
MEUS SONETOS VOLUME 094
Data 19/12/2010 17:02:39 | Tópico: Sonetos
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1
Não deixe que essa lua vá se embora, Impeça nosso amor que cultivamos, A forma com que tanto amor aflora Não pode ser do jeito que sonhamos.
Eu vivo sem saber destas tais flores Que tanto semeamos nos jardins, Amando sem contar com teus amores, A noite vai perdendo rumos, fins...
A solidão queimando qual quimera Vazio nos tomando no depois, As garras tão terríveis da pantera, Na solidão que estamos, mesmo a dois...
Não sei se poderemos nos salvar Talvez em outros braços, sim, amar!
2
Não deixe que alegria vire pranto Nem mesmo que a tristeza nos invada. Concebo nosso amor em cada canto, Em cada poesia apaixonada...
De repente te vejo tão distante Dos olhos que incendeiam em amor. Não deixe que esta vida, num rompante, Acabe por motivo qual que for.
Não quero ser um barco sem ter leme, Nem quero ser caminho sem ter fim. Por mais que calma a noite, amor já teme A solidão das noites, tão ruim...
Peço-te que esse amor nunca se esfume, Desculpe, por favor, o meu ciúme...
3
Não deixe que a tristeza tome conta Causando no teu peito tal enfado Um dia tantas vezes malfadado Parece-nos, querida, como afronta
Mas creia que se amor cedo desponta E vaga mansamente do teu lado, O mundo surgirá iluminado E a vida em alegria feita e pronta.
Navego contra a forte correnteza Contigo, timoneira e capitã Do sol de teu olhar esta beleza
Que surge junto a mim, em doce afã Amor trazendo sempre em fortaleza Certezas de prazer cada manhã...
4
Não deixe que a tristeza te devore, Aos poucos te fará mais infeliz. Perceba que por mais que se demore, Um dia tudo vem como se quis.
As noites são prenúncios de uma aurora. Não tema pelas urzes que encontrar. Pois saiba que a tristeza não demora Depois uma alegria vem morar...
A cura da tristeza, uma esperança Que nunca pode estar abandonada. Pois saiba que o futuro que te alcança Depende do caminho, tua estrada...
E veja com amor um novo dia, Repleto de esperança e fantasia...
5
Não deixe que a saudade te consuma; Aos poucos, se deixar ela te mata. Dizer-me que com dor já se acostuma, Mentira. Ninguém ama o que maltrata.
Eu vivo por amar intensamente, Se tenho ou se não tenho companhia. A vida vai-se embora, de repente; Levamos um quinhão de fantasia.
Amiga, guarde sempre uma esperança; Que a noite não demora, vem depressa. Não sofra por amor. A vida avança, De ser feliz, por certo, temos pressa...
Um dia saberás toda a verdade. Amar é traduzir felicidade!
6
Não deixe que a saudade faça a festa E tome o coração de um sonhador, Ouvindo a voz sublime de um tenor, Uma lembrança então à dor se empresta.
Do quanto é necessário, encanto atesta E molda um templo feito em clara cor, Verdejando os teus olhos, folha e flor, Matando uma amargura em vão, funesta.
Enquanto o sentimento não se adestra, A vida se tornara então canhestra, Porém o amor, de tudo a mola mestra
Permite que se creia na fenestra Aberta neste campo outrora agreste Gerado com a força de um cipreste...
7
Não deixe que a miséria passe em branco, A fome nunca é boa conselheira, Sorriso deve ser aberto e franco, Uma amizade é para a vida inteira...
Será que tens ouvido para ouvir E olhos para ver o que tu vês? Na mão que se estende a te pedir Imagem deste Cristo em que tu crês.
Passamos pela vida sem saber Que tantos somos nós, mas um somente. O próximo reflete o mesmo ser Que inunda-te de vida totalmente.
O que nos deixará em liberdade? Somente o pleno amor duma amizade...
8
Não deixe que a miséria nos destrua, A podre sensação de sermos maus, A verdade se mostra sempre crua Nesta proximidade com o caos.
Perceba no sorriso da criança A fonte que trará um novo dia, Permita com amor uma aliança Que posso proteger tanta alegria.
Nos una a armadura da amizade, Poderemos, quem sabe, imaginar Um mundo que nos traga a claridade, Na possibilidade de sonhar.
Louvemos nosso Pai mais verdadeiro, Que vive em cada ser, assim, inteiro...
9
Não deixe esta peteca Por certo descair, Nos olhos da moleca O mundo a permitir, Que a vida tão sapeca, Jamais pare de rir...
Uma esperança vem De toda a fantasia, Do amor que a gente tem, Demonstra que alegria É coisa que faz bem, E juro, até vicia...
A mágica da vida, Na alegria, contida...
10
Não deixe esta esperança adormecer, Tampouco se permita ao sofrimento. A vida proporciona este prazer Que queima, todo dia em fogo lento.
Queria, meu amor, te convencer De tudo o que me toma o pensamento Um rio em alegria a se verter Poeira, brevemente toma assento.
Assim, depois da dura caminhada Terás a recompensa à sua frente Pensavas ser herdeira destinada
A ter o nada apenas, mas verás O quanto o amor se mostra surpreendente E poderás dormir, enfim em paz. Marcos Loures
11
Não deixe esta amizade se perder, Em atos de total desconfiança; Difícil tantas vezes conceber A dura expectativa que se alcança.
Não queira transformar o sentimento. Uma amizade é rara de se achar. Depois que houver ruptura, num momento, Rebenta essa barragem, seca o mar...
Amigo, como é bom chamar-te assim, Palavra que me adoça e que me encanta. Mas se perder sentido, é tão ruim, É queda que jamais, bem sei, levanta...
Por isso, companheiro, não me traia, Te peço, que esta casa nunca caia...
12
Não deixe de pensar em quem te gosta, Se bem que a gente sempre perde tempo Com quem vive causando contratempo, Valorizando um monte feito em bosta.
Não fique se lembrando do punhal, É bem melhor deixar que a vida passe, Agradecendo a queda do disfarce De quem já nos deseja tanto mal.
Louvar a vida e sempre perdoar, Mantendo esta distância preventiva. Cavalo dando coice? Deixe estar!
Prossiga que amanhã vem outro dia, E uma alma deve estar, alerta e viva Permitindo que ressurja em alegria.
13
Não deixar nem marcas pelo chão Matando o que talvez inda trouxesse Além do quanto a gente já padece Nos braços majestosos da ilusão.
Caindo em cada passo, chego ao chão, Por mais que a poesia me envolvesse, O coração vendido na quermesse Fareja o meu passado, regressão...
E teima em ser cruel, velho covarde, Enquanto a fantasia queimando, arde Não posso desfrutar de uma esperança.
Um bêbado de luz jamais percebe Que em falsa pedraria invade a sebe Servil e tão vazia, da lembrança...
14
Não deixa um coração bater feliz Saber que noutros lábios tu sacias Vontades. Tuas mãos sempre macias Espalham mil carícias. Por um triz
Seguindo o meu caminho, amor me diz Que tudo o quanto quero propicias Trazendo para outrem as regalias Que um dia, insanamente eu tanto quis.
Mas deixa estar que a vida é carrossel Uma hora estou na terra outra no céu Um dia há de chegar, isso eu garanto
Que a gente possa ter uma alegria E mesmo que isso seja fantasia Desfrutarei um pouco desse encanto... Marcos Loures
15
Não deixa simplesmente que eu te chame O gesto em beneplácito que nega O quanto a solidão já descarrega Por mais que uma alma insana não reclame.
Enquanto a fantasia quer que trame Um novo amanhecer a alma navega Seguindo em teimosia quase cega Fazendo da emoção torpe reclame.
Um vaso que partido não se cola, Amor não freqüentou qualquer escola, Mas sabe dos caminhos mais exatos.
A refeição completa em vários pratos Arrebentando assim velhos contratos Enquanto me acarinha corta e esfola... Marcos Loures
16
Não deixa refletir senão meu pânico No quase que jamais será completo, Se o gozo se mostrando o predileto Agônica emoção de um ser satânico.
Arranjo meus pedaços, histriônico Fantasma que tão fútil me persegue, Por isso sou o Zé que faz do jegue Um ser quase que humano, mas biônico.
Usando decassílabos perfaço O traço mais sutil de um povo cru. Expondo a minha face, sigo nu E marco com meus ritos cada traço
Famélica figura que, nativa De heréticas imagens já me criva... Marcos Loures
17
Não deixa que esta fonte um dia acabe Sabendo quanto é bom amor sincero, Além desta alegria que nos cabe Eu tenho em nosso amor tudo o que eu quero.
Os raios deste sol brilhando tanto Trazendo uma esperança, vivo amor. Envolto na alegria, enfim te canto E roubo deste sol todo o calor.
Amada como é bom viver contigo Sem medo do tormento e da saudade. Aqui, eu já pressinto, sem perigo, Eu posso conhecer felicidade.
Amada, vem comigo, eu te proponho, Na noite viajar, planeta sonho... Marcos Loures
18
Não deixa que esperança assim se esfume Bafejo de teus sonhos sobre mim, À parte coletando o teu perfume Recebo estas essências de jasmim,
Voando em liberdade um vaga-lume Holofote entranhado no jardim. Os sons da noite aumentam seu volume E a vida se derrama sempre assim.
As térmitas formando mil casais, A terra já molhada e acolhedora, Nos jogos sedutores, sensuais,
Renovação à vista segue a vida, E sinto neste instante, desde agora, A dor em esperança convertida Marcos Loures
19
Não deixa nem escombros pelo chão O vendaval terrível da saudade. Matando com firmeza a liberdade, Não deixa se esboçar nem reação.
Meu dia se perdendo num senão, Fazendo do viver a falsidade, Falindo qualquer forma de amizade, Encontra o mais temível furacão
E o barco naufragando. Um morto-vivo, Que outrora se mostrara tão altivo, Perdido sem destino em alto mar,
Enfrenta a tempestade, mas desmaia E morre mal encontra areia e praia Depois de ter nadado até cansar. Marcos Loures
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Não deixa mais restar sequer entulhos, Tomando em flores raras, meus caminhos. Não vejo nesta andança, os pedregulhos Arranco os cardos, tiro os seus espinhos Fazendo nos teus braços tais mergulhos, Trazendo aos corações sublimes ninhos.
Mordisco tua boca, devagar, Os nossos corpos negam as fronteiras, De tanto, me cansei de procurar, Encontro finalmente estas videiras, O vinho que me faz inebriar Colhido pelas mãos tão feiticeiras.
Ser teu e ser somente o que quiseres, Permite este banquete em mil talheres...
21
Não deixa mais o barco soçobrar, Quem traz felicidade em suas mãos, Embora meus caminhos sejam vãos As força posso assim já redobrar.
Por mais que às vezes teimo em encontrar O fruto mais perene destes grãos, No apoio que me trazem meus irmãos Um tempo tão sereno, vislumbrar.
A cargo deste intento não descanso, E mesmo que inda veja algum remanso Minha passada é trôpega. Afinal
Depois de coletar dor e tormento, À flor da pele trago o sentimento De quem só conheceu, na vida, o mal... Marcos Loures
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Não creio ser somente urucubaca, Tampouco uma mandinga das bem feitas Eu sei que na verdade não me aceitas, Pois no fundo tu me achas um panaca.
E quando esta rinite vem e ataca Distância do meu naso tu respeitas, Pior do que tivesse mil maleitas Tu mandas eu fechar minha matraca.
Tentei Maria, em vão, nem deu pelota, Depois fui recorrer ao agiota, Daí não tive mais qualquer remédio
O que me resta então? Veja, meu bem, Já que depois de tanto, nada vem Só resta o parapeito deste prédio...
23
Não creio ser imagem/semelhança De um Deus feito em perfeita sintonia. Minha alma pecadora diz sangria, Perpetuando assim a tosca herança;
E quando; no infinito olhar se lança Buscando uma resposta em noite fria, Um novo desencanto então se cria, E a vida em desacordo assim avança.
Traição e egoísmo; frialdade, Dominam desde sempre a humanidade, Diversa deste Ser Superior.
A fera que se expõe sonega os planos Daquele que criando os tais humanos Sangra a cada dia em Seu Andor...
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Não creio que há remédio, nem a cáscara Que falam milagrosa, me emagrece, Usando da verdade tiro a máscara Obeso a cada dia mais padece.
Nem prece ou oração ou reza brava, Barriga vai crescendo todo dia, Entrando no buzum, roleta trava Motivo para a velha zombaria.
Na hora de jogar minha bolinha O ventre vai entrando assim de sola, Quem dera se eu entrasse enfim na linha Talvez esta morena desse bola.
Mas tudo o que consigo é me irritar, E toda a geladeira devorar...
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Não deixe que este sonho, devagar; Se escorra cruelmente pelos dedos... É sempre tão difícil se encontrar Amor que não se poupa nem dos medos...
Não deixe que este caso traga ocaso A todas esperanças que nós temos. Se; louco, nos teus braços eu me abraso, Eu quero, sem temor, que nos amemos...
Se tenho tal vontade de te ter, Se tenho essa esperança renovada; Te peço, meu amor, vamos viver, Seguirmos toda a noite, a mesma estrada
Em rumo à claridade, fogo e chama, Que sempre encontraremos nessa cama...
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Não deixe que este sonho assim se perca Nem mesmo quando houver um vendaval. Se necessário, o amor estende a cerca, Trazendo na amizade, o seu aval.
De tudo o que se fala sobre, acerca, Por mais que seja apenas casual, Nas lavras deste sonho, a paz esterca Promessa de colheita sem igual.
Nós somos tão somente o resultado Das sensações diversas do passado, Moldando assim o que virá- futuro.
Sentimentos merecem teu respeito, Mesmo que tão distantes do teu peito, Ensinarão um porto mais seguro.
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Não deixe que este espectro te domine, A gente não merece sofrimento. Por mais que a tua morte a sorte assine, Entenda o temporal, aceite o vento.
O verso solitário que ilumine A senda que se perde neste intento. O gozo do servil a bunda empine Depois não reclamando diz: agüento!
Moeda com certeza em dupla face Enquanto a vida ainda não desgrace Eu teimo e não consigo resistir.
Se a gente faz das tripas coração, O que será sem chuva no sertão Depois não vem falar do teu porvir... Marcos Loures
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Não deixe que este amor acabe assim, Perceba a alvissareira passarada Louvando desde cedo esta alvorada Florada delicada em meu jardim.
Dizer desta alegria que há em mim, Ao ver tanta beleza numa estrada Por teu olhar sereno, iluminada, Delimitando o sonho de onde vim
Buscando cada pétala de luz, Reflexos deste olhar na gota d’água Do orvalho em que a alegria já desaba
E tanta maravilha reproduz, Não deixe que este amor termine agora, Primaveril delírio que se aflora...
29
Não deixe que esta noite, em vão, termine Preciso de teu corpo junto ao meu, Te peço que me ganhes, me domine Sem ter o teu carinho, quem sou eu? Apenas uma vaga sem sentido Morrendo numa areia sem sereia, Jogada ao infortúnio, neste olvido Sem ter jamais o brilho em lua cheia... Não deixe que esta noite seja branca, Preciso de teu corpo, como a um cais Náufrago em tempestade forte, franca, Pois se não for agora... Nunca mais... Não deixe que esta noite morra agora, A noite se esfriou. Chove lá fora...
30
Não deixe que esta lua tão redonda Distante te transforme em sonhador. Nos mares delicias praias, ondas, Deitada em minha cama, meu amor...
Não vejo mais incertas companhias Nas certas ilusões que me despertas. As horas se passando, morrem dias; Amores, corações, estão alertas...
Das rosas que me deste, seus botões, Prometem belas flores no futuro. Navego por milhares de emoções, Neste teu mar bravio e um tanto escuro...
Não deixo meu carinho ser deserto, Por isso nosso amor, cedo eu desperto
31
Não me deixaste luas por herança, Somente vastidões ocas, vazias... As tocas escondidas da lembrança, No tanto que sofri me foram guias...
Não posso receber esta esperança, As noites sem estrelas são tão frias... Defendo esta menina que não dança Nos bailes e nas rimas, nas folias...
Fugindo das humanas incertezas, A moça que não dança maltrapilha. Os atos que me negas, impurezas...
Não quero ser covarde nem falaz; A lua que escondeste, maravilha... A morte que me deixas, incapaz... Marcos Loures
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Não quero a noite eterna sem te ter; Talvez fosse promessa que fizemos. Se não consigo mais sobreviver Meus versos; em carinho, concebemos...
Na noite que virá, sem outro dia, Espero que me encontres. Dê um jeito. Não deixe esmaecer a fantasia, Morrer fazendo amor: Isso é perfeito!
Num ato carinhoso de lazer, Deitado nos teus braços, cavalgado, Numa agonia intensa do prazer, Num gesto assim divino, abençoado..~
A certeza absoluta que preciso, Entrar pelos portais do paraíso!
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Não quero a nababesca fantasia, Ser como este regato em placidez Tangenciando a frágil sensatez Funâmbulo que busca uma harmonia.
Luz dicotomizada propicia Momento singular de polidez, Mas tanto quanto eu fiz já se desfez Na chama de uma estúpida ardentia.
Esgoto assim as possibilidades E sigo simplesmente sem saber Se ainda encontrarei noutras cidades
Aquilo que jamais esteve em mim, A porta escancarada deixa ver A terra desnudada em meu jardim...
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Não quero a maldição de estar contente Vencendo a tempestade que se cria Na fome que se espalha sobre a gente A mente se tornando mais vazia.
Olhar de quem se mostra penitente Sabendo da tolice da sangria De toda uma inocência, amor urgente Esquece do que fora poesia
Desmente num só tempo amor/Razão Enquanto as horas tolas nada enjeitam O monstro se prepara- solidão.
A porta da saudade que se abriu Em fontes duvidosas que deleitam Transforma o coração suave em vil... Marcos Loures
35
Não quero a falsidade que propagas Mostrando noutra face quem tu és. Às vezes encantaste em outras plagas Mil homens se jogaram a teus pés.
Porém não mais pretendo perseguir O sonho de te ter aqui, comigo, Amor jamais igual vou repartir Pois tenho uma noção deste perigo.
Fingiste uma pureza que não tens, Ludibriando assim quem tanto amou. Eu dediquei a ti meus caros bens E nada, simplesmente me restou.
Fingiste ser mulher deveras séria. Mas como me explicar esta Neisseria...
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Não quero a caridade de quem ri Tampouco o beijo falso da pantera Que enquanto me vomita e degenera Estúpida procria o que há em ti.
Lacaio do que um dia pressenti Sarcasmos coletados desta fera Abrindo com seus pés esta cratera Que cavas onde estás; lá ou aqui.
Tua Alma condenada à perdição Jamais resgatará, pois vendilhão Debaixo das vergastas e chicotes
Expulsos do que outrora foi um lar, Ninguém os poderá mais perdoar, Debandam-se; matilhas de coiotes!
37
Não quero a calmaria dos enganos, Somente uma verdade me liberta, Enquanto a poesia já deserta Não tenho compromisso, nego os planos
Jamais quero tampar com frágeis panos A realidade amarga, a vida incerta, Palavra mais certeira me desperta E mostra o quão são torpes os humanos.
Bebendo cada gota deste sangue Apodrecido imerso em lodo e mangue, No esgoto, ratoeiras são inúteis.
A porca carcomida tão pesada, Na morte a cada página estampada, Retratam quanto somos todos fúteis...
38
Não querendo admitir tanta mentira Que tramas escondida a cada dia, Na dor que prometias e sentira; A vida vai passando em agonia...
Amar-te foi, da vida uma obra-prima Do amor e da esperança num momento. Amor e dor quem pode nunca rima, E joga toda sorte fora, ao vento...
Senhora dos meus sonhos me deixaste, Aos poucos me derramo em teu ausência Sem base me mantendo na fina haste Que ganho em piedade, por clemência...
Não há mais nesse mundo quem convença A preservar o amor, minha doença...
39
Não quer e nem pretende andar sozinho Erguendo a cada passo a sua fronte Aquele a quem amor se deu em ninho, Trazendo farta luz neste horizonte.
Quem tanto andara só, em desalinho, Bebendo desta glória em mansa fonte, Decora com delícias seu caminho Reconhecendo amor, divina ponte
Que leva num momento ao rumo certo, Vencendo as tempestades que encontrara, A luz que nos guiando se faz rara
Oásis mais perfeito de um deserto Expressa em nosso peito a fantasia, Propondo com firmeza, uma alegria... Marcos Loures
40
Não que isto seja sempre muito crível, Mas quem me dera tento com teu laço; Vivendo desse amor onde embaraço; O sabor da vitória ser possível
Eu quero te dizer do amor incrível Quando nada farei sem ter cansaço... O mundo que pensei sem teu abraço, De tão triste, seria incompatível...
Quero a lembrança límpida e gentil, Sabendo o teu carinho tão sutil Mergulho nos teus seios, boca aberta;
Esperando, talvez, por esse alerta; Que nunca mais virá, festa repleta, Dos desejos mais loucos, meu ardil...
41
Não que eu defenda o aborto, longe disso, Mas não suporto tal hipocrisia, Médico tem com vida compromisso Pois isso jamais foi alegoria.
Não serei puritano, ou tão castiço, Apenas a verdade é quem me guia. Não creio em bruxarias nem feitiço, Tampouco a alguém minha alma julgaria.
O fato é que milhares de mulheres Morrendo no país da sacanagem Em meio à corrupção de seus poderes, À descabida luz da pilantragem,
As filhas de papai vão para as clínicas, E as pobres sem guarida... Corjas cínicas!
42
Não pude vislumbrar um horizonte, A noite veio vindo devagar Tomando em negritude este lugar, A lua se escondeu atrás do monte
E a vida foi secando a velha fonte, Deixando mais ao longe algum luar Que ainda me pudesse fascinar, Por mais que uma esperança tola desponte.
Morrendo a poesia que eu buscara, Manhã se tornaria tão amara Decerto não veria mais o sol.
Porém o teu sorriso de menina, Emana a maravilha feita em mina Dourando num segundo este arrebol...
43
Não pude ser feliz, fazer o quê? Se tudo o que tentei foi simplesmente Enganos que tomando a minha mente Traziam por resposta um vão cadê.
Quem sabe; reconhece e não mais crê No encanto que se fez inutilmente Enquanto a tempestade se pressente, A minha casa é feita de sapê.
Não pude resistir à fúria imensa, Apenas o vazio, a recompensa De quem tentou buscar felicidade
Nos braços deste mar tão furioso, Destino tantas vezes caprichoso Negando ao passarinho, a liberdade...
44
Não pude mais sentir aquele vento Que tanto imaginei; suave brisa. Nublada madrugada já me avisa Daquilo que herdarei: soterramento...
A solidão mordaz serve de alento, E o medo desenhado se matiza E em flores desbotadas a alma pisa. Fugir destes fantasmas inda tento,
Inútil. Não terei mais salvação. Do carcomido sonho, a podridão Que o que restou de mim, ao longe exala;
Quem dera se voltasse a primavera... A carne que se expôs se degenera E arrasto meus chinelos pela sala...
45
Não pude mais calar, tanto me dói Saber que não estás junto de mim. Saudade pouco a pouco já destrói O que restou de flores no jardim.
Viver cada momento, sem perguntas, Sentir o que tu sentes, ser teu par As almas que pensara andarem juntas Vão se afastando aos poucos, devagar.
Calar o sentimento. Quem me dera! Não sofreria tanto. Mas prossigo Teimando em procurar a primavera, Enquanto inverno traz o desabrigo.
No quase ter nas mãos felicidade, Deixando este resquício: vã saudade...
46
Não pude mais calar o velho peito Jogado sobre as teias da ilusão, Naufrágio desta tosca embarcação, O rio se perdeu do antigo leito...
Quem dera se inda ouvisses o meu pleito, Talvez eu encontrasse a solução. Resposta se repete: o mesmo não, E como de costume, escuto e aceito...
Ouvindo os mesmos passos que de antanho Diziam deste jogo jamais ganho, Há tanto o que dizer e nada falo.
Ao ruído intermitente na janela, O amor que nunca tive se revela E o som da brisa traz um manso embalo...
47
Não pude imaginar outra saída E mesmo te perdendo me encontrei. O quanto teu amor eu desejei E nisso desenhei o bom da vida.
Quem sabe tanto sonho não duvida Fazendo da esperança a sua lei, Invade com firmeza antiga grei Sabendo que ao final, a despedida.
Esparsos caminheiros vão sem rumo, E todos Os engodos eu assumo, E aguardo tão somente este castigo
De ter a solitária desventura, Num mar de imensa e pálida amargura, Distante do caminho que persigo...
48
Não pude decifrar tantos sinais; A minha parabólica sonega E enquanto a poesia segue cega Enfrento turbulências, vendavais.
Aonde encontrarei mananciais Se não sei mais de vinhos nem de adega O amor só se completa numa entrega Por isso o bem querer nunca é demais.
Cadenciando o passo chego ao fim Adestro o coração; domada fera, E acendo sem querer este estopim
Promessa de explosão fenomenal. Nos seios divinais de uma pantera Incêndio se espalhando no quintal.
49
Não pude decifrar estes sinais Que um dia me mostraste; sorridente. Um velho sonhador que, impertinente, Demora na esperança sempre mais
Ao ver os teus poemas divinais Credita ao grande amor um fato urgente, Mas morre num segundo, de repente, Distante do que outrora quis seu cais...
As pedras vão rolando, nada sobra, O tempo com certeza vem e cobra Não deixa pra depois; secando a fonte...
A lua se escondendo traz a treva, Minha alma agrisalhada agora neva Nublando totalmente este horizonte...
9350
Não pretendo teu mistério, Nem concebo teu pecado. Não vivo num monastério, Nunca fui santificado,
Perdido sem adultério Um viver desesperado. Nunca preciso esse Império Nem fiquei preocupado...
Vastos mares, oceanos, Acenas com teu perdão Não farei mais outros planos.
Respeito essa decisão. Mas a rosa que plantaste, Morrendo triste, desgaste! Marcos Loures
51
Não pretendo saber da vacuidade Ausência que transtorna uma viva alma, Não tenho nem domino a faculdade De saber do remanso, minha calma...
De meus passos sentindo essa saudade Que me trouxe teus olhos, tua palma, Amar é superar em paz um trauma, É saber dessa vida, a crueldade...
Não pretendo mistérios nem segredos, As águas correrão sempre pro mar... Importa-me saber de toscos medos,
Se por mal divinal não sei amar? O sangue me escorrendo pelos dedos, A noite me esperando tanto bar... Marcos Loures
52
Não preciso provar quanto eu te quero Tu és minha rainha e meu desejo. Viver o nosso amor intenso; espero, Saber de teu carinho em cada beijo... Em teu gosto e sabor, amor tempero E faço meu banquete. Sempre vejo Tua nudez em sonho... E te venero Por ser esta delícia que prevejo... Não deixo que jamais alguém te fira Prefiro fenecer, se for preciso. O mundo sem parar por certo gira Mas caio nos teus braços novamente. Tu és o meu destino e paraíso, Vem cá quero te amar e bem urgente!
53
Não preciso do pão, a fome passa, Não preciso da luz, não temo o escuro. Nem alegria; circo, rua e praça, Nem sensação de um ar que seja puro.
Mesmo esperança... tonta e velha farsa, Eu não temo o chão, frio, pobre e duro. Trazendo para o sangue esta fumaça Das fábricas, dos carros... isso; aturo.
Não preciso da boca que me mente, Não preciso do mar, estrela e lua. De nada necessito, nem de gente...
Das ruas entupidas, não preciso. Nem alma quando inútil já flutua. Mas nunca me retire o teu sorriso...
54
Não preciso dizer quanto eu desejo As mãos que me acarinham, mansamente. Vivendo teu amor, te peço um beijo Que venha e me transtorne, totalmente...
Eu quero que tu sintas meu carinho, Descendo por teu corpo sedutor. Vivendo esta alegria, de mansinho, Chegando à plenitude em nosso amor...
Meu coração reclama tua ausência, Esqueço minha dor, meu sofrimento, Estando junto a ti, na convivência Divina que nos traz amor, alento...
Amor, não necessito nem dizer, Meu coração não cansa de querer!
55
Não precisas usar a tua lança, Pois dela não percebo serventia; Enquanto uma esperança anestesia, O véu em trevas feito nos balança.
Quem sabe se beber de uma bonança Terás o que desejas todo dia, Fartando-se da luz e da alegria, Enfim terás o riso em aliança.
Permita-se, portanto imaginar, Um tempo onde viver seja sublime, O amor sendo distante de algum crime,
Não se resume em simples lupanar. Roubando das estrelas, cada brilho, Terás em paz e glória um estribilho... Marcos Loures
56
Não posso te esquecer um só momento Pois trazes para mim uma esperança De um dia ser melhor, morto o tormento, Felicidade plena enfim se alcança.
Ouvindo tua voz vem à lembrança Toda a ternura intensa, sentimento, Fazendo parceria em aliança Soltamos nosso canto esparso ao vento...
Apaixonadamente sou teu par Na busca de alegria e de prazer. Contigo sem limites vou viver
O que de minha vida inda restar. Em teus braços, querida me envolver E toda esta magia desfrutar.... Marcos Loures
57
Não posso suportar o teu desdém, Sequer imaginar tão grande dor. Um coração deveras sonhador Procura a vida inteira e ninguém vem.
Às vezes ao pensar que tenho alguém, Encontro simplesmente o desamor, Revejo tuas sombras no sol-pôr, Mas; simples ilusão. Nada, porém.
Terríveis e vazias minhas horas, Cansado dos infaustos, das demoras, Eu sei que não virás; são irreais
Os sonhos que debruço nas ameias, Espaços tão distantes que vagueias Ancoram esperanças noutros cais.. Marcos Loures
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Não posso suportar mais tantas brigas, O amor não deve ser tão maltratado, Querendo o tempo todo estar do lado De quem enquanto beija, desabrigas.
Ouvindo mil mentiras, nas intrigas Deixando o coração despedaçado, Um sentimento assim ameaçado Quebrando suas hastes, suas vigas...
Querendo tão somente ser feliz, Eu sei quanto me queres, mas tão tola Permite esta agonia que me assola
Amor não pode estar só por um triz. A noite que virá será medonha, Se a gente não criar; enfim, vergonha... Marcos Loures
59
Não posso suportar esta verdade Que mata a fantasia de quem ama. Enquanto sem pavios, morre a chama, O amor se transformou. Fatalidade...
O medo que domina e já me invade, Durante toda noite ainda inflama, Porém sem ter ninguém em minha cama, É triste e dolorosa a realidade...
Eu peço, não desprezes meu amor, Jamais serás feliz, isso eu prevejo, Debochas com sarcasmo o meu desejo
Matando um coração tão sonhador. Sou vítima das tramas da paixão, Seguindo cada rastro, como um cão....
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Não posso suportar a tua ausência Nem mesmo consegui me libertar Vivendo em nosso amor a penitência Que marca e nos tatua, devagar.
Herdando tão somente esta demência Quem dera se eu pudesse te adorar. Porém sendo difícil, convivência Sem tréguas, não me canso, irei lutar.
Mas quando a noite chega, a solidão Chamando por teu nome me maltrata, Sou vítima das tramas da paixão.
De toda a fantasia, um desvalido, Cevando uma ilusão, amarga ingrata Nos braços deste amor, feroz, bandido... Marcos Loures
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Não posso suportar a luz do sol Que teima em adentrar minha janela. Na solidão completa, um vago atol Entre as nuvens cinzentas se revela.
Não quero a claridade do arrebol, Meu barco vai sem leme, perde a vela, Do amor já fui outrora um girassol, Porém a realidade desatrela
Deixando, mesmo amarga, a liberdade Que prezo e que persiste junto a mim. Não posso suportar a antiga grade,
Nem mesmo disfarçada em amizade. Reflito o que plantei e de onde eu vim Cevando a cada dia, a tempestade..
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Não posso sufocar esta paixão Que chega e já desmonta a minha base. Trazendo com sorriso, a sedução, Transmuda, como a lua, noutra fase... Às vezes parece alucinação, Parando a minha vida numa estase, Em outras vem causar transformação Muda todo o sentido de uma frase. Menina o que fizeste assim comigo? Espero a cada dia o teu prazer, Mas foges me deixando sem abrigo... Meu canto te buscando feito um rito, Meu mundo nos teus braços quero ter, Soltando esta emoção, busco o infinito...
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Não quero a sensação sombria da saudade, Desejo simplesmente tanto amor... Que traga, ao fim da noite, a claridade; E toda a fantasia que dispor...
Eu quero a mansidão deste regato Fluindo calmamente dentre as rochas. O cheiro tão gostoso deste mato As horas mais dolentes, calmas, frouxas...
Selando nosso pacto minha amada, Marcado a sangue e fogo, guerra e paz... Depois de tantas lutas, madrugada, Arfando nos desejos, quero mais...
Quero este prazer que me alucina Nos olhos da mulher, minha menina!
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Não quero a sensação de ser teu dono Nem posso definhar de tanto amor. Não vivo essa emoção, esse abandono, Transbordo em tentação, louco fervor...
Em cada novo dia, renascer, Em cada novo canto, me encantar. Vivendo em plenitude de prazer, Sorvendo cada gota deste amar...
Sentindo teu perfume, tantas flores, Desejos maviosos, sensuais, Sem ter sequer as travas dos pudores Em noites de prazer, sensacionais...
Nos teus beijos, loucuras de ilusão, Rebentam na explosão d’uma paixão...
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Não quero a sensação da embriaguez Que possa transformar angústia em paz. Do quanto a realidade já desfez E a fantasia estúpida me traz.
Por mais que seja dura a lucidez, E o meu olhar se torne assim mordaz, Não quero mais a vaga insensatez Mesmo que me isto me torne mais audaz.
Vencer os pesadelos com sorrisos, Os dias sempre são tão imprecisos, E nisso esta magia do viver.
Refaço em pensamento a caminhada, E vejo os pedregulhos desta estrada Com espinhos há tanto que aprender...
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Não quero a placidez que não resiste Ao gozo do tormento que me encobre Pintaste teus cabelos deste cobre Desculpe-me, essa cor nem sei se existe
Apenas não desisto se desiste Depois de tanto tempo se descobre Que a morte não fará que o sino dobre Eu sou um passarinho sem alpiste
Mas mesmo assim procuro um velho canto Que se canta me encanta e traz meu pranto Depois destes meus versos peço nexo.
Agora, não me venha com bravata A blusa que tu vestes, a regata Levanto e, não se espante, puro sexo... Marcos Loures
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Não quero a piedade deste amor, Eu quero teu amor sem piedade. Viver as nossas noites no calor De tantas fantasias, liberdade...
Eu quero o gosto azedo do limão Tempero para o doce que produzo. Amor quer a pitada da emoção, Um pouco, que demais, resta confuso...
Eu quero uma vontade de viver, Ao mesmo tempo trama um novo dia. Vontade de viver e de esquecer A vida, nos teus braços, fantasia...
Eu quero esse aço doce mel e fel, Um fogo mavioso, em manso céu...
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Não posso me calar perante a dor Causada num irmão pela injustiça Minha alma não será jamais omissa, Pois tenho no Meu Pai, o Salvador
A prece quando é feita num louvor Enfrenta com certeza esta cobiça Enquanto a flor mais bela nasce e viça Serei de Ti, Senhor, adorador;
E tenho enfim certeza da vitória Que mostrará deveras toda a glória, Ungida em perfeição pela palavra.
Apenas tão somente um simples servo, Na fé que sempre trago e que conservo E o coração campônio aduba e lavra...
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Não posso me calar frente à miséria Que é feita em injustiça e em desamor. Maior do que o valor da vã matéria É o que Deus com ternura vem propor.
Pulsando o mesmo sangue em cada artéria A luz de uma igualdade, forma e cor, A vida do gigante ou da bactéria Expressa todo o Amor do Criador.
Não seja a tua mão cruel agente Nem mesmo mais te omitas quando vês A fome se espalhando impunemente,
Torturando Jesus em cada esquina. Demonstrar que em verdade Nele crês É dar vazão ao que Ele nos ensina. Marcos Loures
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Não posso maldizer a primavera, Esta estação das flores e beleza.. Mas como vale e valerá a espera. As flores te fizeram realeza,
Mas quando imaginava-se quimera; Do calor outonal veio a certeza De que nada seria mais cratera. De todas fortalezas virei presa...
Menina como pode ser tão bela! Não pude adivinhar tal formosura. Nos sonhos meu cavalo perdeu sela...
Beleza igual traduz tantos fulgores... No rosto emana brilhos e candura. Outonal maravilha... Belas cores...
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Não posso mais viver enamorado Das ondas desses mares fiz quimera O ranço que ficou do meu passado, A noite que sangraste me tempera.
Não posso descobrir um novo fado. A vida me trará quem fora espera. O rosto que pintei apaixonado; O mundo nunca pára sempre esfera...
A roupa que bordaste, meu cetim. A sela que montaste meu arreio. O tempo que passamos, tudo em mim.
A mão que acaricia pede um seio. O cheiro destas flores, de jasmim, O pão que não comeste, de centeio.
Amor que tu me deste, meu jardim... Marcos Loures
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Não posso mais querer esse perfume Deixado como rastro pela rosa, Seguindo qual falena busca o lume, Minha alma numa súplica, andrajosa.
Buscando algum caminho aonde aprume Sonhando com a luz vitoriosa, Enquanto a fantasia já se esfume O amor jamais ouvindo verso ou prosa.
Seguro as suas mãos, tento a viagem, Catando os meus pedaços que arrancaste, Depois da imensa curva, a capotagem,
A cova da esperança em funeral Aberta me aguardando é o que legaste Acorde dissonante, ato final... Marcos Loures
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Não posso mais obedecer meus medos, Nossos espelhos refletindo faces. Quando, perdido, padeci segredos, Nas artimanhas conheci disfarces...
Teu belo corpo a passear meus dedos; A converter meus novos vãos impasses. Ouço teu nome, trazes arremedos, Nossos cabelos sinto que embaraces...
Nossa certeza, sobrevive frágil... É cansativa a luta atroz, insana... Ao te exaltar eu cobrarei pedágio,
Pois sei de tudo, de mentira tanta... Ao revelares mostrarás que engana, Cruel donzela se demonstra santa...
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osso mais nem creio que pudesse Romper as velhas grades do passado, Quebrando este tear onde alma tece Perdendo cada fio. Emaranhado.
Seria o que se houvesse, mas não há Nem tento decifrar o que não sinto, O verso sem remendo desde já Aperta dos meus sonhos, laço e cinto.
Exposto ao mais temível contra-senso, Riscando no horizonte, este corisco, O amor que desejei, por ser imenso, Morreu por minha conta, medo e risco.
Escorrego no grande tobogã Do arco-íris que emoldura esta manhã...
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Não posso mais negar tais evidências, Sou teu e ninguém pode me impedir De ter esta esperança no porvir Os dias não trarão mais penitências.
Além de simples, tolas, coincidências Sem nada que consiga destruir Eu venho nestes versos te pedir Ao menos, uns momentos de clemência.
Ouvir a voz de um pobre trovador Que vive o tempo inteiro a teu dispor, Ungido pela luz dos olhos teus,
Sentir o teu perfume, ser teu par, Vontade de viver e de sonhar É como ver a face do Meu Deus...
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Não posso mais negar que esta paixão Surgida num momento inesperado Causando a mais fantástica explosão Mudou o que eu pensara, no passado.
Assim como um temível furacão Eu vi o meu destino alvoroçado Nos braços de tamanha tentação Um mundo totalmente transformado.
Ardentes os carinhos que trocamos, Insânias em carícias tão audazes. Um templo que erigimos ao deus Eros.
Momentos mais felizes vislumbramos, As pernas que se tocam, quais tenazes, Vontades e desejos loucos, feros... Marcos Loures
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Não posso mais negar a luz intensa Que invade o sentimento: coração, Vislumbro no horizonte, na amplidão O brilho deste sol, a recompensa.
Perdoo sem rancor qualquer ofensa, A vida nada vale sem perdão, Aprendo dia-a-dia esta lição Diversa do que uma alma amarga pensa.
Gerando uma alegria mesmo em trevas, Gerindo a fantasia quando nevas Gestando alvorecer tão radiante
Gerânios na janela do meu quarto De um gesto de carinho não me aparto Gozando o bem da vida a cada instante...
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Não posso mais mentir, a vida cega... Quem sabe sou decerto mais feliz Viajo por teu corpo prega a prega, Excrescências da velha meretriz...
Me aproximo, inconstante a bruxa nega, O rosto deturpado pobre atriz... O tempo a corroer-te te renega, A vida se esvaindo por um triz...
Mataste, sem querer, todos os frutos. És vale que queimada esteriliza... Os homens que te viram foram brutos;
A noite te negou a doce brisa. Os restos de teus sonhos, formam lutos... A morte em teu catarro, já se avisa...
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Não posso mais lutar contra a corrente, E deixo-me levar até a foz, Eu sei que uma ilusão se faz algoz, Por mais que ser feliz, a gente tente...
Queria me envolver completamente, E me entregar ao sonho que há em nós, Porém ao perceber o nada após, Sonego o intenso sol, queimando, ardente.
Não tendo mais defesas, sigo só, Sabendo desta estrada o mesmo pó Aonde tantas vezes me perdi.
Por mais que a noite trague em sonho, o riso, Quem nunca conheceu o Paraíso Reage desta forma, como agi.
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Não posso mais falar, e nem pretendo Saber desses desejos incontidos Viver nesses espaços compreendidos Entre o que houvera sido, vou vivendo
Nas marcas desses dias já perdidos Do tempo, se esvaindo, mesmo tendo Quem nada mais podia, nem alento Singrando velhos mundos conhecidos.
O medo me transforma noutro canto Num último senão já descoberto No distanciar tonto, nada perto
Trafegando por mares entretanto Pelo meu peito aberto a teu encanto Pelo meu sonho morto a descoberto!
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Não posso mais falar e nem pretendo Saber dos nossos sonhos incontidos Guardados sem porque, tão escondidos. Eu quero sem segredos ir vivendo...
Eu vejo quantos dias já perdidos No tempo que se esvai. Mesmo tendo Esta certeza infinda como alento, Singrando velhos mundos conhecidos...
Eu não quero ser mais um simples canto Não temo nosso amor a descoberto Enfrentarei o mundo, peito aberto,
Temores já morreram, entretanto Se não vieres junto perco encanto, Por isso meu amor, eu grito, alerto!
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Não posso mais conter esta vontade De falar tudo aquilo que desejo. Não quero teus pudores, nem teu pejo, Almejo finalmente a liberdade.
Meu verso te incomoda? Que se dane! Alguém gosta daquilo que eu escrevo, Perdoe, na verdade nada devo, Teu cérebro sem nexo entrou em pane.
Só quero é tu vás roçar nas ostras, Na pouca educação que tu me mostras, Sinais de uma existência sem proveito.
Guarde pra ti a tua opinião, Se eu falo com firmeza da emoção, Eu somente desnudo aqui, meu peito...
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Não posso sonegar para mim mesmo, Os erros cometidos, meus pecados. Por mais que o pensamento vague a esmo Segredos que jamais são revelados
Em solilóquio tenho a solidão Defesa insuperável, fortaleza, Ensimesmado mudo a direção Agindo assim, por certo, com destreza.
Olhando de viés, meio de quina, Observo os meus enganos. Tanto engodo... Se a nudez completa me alucina Retrato-me por vezes neste lodo.
E fétido parceiro do vazio Espectro em falsa luz, eu me recrio...
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Não posso ser feliz! Isso não cabe... Quem pela vida sempre teve medo, Alegrias da vida nunca sabe, Nem sequer conhecerá o seu segredo...
Procura simplesmente não ter tabe Vai, asfixiado, cruel degredo... Quem não sabe que sempre então se gabe, Não conhece da vida, seu enredo...
Não posso ser feliz... Ah quem me dera! Dissecando meus medos, sempre estás... És fonte e resultado da quimera.
Não podes prometer, assim, a cura... Quem trouxe o desespero nega a paz... Traduzir este amor? Total loucura! Marcos Loures
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Não posso ser feliz se estás sofrendo. A dor que te maltrata sempre atinge, E aos poucos vai também me corroendo. De negro uma esperança amarga, tinge.
Querida, amor me toma num crescendo E forma em mil sentidos uma esfinge. Porém nossa amizade concebendo Impede que eu não veja. A cruz que finge
Jamais ter existido em cicatriz Exposta em tua pele mostra tudo. O céu nunca terá claro matiz
Corado em sofrimento de quem amo. Por vezes eu me calo, fico mudo. Mas saiba companheira, por ti clamo!
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Não posso segurar tuas vontades, Bem sei que já não gostas mais de mim, O tempo demonstrou quanto é ruim Um sonho que não trague mais verdades.
Espero que tu tenhas claridades Já que eu não soube aguar este jardim, Eu sei que todo amor tem o seu fim, Só posso desejar felicidades,
E quanto a mim, restando aqui sozinho, Irei cantar a noite inteira em agonia, Procuro a solidão, bebo o meu vinho,
Mergulho no vazio, e sem carinho Sorrio, com o que resta de ironia, E morro pouco a pouco, mais um dia...
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Não posso resistir ao teu desejo, Na força que se emana, poderosa. Nas tempestades, és um relampejo. Perfume que tu tens, recende rosa.
A noite dos teus passos, sempre vejo Na força que te faz tão orgulhosa! Contigo não resisto nem pelejo. És sábia mas, no fundo, carinhosa!
Meus versos procurando teu carinho, Em busca destas luzes envolventes. Te ter é conhecer a fina sorte.
Não posso mais me ver, nem vou sozinho... Conselhos que me dás, tão competentes, Tu és, Alcina, bela estrela forte!
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Não posso resistir a teu pedido, Se em fogo meu desejo quer também. Há muito meu cantar em ti, perdido, Sonhando noite e dia com teu bem.
Um forte minuano tem trazido Na voz que de repente, invade e vem O sonho mais feliz e decidido, De enfim, depois de tanto; ser de alguém.
Dominas totalmente o pensamento, Eu quero simplesmente poder ser Além do mar, do amor, todo momento
Estar contigo, sempre que quiser, Nas danças, alegrias, no prazer Te ter minha menina, amor, mulher..
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Não posso resistir a tal chamado, Deixando o coração ardendo em chamas, Na xana umedecida, bem safado, Enveredando assim, lúbricas tramas.
A chuva vai batendo no telhado, Rolando, dois desejos pelas gramas, Teu corpo em delírios atrelado No gozo mil delícias que esparramas.
Cavalgue o teu corcel, amor não pára. Mexendo as tuas ancas, vem comigo. O pulso latejante se dispara
E a gente quer de novo e sempre mais. Dançando sob a chuva, eu já me abrigo Debaixo destas pernas sensuais... Marcos Loures
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Não posso reclamar de minha sorte, A vida que me dá também me toma... Vou, no fundo, esperando a minha morte. Os beijos impedindo qualquer coma
A farsa de querer parecer forte... Na boca que me mordes, vil estoma, Reduzes tantas coisas, flanco e porte... Bem sei que quem me bate não se doma...
Amar é conceber, traduzir penas, Lutar intensamente nas arenas, Amar é transcender ao que era asceta
Nos olhos de quem sonha e percebeu, Que a noite que não veio se perdeu, Refletem a minha alma de poeta...
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Não posso prosseguir se não vieres, Como farei, amada, me responda... Não sendo tão somente o que tu queres, Sou mar que se perdeu, e não tem onda...
Espero que tu voltes, num rompante, Trazendo toda luz que sei, mereço... Teus olhos refletindo um diamante, As ordens que me dás, eu obedeço...
Amando quem se fez o meu destino, Vivendo cada dia mais feliz; Amor que persegui desde menino, Me abrace; eternamente um aprendiz..
Que canta, nestes versos sem cansar, A glória de poder, enfim, te amar...
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Não posso prejulgar quem se apaixona, Chamando de tolice, o sentimento Que quando nos invade é como um vento Deixando vir os sonhos sempre à tona.
E quando a solidão já desabona Trocando uma alegria por lamento, Feliz por ter conhecê-lo em um momento Sangria desatada se tampona.
E o jogo recomeça novamente, O coração fareja e assim pressente Procela que virá impunemente.
Tomando enfim de assalto corpo e mente, Domina totalmente e então a gente Percebe que viver se faz urgente...
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Não posso pôr arreios neste sonho, Empoço-me nas águas deste amor Que traz ao mais teimoso trovador O novo que em delírios eu componho.
Um coração moleque é mais risonho E traz a sensação de recompor Erguendo-se depressa, cala a dor Negando um pesadelo tão medonho.
A voz deste menino sem juízo Que bate ensandecido por quem passa, E quando uma tristeza se esfumaça
Vem o danado e volta num sorriso Teimoso, procurando outra paixão. Que faço deste insano coração? Marcos Loures
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Não posso permitir tal grosseria Que grassa entre os estúpidos ladrões Vestindo paletós, tal confraria Desfere duros golpes, quais falcões
Banquetes que o poder já propicia A quem devia dar as soluções. Matando calmamente todo dia, Apunhalando sempre os pobretões...
Na súcia que se forma no Congresso, Talvez já se resolva esse problema Do crime que se diz organizado.
Prendendo essa canalha, eu te confesso Não há nenhum bandido que não tema Pelo bando de amigos, ser roubado.
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Com estrambote
Não posso permitir nossa cegueira, A vida que passamos, momentânea... Por certo navegamos noite inteira, Não vejo mais sinal da nossa insânia...
Sumimos espectrais nessa poeira... A saudade é cratera subterrânea! Uma última visão, lança certeira, É nossa precisão contemporânea. Viver a decisão mais verdadeira...
A verdade surgindo, noites mortas, Como iremos abrir fechadas portas? Na cegueira arrancaste nosso grito...
Eu te quis preciosa, diamante... Fugiste de meus braços, vai errante, Te caço, desde então, nesse infinito! Marcos Loures
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Não posso perceber quanta vitória No gozo deste amor que sempre quis. Se nessa amarga vida fui feliz O gosto da delícia na memória.
Vencido pelo amor em plena glória Não deixo meu caminho e peço bis Recebo do teu céu lindo matiz E mudo, num segundo minha história...
Bem sei que sempre sofres por enganos. Teu coração permita novos planos, Quem sabe encontrarás quem sempre quis.
Nos castelos sem fadas nem princesa A vida se transcorre em tal leveza Que sempre sonho ser mais feliz...
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Não posso perceber quanta vitória No gozo deste amor que sempre quis. Se nessa amarga vida fui feliz O gosto da delícia na memória.
Vencido pelo amor em plena glória Não deixo meu caminho e peço bis Recebo do teu céu lindo matiz E mudo, num segundo minha história...
Bem sei que sempre sofres por enganos. Teu coração permita novos planos, Quem sabe encontrarás quem sempre quis.
Nos castelos sem fadas nem princesa A vida se transcorre em tal leveza Que sempre desejou minha Tais... Marcos Loures
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Não posso os ócios fáceis como fuga Arrasto os restos meus pelo jardim. Espelhos? Posso ao vê-los cada ruga Os rastros contratempos contra mim.
Minha alma tenta a calma e já se aluga Vencida vai vendida vendo enfim O quanto o tempo tonto tudo suga A carga tudo embarga e pesa sim...
Palácios e fantasmas e correntes, Em trâmites comuns, alguns dos dentes Perdidos pela estada nesta Terra.
Abraço este cadáver que cultivo E tomo mais um trago. Não me privo Do todo que este pouco ainda encerra.
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Não posso nem sequer, senhora da beleza, Saber donde roubaste o brilho que incendeia, O teu olhar sem par! É como a lua cheia, Altar de tanto sonho, amada fortaleza!
Em tal encantamento, a vida; com certeza, Trouxe-nos seu encanto, um canto da sereia, Que busco no meu mar, deitada em plena areia. De tudo que já tive, a mais bela princesa...
Embora tenhas ido em busca de teu Fado, Deixaste uma saudade imersa no passado De quem se fez feliz por ter te conhecido.
Distante deste amor, eu abençôo a vida Por ter me dado a sorte , embora já perdida, De ter Raimunda amado, um sonho enlouquecido! Marcos Loures
9400
Não posso nem pensar que te perdi Decerto não seria muito bom, Os ecos repetindo perdem som Talvez o bom da vida esteja aqui.
Saber felicidade plena em ti, Amar é quase sempre um raro dom, A vida nos mostrando em claro tom Dizendo deste amor que conheci.
Legados de alegria, eu quero dar, Na imensidão azul de um belo mar Os barcos da esperança buscam cais.
Vencer cada procela com firmeza, Depois de tantas lutas, a certeza, Da mesa em que nós somos comensais.
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