, Lembrando que eu te amei. E na verdade Ainda quero ter de novo os anos Aonde eu conheci felicidade...
As lágrimas traduzem quão é forte O imenso sentimento que me toma. O amor quando demais além da soma
Multiplicando em luzes nossa sorte Aporte insuperável de emoção, Saudade refletindo esta paixão...
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Jamais gargalharia; eu te garanto. Mas posso te dizer: foi muito bom. Foguetes pipocando em todo canto, Nos céus estrelas nuas de neon.
Não sei se ainda rezo, danço ou canto, Tampouco desafino deste tom, Fingindo com sarcasmo algum espanto, Julguei não ser possível ter tal dom.
A tua derrocada, companheira Depois de tanta empáfia; é um sinal Que existe um Ser supremo e divinal
Mesmo sendo a justiça passageira, Eu posso em regozijo te dizer Do quanto tua dor me deu prazer...
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Jamais eu te esqueci, meu grande amor. Tantas vezes chamei pelo teu nome E nada...Tão somente; morta a flor, O frio dentro da alma me consome... Tentei deixei de amar. Que dissabor! Nada mais faz que a vida eu já retome, Imerso neste charco, em viva dor; A solidão devora, a paz já some... Mas sei que esta saudade me alimenta De toda uma esperança sem sentido. A tua voz distante representa Um elo terminal em minha vida. Sem ela com certeza, assim perdido, Teria toda a sorte, decidida...
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Jamais eu quis ter lucro ou prejuízo, Apenas empatados, um a um. Quitanda de um amor perde o juízo, Depois de certo tempo, eu sou nenhum.
Um fósforo queimado pelas ruas, Restos mortais dos sonhos que inda trago. Olhando o meu passado quis as luas, Do meu cigarro resta apenas trago.
Se desembesto e sigo sem paragem, No fundo não teria outro caminho. O beijo da pantera? Uma bobagem Sem trilhos, descarrilo em desalinho.
Balbuciando o nome de quem quis, Alento em fogo brando, a cicatriz...
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Jamais eu poderia te enganar, Não posso mais pensar em ter alguém, A morte se aproxima, perco o trem A noite tenebrosa sem luar.
Quem sabe... Mas eu devo confessar. Outro caminho amiga, a ti convém, Estou das esperanças muito aquém, O rio dos meus sonhos nega o mar.
Meus olhos não têm brilho, são opacos. Restando do que fui somente cacos, Pedaços espalhados pela sala.
Jamais conseguiremos ser felizes, São grises os meus céus, parcos matizes, Das dores a minha alma, uma vassala... Marcos Loures
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Jamais eu poderia ser feliz. A vida não cansou de me mostrar Que nada enfim teria do que eu quis, Não fui feito, decerto para amar.
A poesia eterna meretriz, Deitando este prazer num lupanar, Enquanto a realidade já desdiz, Eu teimo, inutilmente, no sonhar.
A minha vida passa em falsos guizos, Vestindo em sarcasmos meus sorrisos, Mergulhos nos vazios dentro em mim.
Arranco minhas máscaras então, E vendo num espelho este bufão Estúpido palhaço: sou assim! Marcos Loures
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Jamais eu poderia me esquecer Da noite que tivemos no passado. Vivendo este momento de prazer, Deveras com carinho relembrado
Eu posso novamente perceber O quanto se é feliz enamorado. A cada novo instante eu posso crer Que fui pelo bom Deus, abençoado.
E ao ter tua presença novamente, Recolho os dividendos da esperança, E quando em teus carinhos se pressente
Que enfim eu poderei viver em paz. A mão da poesia já me alcança E um mundo em calmaria quer e traz. Marcos Loures
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Jamais eu poderia desdizer O que a cigana há tempos já previu. Do amor que se perdeu sem dar prazer Um cheiro ora tão profano e tão sutil.
Fingir que eu consegui mesmo esquecer O beijo em temporal que me seguiu Durante tantos anos pude crer Que nada adiantou, pouco serviu...
Rasgando o coração, eu vou me expondo Sonhando com a volta. Uma ilusão... Por mais que o mundo seja assim redondo
Jamais eu te terei de novo aqui. Errante e sem destino, mão em mão, Procuro em cada corpo, estar em ti... Marcos Loures
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Jamais eu poderei viver em paz, Diziam aos meus olhos teus oráculos. Nem mesmo a fantasia satisfaz Tomado pelas garras e tentáculos
De quem em desencanto sempre traz Terríveis tempestades; espetáculos Aonde a fantasia mais voraz Não vence o desamor em seus obstáculos.
Beligerantes noites, carrosséis, Aborto o navegar, pois sem convés Meu barco não terá sequer um porto.
Convido-te, sarcástica, e o velório De um velho singular e merencório Dissecará meu verso amargo e morto...
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Jamais eu deixaria de querer Amor que imensidão assim promete Vivendo esta magia, com prazer, A sorte nos teus braços me arremete
Recebo o teu afago em belos versos, Encantos e vontade amor eterno. Por mais que nossos dias são diversos Carinho que me mandas sempre terno.
Abraços e delírios, mar e praia Meu Porto transformado em belo cais. O vento que balança tua saia Permite e quero ver cada vez mais...
Amar é receber em alegria Bem mais que imaginei que poderia... Marcos Loures
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Jamais eu deixarei de tanto amar Estrela que me guia pelos céus... Distante de teus raios, meu luar, Por vezes escondido nos teus véus.
Estou sempre contigo, não percebes? Meus lábios te procuram, madrugadas, No vento que deitada tu recebes, Nas horas mais tranqüilas, delicadas
No vento que te toca, teus cabelos, No riso mais sereno e mais profundo. Nos sonhos mais audazes, atropelos Que te invadem. No teu mundo,
Em cada novo verso que fazemos, Nos dias mais felizes que vivemos...
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Jamais esqueceria Amor que me invadiu, Transborda em alegria Meu coração a mil
Numa taquicardia Desejo tão sutil De amor e poesia Neste verso gentil,
Pois tudo o que eu queria Meu peito descobriu Vibrando a fantasia
Na qual se coloriu Amando todo dia Meu coração se abriu.
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Jamais esqueceria o teu olhar, A senha concebida em noite clara. Sabendo quanto é bom poder te amar A voz em tons macios te declara.
Batendo em tua porta devagar, Tua presença amiga sempre ampara, E quando sinto a boca me tocar Encontro o que sonhei, o que buscara..
Somando nossas forças sigo em frente Suplanto em alegrias os obstáculos, Amor com poderio em seus tentáculos
Oráculos decifra plenamente E num sincero rito demonstramos O quanto é que deveras nos amamos...
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Jamais esqueceria a quem adoro E desejo que esteja junto a mim. Se às vezes eu pareço que demoro Não pense que desprezo amor assim.
Sou teu e sou feliz por seres minha Ó Musa que me encanta e me alucina Minha alma vai sombria e tão sozinha Distante de quem sabe que domina
E finge que não vê meu sofrimento Se está em outros campos, outras sendas. Não deixo de querer um só momento Deitar o nosso amor em belas tendas
Nas noites maviosas e esperadas De estrelas e de luas decoradas...
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Jamais esquecerei o nosso beijo Que nunca foi trocado, disso eu sei... Apenas vasculhamos o desejo E tão depressa veio e me entreguei...
Por certo não contavas com meu canto, Entendo que não queiras mais voltar. Vivendo o que me resta em desencanto, Abraço essa cortina, esse luar...
Amada mas não tema pela sorte O canto que te trouxe fortalece Terá no teu futuro o vento forte Que tanto nos dá força e enriquece.
Amada só te peço não se esqueça Do beijo, mesmo que nunca aconteça...
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Jamais esquecerei dos teus carinhos, São marcas deste encanto que alimenta Paixão que nos tomando, violenta Aquece com desejos nossos ninhos.
À noite que se embebe em burburinhos, O gozo da loucura que apascenta, A vida, quem me dera, fosse lenta, Ao decifrar teus signos e caminhos.
Assim dois companheiros de viagem Tramando em alegria esta paisagem Tecendo a realidade com magia.
Enquanto a gente bebe poesia, O templo da esperança traz roupagem Divina que este amor, conduz e cria... Marcos Loures
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Jamais esquecerei de teus apelos Refém de tantos sonhos, sigo só. O amor ao envolver-me em seus novelos Retorna e se renova, deste pó.
O vento balançando os meus cabelos, A vida vai passando sem ter dó. Momentos tão difíceis de vivê-los Saudade traz moinho, amor é mó.
Manadas de ilusões já vão distantes À sombra dos meus erros e pecados Gingados da lembrança provocantes
Dominam tal cenário. O que fazer? Os olhos no horizonte, disfarçados Engendram velhas lendas, desprazer...
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Jamais será tão tarde Pra quem tem a razão Em sonho sem alarde Completa sensação
De um bem que queimando, arde Mas mostra a solução Do dia que não tarde Moldando uma emoção
Na mão cariciosa No peito juvenil, Ao florescer a rosa,
Perfuma o meu canteiro, A amizade gentil Um sonho alvissareiro.
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Jamais será decerto, amargo e rude, Quem tem numa amizade, a senhoria. Mudando num momento de atitude Espalha sobre a terra tal magia.
No passo transformado, eu também pude Prever em meu caminho esta harmonia. Rompendo em força intensa, antigo açude Uma esperança expressa esta alegria.
Algemas que rompi do meu passado, Na visceral vontade de conter Bem mais que simples fonte de prazer
Encantos deste dia anunciado Trazendo todo o bem que outrora eu quis, Mudando do meu céu, todo o matiz. Marcos Loures
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Jamais se perderá em desatino Quem vive a fantasia e não deserta Certezas desde o tempo em que menino Mantinha o peito em porta sempre aberta.
As chuvas que apanhei, a escuridão, As marcas tatuadas dia a dia, O tanto que tivera em negação Agora vaga lume me irradia.
Da tétrica manhã que ameaçava O resto do caminho em temporais Minha alma em alegrias já se lava Tocando com firmeza porto e cais.
Coragem que decora o coração Permite deste amor, declaração... Marcos Loures
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Jamais retornei, pois nunca fui Estive o tempo inteiro lado a lado, Embora muitas vezes disfarçado, O rio em mansidão deveras flui.
Talvez não me notaste, minha amiga, Porém meu braço sempre te apoiou, E o tempo que sem tréguas já passou Deixou cada palavra que te abriga.
Não tema a tempestade, sou teu par, E vivo em cada frase que tu dizes, E mesmo nos momentos infelizes,
Principalmente neles vais notar Um vento que te acalme e te apascente Tocando os teus cabelos, tua mente... Marcos Loures
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Jamais resistirão à maré cheia Amores construídos sobre o nada. Ao mesmo tempo a brasa que incendeia Expressa a solidão anunciada.
Os dias que virão sombrios, frios, Não deixam qualquer dúvida: acabou. Da frota desmembrados os navios Apenas o deserto, o que restou.
Olhar vai se perdendo no Levante, Buscando algum resquício no oceano. A sorte distraída e tão distante Conclama num instante ao desengano.
Mas quando o teu sorriso, amada eu vejo, Acende logo a chama do desejo. Marcos Loures
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Jamais posso negar intenso brilho Que emanas nos teus olhos, companheira. Meu mundo nos teus passos eu palmilho Com minha admiração mais verdadeira.
Se Deus, em sacrifício deu Seu filho Amando, com certeza a Terra inteira Ergueste com firmeza esta bandeira Que é rumo e vai dourando um nobre trilho
Que deixas no caminho com vigor. Sabendo do poder do Santo Amor Deixando para trás qualquer orgulho
Tua amizade é nobre e consciente Fazendo toda gente mais contente Sem ter nenhum alarde, nem barulho...
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Jamais ponto final em nosso amor! No máximo uma vírgula, mesmo assim Não quero mais um peito sofredor Batendo tresloucado dentro em mim... Mil versos em teu nome irei compor, Levando uma esperança até no fim...
Pois venha ser meu til, minha emoção, Menina tão bonita, uma ousadia É ficar tão distante desta paixão Que traz pra nossa vida essa alegria. Corsária que tomou meu coração Brotando em pleno sonho e fantasia..
Abrindo tais parênteses, querida, Como é bom desfrutar prazer na vida!
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Jamais permitirei tal heresia De ter um vão sorriso, um beijo falso, Não quero mergulhar no cadafalso Que a noite nos teus braços prometia.
Viver tão somente em fantasia? Um futuro mais digno; eu quero e alço Vencendo qualquer forma de percalço
Não trago mais descalço um velho sonho. O canto em harmonia que componho Talvez inda me trague a redenção.
Mas vejo que, perdido o sentimento, Eu desconheço a força deste vento: Difícil descobrir a direção. Marcos Loures
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Jamais conseguiria te esquecer Tu foste um raio imenso de alegria No rastro de teus passos, poesia Estende este tapete, bel prazer.
Nos olhos de quem amo eu pude ver O brilho que emoção sempre irradia, Felicidade um dom que se já se urgia E em ti eu pude, enfim; reconhecer...
Por mais que mil ardis a vida faça Ser dura a caminhada de quem ama, O amor ao esculpir sublime trama
Usando da esperança sua massa, Na força soberana e tão gentil Das doces emoções faz seu buril...
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Jamais conceberei ser evitável O cancro que me invade por inteiro. Na pútrida matéria descartável, Exposta a várias cores do tinteiro;
Encontro meu destino inconsolável. Vagando por amor tão “verdadeiro”, As marcas deste rumo maleável, Fagulhas que me queimam, vil braseiro...
Vestiste de pureza, podre atriz. Nos ritos dos amores, foste vã. Horrenda e tão profunda cicatriz...
És verme que minha alma creu divina, Escondias pendores, cafetã Disfarçada nos ares de menina...
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Jamais aponte o dedo para o céu, Não quero namorada verruguenta. O amor que a gente quer já não aguenta Um mote tão estúpido e cruel.
Na venda do chinês, como um pastel Pensando na barata tão nojenta, Olhar que sendo atento não inventa Já sabe com certeza o seu papel.
Depois de uma enxurrada de bobagens, Mentiras dando o tom das paisagens Eu tento algum disfarce e caio fora.
Do amor que eu pensei doce, diarréia, A moça, na verdade esta mocréia Graças ao Bom Deus já foi embora... Marcos Loures
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Jamais aceitarei a despedida, Se agora estás marcada dentro em mim, Distante do vazio de onde vim Em ti eu reconheço a própria vida.
Mergulho nos meus ermos; desvalida Paisagem sem te ter; perco-me assim, Não posso suportar, é o meu fim. Imenso labirinto sem saída...
Se a lua que te trouxe não voltar, De que valeu estrela, céu e mar Sem brilho e sem os raios fascinantes
Que tornam minha noite quase um dia, Inútil, totalmente a poesia, E os sonhos? Pesadelos lancinantes...
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Jamais a despedida amor verá, Se é feito com firmeza e com ternura. Sem pânico ou temores, vingará, Trazendo para a vida uma água pura.
Sem mágoas, sofrimentos ou afins, Contigo caminhando por distâncias, Das terras mais longínquas, dos confins Mantendo nos sentidos, elegâncias...
Verás que amor assim não foge à luta É feito pra vencer qualquer espinho. Quem ama e deste amor tanto desfruta Já sabe que este sonho passarinho
Precisa ser cuidado com desvelo, Vivendo sem saber de um atropelo... Marcos Loures
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-Já vou! Grita o menino que já fomos. A mãe impaciente não descansa. A foto da modelo, seios, pomos, A gruta desejada não se alcança.
As mãos tão ocupadas fazem festa E a mãe vai insistindo lá de fora. A coxa da morena é só o que resta Espera mais um pouco. Vou agora...
E nisso, sua prima está chegando, Com fogo de moleca aborrecente. De novo recomeça imaginando
Aquilo que se vê, mas não se sente. - Espere mais um pouco, tô saindo. ( Pois a felicidade já vem vindo )
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Já vem raiando um belo e claro dia Trazendo no seu bojo a tocha acesa Que faz iluminar a natureza Assim que o sol, brilhante se irradia.
Formando em cada raio um novo guia Que oferta para todos a beleza, Em força e claridade, uma riqueza, Assim que uma manhã se principia.
Estampa em cada rosto, a caridade, Tornando nossos sonhos mais brilhantes. Amar assim aos nossos semelhantes
É ter uma certeza: ser feliz. Por isso em cada verso que te fiz Eu louvo o teu desejo de amizade....
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Já tenha uma certeza, não duvide. De todo o sentimento que alimento. A luz de teu carinho sempre incide Sobre o meu corpo e queima em fogo lento.
Porém se tu quiseres incendeias Em chamas bem mais fortes, nossas noites. Amor trago comigo em minhas veias E compartilho assim, nestes pernoites.
Eu quero lambuzar-me no teu mel, Alçando um vôo livre em tuas mãos, Ao descobrir teu corpo, mantos véus Poder usufruir dos belos vãos...
Estou aqui morrendo de vontade De poder dividir felicidade...
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Já tendo uma esperança como guia Enfrento a solidão com destemor, O quanto se faz claro que este amor Derrama sobre nós a poesia.
Da voz que tanto tempo me dizia Que a cada novo obstáculo a transpor O sentimento encontra mais vigor, Mostrando em plena paz tanta alegria
Eu sinto o toque calmo e soberano, Cerrando para sempre o desengano, Condenado ao eterno desabrigo.
Qual lavrador que um sonho cultivara, Numa colheita amena, bela e rara Recolho cada rastro que persigo. Marcos Loures
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Já tendo totalmente o que procuro Depois de tanto tempo sem ninguém, Amor vem sorrateiro e salta o muro, Depressa coração, que o amor já vem. Aguando em alegria um chão tão duro, Eu colherei enfim, todo o teu bem.
Mesclando cores várias, eu percebo A tela mais perfeita que sonhei. O vento encantador que ora recebo Demonstra a maravilha que hoje sei Está na fonte pura, e dela eu bebo O mel que com certeza eu procurei.
Os olhos de quem amo; são estrelas, Divina a sensação de recebê-las... Marcos Loures
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Já sente o fogo ardente no seu leito Aquele que deixa transportar Pelo amor verdadeiro vai aceito E bebe a fantasia de um luar.
Vivendo tão feliz e satisfeito Caminha em passo firme e devagar, Abrindo com certeza um duro peito Adentra a fantasia, imenso mar.
Eu sinto que este amor que tu me deste Da glória de viver, perfeita veste Permite cada passo sem temores.
Nos olhos da esperança, o meu farol, Nos braços de quem quero, sinto o sol Emoldurando assim divinas flores.
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Já sei felicidade Nesta alegria insana Que cedo assim me invade Em sorte soberana,
Mas criticar quem há de? Amor que vem e explana E trama a liberdade Que enfim jamais engana.
Desfilo a fantasia De ser eternamente Qual presa da magia,
Que faz de mim, contente, Um ser que noite e dia, Se encanta, corpo e mente... Marcos Loures
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Já se condena à paz feita em tormento Amor que nada colhe, mas que planta, O tempo em contratempo passa lento, No rosto da morena sacripanta.
No mimo sem estímulo o meu leme Estampa o quanto é lírico o sorver-te O frio em serventia trata e teme Por mais que a chuva intensa sempre aperte.
Mereço esta jornada? O nada eu jorro E corro, vou atrás; mas nada achei Guinada que se deu, pede socorro O verso catalítico entranhei
Amor que apocalíptico se esvai, Elipse em carrossel, rondando cai...
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Já sabe: não virá nada mais nada após; Quem desistir duma esperança breve, Um sonho vão decerto não se atreve, A desvendar deste segredo os nós
À ventania que se mostre atroz Numa inconstância, como pluma leve Sucumbirá no sonho que me leve Distante deste rio, perco a foz.
Enquanto busco ao menos a esperança O vento descuidado já me alcança Na dança das audazes ilusões.
Quem sabe uma ternura inda conceba Amor que se mostrando noutra gleba Expressa as mais doridas tentações... Marcos Loures
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Já sabe valorar a redentora Presença da amizade em nossa vida Aquela que se dá sem ter nem hora Não teme nem sequer a despedida.
Assim, ao te falar, querida, agora Do quanto é necessária uma saída O canto que se emana revigora A paz que é tantas vezes distraída.
Lutando contras as forças oponentes Enfrento as ventanias em torrentes Mergulho neste sonho, e vou inteiro.
Tentando demonstrar em amizade O quanto pode ter tranqüilidade, Durante tanto tempo, amor guerreiro, Marcos Loures
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Já sabe que terá ternura e alento Distante do vazio de um adeus, Tocado pelos olhos, num momento, Voando em direção aos braços teus.
Singrando pelos ares, pensamento, Carinhos e desejos, todos meus. O canto de alegria, traz o vento. Clareiam minha noite, belos céus.
Amor que nos unindo, em liberdade, Dá-nos real sabor: felicidade Vontade sem limites de saber
O quanto a vida foi maravilhosa Cevando nos canteiros, rara rosa Em forma de alegria e de prazer. Marcos Loures
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Já sabe o que procuro, aonde vou O coração entregue à fantasia, Enquanto uma esperança ainda ardia Um rumo diferente, amor tomou.
Nas asas de um bom sonho, decolou, Trazendo de uma estrela esta ardentia Que aquece com ternura e galhardia, Sementes de alegria, ele espalhou.
Atravessando mares, cordilheiras, Escreve sua história e se deslumbra Moldando a claridade da penumbra
Afasta os nevoeiros e se esgueira Por entre as velhas trevas do passado Deixando um rastro intenso, iluminado... Marcos Loures
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Já sabe e reconhece os artifícios Aquele que se deu intensamente, O fogo vai queimando e de repente Prepara com carinho novos vícios.
De todos os desejos, meus ofícios Sabendo quanto eu quero totalmente Quem ama de verdade nunca mente Só quando pressupõe tais precipícios.
Expondo a minha face num mosaico, Falando deste amor, lerdo e prosaico Quem dera se ele fosse mais bombástico.
Moleque que cresceu em riso farto, Olhando o teu retrato no meu quarto, Perdoe se pareço assim, sarcástico...
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Já sabe conquistar, decerto o mundo Aquele que se mostra por inteiro, Amor que é benfazejo e verdadeiro, Um sentimento raro e tão profundo.
Nos braços deste sonho eu me aprofundo E sinto o vento manso e lisonjeiro Que trama num sorriso, mais matreiro, Atando um coração que é vagabundo.
Adentro as doces sendas da emoção, Tocado pelo lume em sedução, Amor dispara assim, o seu gatilho.
E tendo a claridade que sonhara, Meu passo com firmeza já se ampara, Não vendo mais sequer um empecilho. Marcos Loures
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Já preguntei responda meu amô, Vivê sem tê vancê é disgramado, Já prantei no cantêro dessa frô, Meu coração ficô apaxonado!
Iscute, meu amô, um cantadô Que dessa triste vida num vê lado Sem tê vancê vai me fartá calô, Como é que vô vivê, desesperado!!!
Pru favô num me dêxe mais sozinho, Ansim vancê me faiz um sofredô, A vida sem vancê num faiz sentido...
Sem te tê vô ficá ansim perdido, Pois arretorne, entonce meu amô, Um bêjo te mandei, num passarinho Marcos Loures
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Já não suporto tanta estupidez De arautos disfarçados de poeta, Gente que do vazio se repleta Tentando macular a lucidez.
Enquanto o que foi feito se desfez Nas mãos desta imbecil e tão abjeta Figura que envenena cada seta Pensando que escreveu em português
Vociferando à torto e de mal jeito, Rolando solitário no seu leito Sonhando com carinhos que não colhe.
Mal sabe este idiota, pois que a Diva Por ser tão caprichosa, e até altiva Entre jardins de joio, o trigo escolhe...
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Já não suporto mais qualquer encosto, Miríades de sonhos são falácias. Roubando o que restara das hemácias Eu sigo este caminho vão e oposto.
Não lembro da cigana, nem seu resto, Apenas o florir destas acácias Que podem traduzir meras audácias Diversas deste verso que ora empresto.
Joguete em tuas mãos? Tolo disfarce Por mais que o dia-a-dia nos esgarce Gracejos ouvirás, tenho certeza.
Periga ter a morte atocaiando Enquanto sinta o prédio desabando Vencido pela mansa correnteza...
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Já não meto o meu nariz, Nem tampouco o meu bedelho, Se o teu corpo pede diz, É melhor pedir pro espelho
A madrasta é boa atriz Eu te peço e de joelho Venha me fazer feliz Novo amor é um fedelho
Que não tendo terno e siso, Veste short e camiseta Dos perigos não aviso
Caminhando assim cambeta O meu beijo sem juízo Vai e vem feito um cometa.. Marcos Loures
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Já não me reconheço nem tampouco Procuro algum sinal que me permita Saber se na aguardente ou na birita O muito surge às vezes do tão pouco.
Gritar demais só deixa a gente rouco, A arte, com certeza, a vida imita, Ouvir besteira é coisa que me irrita, Cultura nacional? ME DEIXA LOUCO!
Revendo este enlatado mexicano, Sendo empurrado goela abaixo, vejo Só resta entrar de novo pelo cano
Usando a fantasia de panaca, Na fila principal, do gargarejo Brasil cai no gramado e sai de maca...
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Já não farei- quem sabe? – outro soneto, Tampouco a poesia inda me embala Olhando o meu retrato, a voz se cala E ao fim do precipício, eu me arremeto.
Não quero mais fazer parte do gueto Aonde a fantasia teima e fala, Arranco o meu retrato desta sala, E o fim deste palhaço, eu te prometo.
A carga é bem pesada e sem bornal, Não posso mais teimar num ritual Que nada diz, somente expõe o vago.
O gosto amanhecido deste pão Que agora percebi, foi sempre vão, E estúpido, comigo, ainda trago...
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Já não dou mais pelota pro inimigo Deitado do meu lado, esta serpente Que enquanto me sorri mostrando dente Esconde, atocaiado; este perigo.
Cismando de fazer doce de figo Botou caco de vidro e repelente A cobra jararaca, esta demente Eu tento me livrar, mas não consigo.
Depois de ter chamado o Butantã, O Corpo de Bombeiros, a Polícia, Olhando com jeitinho e com malícia
Enrosca suas pernas, a vilã E lambe destilando fel e mel, Do inferno, num segundo vou ao céu... Marcos Loures
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