Quero acabar a noite em ti

Data 23/12/2010 02:20:20 | Tópico: Poemas

Quero acabar a noite em ti…
Despercebido e imenso como um nada ao acaso.
És-me as horas vagas na minha síncope escapatória á vertigem.
Assino-te como um caderno diário, perfumado e agridoce.
Abstracção…e pode o mundo acontecer em tragédias, que o meu olhar recusa o ódio e folga vegetativo no teu corpo sereno.
És uma brisa de lágrima que inspira a dilecção.
Tenho logrado meus pés nas intempéries, perdido por chãs remotas em jornadas de revolta onde não está o teu olhar amplexo.
Esse que acalma as contradições do meu génio inquieto e assassina as mágoas redundantes.
Quero acabar a noite em ti…
Na cercania desse vento terno que esboças na tempestade quente de um sorriso virgem.
Desvelo atento mas tão ténue que me cicatriza os males do mundo no afago da tua atenção.
Já me perdi para sempre onde sempre me encontraste…
O teu corpo, é uma estrada que acaba na cúpula quase materna da quietude dos teus olhos.
Se pudesse comprar destinos, investia os meus futuros a inventar dias ditosos.
Deus que nunca existe em mim, quer a vida que te tenha, para me indultar os defeitos.
E fui chuva e fui lama, infecção e invernia, condimento exagerado na condição do nosso afecto.
Tenho os dias do desespero tatuados como feridas num longínquo lembrar d’almas.
São sombras que me distraem do teu dar desprendido das asperezas da existência.
Nunca agradecemos um ao outro, o tempo nem os olhares, que gastámos no caminho…
Só no término das batalhas que afogam os dias colossais num mar de desejo e querer
Falamos fecundantes nas madrugadas sublimes que nos guiaram a acordar aqui…
Sem culpas nem julgamentos pronunciamos o para sempre na abstracção dos porquês.
Despercebidos e imensos como nadas ao acaso…
Quero acabar a noite em ti.


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