
MEUS SONETOS VOLUME 100
Data 21/12/2010 18:20:16 | Tópico: Sonetos
| 1
Nas alcovas procriam-se luxúrias! Sedentos sedutores sorvem sexo. As bocas invasivas, tantas fúrias... A noite reproduz-se perde nexo...
Nem preces, rogos, medos nem as cúrias Sossegam junção: côncavo, convexo! Viajam-se loucuras: Roma, Astúrias... Hormônios derramados, nos meus plexos...
Pernas titubeantes, reentrâncias, As sedas e perfumes se confundem. Nas fomes e desejos, as ganâncias...
Polinizando alcovas, borboletas... Delírios e carícias loucas, fundem. Nas bocas e nas coxas, mil cometas! Marcos Loures
2
Nas águas, corredeiras, rio e mar, Vontade de te ter aqui comigo, A tarde inteira, à noite namorar Além desta esperança, assim prossigo
Querendo te sentir, poder tocar Fazendo de teu corpo o meu abrigo, Na teia de teus braços me afogar, Vivendo o que sonhei- amor- contigo...
Suor, salinidade, mar e pele. Sou presa dos desejos e loucuras. A ti, minha vontade assim compele
Queremos desfrutar cada momento, De todas as maneiras. Branduras Dos beijos delicados como o vento...
3
Nas águas tão serenas deste rio, Banhando sob a lua, nua em pelo.. Meu coração se toma por estio, Passando a mão por sobre teu cabelo Quem fora sempre assim, tão vago e frio, Já sente o pleno amor fortalecê-lo.
Depois ir repousar em teu castelo, Princesa angelical que tanto quis. Num sonho divinal, tão raro e belo, Contigo irei pra sempre. Sou feliz... Meu canto neste amor; cedo revelo, Beleza de rainha em flor de lis...
Minha alma em terra nova já se assenta, A vida, quem me dera, fosse lenta...
4
Nas águas tão geladas deste rio, Em corredeiras frias, nosso banho, Teu corpo me aquecendo, um bem tamanho, Queimando com prazer como um estio.
Acaba com qualquer medo de frio Neste desejo enorme, calor ganho Num fogo diferente, não estranho E entranho meu desejo tão vadio.
Nos braços que me envolvem, sol ardente, Transborda-se a vontade sempre quente De estar o tempo inteiro do teu lado.
Na chama que não sai do pensamento, Deitando este querer, emocionado, O dia vai passando, manso e lento... Marcos Loures
5
Nas águas mais profundas da saudade Abismos e penhascos são meu mote. Recebo sem temer intensidade De todas essas dores todo o lote.
Amando ser amado por quem amo Amargo a solidão se tu não vens. Depois de tantas lutas que reclamo, Aguardo sem rancores nossos bens.
Achego meu amor ao teu amor E vindo de teu corpo tal clarão, Vencido pelos ventos, tal valor Que vale todo inverno em meu verão.
Verás que nada mais vale essa vida Nos vales da saudade, vã, perdida...
6
Não vês que este sorriso, na verdade, Apenas demonstrou minha alegria De ter o teu amor, felicidade, Com toda uma emoção como eu queria
E tantas vezes tive mais distante O sonho de poder estar contigo. Amara fora a vida até o instante Em que cevando a sorte já te digo
Do amor que se ancorou dentro de mim, E ao adentrar meu peito cimentou Erguendo qual castelo amor sem fim Amor que na verdade me encantou,
Em atos e palavras, versos, risos, Maravilhosos Édens, Paraísos... Marcos Loures
7
Não vês que de viés a vida passa e faz desta promessa, sanha e sonho, na boca da mulher, acre cachaça. Depois o quanto vale é quanto ponho
do prazo estipulado fina farsa, ao passo do que fomos, vou bisonho, na nave de teus braços, se esfumaça e nada do que vimos, te proponho.
Fugiste da sacada do meu prédio, janelas que voaste, em fino tédio, depois ressuscitada, foi ao céu.
Amar cada segundo, viro o rosto, rei morto se apodrece com rei posto, exposto ao triturante carrossel...
8
Não vês o quanto quero tua luz? Não sentes quanto busco te encontrar? A vida se pesara feito cruz; Embalde, tantas vezes, quis buscar
Nas nuvens este sonho de te ter A cada novo dia, uma esperança Que se renova em laços do prazer Refletido em teu véu, em tua dança...
Eu quero te abraçar neste aconchego Do teu colo macio e tão sereno, Promessa de alegria e de sossego De todo um grande amor, imenso e pleno...
Perdido, qual falena busca o lume, Busco, incessantemente, o teu perfume!
9
Não venho como o vento que se vai, Deixando tão somente tempestade. A noite que me trouxe não te trai, O sonho que vivemos; é verdade...
Não posso ser quimera; sofri tanto! Nem posso ser o fim, tampouco dor. Desculpe se te causo tanto espanto, Talvez por ser tão brusco meu ardor.
Toda suavidade que perdi, Espinhos calejaram coração. Aos trancos e barrancos, eis me aqui. Depois de tanta dor, tanta ilusão...
Trazendo o que me resta de jardim, Flores silvestres; trago. Sou assim...
10
Não venha me falar que não me espera Espero teu carinho há tantos anos... Vivendo pleno amor, ah! Quem me dera A vida não teria seus enganos.
A boca que me beija e me alucina Em versos declinados, te proponho. A lua que por certo te ilumina Nascida na delícia deste sonho.
Amada como é bom estar contigo! É mansidão em meio a tempestade Não temo mais a dor, assim prossigo, Deixando ali num canto, uma saudade.
Amor que sempre trago no meu peito. Certeza de morrer mais satisfeito...
11
Não venha me falar em sofrimento Não sou botafoguense por acaso. Encaro com escárnio tal tormento No fundo me faz rir. Não faço caso.
Amigo; se eu entôo algum lamento É dor que – se chegou – fora do prazo. Porradas desta vida? Eu sei, agüento; Pois vejo vir chegando o meu ocaso
E o tempo me ensinou que sendo assim, Resisto bravamente à tempestade. A morte na verdade, vem pra mim
Depois das gargalhadas e sorrisos. Amores, tive alguns. Muita amizade, O resto? Na poeira sem avisos... Marcos Loures
12
Não venha me dizer toda a verdade
De tantos pensamentos que carregas,
Só peço em teu amor, sinceridade,
Nem todos os meus mares tu navegas.
Apenas a verdade é libertária,
Do amor e da esperança, mensageira.
A face deste amor por ser tão vária,
Às vezes não se mostra verdadeira.
É claro que sonhaste com outrem
Durante alguma noite em nossa cama,
Prefiro crer que nunca, por alguém
Teu coração calado, às vezes, chama.
Não quero te odiar, por isso omita
As coisas que tua alma não me grita
13
Não vejo; meu amor, complicação Que possa serenar um sentimento Que chega dominando o coração E traz tanta alegria ao pensamento.
O vento que se faz em viração Promete renascer sem sofrimento, Embora tantas vezes a paixão Traduza tempestades e tormento.
Amor que se belo desde o início Não pode permitir um precipício, Trazendo estas benesses para nós.
Andando junto a ti, nada mais temas, Amar e ser feliz, os nossos lemas, Deixando para trás a dor atroz... Marcos Loures
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Não vejo, pois distante uma porteira, Que possa traduzir algum final. Meu canto; inútil verso tão banal Jamais será dos sonhos, a bandeira.
Se a vida é tantas vezes rapineira, Eu quero ser somente mera nau Singrando em calmaria ritual Tendo a minha alma como timoneira.
Não creio no futuro e nem o busco, Às vezes, se pareço mesmo brusco A culpa é deste velho sonhador
Que faz afago e morde tolamente, No infarto, a solidão cruel pressente O final deste ignóbil trovador...
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Não vejo vencedores nem vencidos No jogo das delícias que travamos Enquanto em noite plena nos amamos, Explorando, felizes, os sentidos
Explosão de sussurros e gemidos Por mares tão diversos nós singramos, Senhores de nós mesmos, deuses, amos Centenas de caminhos percorridos...
Delitos em delírios sem pecados, Sob medida os desejos desfrutados Rolando nas estrelas, mil cascatas...
Intensa profusão que transbordando Mosaico feito orgasmo, desenhando Enquanto com sevícias me arrebatas... Marcos Loures
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Não vejo um embaraço que me impeça De seguir caminhando sem temores, Amada por favor. Cumpra a promessa E espalhe nesta estrada belas flores
Pra que a gente prossiga a caminhada Na busca desta tal felicidade, As flores perfumando nossa estrada Encantam cada passo e na verdade
Ajudam caminheiros, andarilhos Que vivem tão somente por amor, Assim iluminando nossos trilhos O mundo se mostrando encantador
O trovador que inventa num repente, Garanto, meu amor, fica contente...
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Não vejo tua imagem nos espelhos Que trago dentro da alma opalescente. O amor que me tocando inutilmente Deixando o sentimento de joelhos.
Os olhos sonhadores e vermelhos, A faca me cortando impunemente. Apenas o final já se pressente, Negando teus carinhos e conselhos.
Rever os meus pecados, erros tantos, Vencido por degredos, desencantos, Engodos tão comuns que cometi
Das traças que legaste por herança Satânica paisagem que me alcança Retrata tão somente o que há em ti... Marcos Loures
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Não vejo solução nem sentimentos, Mas busco algum recanto bem mais manso, O nada tantas vezes eu alcanço E bebo a tempestade e os vis tormentos.
Apenas solidão traz os proventos Não tendo nem sequer algum descanso. Aos meandros do amor, quando eu me lanço, Estendo os braços, tolo, aos sofrimentos.
Arrasto tais correntes pelo quarto, Na ausência de prazer, louco me farto Do inebriante sonho feito em vinho.
Herança que eu recebo? Apenas isso, Morrendo sem vigor na flor sem viço, Ausência de calor e de carinho. Marcos Loures
19
Não vejo ser somente picuinha Nem birra de menino sem juízo, A morte não traduz mais paraíso Enquanto a noite segue tão sozinha.
Poesia tem cara de fuinha, Banguela e desdentada, o seu sorriso Gargalhando hedionda, sem aviso Aos poucos, sem remédio, ela definha.
Robóticas palavras sem ter sal, Num único molejo sensual Merecem a atenção da rude plebe.
A bunda se tornando cerebral, Demonstra em seu trejeito magistral O quanto em emoção, o amor concebe... Marcos Loures
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Não vejo qualquer lógica nem quero Prossigo, o coração exposto ao vento. Tu não me sais jamais do pensamento Nos sais de teus suores me tempero.
O amor, por vezes louco, manso ou fero Aguça, com certeza o sentimento, Contigo desconheço o desalento, E a cada novo dia mais me esmero.
Ser teu é o bem e o mal que me motiva, Minha alma às vezes dura ou emotiva, Percorre este infinito em odisséia.
Cigana ou feiticeira? Pouco importa, Abriste totalmente casa e porta, Ternuras e desejos: panacéia... Marcos Loures
21
Não vejo por que ser alvissareiro Um dia que se mostra tão nublado Fazendo o coração, pobre canteiro Em lágrima infeliz somente aguado,
O corte da ilusão, duro e grosseiro, Um lobo que me espreita esfomeado, Um resto que caminha o dia inteiro Na busca do que fora no passado.
Insisto, sem por que, mas não desisto, Quem sabe inda terei pleno deleite De ter um bem sereno que me aceite.
No verde da esperança inda me visto E faço da ilusão em fonte bela O brilho que me guia de uma estrela...
22
Não vejo outro destino em minha vida Senão estar contigo, companheira. A lua que nasceu tão distraída Se mostra no teu corpo mais inteira.
Nas faces dos desejos, a maçã Que vorazmente sempre devoramos. Quem teve emoção deveras vã Não admite no amor, escravos, amos
Felicidade galga cada sonho Perfila estas vontades mais audazes. Meu corpo nos teus braços, quando ponho
Sacio com loucura a tentação. E lábios com certeza mais vorazes Explodem sem juízo, em perfeição... Marcos Loures
23
Não vejo outro cenário senão este: Desértica florada do vazio. E quando retornar, quem sabe, o estio, Encontrará somente frio e peste.
A mácula que o sonho assim reveste, Deixando este lugar ermo e sombrio, O nada por herança eu avalio Será ao que virá; seu manto e veste.
Agenda-se o final sem hecatombe, Por mais que a fantasia ainda tombe A queda não trará felicidade.
Qual fora um moribundo, a consciência, Morrendo sem saber qualquer clemência, Nem mesmo quem errático, ainda brade...
24
Não vejo outra saída Senão sair daqui. Esqueça-se querida Agora eu me perdi.
Em toda a minha vida, Só lembro-me de ti. Mas vou em despedida, Não fico mais aqui...
Pois em terra de cego Eu digo esta verdade, É mar que não navego,
Pois me inda resta um olho, E vejo a claridade, Mesmo sendo caolho...
9925
Não vejo outra saída, vou disperso Românticas palavras? Nunca mais. Apenas estampado em cada verso Sorriso destes sonhos marginais.
Irônicas senzalas que eu carrego Não tendem nem permitem liberdade, O vento que me leva, sempre cego, Não alça no final tranqüilidade.
As pernas amputadas, meus segredos, Olhares entre nuvens, risco farto, Na queda de esperanças, arvoredos Adentram quais fantasmas, o meu quarto,
A mansidão que um dia eu concebi, Há tempos nos teus braços, já perdi...
26
Não vejo outra saída senão essa De ter algum sorriso como herança, O amor que amargamente se confessa Penetra desairosa e dura lança.
Atenta aos teus desvelos, vida avança Enquanto a poesia já tropeça, Distinto da sonhada temperança Sonegas com frieza esta promessa
De um tempo mais feliz, em gozo pleno. Do dia que pensava mais ameno Tempestuosamente perco o rumo...
Não posso te dizer que saio ileso, Verdade com firmeza, um bem que prezo E os erros cometidos, eu assumo! Marcos Loures
27
Não vejo necessárias tantas luzes Quando tu chegas clara em minha cama, Os raios mais divinos que produzes Emoldurando o céu em bela trama,
Nos olhos mil espelhos reproduzes E em telas mais perfeitas, rara chama, Ao largo das estrelas me conduzes, Com fogo radioso de quem ama...
Não vejo mais as luzes senão estas, Que emanas em teu corpo sensual. É delas, nelas, feitas nossas festas,
Fazendo do desejo um ritual, Abrindo o coração em fundas frestas, Em cores percebidas, carnaval... Marcos Loures
28
Não vejo mais sequer um horizonte, Goteja o que me resta de esperança, Lateja o velho corte, tento a ponte Porém somente o não, minha alma alcança.
A dor tomando a cena não descansa, Secando da alegria, última fonte Outrora a caminhada fora mansa, Agora sem farol que o rumo aponte.
E quando deste sol, eu já me afasto, Sombrio coração segue nefasto, Arrefecido sonho deu em nada.
Vestindo tão somente esta mortalha, Buril das ilusões, o corpo entalha, E a velha poesia se degrada...
29
Não vejo mais saída, nem pretendo Saber dos labirintos costumeiros, Os passos que tentara mais ligeiros São luzes que jamais, de novo acendo.
No quase conseguido, sigo tendo Apenas os sinais, maus mensageiros Secando por inércia, os meus canteiros, Os restos de esperança, mal contendo...
Não quero prosseguir. Repito: basta! Enquanto do farol, barco se afasta, A rota sem destino, já perdida
Percebe a mão do velho comandante Vencido pela dor, a cada instante, Expõe sua tendência suicida...
30
Não vejo mais respostas, mas eu tento, O quanto não quis ser sutil raposa Nem presa que se perde num momento Minha alma vaga à noite, mariposa.
O beijo que se fez sem sentimento, Distante de meus lábios já repousa, Enquanto escrevo amor leio tormento, O giz se fez apagador na lousa.
Decifro os teus sinais, e nada leio, Senão o mesmo nunca de onde veio Reflexos do que outrora fora algum.
O drama se perdeu em ironias, Não tendo mais sequer, já não avias O termo da esperança, sem nenhum... Marcos Loures
31
Não vejo mais problemas no tentar Fazer de um simples verso, sinfonia, Morrendo toda noite aguardo o dia E nele outro segredo revelar
O quanto me extasia a luz solar Deixando para trás a noite fria. Delícias conhecidas numa orgia Rolando madrugada bar em bar.
Boêmio coração não quer descanso, E quanto o Paraíso em vida; alcanço Usando do alazão feito prazer
Tomando da alegria mais um porre, Minha alma libertária se socorre Nas ânsias da vontade de viver...
32
Não vejo mais problema em te querer Meus versos te buscaram no infinito. Vagando tanto tempo sem saber Como é divino amor, como é bonito!
Não vejo mais problema em navegar Um oceano inteiro, procurando, Aquela que sonhei tanto me dar, Estou cada vez mais, amor, amando...
E sinto que tu queres ser meu bem, E sinto como é bom te ter comigo. Quem fora solitário, sem ninguém, Agora, no teu seio, meu abrigo...
Meu verso te buscando não se cansa, Pois estás onde amor, imenso, alcança
33
Não vejo mais problema em ser canalha Sangrar o seu irmão até a morte. Os pobres transformados em gentalha A genitália exposta em doce corte.
A carne leiloada já se espalha Vendida a qualquer preço a quem suporte O cheiro nauseabundo. Sangue talha E serve para alguns de um bom esporte.
Batendo nos mais fracos, nos viados, Porrada significa redenção. Mendigos aos leões sendo jogados,
Cheirando orgasmo em pílula. A verdade É que do esgoto vem a solução: Matilha substitui velha amizade...
34
Não vou ficar aqui bancando o otário Pensando se a bezerra morre ou não, O amor que se escondeu detrás do armário Não pode aparecer no meu colchão.
Nem quero ser audaz nem temerário Apenas coleciono negação, Mais um que eu anotei no meu fichário Meu verso se mostrando sempre em vão.
Parábolas; invento e finjo ser Aquilo que jamais eu poderia. Hedônico palhaço em desprazer
Não sabe de um amor, a companhia Se eu vou ou se inda tento, posso crer No nada ao qual amo me conduzia... Marcos Loures
35
Não vou dizer amor tão soberano Que traga-me depois um Reino escuro, Formado em confusão e desengano Jogado por detrás deste alto muro Distingue minha fé em que se inspira Ardendo seu destino em fogo e pira.
Semelhas em verdade, amor sincero Semeias sortilégios e verdades. As rodas da fortuna não mais quero, Apenas no desdém, sinceridades. Engano-me, se em ti, jamais espero, Em vicissitudes, paz, felicidades.
O mais se mostra às vezes feito menos, Nobre cultura brota em maus terrenos...
36
Não vou chamar você de lambisgóia Nem mesmo ofenderei a minha sogra. O tempo quando dá, decerto cobra, Um náufrago deseja simples bóia.
Se eu descobri no fundo esta tramóia, Venenos encontrando numa cobra, Do amor que não se deu, mais nada sobra, O peito abriu a imensa clarabóia...
Metralhas mil besteiras, mas nem ouço, Preparas um terrível calabouço, Coroas nosso amor em puro fel.
Do sonho não restou nem cacareco, Por isso nem pensei em repeteco, Que faço se não vi Papai Noel?
37
Não vou bancar o santo, não sou disso. Apenas vejo a luz que agora emanas, Durante tantos dias, por semanas, Sonhar manteve vivo o brilho, o viço.
Não quero compromisso com tristeza, Pois tenho sempre em mim, o Pai eterno. Com Ele não sei frio nem inverno, Aprendo a me entregar à correnteza.
Nem farpas nem espinhos; vou liberto, Dos cardos, as lições eu aprendi. O amor; quero comigo, aqui por perto,
Sem ter as velhas dúvidas de outrora, Na fonte do perdão, eu me embebi E a eternidade em mim, enfim se aflora...
38
Não vou bancar o santo nem eunuco, Eu gosto do cheirinho da danada... Perfume que me deixa assim maluco Ao ver a sua saia levantada...
Relógio disparando... Cale o cuco! É hora de partir para a jornada Guardando no bornal este trabuco À noite eu voltarei pra minha amada...
Tem gente que não gosta deste ofício, Desculpe, mas pra mim é como um vício, Não consigo parar de gostar disso.
Ao ver uma morena tão sestrosa, O corpo vai ficando em polvorosa, E em meio a tantas coxas, eu me atiço...
39
Não volto para Minas meu amor Pois Minas já faz tempo não há mais, Depois que abandonei minhas Gerais Distante em cada passo a te propor
Meu verso vai mudando já de cor E vira capixaba; bão dimais. Se o canto na verdade satisfaz É feito com carinho e com ardor.
Batendo em tua porta o tempo inteiro, Gastei, nunca neguei, todo um tinteiro Mas nada de respostas tu me deste,
Meu coração virou cabra da peste E quer a morenice com destreza, Na sanha de viver em fortaleza... Marcos Loures
40
Não vivo de mentiras nem fantasmas, Apenas teu amor eu quero em mim. Não creio que vivendo com miasmas As chamas deste amor terão um fim.
Mas peço que tu mates o passado, Não quero te impedir de se lembrar Mas saiba como dói ao ser amado Saber que tu não vais se libertar...
Eu quero ter inteira sem seqüelas Nem mesmo reviver as cicatrizes, Esqueça que viveste tais mazelas, Aí seremos sempre mais felizes...
Não vivo do passado que sei fera, A flor revive em cada primavera!
41
Não via mais o sonho que tivera No tempo em que pensar ser feliz. A vida travestida na quimera Nunca deixou-me ter o bem que quis.
Mas viverei a glória de te sonhar. Estrela radiante da manhã... Quarando meu amor neste pomar, Impede que esta vida seja vã.
Nosso beijo com gosto de garapa Lambuzado no mel e na aguardente Do amor, do qual ninguém jamais escapa. Clamando: ser feliz é sempre urgente.
A mulher desejada, sol e lua, Beleza sensual desfila, nua...
42
Não vejo mais ninguém em minha frente Nem ouso imaginar outra presença. Amar é descobrir que, de repente, Ninguém mais neste mundo nos compensa.
Não vejo outro caminho senão este, O rumo que traçamos, para nós. Esqueça este lugar d’onde vieste Jamais houve passado, só após.
Amigos? Esqueci faz tanto tempo! Família? Já faz meses que não vejo. Te amar é meu labor e passatempo; É tudo o que me importa e que desejo.
Meus versos só se lembram do teu ser, No teu começo e fim, vou me perder...
43
Não vejo mais motivos pra voar, As asas amputadas se cansaram. Depois de tanta luta pra chegar Onde tantas tristezas alcançaram...
Agora estás liberta, alça teu vôo... Espero que tu sejas mais feliz. Meu canto solitário eu mesmo ecôo Vivendo os sentimentos por um triz.
Sabendo que não tenho mais descanso Em busca da ideal felicidade. Meus passos, sem ter tréguas, vou, avanço. Salgando esse meu mar em liberdade...
No fundo sou feliz, estando bem Aquela que em meus sonhos foi meu bem...
44
Não vejo mais motivos para tanto, Se tanto nunca fui para quem chama. Amor seria livre sem espanto Se houvesse liberdade pra quem ama...
Não nego meu cansaço de viver, Embora conviver com fantasias. Se tudo se resume no prazer, As dores se diluem, alegrias...
Criados os fantasmas nada resta, Senão seguir meu rumo sem teus braços. Aberto o coração, arrombas fresta, E toma num assalto, meus espaços...
Não mintas nem omitas o que sentes... E faça assim, a ti, os teus presentes...
45
Não vejo mais agruras nem desertos, Miragens num oásis são reais. Meus passos se perdiam, pois incertos, Palavra mais ouvida foi: Jamais!
Ao mar lançando um barco em desatino, Um velho timoneiro mal sabia Que mesmo sob o sol queimando a pino, A voz de uma sereia em fantasia
Chegara aos meus ouvidos maltratados Por ventos e procelas sem ter fim. O sopro da esperança muda os Fados, E doura cada flor deste jardim.
Perduram os meus sonhos em teus braços, Desertos já se foram, tristes, baços...
46
Não vejo mais a lua que te trouxe Nem mesmo a mansidão deste meu céu. Pedindo tão somente que não fosse Tirar deste espetáculo seu véu...
Saudades de quem fora mais gentil E sempre me dissera ser feliz. As cores que emolduras, num abril, Roubando deste amor todo matiz.
Tal lume que persigo qual falena Estendes pelos astros sem demora. A vida que procuro sempre plena Nas cores, seus encantos, quero agora.
Amor é quase um canto de agonia, Calor que nos esquenta enquanto esfria...
47
Não vejo mais a dor que se emprestara Aos olhos de quem sempre desejou Amar esta esperança sempre cara E quase que, sozinho, naufragou...
Disseste que jamais retornaria Aos braços de quem ama e te procura. Porém ao te encontrar, quanta alegria, Tua presença sana e sempre cura
De todas as feridas mais profundas Expostas em minha alma já sangrante. Escaras terebrantes, tristes, fundas, Jamais carregarei d’ora em diante.
Percebo meu olhar esperançoso Vivendo em nosso amor completo gozo.
48
Não vejo contraponto em céu e mar, Apenas o contraste determina Beleza que se emana, esmeraldina Tomando este cenário, devagar.
Antigo marinheiro a navegar Procura dos prazeres, fonte e mina, Enquanto esta beleza me domina, Eu não terei motivos pra negar
O quanto é fabulosa a natureza Fazendo este espetáculo divino. Permita-se levar, pra que defesa?
Nos tons esverdeados vejo enfim O brilho de um olhar que, cristalino, Há tempos repousava sobre mim...
49
Não veja a vida como um barco ao léu, O amor eternizado em cada sonho, Trazendo amanhecer claro e risonho Estampa a maravilha deste céu.
O brilho que recobre como um véu Dizendo do que, manso eu te proponho, Negando o que pensavas ser medonho A vida vai cumprindo o seu papel.
Não chore que a saudade nos redime, Exímio timoneiro amor ancora O barco da esperança vida afora
Por mais que a solidão, cruel, esgrime, A chama não se apaga simplesmente Sabes quanto eu amei me faz contente...
9950
Não vale tanto a pena trabalhar, Eu sei que o meu esforço não compensa. Quem leva a vida inteira a desfrutar Já tem, no mesmo instante, a recompensa
Agir bem mais depressa do que pensa É com certeza sair deste lugar. Senão amiga, ficas hipertensa: O derrame ou enfarte vais ganhar.
Cachorro sabe o duro que é ter dono Não podendo sequer mais virar lata. Melhor viver sozinho no abandono
Do que chicote firme que maltrata. Patrão? Quem sabe tudo já descarta. Pois quem cedo madruga... só tem sono!
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Não vais beber da fonte das quimeras, As hastes, ramos, folhas mutiladas... Amores que sonhavas, nas taperas, Encontras nas cadeiras nas calçadas...
Vencidos tantos dias, priscas eras, As luas que pensavas desmaiadas, Escondem-se nas nuvens sem esperas. Amores destroçados matam fadas...
Não queres mais sutis as velhas chamas. Nos ramos destas flores, sem espinho... Percebo que deveras não reclamas.
O sonho foi deixado no caminho. A dama que se veste de dourado, Matou doce menina do passado...
52
Não uso mais as luvas de pelica, Se necessário eu rasgo peito e mente. Por mais que esteja livre, tolamente A vida não resolve nem explica.
A boca desdentada, mesmo rica, Lamenta sempre a perda, cada dente, Porteira do passado se arrebente Ferrão do que vivi ainda pica.
Ao perceber teu hálito, pantera, A seca desafia a primavera Do nada que geri, restando o pó.
O beijo da serpente me envenena, A noite não virá jamais amena, Prossigo então, vazio, amargo e só... Marcos Loures
53
Não use esta boceta na piroca. Decerto eu sei que vai escorregar. Melhor no desarranjo fazer troca, Coloque esta boceta no lugar.
A terra é que lugar para a minhoca, Um pássaro foi feito pra voar, Tatu vive escondido em sua toca, Aonde se procura, vai se achar.
Amigo, é perigoso, isto eu garanto, Assim perdes teu charme e teu encanto Repare no que falo e creia em mim
Depois não quero ouvir sequer teu pranto Boceta quando aberta, causa espanto, Piroca é pra boceta um trampolim!
54
Não troco de mulher e nem de time, Nasci botafoguense e morro assim, Por mais que outra Maria olhar estime, Eu sigo com a minha até o fim.
Não quero outra menina que me mime Mimetizando o sonho, é sempre assim, O tempo pouco a pouco nos comprime No aperto, perco a flor, mato o jardim.
Meu vício é fazer versos e plantar As doces ilusões que não desfruto, Poemas espalhando no pomar
As costas se preparam para o lanho, Porém meu coração é bicho astuto, Das tramas de um amor, já não apanho...
55
Não toque no meu rosto, por favor, A máscara se quebra e num instante Verás com decepção, talvez terror A cara deslambida de um farsante.
Reserve para outrem o teu amor, Decerto um sentimento fascinante. Aquele que pensavas sonhador Apenas silicone em falso implante.
Na face feita em ruga e com pereba, As marcas da varíola bexiguenta. Quem olha com cuidado nem agüenta
Procuro disfarçar. A vida enseba E pra finalizar o nosso papo. Que queres tu fazer com este sapo? Marcos Loures
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Não tiveste piedade nem amor... Mas peço que não vás, demores mais... O tempo em que vivemos sem ter paz, Demora na saudade e desamor...
Se houvesse tua mão, decerto amiga, Não mais precisaria ser assim... Tateio simplesmente, a noite abriga, O resto do que fomos, nada enfim...
Talvez eu não consiga ter teus seios Macios e colados junto aos lábios... Percebo que navegas sem receios, Refém desses desejos loucos, sábios...
Mas quero teu amor, e não me iludo, Nas pétalas que trazes, quase tudo...
57
Não tivesses caráter de barata Quem sabe poderias ser feliz. Lambendo as mãos daquele que maltrata Um rato facilmente se desdiz.
A sorte, tu reclamas, tão ingrata Demonstra o que plantaste e por um triz Pisando bem macio em cada pata A vaca vai pro brejo porque quis.
Sequer as tuas sombras te acompanham, Inseto desdenhado num covil, Abjeto ser submisso que, gentil
As trevas e as senzalas logo apanham Um esmolar estúpido indigente O resto do que um dia quis ser gente...
58
Não tive nada além do teu sorriso, Que embora fosse fátuo me mostrou Do pouco que de nós inda restou, A vida não permite um novo aviso.
A noite se passando e no granizo Que cai , a tua imagem se mostrou. Nas cores da penumbra eu me matizo E vejo o que o futuro programou.
A tua foto guarda, na gaveta Dos sonhos a figura de um cometa Que segue pelo espaço sem parada.
Do quanto ainda tenho de esperança, Apenas o vazio que me alcança Traduz o que vivemos, mero nada..
59
Não tiro mais coelho da cartola, Nem faço este milagre que tu queres, Amor foi pro vinagre, entrou de sola, Espero que tu tragas teus talheres
Quem sabe a fantasia que rebola Expresse outro banquete se vieres. Um sentimento assim ninguém imola, Mas és a mais divina das mulheres.
Não quero melancia ou piriguete, Apenas não te jogo mais confete. Contento-me com doses de carinho.
Além deste infinito, eu sei de nós, E mesmo que não veja nada após Melhor ter teu amor que estar sozinho... Marcos Loures
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Não tentes transformar o nosso caso! A vida não permite tais loucuras... Quem fora nascedouro morre ocaso Não posso permitir noites escuras!
A fome não progride nas farturas, Não tentes mais colar o velho vaso... Amor sem ter carinho perde o prazo, As dores que sentimos, tais fraturas...
Não tentes ocultar os teus segredos... Os dias que perdemos não se voltam! Mentiras desfiando seus enredos...
Meus passos desviando teu tropeço... As ondas do que fomos se revoltam, Amor assim não quero e nem mereço! Marcos Loures
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Não tente disfarçar o que não dá Mais pra ocultar, aflora no teu rosto. O dia novamente brilhará Trazendo cada passo mais exposto.
Não tema, pois o vento venta cá E deste sentimento ele é composto. A vida assim decerto mostrará Mais fino e delicado, um doce gosto...
Não tema mais as curvas do caminho Que se aparecem, servem pra exaltar Quem faz suas andanças com carinho
E nunca tema as pedras, nem agruras. A rosa sabe bem de cada espinho E exala em seus perfumes, mil ternuras... Marcos Loures
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Não tens porque pedir- amor- perdão, Se tudo o que queremos é poder Viver felicidade sem temer A chuva, a tempestade, o furacão.
Podendo repartir o peixe, o pão, Sabendo quanto é bom nosso prazer, Carinho é tão gostoso receber, A flor de uma esperança em floração.
A vida tem segredos, disso eu sei, Quem faz de uma alegria a sua lei Terá por recompensa, o paraíso.
Vencendo as intempéries do caminho Jamais serei, decerto tão sozinho, O teu amor é tudo o que eu preciso! Marcos Loures
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Não tenho tanta pressa de ir embora, Agora que cheguei, quero ficar. A noite se passando sem ter hora, O tempo inteiro; vou querer te amar. Com calma; meu carinho mais gostoso, Promete te dar muito mais prazer. Desejo teu delírio em manso gozo, Transtorno tão intenso no teu ser. Amada, é necessário para amor Toda uma certa dose de lirismo, Teu corpo, delicado e tentador, Não pode se entregar ao egoísmo. Por isso te dedico esta atenção, Na busca do prazer, com perfeição...
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Não tenho medos, quero já meus brilhos... Essas notas melódicas transtornam... As flores que colheste não adornam. As bocas que beijei deram-me filhos!
As notas repetidas no estribilho, trazendo a maciez que te roubaram. A certeza fatal de que sonharam Aqueles que verteram noutro trilho!
Nas frondes que me trazem velho cedro, Nas noites que passei, nunca mais medro. O tempo não deixara suas marcas!
Não temo a cicatriz, nem a facada, A vida percebeu a dura escada. Meu barco já não teme nem as Parcas!
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Não tenho mais sossego Nem uma paz sequer A vida que carrego Do jeito que vier
Andando feito cego, Procuro quem me quer, No mar que assim navego, Nos braços da mulher
Amiga e companheira Dileta em perfeição Que venha mais inteira
Mostrando que o perdão É coisa corriqueira Nos rumos da paixão...
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Não tenho mais sequer alguma chance E mesmo assim ainda quero crer Que apenas a mudança de um nuance Não pode me impedir de te saber.
Enquanto a solidão, teimosa, avance, Eu vejo o desfiar com desprazer, Até que um dia, olhar ao longe lance E sinta finalmente o sol nascer.
Em crise, o casamento? Já não creio, E sendo companheiro do receio O amor não tem sentido. E é por isso
Que luto contra os velhos pesadelos, Tocando com carinho os teus cabelos, Percebo, mesmo à tarde, um raro viço.
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Não tenho mais receio do desdém Que sempre se acompanha dessa dor. Cansado de viver sem ter ninguém Aguardo, minha amada, teu amor...
Não posso mais fingir que correm horas Se tenho teu amor perto de mim... Amada, não percebes que decoras O mundo que te trouxe aqui, enfim?
Debruças, pelas noites, nas ameias Rezando tua prece tão baixinho, Não temas, por favor; porque anseias? É teu, somente teu o nosso ninho!
Amor que tanto amor promete paz, São sonhos e desejos mais reais!
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Não tenho mais recados p’ra te dar... Eu sei não ouvirias, estou certo. De tanto que vivi a te esperar, A tua ausência lembra-me um deserto.
Na noite que se esfria, tanta sede... Deitado sem ninguém; espero, enfim, Que chegues, devagar; na minha rede, E tragas todo amor que tens p’ra mim...
Aí, juntos novamente, minha amada; A vida não precisa mais recados. Esta fotografia emoldurada Trazendo as esperanças, doces fados...
E vejo, adormecida calmamente, A mesma languidez de antigamente...
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Não tenho mais o tempo de ir embora Eu quero aqui ficar ao lado teu, Amada como é bom saber agora Que o nosso amor enfim, tudo venceu... Venceu as profusões em mil ciúmes, Venceu as tempestades do deserto, Morria simplesmente sem perfumes, Puros queixumes sempre andavam perto... Amada não te esqueças de lavar A porta deste amor com água benta, Nem deixe mais por certo se levar Por dor tão sem motivo e violenta.. Te amo e nada mais posso dizer, Apenas que ao teu lado, irei morrer...
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Não vejo mais porquês e nem talvez O beijo anunciando o fim da história Depois de demonstrar desfaçatez Somente o teu sorriso de vitória.
Angariando sonhos abortados, Ao menos vislumbrei realidade. Se a sorte lança inúteis, fúteis dados Jamais pude escrever felicidade.
Matar os meus anseios, inda basta, Do quase faço o muito que hoje trago, Pertences; na verdade à outra casta Pedia pelo menos um afago.
E quando tu te foste sem adeus, Mataste sonhos tolos; porém meus...
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Não vejo mais porque seguir sozinho, Depois da noite imensa no meu peito, O amor que é sem juízo e não tem jeito Prepara no teu colo, um manso ninho.
Sentir no teu regaço qual gatinho Que encontra-se feliz e satisfeito Fazendo dos teus seios o meu leito, Sublime fantasia em que me alinho.
Sorrir de qualquer coisa sem sentido, Vibrar com cada frase que tu dizes, Deixando no passado os meus deslizes,
Destino num segundo resolvido, Na dança do arvoredo, o vento traz O sonho que eu busquei do amor em paz... Marcos Loures
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Não vejo mais o tempo que se fora Na aurora que deixara nosso canto. Amor que bate tanto desde agora Sumindo, me matando, perco encanto...
Eu quero teus queixumes e teu cheiro Voando sobre as tardes num festim Que faz o tempo andar ligeiro E brota tanta coisa bela em mim...
O gosto que me trazes, minha amada, É gosto desta lua e desse mar, Venceste com teus sonhos, madrugada, Agora na alvorada quer parar.
O sol nunca se impede de nascer, Espero do teu lado, anoitecer...
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Não vejo mais o sonho que tivera Esperando o dia que não veio O seio que me deste, da pantera Vertera em minha vida, sem receio...
No veio deste amor que já me entrego Integro meu desejo com o teu. Ateus, meus olhos nunca mais renego Qual cego cujo lume se perdeu...
Eu quero ter teu corpo no meu colo, Embolo meu destino em teu destino, Atino me arrastando sobre o solo, Assolo meu amor, me determino...
Exímios somos ambos tresloucados, Armados pelas bênçãos dos pecados...
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Não vejo mais o sol em minha vida, Apenas solidão que se aproxima. Amor e dor já fazem triste rima E não encontro mais qualquer saída.
No canto que me mandas, despedida, Parece que matando e sem estima, No peito, o sofrimento já se esgrima A mão que ter acarinha vai vencida...
Não sei por que tu foges deste amor Que assim tão visceral; tão inerente Foi tudo o que mais quis e de repente
Se esvai, matando a pobre e simples flor Que um dia, num jardim se fez contente E morre sem carinho e sem calor... Marcos Loures
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Nas brancas harmonias benfazejas Nos sonhos coloridos que provocas, As horas mais felizes que desejas São tantas quando enfim, tu já me tocas.
Nas tocas que escondera meu pecado Recados que me deste, puro gozo. Se tenho no meu corpo tatuado Amor que sempre foi tão vaidoso.
Amar é sentimento, em mim, latente; Que trago desde os tempos de menino. Na cama que singramos; mais ardente, O sentimento louco e cristalino...
Orgásticos delírios, alegrias; Rolando em nosso mundo, fantasias...
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Nas bocas que encontrando, tão distantes, salivas são trocadas, sem amor. Quem dera se pudesse, por instantes nelas perceber real calor.
Nos corpos misturados, cama e sexo, apenas o prazer pelo prazer, acordo, procurando qualquer nexo, mas nada que permita-me entender.
Apenas tua face em cada rosto espelhos onde busco mesmo a mim. Quando em lençóis desejo cede, exposto, mergulho sem limites, vou ao fim.
Depois da farsa inútil revelada, desnuda, outra mulher... Não restou nada... Marcos Loures
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Nas bocas que beijei; mesmo veneno. Na luz de cada dia, um novo amor. Nas cordas que se partem, tombo pleno Amor cortando em faca, sonho e dor.
Sem brilhos, mas tenaz, eu já te aceno. Prometo tão somente o meu torpor. Talvez por ser tão manso e tão sereno Não brotam as sementes, sem calor.
Mesmo assim ao sentir um ato falho Parece que das bocas que beijei Alguma poderá ficar comigo.
Sem temperos, faltando sal, sem alho; Amor que te proponho pede abrigo Em sonhos tão vazios, temperei..
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Nas beiradas das velhas moradias Da cidade esquecida pelo mundo. Reparando nas flores tão baldias Numa centelha, prendo-me um segundo.
E vejo entre essas flores rosa rara De perfume e beleza sem igual. Do jeito e da maneira que sonhara Com sensualidade natural...
Caminha sem sentir o seu encanto Nem sabe que seduz um sonhador, Meu peito em disparada neste espanto Se encharca do perfume deste amor...
A rosa, delicada e distraída, Invade, vem, decide a minha vida!
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Nas asas do pensar sou passarinho... Quem dera ter a fera dentro em mim, Saber se sou ou fiz,serei seu ninho, Roda da vida gira fui assim...
Nas asas dessas almas toco o pinho, Esqueço que ofereço esse jardim. Há tempos nos seus campos era linho, Teus bandos, um chorinho e bandolim...
Nas horas , nas auroras, madrigais; Nas casas, nas vielas, nos umbrais... Te temo e não te tendo, sou austero.
Nas voltas, meus volteios, sem revolta; Ausculto tuas culpas, sou escolta, Nas asas desse amor... Bem que te quero... Marcos Loures
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Nas asas deste pobre passarinho As dores que carrego na minha alma. Vivendo sem poder ter o meu ninho Nem mesmo essa saudade já me acalma...
Eu quero seu carinho mas cadê? Preciso de seu colo, minha amada, Vivendo tanto tempo sem você Esqueço, em minha vida, quase nada...
Amada eu sempre quis o seu amor, Mas sei por isso nunca mais vou ter... Não quero mais sofrer de tanta dor. Amada nos seus braços sem viver.
O que me resta enfim, amor apenas... Se passarinho eu sou, troco de penas...
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Nas asas deste pássaro liberto Sinais de um novo dia que virá, Mantendo o coração pra sempre aberto, O sonho sem surpresas voltará.
Nos braços da alegria, enfim, desperto, E teimo perceber que brilhará O sol que dominara este deserto E toma o meu cenário desde já…
No embalo deste encanto sigo em frente, Mudando o meu destino de repente Encontro o teu carinho e teu amor.
Da América do Sul ao Pólo Norte, Amorenada brisa nega o corte E voa libertário; este condor...
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Nas asas deste amor que me castiga Que trama meus pecados, salvação. Deitando em nossa cama minha amiga Encontro a divindade do perdão...
Eu quero te saber sem ter juízo Nas asas dos desejos incontidos. Sabendo que encontrei o paraíso Em todos os carinhos, e sentidos...
Mergulho no oceano do prazer Rolando em nossa cama, sem censura. Vivendo nossa vida, por viver Banhando meu amor, tua ternura...
E sinto nessas asas, liberdade, Tragando em nossas noites, claridade
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Nas curvas, o trenzinho vai sumindo.. Deixando para trás antiga história... Um futuro feliz, um sonho lindo? Paisagens destruídas na memória
Na fumaça distante se esvaindo Os sonhos tristes desta luta inglória. Quem nunca pensaria, vai partindo... Dor e tristeza; ausência meritória.
As mortes, velas, lagos e perdões... As luas, castos vultos, restos, trevas... As multidões, parcerias e levas.
Os apitos desunem corações... Ao mesmo tempo trazem liberdade no apito deste trem, uma amizade.
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Nas crisálidas da vida As horas passam depressa Tanta coisa adormecida Parece que não tem pressa
A porta da despedia Aberta nunca confessa Amar é bom sem partida Numa conversa começa..
Mas quando a noite machuca Amor não tem mais jeito A dor exige o direito
De sangrar, amor caduca, Claudica e nunca mais firma. Tanta dor amor confirma... Marcos Loures
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Nas cores que pintaste a nossa vida, A falsa sensação de claridade Mentira em maestria bem urgida No fardo que legaste, crueldade.
Deixando tão somente a velha ermida Aonde procurei felicidade Encontro a tua boca apodrecida Irônica expressão de pus e jade.
As Parcas, companheiras de teus lábios, Ourives da desgraça em olhos sábios Ferinas fantasias que me deste.
No olhar esmeraldino que me esgarça A marca penetrante da desgraça O vento amargo e louco, fúria e peste... Marcos Loures
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Nas cores luminosas, teu neon, Raiando nesta cama seus mistérios, Amar é se fremente e ter o tom Do dom de se entregar sem ter critérios.
Eu quero os madrigais esplendorosos Recíprocos estios numa aurora. Vestindo nossos sonhos olorosos Eu quero-te depois, mas venha agora.
De bênçãos e carinhos inundado; Meu fado é teu destino, sem temor. Eu trago meu jardim bem cultivado Pois sei quanto é difícil ter amor.
Nas cores cristalinas, diamantes. Forrando nossa cama, deslumbrantes...
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Nas cordilheiras procurei seus cimos, Andino, um coração de Sulamérica Nas mãos de nossos povos, velhos limos Se limparão de gralha mais histérica...
Tantas dores passamos, cremos, vimos... Nos olhos da criança pobre, ictérica, Sombrios maltratando o que sentimos... A Terra não merece, sendo esférica
Seus filhos esgotados nas senzalas... Latinamericano com orgulho! Nas costas já lanhadas pelas balas
Assassinas, cruéis desses bandidos... Façamos liberdade, desse entulho Do velho tempo. Novo mundo erguido!!
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Nas convulsões eternas de minha alma, Cismando pela vida, busco a morte. Encontro no vazio a plena calma, No nada é que me sinto bem mais forte.
Jogado nas esquinas, nas sarjetas, Bebendo a solidão, embriagado Amores se passando quais cometas Deixando o que restou abandonado.
Não quero o teu carinho, os teus retratos Rasgados e queimados já faz tempo. Os beijos que recebo destes ratos Ao menos servirão de passatempo.
A vida que não tive, assim perdi, Pensando o tempo todo, só em ti...
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Nas conchas, nas areias, nas marés, Nas ondas deste mar, uma alegria. Distante dos problemas, sem revés Eu sinto esta presença que eu queria, Seguindo cada rastro dos teus pés Encontro uma sereia. Primazia
De quem sonhou demais amor imenso, De quem já vislumbrou teu olhar manso. No meio de teus braços recompenso, E novamente em ti, nunca descanso, Tu sabes que somente em ti, eu penso, Teus olhos dentro em mim, sempre os alcanço,
Um paraíso em ti eu vislumbrei, E nele, com ternura, eu me encontrei..
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Nas colchas de cetins, lençóis de renda, A doce fantasia nos despindo Desejo que o teu corpo sempre atenda Momento preconizo, raro e lindo.
Desnuda em minha cama, a bela senda Que aos poucos com prazer vou descobrindo, Emblemático caminho, amor desvenda Descortinando o sonho que deslindo.
Tocando a tua pele, extasiado, Bebendo cada gole a me fartar, Depois de novo, insano caminhar
Guardando no meu peito, deste prado Imagens tão fantásticas, perfeitas, Que vejo no meu leito quando deitas... Marcos Loures
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Nas cinzas espalhadas pela casa, As marcas que deixaste na minha alma. Nem mesmo a embriaguez me traz a calma, Tampouco o sonho inútil inda me apraza.
Disfarço os sentimentos rindo à toa. A vida não passou de uma mentira. Por mais que a realidade venha e fira, Eu tento imaginar que a vida é boa...
Seria muito bom poder te ter, Talvez não precisasse mais mentir. Insanidade tomando o meu ser,
Nas fimbrias destes sonhos eu me agarro, Porém o meu final vejo surgir Na lenta morbidez deste cigarro..
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Nas cinzas do cigarro, uma lembrança Deixada por quem amo. No saveiro Dos sonhos me restou esta esperança Jogada sobre a cama, num cinzeiro.
Amor, onipotente, trama a dança Na qual mergulho insano, por inteiro. Da vida que queremos, a fiança, Nas horas mais difíceis, companheiro...
Se não fosse esse amor que me domina, Não sei, da minha vida, o que eu faria. Bem sei que uma saudade desatina,
Calando cedo a voz de uma alegria. Mas se não fosse amor, tesouro e mina, Disperso como a cinza, enfim, seria... Marcos Loures
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Nas cinzas de um cigarro o meu retrato, Fumaça dos meus sonhos se perdeu. O tempo se perdendo a cada fato O que resta de mim sequer sou eu.
Não tendo quase nada vivo farto Nem mesmo uma tristeza me esqueceu; Felicidade vira um desacato Quem fora uma esperança já morreu.
Quem sabe, na amizade uma alegria Mudando o meu destino num momento. Matando o tão terrível sofrimento
Fazendo renascer mais claro o dia. Não quero mais viver só em lamento, Nos olhos desta amiga, estrela-guia... Marcos Loures
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Nas catedrais, coração. Os templos gigantescos. Procriando seu perdão, Todos meus sonhos dantescos...
Nos minaretes, islão; Dos reinados nababescos, Procurei viver o chão. Novos cantos pitorescos...
Meus amores, catedrais, Risos se confundem pranto. Nas orgias, carnavais.
Os olhos cansados choram... O que pasma, tanto encanto... Minhas orações te imploram! Marcos Loures
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Nas catedrais fantásticas que levo, Os templos dos amores esquecidos... Sofrimentos terríveis que relevo, Os tempos dos pretéritos, olvidos...
Nas ogivas dos templos, meu enlevo, Nas memórias saudosas, tempos idos. Sempre que estou vazio, quase elevo Meus olhos para os altos reunidos...
Neles, os meus amores se concentram Na súcia das tristezas e das trevas. Os medos, as vergonhas lá se adentram
Brandindo as multidões dos meus fantasmas... Nas catedrais esfrias, gelas, nevas, Congelas meus rancores, mil miasmas... Marcos Loures
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Nas cartas que mandaste, a sensação Reviva das tristezas que passei. Qual faca penetrando o coração As lutas dolorosas que travei,
No cheiro putrefato do porão Por vezes, tantas vezes me esmerei Tentando transformar a dura lei Que leva a quem se entrega à solidão.
Nas cartas que mandaste; uma esperança Um sonho tão bonito de viver. Nascendo nesta merda, uma criança
Que breve nos fará recrudescer A luta contra o mal que já se avança Tentando uma alegria subverter.
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Nas cartas que mandaste para mim Eu vejo repetida a mesma história, Terrível ladainha não tem fim, A lua deste amor é merencória.
De tudo o que vivemos, uma escória Restando trama a seca no jardim. Não pude contemplar gozo ou vitória Mecânica emoção morreu enfim.
Eu peco por tentar ser tão teimoso Resquícios de um sonhar maravilhoso Aborto de esperança, nem placenta
Sobrou da fantasia cega e tola, O frio em nossa casa agora assola Matando displicente esta tormenta... Marcos Loures
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Nas cartas que mandaste há tanto tempo... Lembranças esquecidas sem encanto. Da vida, acumulando contratempo, Levando uma mortalha em desencanto...
Não quero teu perdão, isso dispenso... Jogadas sobra a chama da lareira, Nas cartas que se foram já não penso, Queimada, num segundo, a vida inteira...
Cartas deste amor que proibia O sonho de viver outros planetas... A mão que me continha em agonia, Expressa nessas cartas, nas canetas...
Amada que se foi levou a vida, Restando só as cinzas, despedida...
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Nas canções mais bonitas que fizeste Com notas tão suaves, encantadas, Curando quem vivera em plena peste, Trazendo a boa sorte em mil lufadas.
Jamais que a dor retorne e assim me infeste Depois de dolorosas madrugadas. A vida não permite um novo teste Nem quero minhas noites lacrimadas.
Canções tão delicadas, me entregavas Salvando quem vivera mãos tão frias, Tirando de meus olhos, suas travas.
Pantanosas manhãs? Jamais, querida. Corriges meus defeitos, avarias, Amiga refizeste a minha vida!
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Nas brandas e suaves melodias Que em versos te dedico, sem temor... Amada, como explodem alegrias, E como, enfim, renasço em pleno amor...
Nos campos que vaguei tão solitário Vivendo sem saber se sou feliz. Dos rios deste amor, seu estuário, Termina no destino que mais quis.
Nos braços da morena tão singela Que dorme tão calada nesta cama... A vida recomeça depois dela, Amor já se explodindo em bela chama.
E chamo por teu nome num momento, Amada tenho amor, merecimento... Marcos Loures
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