Porto em Pessoa (dueto)

Data 20/12/2010 20:37:37 | Tópico: Poemas

enquanto me perguntava
com fragrâncias silvestres das murtas
fui vivendo a tua pele.

“ compreendo a intervalos desconexos;
escrevo por lapsos de cansaço;
e um tédio que até o tédio, arroja.me à praia.”

ao leme, ao leme e, a estibordo meu homem do leme!
alucinado e cego obscuridade e insónia
com corpo pulsar que do meu sono temo não mais voltar despertar.

contigo me atei até ao subir as escarpas,
eu,desnuda, debaixo do sol das tuas mãos altivas
sabendo.te invencível na minha memória.

“ não sei que destino ou futuro compete à minha angústia
sem leme;
não sei que ilhas do sul impossível aguardam.me naufrágio;
ou que palmares de literatura me darão ao mesmo verso.”


caí na agonia dos teus poemas
pelas madrugadas fora
Porto que me viste nascer e de mulher me fizeste amante
com o desespero e ternura que me envolve, sem que eu consiga tocar.te,
teus braços sem me ferir passam cavalos selvagens, comboios e seus trilhos, anónima multidão tão familiar
e passo, passo, passo através dos meus olhos, enquanto tu tão altivo e distante, docemente respiras e deixas.me passar.

“fecharam.se todas as portas abstractas e necessárias.
correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver a rua
não há travessa achada o número da porta que me deram.”



e sobre ti, uma chuva silenciosa, granítica
dilacera a minha disforme formosura,
meu peito duro é parte do teu corpo
para que nunca me esqueça e para sempre te maldiga.

* inspirado Fernando Pessoa "Lisbom revisited"


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