
MEUS SONETOS VOLUME 078
Data 14/12/2010 07:02:19 | Tópico: Sonetos
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7701
Já furaste meus olhos, tuas garras, Já bebeste meu sangue com teu bico... E prendeste meus braços, nas amarras... Toda a minha miséria te fez rico...
Cortando a minha carne, cimitarras, Devoras os meus filhos, minhas filhas, Meus sonhos de justiça, vem e barras... Marcando nossos pobres com anilhas...
Recendes a cruel escravidão, A morte escancarada num porão. Vergonhas espalhando pelo mundo..
O mar que navegaste foi negreiro, O sonho que legaste tão imundo, Vendendo meu Brasil, no mundo inteiro... Marcos Loures
7702
Já estou de partida, minha prenda, Nunca me prenda, eu tenho de partir, A lua desfilando sua renda Me diz que é necessário prosseguir... Carrego na guaiaca esta saudade Dos pampas e da china mais bonita, Se nesta imensidão, barbaridade; A minha alma pampeira já se agita. E sinto o minuano me cortando Qual fora uma lembrança deste amor, É como neste amargo eu ir tomando Os teus doces desejos, com calor... O poncho vou soltando estrada a afora, Lamento, meu amor, ter que ir-me embora...
7703
Já é meu rumo, meu norte A paixão que nos domina, Prevenindo em paz, o corte Tal presença cristalina.
Uma estrela de alto porte Minhas sendas, ilumina, Como um vento bravo e forte Dissipando esta neblina.
Vejo os olhos sonhadores Penso em nobre castiçal, Ao colhermos tantas flores
De um jardim fenomenal, Espalhando em mil louvores Este encanto sem igual... Marcos Loures
7704
Já deixa este andarilho mais contente A possibilidade de sonhar. A sensação de paz que nos alente Tomando nossa vida, devagar.
Durante tanto tempo andei sozinho Vagando sem destino pelas ruas. Enquanto nos teus braços eu me aninho, Comigo, com certeza continuas...
Eu quero a minha vida do teu lado, Estrela solitária e sem igual, Meu verso se mostrando apaixonado Procura a bela estrela, ganha o astral.
O que já fora noutro tempo atroz Transforma a fantasia em doce voz... Marcos Loures
7705
Já basta de torturas, penitências, A vida não se faz em tempestades O quanto foram duras coincidências As horas sem amor, tranqüilidade.
Eu tento e mal disfarço, ser feliz E nada neste mundo impedirá Que eu tenha tudo aquilo que eu bem quis, Desejo a vida inteira, desde já...
Afãs, labutas, lidas corriqueiras Jamais me impedirão de prosseguir Estendo nos meus versos as bandeiras E nelas meu prazer a repartir.
Partir de mãos vazias? Não pretendo. Fogueiras de emoções, desejo e acendo.
7706
Jamais esquecerei de te dizer O quanto és importante para mim. Amar, usufruindo do prazer Que a vida nos demonstra início e fim.
Quem dera se eu pudesse converter Meu verso em um canteiro, e no jardim Sentindo toda a glória de poder Trazer ao mundo um sonho bom, enfim.
Às vezes me pergunto por que escrevo Se o tempo levará já todo acervo E nada restará nem a lembrança.
Porém ao receber o teu carinho, Percebo que jamais irei sozinho E a vida se esmeralda em esperança...
7707
Luxúrias e desejos, boca e sexo. Felatios, cunilínguas, maravilhas... Bebendo deste sonho sem ter nexo, Invado nos teus portos, tuas ilhas.
Tocando no teu corpo qual anexo Que entranha, se prendendo em tuas trilhas, De ti um complemento, quase um plexo, Encontro devagar, doces virilhas
E nelas vou roçando lábios quentes, Ardentes em fulgores implacáveis. Eu sinto na verdade o que tu sentes,
Embora tão distante, tantas léguas, Eu guardo dentro em mim; inconfessáveis Desejos de te amar e não ter tréguas... Marcos Loures
8
Luxúria em mil orgasmos me alucina, Os olhos penetrando nas entranhas, Cavalgo em liberdade, vento e crina Por entre vales úmidos, montanhas.
Lambendo todo sal de tua pele, Suores alagando leito e chão, Sem ter qualquer pudor que nos atrele Aos deuses do prazer, invocação.
Gemido, gargalhadas, explosões Correntes, olhos, bocas, gozos sádicos. Torrentes transtornando turbilhões, Distante dos desejos esporádicos
Repetidas vontades enlanguescem, Os ópios de teu corpo me entorpecem...
9
Lutar contra as fraquezas da vontade Que tantas vezes segue em passo falso. Distante da perfeita claridade, Deveras infeliz, meus sonhos alço
Na busca de um amor serenidade, Caindo num escuro cadafalso Aguardo a tão cruel felicidade Da solidão sombria eu já me calço.
Quem sabe em teu sorriso, a solução. Virias como a luz mais redentora, Tornando bem mais leve o coração
De quem a vida inteira sempre chora A dor de uma saudade que procura, Somente por amor, pura ventura...
10
Lutar até chegar a um consenso, Rasgando as esperanças e ir em frente Por mais que isto sugira um contra-senso Amansa o coração de um penitente.
O amor que imaginara ser imenso, Transforma-se em vazio, de repente, E quando em teus carinhos, inda penso, O fim da minha história se pressente.
Chegando de mansinho à minha porta, Saudade latejando vem e corta Tornando sempre inútil a fantasia.
Quem dera se pudesse; quem me dera. Exposto à solidão, temível fera, Apenas a ilusão me bastaria...
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Lúgubre melodia que deixaste Nos maus momentos, todos, te relembro... A morte deste amor deu-se em dezembro, No mais exato instante que chegaste.
Teu corpo tão franzino uma fina haste, Nas cicatrizes todas me desmembro, Devorou cada parte, cada membro. A vida, em podridão, já carregaste!
No beijo viperino, teu carinho, Nas vísceras expostas, regozijo. Rapineira, das dores forjas ninho.
Vestígios de ilusão, profunda chaga. Porém te imploro: volte. Aliás: exijo! Marcos Loures
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Luares transbordando nas montanhas, Parindo esta paisagem, noite vaga. Enquanto o pensamento assim divaga As velhas sensações restam estranhas.
As dores coletadas são tamanhas E apenas solidão ainda afaga, A morte talvez seja boa paga, Embora, claridade nas campanhas.
Pelejas do passado; luta inútil, Por mais que amor pareça tolo e fútil Ainda faz estragos, fera audaz.
Da lua que, teimosa, raia plena, A réstia de esperança que me acena, Ao torpe coração não satisfaz...
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Luar que nos enfeita Em brilho deslumbrante Decerto se deleita Contigo neste instante
Silhueta perfeita Tocada por brilhante Luar que já se deita E quer ser teu amante.
Morrendo de ciúmes Encontro a bela flor Que trama em raros lumes
Um gozo encantador Bebendo os teus perfumes, Me entrego ao nosso amor... Marcos Loures
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Luar que cai sobre a mata Me trazendo teu reflexo O teu brilho me arrebata Perco todo senso e nexo.
O vento vem qual chibata Arremata meu complexo Sentido verso maltrata A noite promete sexo...
Sensuais as tuas pernas Maviosos os teus seios Em meu corpo não te invernas
Não me tens medo ou receios Nos teus beijos faço cama. Nosso amor é toda chama... Marcos Loures
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Luar que brilha a me trazer saudade... Sonho divino, que perdi tristonho... Em serenata cantarei meu sonho, Perfeito, radiante claridade...
Por tanto que eu te quis; felicidade, O mundo me restou pobre e medonho... Na luz que me irradia, essa verdade Escondida, temida, assim exponho
Alegria foi farsa, imersa em pranto. O meu olhar vazio, vai nevado, Espero teu amor, teu mago encanto.
No rumo que já sei carrego um cardo, Porém, em plena dor, eu me agiganto. Meu verso se desnuda, amortalhado...
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Luar está chamando para amar, Convidativamente flores tantas Brilhando sob a luz deste luar, Argênteas belezas nestas mantas,
Derramam os seus lumes sobre o mar, Certeza de que mais que tudo, encantas, E chamas para à noite namorar; Nas chamas tão profanas quanto santas.
Insanas aventuras pelas matas, Palavras que sussurro em teus ouvidos, Desfilam emoções quase em cascatas
E levam ao delírio. Lua intensa Distante de outros dias nos olvidos, A lua em nossa cama... Aberta... Imensa
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Luar de prata mostra o meu caminho Por entre as cachoeiras deste rio; Deságuo nos teus braços, teu carinho Quarando minha sina, mato o frio.
No gosto da cachaça lembro o vinho, Cigarro se esfumaça e vou vazio Trilhando cada lua com jeitinho Canto de passarinho vira pio...
Somando cada fio de cabelo Que a dor embranqueceu sem ter ninguém, Esbarro no passado num desvelo
Que é marca registrada do meu peito. Agora que percebo amor que vem, A todos eu proclamo esse direito...
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Lua sobre esse pampa mavioso, Eu ando procurando por amores. O meu tempo passando doloroso, Horas celestiais, campos, flores...
O céu iluminado por leitoso Cobertor divinal, tragando as dores No seu mata borrão mais vigoroso, Derrama sobre o campo seus pendores...
Na guaiaca repleta, sentimentos Mais sonhadores, levo essa esperança Na espreita de que venham os bons ventos.
No meu coração vibrando campana A me trazer a doçura, esta lembrança, Tempo em que nos amamos, Fabiana...
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Lua ronda Amor chega, Peito sonda Te navega.
Em cada onda Doce entrega Luz redonda A alma apega
Venha logo Que este jogo Não termina
Noite afora Desde agora Minha sina... Marcos Loures
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Lua que em noite imensa já branqueia As sendas mais floridas do sertão Enquanto a poesia assim ateia Os fogaréus subilmes da paixão
O brilho de teus olhos incendeia, Esplendoroso e intenso tal clarão, A nuvem de falenas te rodeia Vertiginosa imagem, turbilhão...
Rodando o teu vestido em transparência, As formas se adivinham, seios, pernas... Paisagem sensualíssima. Na ardência
Dos fogos e das chamas, tal mistura, Nas trevas dos meus sonhos, as lanternas Pilhando este flagrante de ternura...
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Lua que ao brilhar derrama prata Por sobre este arrebol, ganha a janela E quando em forte lume se revela, Acendendo o clarão por sobre a mata
Distante da saudade que maltrata, Explode em maravilhas sobre a tela; Eu lembro neste instante: foi para ela A minha derradeira serenata...
Agora a lua dorme atrás dos montes, As trevas dominando os horizontes, Paisagem desbotada, o que restou.,
Que faço sem poder sequer dizer Àquela que em momentos de prazer Qual lua, meu caminho iluminou?
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Lua nua, meu limbo e poesia, Clarão noturno, entorno tuas luzes, Nos caminhos, meus ninhos, minhas urzes.. Vou perdido, adiando cada dia...
Lua bela, estrelar, alma vadia, Rolando tantas formas, somos cruzes; Nas pedras, perdas, trevas avestruzes Escondidos fugidos, qual valia?
Venero meus anseios, seios, lua... Procuro, me torturo, estás tão nua... A vida continua, mas cadê?
Elevo meu navio, naufraguei... Acendo teu pavio, me queimei. Ó lua me responda então, porque?
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Luz que minha vida agita, Brilho que sempre me guia Mesmo na hora mais aflita Se transborda em poesia
Em teus olhos, luz bendita Em teu colo, fantasia Eu quero que se repita Meu amar a cada dia.
Quero a vida que conflita Com minha morte tão viva. Quero a sorte mais altiva,
Nessa vida rediviva Quero teu gosto, pepita, Minério mais caro, Rita...
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Luz dos olhos, refulgente, Ofuscando essas estrelas. Como estar sem poder vê-las? Pergunto pra toda gente!
Não posso passar sem tê-las Não viveria contente... Caminhar sem percebê-las É morrer tão de repente...
A luz dos teus olhos, mar... As telas que não pintei, Velas a me iluminar...
Nos castigos que preparas, Nos teus olhos serei rei, Olhos verdes, vidas claras... Marcos Loures
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Luz do sol incendeia minha vida Trazendo uma sereia de além mar. Minha alma então clareia, decidida Já sente a lua cheia a me tocar.
Deitando numa areia, convencida Morena entra na veia e faz brilhar A mão que assim passeia tem cumprida A sina que vadeia até sonhar.
Domingo em plenilúnio, cheia a praça Casais com infortúnio ou riso aberto. Nas mãos uma petúnia, o corpo enlaça
E a gente se ilumina quando pensa Da fonte em rara mina há recompensa Aguando-me elimina este deserto...
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Loucuras que cativam, infernizam, E mostram tantas garras contundentes Seduzem e de leve perenizam As horas que tivemos bocas, dentes,
Esquecem desta santa que dormia Na menina que brinca do meu lado, Da mulher que reclama todo dia, Da fêmea que abrasada forja o cardo,
Nas chamas das loucuras onde dança E pede e que me tira pra sonhar Com tramas em nudez, já vem, avança, Deitada em minha cama, quer luar
Que adentre e que acarinhe perna e coxa, Deixando de prazeres, murcha e frouxa...
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Loucuras e volúpias da paixão... Em nossas roupas soltas pelo quarto Sintomas da total revolução Do amor intenso, imenso, doce e farto. As marcas de batom, a sedução; Na vontade de estar... Amor, não parto Deixando aqui contigo o coração, Nesse amor que é só nosso e não reparto; São tantos os momentos que vivemos, São tantos os prazeres que sangramos... Se tudo que há lá fora já perdemos; Se nada mais serei. O que fazer? Em tantas fantasias nos cortamos... Me diz, como eu irei sobreviver?
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Loucuras de um desejo interminável Caçando a noite inteira a tua gruta Vontade de te ter assim tão puta Um sonho muito além do imaginável.
Teu grelo em minha boca, intumescido A xana molhadinha me esperando, Caralho com vontades penetrando Ouvindo em tua boca este gemido.
Arranhas minhas costas, meu pescoço, Fudendo com tesão a noite inteira. O amor que a gente faz, fino colosso, Na sacanagem plena e costumeira
A porra escorrendo em tua boca, Voraz e sem juízo, insana e louca. Marcos Loures
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Loucuras comecei a cometer, Desde que conheci tal criatura... Como, então, poderei sobreviver Como procurar nesta noite escura?
Meus olhos que teimaram te perder. A boca que me mata é a que me cura! Quem me dera tivesse um novo ser, Um misto de brandura e amargura...
No começo, tropeços sem valor... Pouco a pouco transtornos fui mostrando... Andava simplesmente por andar.
Lunático bebi ondas do mar. Fanático caminho delirando; Estático fiquei sem teu amor! Marcos Loures
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Loucura que me enreda totalmente, Fazendo dos meus versos, foguetório. Tramando nos seus laços, de repente, O dom que nos transtorna, que é notório.
Vestindo a fantasia em fanatismo, Confundem-se alegrias e delírios. É asa que nos leva para o abismo, Desejo transtornado de martírios.
Uma verdade falsa nos contenta Uma mentira exata, satisfaz. A corda do juízo se arrebenta, Na busca infernal por louca paz.
É sempre quase nunca o sim e o não. Prazer tão doloroso da paixão!
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Loucura é não deixar amor fluir, Temer as loucas regras do desejo, Barreira alguma pode me impedir Quando aquilo que eu quero, perto vejo.
Ninguém pode tentar calar a voz Sublime do que sentes e que eu sinto. Não deixe que o ciúme seja algoz; A sorte benfazeja; já pressinto.
Quando o sentimento vem com força, Não pense que alguém possa mais conter. O amor que é sempre frágil como a louça Precisa de cuidados, proteger.
No laço que nos une brilho e viço, Ninguém tem; meu amor, nada com isso...
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Loucos sonhos, delírios insensatos... Milhares de fantasmas rutilando. Rituais ancestrais, irei voando Por espaços, meus laços, meus retratos...
Atípicos pendões surgem inatos, Dos céus descendo os anjos, flutuando... As mãos vazias, gôndolas girando. Irresponsáveis aves sobre pratos,
Escapo deste céu, não temerei. O cetro me negando, mata o rei Nas minhas terras, cega confusão.
As vagas tempestades, as sereias, Nas mãos que me torturas, me incendeias... Gira mundo, alucina, perco o chão...
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Louco! Se eu te pareço enquanto canto; Meus versos sempre em busca do desejo De ter um sonho imerso em entretanto Enquanto em meu caminho eu nada vejo. Feita destes talhos, quase em pranto Uma esperança inerte; inda porejo, Ao meditar no entanto, se me adianto, Reflexos deste sonho eu antevejo. Amor, um tema, em versos, tão comum, Nas invectivas todas que proponho, Sabendo que dos loucos, sei nenhum Que deixe que o amor seja esquecido. Não posso amortalhar um lindo sonho, Nem mesmo a tanta coisa dar ouvido...
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Loucas palpitações são tão febris, Bebendo gota a gota nossos mares, No orvalho que poreja sou feliz, Nas frutas que desfruto em teus pomares.
Os rumos se entrelaçam, se avassalam, Aos poucos misturamos nossos sumos, Os sonhos e desejos se acasalam, E loucos, já perdemos nossos rumos...
Eu quero conhecer-te em cada ponto, Nas cordilheiras todas, altiplanos, Nas fossas, nos teus vales, fico tonto, Não posso cometer mais desenganos...
Derramas avalanches delicadas, As mãos que acariciam, são de fadas...
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Longínquas essas saudades, Lembrança, velha criança Passando pelas cidades, Resvala nesta esperança.
Tempo longe, sem maldades, Éramos os reis de França... Casados, velhos abades Dançaram a nossa dança!
Chega a tarde, vem sem pressa. Nos cerca de filhos, netos... Amores sonhos completos,
Corda que nos une, forte... As dores vêm na remessa, No fim dessa tarde, a morte... Marcos Loures
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Longínqua luz que toma este cenário, Deixando a bancarrota da ilusão Morrendo assim morosa no porão, Queimando sem destino e sem horário.
O quanto fui deveras temerário Não tendo nem remédio ou direção, O pensamento voa qual falcão, Mesmo que seja louco, até falsário...
Cercado pelas hordas dos anseios, Sentindo o teu perfume, belos seios, Vontade de tocar teu corpo nu.
Mas sei que nada disso é permitido, E quando deste amor, até duvido, Sendo apressado; assim, eu como cru...
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Longe de ti percebo a solidão Verdades e mentiras são falsárias Amores se viverem sem perdão Nas dores sempre encontram adversárias
Se não te importas sinto tal tormento Que quase me enlouqueço sem prazer. Vivendo por viver já não agüento Os males que me invadem todo o ser.
Estando junto a ti por outro lado, Esqueço minhas dores, ressuscito Amor p’ra ser amor ama o amado Com gosto, no segundo, do infinito.
Por isso te pretendo como um todo Sem teu amor, decerto, frio e lodo...
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Longe de ti a vida não tem graça; É como caminhar sem rumo ou nexo, E crer que a cada dia que se passa O mundo vai ficando mais complexo,
Nos ermos desta ausência; solidão Esgueiro-me entre as trevas, busco a luz, E tendo por resposta a negação O vago se propaga e reproduz
A sensação de perda, este vazio Que amputa uma esperança e traz o nada A mente; num eterno rodopio Sem Norte e sem porquês logo se enfada
Nas tramas mais diversas me perdi Sangrando em desamor; longe de ti...
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Logrando ser feliz, intensamente Vestimos fantasias e desejos, O corpo se desnuda e assim pressente A maravilha insana feita em beijos.
Não posso mais conter o desvario Que toma o pensamento e traz loucuras -Teu corpo que exalando um doce cio- Em toque tão suave me procuras
Qual gata ronronando no tapete, Desnuda em garras, risos e promessas, Com jeito de quem quer e assim repete, Deixando já de lado, não conversas
E vamos noite afora, fogo adentro, De todas as maneiras eu te adentro...
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Logo que chegas, vindo de onde vens, Procuras ao entrar, a fechadura... A chave introduzindo... Parabéns! Acertaste sim, mesmo noite escura
Não impediu tal glória! Sei que tens A mansidão divina da brandura... Mas, irado, ferido nos teus bens Ou no brio feroz, tal armadura
Demonstra tua raiva sem sentido! O que fora brandura se transforma, A mansidão, deixaste pelo olvido...
Com tanta estupidez, de bruta forma, Tu tentas penetrar, estás perdido, Pois logo, sem porque, tudo deforma...
Aquele “bravo” sujeito, Mais calmo, fica besteiro... Diz, lá no fundo do peito: Meu reino por um chaveiro!
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Logo ao te ver andando pelas ruas Recordo-me das noites que passamos, As nossas silhuetas seminuas Nas camas e nas lamas que tramamos.
As bocas se mordendo leves, cruas, Instantes em que quase flutuamos. Atuas noutros palcos onde suas Desejos teus encontram outros amos.
Dizer-te: como estás? Prazer em vê-la. Cinismo hipocrisia, mas que faço? Noutra constelação virou estrela.
Aqui já encontrei uma outra atriz, Roubando tua cena e teu espaço. É bom saber que estás também feliz
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Lógica Trágica Álgica Mágica
Tétrica Métrica Féretros Éteres...
Fístulas Pústulas Cólicas...
Férreos Térreos? Prédios...
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Amar jamais será algum pecado, Pelo contrário: bênção redentora! Quem sabe quanto amar nos revigora Matando toda a sombra de um passado
Deixando qualquer crítica de lado Percebe que quem sabe faz agora E deixa uma tristeza, assim de fora, Promove um novo mundo iluminado.
Vem logo e não dê trelas a quem fala Abrindo o nosso peito, o quarto, a sala, E o nosso apartamento, pela fresta,
De uma felicidade, este escudeiro, Amor, sincero e franco, verdadeiro, Um paraíso imenso que se gesta...
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Lirismo que invadiu meu pensamento, De tantas madrugadas, solidão... Ao ver teu nome solto neste vento, Aos poucos fui criando uma ilusão...
Agora que percebo quanto te amo Não deixo mais sequer um só segundo, Que toda esta ternura que reclamo, Se afaste deste nosso novo mundo...
Eu quero teu perfume, minha rosa, Em todas estas flores, meu jardim... Bem sei que minha amada é tão vaidosa, Reflete todo mar de amor em mim...
Não fujas do que sonhas; nossa vida, Te aguardo calmamente aqui, querida...
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Lirismo diz do lírio ou da mortalha? Ferrenhas, as batalhas que perdi, No corte das navalhas, cada falha Estampa o que buscara, e vejo em ti.
No rapineiro canto de uma gralha A mansidão que outrora percebi, Escombros do que fui, morte amealha Ceifando o que restara e não sorvi.
Impregnado de sonhos, velho estúpido, Olhar embasbacado, insano, cúpido Ao catar as estrelas não percebe
Que o mundo não suporta idiotia, Minha alma que encilhada em montaria Atroz, em versos álgicos se embebe.. Marcos Loures
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Lirismo comedido dos burgueses Ao ofertar as flores diz espinhos, Suaves sentimentos quase reses Infantes abastecem toscos ninhos.
O sexo pontual: todos os meses, Entrega parcelada que aos pouquinhos Enfadam e viciam tais fregueses; Aguando a cada dia mais os vinhos.
Quando minha alma anseia por sarjetas Rasgando as burocráticas tarjetas Jogando para longe tais crachás,
Mergulha em tresloucado rodopio E o gosto delicado e mais vadio Do amor insatisfeito- satisfaz...
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Lírica nossa matina Dores que não me desfias A morte que desatina Somente nela confias
As vagas velhas ladinas São os restos que fias Escapaste das latrinas Escarras nas minhas pias...
Formas velhas senzalas Esperas pelo defunto. Destruindo minas salas
Nas portas desta fornalha Estou distante conjunto Morte dispensa navalha! Marcos Loures
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Línguas úmidas túrgidas vontades. As pernas entreabertas da morena. Promessas de delícias, saciedades. Um gozo delicado que se acena.
Do tímido carinho, um mar profano Aos poucos dedilhando o paraíso, Encontra um templo raro e soberano, Aberto com o toque mais preciso.
Uma oração se faz em cada beijo, Roçando pele a pele, ímãs, aço. No turbilhão insano do desejo, Decoro os teus sinais e passo a passo,
Adentro um Éden feito em tentação, Maçãs, serpentes, gozo da paixão... Marcos Loures
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Linguagem corriqueira sem frescuras, Não pode ser usada num soneto? Na alvíssima expressão de tais branduras O meu nariz, perdoe, sempre meto.
Não sei como esculpir tais esculturas Meu mármol se tornou tão obsoleto, Não irei alcançar tuas alturas, Bastando que me vejas como inseto,
A pulga na cueca te incomoda. Porém eu não suporto qualquer poda Não me encha o saco, amigo. Peço paz.
Não vou ficar aqui passando mal, Eu nunca fiz masturbação mental Pinçando uma palavra. Tanto faz!
7750
Ligados, pelo amor, no mesmo umbigo Atados pelo sonho mais audaz, O bem que tantas vezes satisfaz Pressupõe mansamente um bom abrigo.
Abarco cada intento em que prossigo Vivendo a maravilha que amor traz, Ao fim da tempestade, a plena paz Ao lado de quem amo eu já consigo...
Alvíssaras ao tempo em que se dá Felicidade plena que acolá Andara tão distante de meus passos.
Agora que encontrei felicidade, Apenas a ternura ora me invade Nascida do calor de teus abraços... Marcos Loures
51
Lua de minha vida; soberana, Senhora de meus sonhos mais felizes. A noite nos teus braços se abandona, Envolta nas ternuras dos matizes...
Ilumina a pupila dos meus olhos, Ilumina o desejo desse amor. Trazendo as alegrias, tantos molhos, Fazendo minha vida em esplendor.
A noite que promete rubra aurora Palpita no meu corpo enluarado. Amada como é bom te ter agora, Vestida em salvação, doce pecado...
Que a lua que te trouxe, em prata chama, Espalhe aos quatro cantos quem te chama
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Lua cigana, quero teu perfume! Nas voltas que transtornas, sempre vens... A lua companheira no queixume, A lua que roubou todos meus bens...
A lua que me mata de ciúme, A lua já fugiu trás das nuvens... A lua que desnuda meu costume, A lua que mentiu nos meus totens...
Lua cigana, quero tua boca, Beijar fundo teu brilho até luzir... A mansa lucidez te fez mais louca...
Efeitos delirantes produzir... A lua transformou os meus desejos... Na lua procurei pelos meus queijos... Marcos Loures
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Lua bela em teus raios de cristal Encontro tal beleza, deslumbrante Qual fora um mavioso diamante. Dos astros tu és sempre a maioral.
Teu toque tão macio e sensual Para quem ama mostra-se excitante Por isso és a rainha de uma amante Que deita sob a prata sem igual.
Ah! Lua, companheira e tão amiga, Não permita que a dor assim prossiga Na eternidade rara deste abrigo
Afaste a solidão do meu caminho, Não deixe que eu me sinta mais sozinho, Eu quero esta mulher sempre comigo!
54
Lua azul, clareando meu inverno, Não quero ter sentido nem senão, Quebrando essa cadeia, beijo o chão... Nem sei mais qual o corte do meu terno.
Sabia que tentava desse inferno, Buscar a melodia num grotão, Mas quebrando uma corrente, digo não Nem me importa ser velho ou ser moderno...
A tua gravidez é, na verdade, Um resto de sincera lealdade. Mas quem sabe de tudo bem se cala.
As vozes que transtornam, paranóicas, A vida tem antenas parabólicas, Permitindo teu retrato em minha sala...
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Louvando todo amor que é só da gente, Não quero usar imagens rebuscadas, As luzes não serão mais ofuscadas Iluminando a vida plenamente.
Por mais que uma saudade ainda tente Mudar os rumos todos das estradas, Amor fazendo em nós as escaladas Permite uma viagem mais contente.
Garapa nos teus lábios, moça bela, Menina que se fez estrela guia, Entorna em meus passos poesia,
Amor pintando assim a rara tela, Cenários tão diversos traduzidos, Caminhos que seguimos mais unidos... Marcos Loures
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Louvando toda luz que se irradia Dos olhos de quem sabe ser feliz, Deixando no passado a cicatriz Repara em mansidão velha avaria.
A barca feita em sonhos conduzia Felicidade ao cais que sempre quis O céu não nascerá em cores cris, Revejo o sol que a nuvem recobria.
A par desta esperança eu canto amor E sinto que ao nascer de cada flor Perfumes no canteiro serão tantos
Que a vida mesmo insana, até descrente, Trará um novo encanto que envolvente Recubra a fantasia em claros mantos. Marcos Loures
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Louvando quem renova-se de fato Eu tento ser mais justo e não consigo, Mantendo desde sempre este contrato O novo, faço joio e perco o trigo.
Intrigas vãs quebrando cada prato Deixando o coração ao desabrigo. Afogo-me nas curvas do regato, Porém eu não pressinto até perigo.
E caço cada frase pra dizer Do quanto é necessário conceder Para que se consiga a solução
Amar e ter depois, a solidão Esmera-se em matar qualquer prazer, Barganha sem ter manha sobra o não.... Marcos Loures
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Louvando os tempos belos, sonhos idos Sentindo a suave brisa me chamando Destinos e caminhos revolvidos, Desejo tua sombra me inundando.
Ouvindo a tua voz que já reclama Carinhos e prazeres; vejo o vulto Que incide em minha vida, fogo e chama, Na redenção sublime, qual um culto.
Presença mais constante, mesmo ausente Soprando calmamente me inebria. E quanto mais se quer, bem mais se sente Realidade em plena fantasia.
Oculta sensação a me propor Felicidade intensa, doce amor.
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Louvando o teu cantar sempre gentil Eu sinto a brisa mansa da manhã Deixando bem distante um mundo vil, Tocado pela glória e neste afã
Meu canto se transforma em mais de mil Na voz que se moldura tão louçã A redentora estrela que surgiu Trazendo em rastros claros o amanhã.
Aniversariando este anjo belo, Permite que eu me encante e te revelo Uma felicidade sem igual.
A noite se mostrando iluminada Pelos teus olhos traz a mansa estrada Moldando em maravilha todo astral. Marcos Loures
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Louvando em sorte plena, esta vitória Molhando os teus cabelos, tua pele Embora muitas vezes merencória Que a força do destino assim nos sele.
Teu corpo umedecido por meus lábios Suores e prazeres que trocamos, Os dedos caminheiros sempre sábios Percebem do arvoredo tantos ramos
Nesta alameda insana e delicada Veredas de delícias; reconheço. Ao sonhar com a festa anunciada Amor em plenitude eu te confesso.
Só quero desde sempre e novamente Beijar a tua boca docemente.
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Louvado seja o Deus que nos permite Imaginar um mundo bem melhor. Por mais que outro horizonte, olhar não fite, Existe dentro em nós, algo maior.
Amor que sei ser multifacetário Encontra no perdão e na amizade, Poder que se mostrando necessário Transporta dentro em si, felicidade.
Eu tenho no Senhor um grande irmão, Que veio pra ensinar qual o caminho Que possa nos trazer a salvação, Na força da humildade e do carinho.
Jamais serei cordeiro nem pastor, Esterco dos jardins do Deus-Amor...
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Liberdade é tudo o que se almeja E disso faço fé, quebro correntes, Sorriso que se mostra sem os dentes, Mesmo em tristeza ainda relampeja.
Um homem de moral jamais rasteja, Nas costas leva as cruzes, penitentes, Sem medo do que trazem, entrementes, As horas sob a lua sertaneja.
E mesmo que distante, erguendo os olhos, Abrindo o coração, quebra os ferrolhos Enfrenta as tempestades, destemido.
Do sofrimento faz seu alimento, Na seca ou tempestade, no tormento, Não solta nem sequer algum gemido.
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Liberdade alçando vôo Percorrendo o mar imenso, Universos sobrevôo No teu colo, sempre penso
Vou liberto, mas cativo Deste amor que quero tanto, Pelo amor a ti eu vivo, Pois é nele que me encanto.
Nas palavras, nos sorrisos, Tantos momentos de glória, Nos teus passos mais concisos Eu mudei a minha história.
Coração tamanho trem, Na procura de teu bem... Marcos Loures
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Libando nosso amor, qual borboleta, Que em flores mais sutis trama revôos Amor talvez a flor mais predileta Espera um manso beijo em sobrevôos...
Carrego meu amor no meu alforje Ao lado que é canhoto do meu peito, Mas temo que saudade em dor se forje E traga em tempestade, duro pleito...
Amor que se ternura e se libasse Nas noites mais sozinhas, velhos passos. Quem dera se esse amor já se encontrasse, Rolando em nossa cama, nossos braços...
Amor que se encontrara mais perdido, Tocando desejoso, essa libido...
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Li teu nome no jornal Achei tudo uma bobagem Vida jamais foi igual Precisa nova paragem
Restitui meu carnaval Fardos de sacanagem Nesse meu canavial Não tem ar sequer aragem...
A vida nunca me alisa Nunca me deu seu carinho Nas horas que faço brisa
Nas bocas deste selinho Nos ouros tive latão Mentiras do coração! Marcos Loures
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Li nos noticiários de um jornal Daqueles que apertando verte sangue, Cenários de um terrível bangue-bangue Na mais bonita e louca capital.
O tráfico domina o visual Na Tijuca, Borel ou lá no Mangue Enquanto uma esperança morre exangue Repito novamente o ritual,
Trancando as minhas portas e janelas, Ferrolho/cerca elétrica/ mil trancas; Gradeando o que já foram ricas telas
Um prisioneiro apenas, nada mais. Selando a fantasia em marchas mancas, Não quero ser manchete dos jornais...
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Levo no coração minhas montanhas, O jeito meio quieto, o peito aberto. Trazendo para ti as minhas sanhas Princesa, meu amor, em ti desperto, Meu verso mais sincero, minhas manhas, Chegar depois de tudo, aí bem perto.
Sentir o teu perfume e me deitar Em teu colo sublime, guapa prenda, À noite sem segredos no luar, O fogo que nos toca que se acenda E chame para a noite iluminar Que o tempo desse amar, já se desvenda
Nos olhos delicados da menina Que uma eterna alegria descortina..
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Levei a minha amada prum motel Pedi logo a suite principal Um troço de beleza sem igual, As luzes pareciam carrossel.
Procuro num retrato mais fiel Falar deste lugar fenomenal, Desculpe se me expresso aqui tão mal Na tinta derramada no papel.
Havia uma piscina de água quente Banheira de uma tal hidromassagem Televisão de plasma... de repente
O que a gente deseja. O que quiser. Porém eu não gostei da sacanagem: Eu me esqueci, te juro, da mulher...
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Leve o meu cadáver por regalo, Apenas tão somente é o que me resta. O vento vai entrando pela fresta, Por vezes é difícil navegá-lo
Se eu tento ou mesmo às vezes inda falo Do quanto que não tive e o sonho atesta, Mecânica expressão de riso e festa, No fundo não passou de um mero estalo.
Carcomes os meus olhos, triste amor. E trazes a carcaça por troféu. Um ermo passageiro segue ao léu,
Um féretro somente a te propor. Mas teimas em zombar destas carcaças, E rondando os meus olhos, esfumaças... Marcos Loures
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Levaste teus rebentos pela vida, Em esmoleres sonhos sem sentido. Refém de tua sorte já perdida, No corte da existência, puro olvido.
Procuras nos espelhos a saída Mal vês que tudo enfim foi resolvido. A pedra do caminho não vencida, O medo de viver, adormecido.
Não leve mais os mortos nem os risos. Ateie fogo às vestes e aos lençóis... Talvez assim percebas outros nós;
Além de todo amor, os paraísos Se mostram desarmados e distantes. Permita-se morrer dentro de instantes...
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Levaste o que restou de um sonhador! À tona em explosão angustia e medo, Mudando de repente o velho enredo, Plantaste ervas daninhas. Amargor.
Gerânios que cevei perderam cor À porta solidão, frio e degredo, O barco espatifado num penedo Dos mares revoltosos, o estupor.
Aquém do talvez pudesse ter Bastando para a glória um beijo teu. Farol que inutilmente se acendeu
Não pude, sou sincero mais o ver. Tecera uma ilusão, procuro o fio Recuperar meu prumo? Um desafio...
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Levaste meu sorriso nos teus olhos Sorrindo pelas ruas, sem juízo. Não pude perceber, carrego antolhos A fuga de quem teve em seu sorriso
Mentiras sacrossantas, santos óleos Da santa que se deu em paraíso, Colhendo da vingança em vários molhos Escapa de meus dedos sem aviso.
Levaste os velhos planos que sonhei Enganos que plantaste, eu recolhi. Apenas o que vivo estava em ti
O gosto da mortalha que deixaste No coração que, em mãos, eu te entreguei; Somente este cadáver; não levaste... Marcos Loures
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Levaste meu amor quando partiste Em busca de outros campos mais amenos; Minha alma apaixonada ficou triste Bebendo desta ausência os tais venenos Que fazem do meu canto, meu lamento; Regendo o coração, esta saudade, Queimando como fosse um forte vento, Tornando tão vazio o fim da tarde... Sou árvore sem frutos, mar sem praia, Jardim sem ter as flores, sou ninguém... No peito a solidão se achega, espraia, E busco como um louco, por meu bem... Só resta esta saudade, com certeza, E toda essa tristeza; sobremesa...
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Levanto o meu olhar; venezianas Abertas do meu peito sonhador. Mortalhas do que fomos, doidivanas, Acendem meu desejo e no calor
Das noites tão gostosas e sacanas, Enveredo em teu mar, navegador Dos sonhos nesta luz cotidiana, Desfraldo nos meus olhos, puro amor...
Fazendo da paisagem, minha tela A par do que vivemos, vou em frente. Estremecendo em gozo já se sente
A nau que enfim partiu, levanta a vela E vai nesta aquarela desejosa Colher no teu jardim perfume e rosa... Marcos Loures
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Levanta o teu vestido, o vento audaz, Expondo as maravilhas que escondias. Tocado pelo fogo mais voraz Meus olhos rebrilhando em alegrias.
Percebo em tuas coxas tais magias Além do que sonhara, muito mais. O pano que teimoso em que cobrias Ao vento se mostrou mais incapaz.
Retorno para a casa imaginando, A cena que avistei em plena rua, Querendo completá-la; tê-la nua...
Enlaço, nos meus sonhos, tuas pernas, As mãos te percorrendo e te tocando... As noites se tornando, ardentes, ternas... Marcos Loures
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Levanta de manhã, toma o café E sai pelas calçadas da cidade. Sem marcas de pegadas vai a pé Em busca de cigarro e claridade. Igrejas e dementes, turvam fé, Na banca de jornais, a novidade...
Percebe que anda sempre com atraso, O tempo não diz nada mas já cobra. O amor vai terminando em fim de prazo Contenta-se com resto, com a sobra A planta vai morrendo seca em vaso Esquecido na varanda, triste ocaso.
Nem mesmo um conhecido. Sem bom dia, Uma amizade apenas bastaria...
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Levando tanto amor junto comigo, Eu já não sei andar sem companhia Da estrela que domina e que me guia, A cada nova curva, outro perigo.
Imagem deslumbrante que persigo Moldada em perfeição, traz a alegria Que toda a luz do amor, deveras cria; Não vejo solidão nem desabrigo.
Teu rosto como um sol vence as neblinas, Espalhas no arrebol calor e luz. Visível fantasia que conduz
Corcel que, libertário, em soltas crinas Galopa entre as montanhas e flutua Levando na garupa a deusa nua. Marcos Loures
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Levando por caminho mais incerto Meu barco tantas vezes se perdeu, Amor que quando em sorte me escolheu Mostrou um novo rumo, enfim aberto.
Dos erros cometidos eu me alerto E vejo ser possível um sonho meu, Trazendo a claridade para o breu Servindo ao coração em tempo certo.
Outrora a minha vida foi sem nexo, Amor é sempre um tema tão complexo, Por isso e só por isso fui tentando
Até que se esgotassem minhas chances, A vida sempre traz estes nuances: Na seca tantas vezes semeando. Marcos Loures
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Levando para a praia, ganha a areia Depois de atravessar as pradarias, Corcel que se encantou pela sereia Em raras e formosas pedrarias.
Diamantino sonho segue os rastros Deixados pela prenda em seu caminho. Seguindo em noite clara, guias, astros Bebendo da alegria o farto vinho.
Cansado de viver em desengano, Eu me espalho agora pela vida, Tocado pelo frio em minuano, A sorte está decerto decidida.
Cevando todo o amargo da esperança Felicidade imensa, amor alcança...
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Levando para a praia o meu saveiro Encontro no teu corpo, ancoradouro, O derradeiro porto, o meu tesouro, Meu sol de intenso brilho, alvissareiro.
Muito além de um prazer mais corriqueiro Nas ondas de teus mares eu me douro, E sinto finalmente o bom agouro Roçando os meus lençóis, meu travesseiro.
Estampas num sorriso o quanto queres Além deste desejo que conferes A quem se fez cativo destes laços
Eternidade feita em atitude Eu sinto renovar-me em juventude, Vagando a noite, imerso nos teus braços. Marcos Loures
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Levando minha vida pelo mar, Marés e tempestades, maresias... Abraços entre lua, sol, amar, Marulhos de prazeres, alegrias...
Quem dera timoneiro, pensamentos. Quem dera solidez em novo cais. Perdendo, nunca mais rosa dos ventos, Espero pelos mares, mas, jamais...
Não quero perceber, do mar, a trilha, Nem quero navegar sem sentimento. Não me deixe sozinho, não sou ilha, Eu quero teu amor, cada momento...
Levando minha vida; solto a vela, Amor que tanto quis, já se revela...
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Levando imensa vaia dos amores, Distante do que fora fidalguia. Asperges no caminho seus rancores E falseia com mágoa a poesia.
Tempestuoso céu bebe louvores Daquela que não sendo, já recria O vento que traduz velhos pavores Farrapo extravagante que eu bebia.
Seus brilhos? Não mais vejo nem pretenso Regresso do futuro e jamais penso No que não poderia, mas vivi.
Adivinhar o bote da serpente, No cais que novamente se freqüente, Vagando em ventania chego a ti... Marcos Loures
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Levando em pastoreio uma esperança Qual fosse assim um último suspiro, Acendo na verdade uma aliança Na qual eu sobrevivo, enfim respiro.
Amar é necessária confiança No jogo do prazer em que eu prefiro Ser caça enquanto a noite já se avança E a Terra assim completa mais um giro.
Casulo que prepara a borboleta A vida se transforma a cada dia, Amor que nascerá, santa magia.
Vagando por teus sonhos, um cometa, Aguardo calmamente em poesia, O sonho em que meu mundo se completa.
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Levados pelo vento, meus amigos, O tempo se passou, restei sozinho... Depois de ter sonhado com abrigos, Depois de ter vivido em outro ninho Os olhos que me viam, tão antigos, Agora vou bebendo de outro vinho...
Os dias foram todos tormentosos, As horas que vieram me sangraram, Os cantos que aprendi, tão lamentosos, Por outros mares tortos, ecoaram... Saudades doutros mundos venturosos Onde essas amizades triunfaram...
Agora que te encontro novamente, Amiga, é necessário amar urgente... Marcos Loures
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Levado pelos ventos da paixão, Deixando esse deserto em que vivi, Abrindo tão profundo, o coração, A vida que sonhava é estar aqui.
Naufrágios deste amor em que mergulho Transformam simples ondas em delírios. Viver contigo, amada, é meu orgulho. Termina em nosso amor, tantos martírios....
Encontro uma verdade em cada verso Desejo de viver eternamente. Rompendo sem temer, este universo, Diverso do meu mundo tão descrente...
E quero teu amor bem junto a mim, Amor, desde o princípio, um belo fim...
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Levado pelo vento da saudade Chegando no teu quarto de mansinho, Deitando do teu lado já me aninho E passo a desvendar felicidade.
Sentir este calor que nos invade, Roçando a tua pele com carinho Percorro com volúpia este carinho Sabendo ultrapassar defesa e grade.
É bom voltar em paz ao aconchego, Tocando o corpo nu e enlanguescente Da ninfa com frescor adolescente.
E quando após a chuva morto chego Teus braços me protegem do relento, Bendita esta saudade e o manso vento... Marcos Loures
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Levado pelas mãos do pensamento Tentando decifrar os teus sinais, Mortalha da ilusão tomando assento, Mergulho o sentimento dos umbrais.
E vejo o renascer de velhas urzes, Tomando assim de assalto, o meu canteiro. Aonde imaginara fartas luzes, Encontro o meu desígnio derradeiro.
O passo que falseia vê na queda Inevitável, força pra lutar. Pagar a solidão com a moeda Que um dia recebi; e me fechar.
Deixando no relento, as fantasias, Noturno amanhecer, nublados dias...
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Levada num momento a outro cais, Embarcação se mostra renitente O quanto que sonhei noutros astrais Naufrágio com certeza se pressente.
Potentes vendavais que nos tombaram, Serenas praias nunca eu percebi. Apenas ilusões afiançaram O resultado encontro agora, aqui.
O vago que persiste no meu peito Retrata o que não tive, mas busquei. Quem sabe na amizade encontre um jeito Mudando de cenário, reino e rei.
No palco das temíveis ilusões, Os ventos em diversas direções... Marcos Loures
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Lembro de nossos dias mais felizes, Namoro no portão, os pais na sala... Nós éramos apenas aprendizes. Saudade, no meu peito, como fala!
Depois de muito tempo nos achamos Em todas as quebradas desta vida, Libertos sonhadores; nos amamos, Maravilhosa estrada tão comprida;
Cumprida dia a dia tempo afora... Agora, pensativa, teus temores, Tu pensas que talvez eu vá me embora Matando novamente estes amores...
Não percebes o quanto te esperei? Sempre ao teu lado, amor; eu estarei!
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Lembra-te do solar das margaridas? O velho precipício dos anseios... As mãos que penetravam teus receios E as bocas tão famintas e sofridas.
Nas peripécias tantas, bem urdidas Os dedos encontravam firmes seios. Os rios não fugiam de seus veios Caprichos e delírios. Nossas vidas...
Recorda-te do quanto fomos tanto. As flores e o riacho, medo e encanto E a voz de tua mãe se aproximando...
O tempo não perdoa; agora só, Do sítio dos meus sonhos, resta o pó E o fogo lentamente se apagando...
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Libertos, sem grilhões, senões ou amos, Levamos nossos barcos mar afora. Perfeita sintonia que encontramos, Permite esta viagem sem ter hora
Certeza que se tem de um manso cais, Explica esta fantástica alegria, Os dias são decerto magistrais, Vivendo o bem maior da poesia.
Agora, companheira, em cada verso Eu quero te dizer quanto eu te adoro, Amor vai adentrando este universo Em suas mansas mãos já me decoro
Trajando a paz que sei fenomenal, Na eterna sensação de um carnaval... Marcos Loures
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Libertos pelos fogos das paixões, Não temos tempestades a temer. Jogados mesmo em jaulas de leões, Percebo em nossas mãos pleno poder.
Abrindo da esperança os tais portões Sabemos quanto é bom sempre vencer. Por mais que venham duros furacões, A força deste amor eu posso ver.
Querendo o teu querer o tempo inteiro, Recebo a mais sublime fortaleza. Embora nesta vida, uma surpresa
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Libertos e encontrando um manso ninho Depois da intensa busca vida afora, O amor que tantas vezes se demora, Invade a nossa casa. De mansinho...
No colo deste encanto em que me aninho Vontade de ficar, não ir embora, O tempo em solidão não rememora Aquele que se entrega ao bom carinho.
Recebo o teu afago após a lida, Cotidiana luta que sem tréguas A cada novo turno recomeça.
Em tal felicidade bem urdida, Das dores vou distante tantas léguas, No amor que magistral, já se confessa... Marcos Loures
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“Liberto meus fantasmas quando escrevo” E torno o dia-a-dia mais suave, Voar em cada verso eu já me atrevo, O pensamento passa a ser a nave
Que traz o imaginário para mim, Apascentando a dor, permite o sonho, Na palavra decerto encontro assim Um mundo que mais justo ora componho.
No amor que construímos, a saída Que tanto procuramos nesta vida E, mesmo virtual, nos traz alento.
Singrando os oceanos num segundo, Ao escrever construo um novo mundo. Vou liberto, ao sabor de um manso vento... Marcos Loures
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Liberta em mansidão, uma amizade Composta de desejos mais felizes. Sabendo que viver em liberdade Precisa ter eternos aprendizes...
No dom de ser amigo; uma esperança, Forrada por carinho e por respeito. Nos elos tão cerrados da aliança, Os versos que te faço, satisfeito...
Amigo pressupõe uma coragem De sempre ser fiel e verdadeiro, Seguirmos, braços dados, a viagem Que me colocará desnudo, inteiro...
Nas curvas desgraçadas do caminho, Eu sou teu vero amigo, com carinho...
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Liberta borboleta no jardim, Passeia entre heliantos e rosais, Paisagens tão sublimes, magistrais Guardadas quais relíquias dentro em mim.
Dizendo deste tempo de onde vim Da rosa que adentrando os meus umbrais E agora, ao perceber teu nunca mais Caminho inexorável mostra o fim...
Distante do acalanto que se ouvia, Restando este ladrido de agonia Na porta escancarada o nada vem...
Deitado sobre as fronhas da saudade, Diamantino sonho? Falsidade? Cadê a bela noite de meu bem?
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Lembranças do que tínhamos outrora, As tinhas e os cupins tudo levaram, A velha fantasia não decora Os corpos que entre mágoas se abortaram.
Carentes de ilusões, ainda tontos, Por entre vagalhões, nossos escombros, Nem mesmo tais desculpas dão descontos, O sol; já não veremos sobre os ombros.
Sombrios os caminhos são desditas, Distante cada estrela que ora fitas, Reflexos do que um dia fomos nós.
Os braços que cansados não labutam, Os astros tão distante não escutam Mil brados deste amor, verdugo atroz...
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Lembranças do que fomos no passado Vivificando a glória no presente. O amor quando é demais, já se pressente O encanto sem igual eternizado
Embora não estejas ao meu lado Tua presença amiga, o peito sente; Não sabes, mas eu conto a toda gente Mantendo o sentimento, de bom grado.
“Amor demais amigo”, amada amante Sinônimo de um sonho fascinante Que tem toda a pureza dos cristais.
E vivo tão somente por saber Que um dia em minha vida, este prazer Amei mais do que pude. Amei demais... Marcos Loures
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Lembranças deste tempo onde não fomos Senão um precipício de loucuras. Roubando dos prazeres tantos gomos, Bebendo em nossos corpos amarguras.
Vadias tempestades em torturas, Carinhos delicados e ternuras, As matas embrenhadas, mais escuras, Delícias mais profanas como impuras...
Champagne derramada nos teus seios, Nos rumos se perderam os juízos... Emigro em nossas luas sem receio. Sinônimos divinos, paraísos.
Não víamos sequer romper o dia, Na vida tão orgástica, alegria...
7800
Lembranças desta glória que vivemos, Em mantos que emprestamos ao veneno. Sentindo que d’amores que sofremos, A noite nos invade em seu sereno.
O frio que comanda não resfria O peito que abrasado, não se cansa. De tanto que escutei a melodia, Depois de tanto tempo, amor já dança.
Não deixe que me entregue mais contente Pois saiba que ironia tem seu preço. O mundo se desanca, num repente E amor vai se mudando de endereço.
Quem logra seu passado com mentiras, Ao pântano das dores já me atiras...
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