
MEUS SONETOS VOLUME 112
Data 25/12/2010 13:55:43 | Tópico: Sonetos
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1
Nos braços da sereia, a perdição, “Amor sendo infinito enquanto dure” Estrela divinal que se procure Causando a mais sincera convulsão.
Cansado de ter sempre o mesmo não, Da solidão sorriso, agora cure, E mesmo que em verdade não perdure, Expresse a mais sublime sedução.
Encontros pela vida, tantos tive, Em desencontros tolos me perdi. Lugares tão distintos onde estive
Porém, felicidade existe em ti, Mas quando a morte, um dia me calar, Eu posso enfim dizer: eu pude amar! Marcos Loures
2
Nos braços da paixão, firme novelo Convido à contradança a moça bela, O vento que se entranha, posso vê-lo Tocando a tua pele e me revela
Um gosto de infindável maravilha, Selando o nosso sonho, leva ao céu, Um pássaro liberto dessa anilha Levado em fantasia segue ao léu.
Mas tendo a tua mão que me conduz, Eu posso perceber com liberdade A noite que se faz em plena luz Estrelas que derramam claridade.
Assim, no amor, a sorte que se alcança Permite imaculada, a nossa andança...
3
Nos braços da morena, eu já me apego, Roçando corpo a corpo, o fogo acende. No jogo em que me afogo, amor carrego, Não tendo mais corrente que me prende Por mais que tantas vezes siga cego À luz do teu olhar amor ascende.
Morena em cada cena sou teu par, Percorro este cenário e vou liberto Do quanto que aprendi contigo a amar É tudo o que desejo, um rumo certo. Meu passo mesmo manso e devagar, Nos passos da morena eu sempre acerto.
Atores desta peça interminável, Na mina em que se emana água potável... Marcos Loures
4
Nos braços da amizade encontro o remo E o rumo que deveras procurara, O quanto nosso trato, assim supremo Permite que esta vida siga clara.
Vencendo as mais difíceis armadilhas Que a vida nos prepara e nunca poupa Reveste em alegrias nossas trilhas, Uma esperança imersa em fina roupa.
Do quanto que na estopa do passado Agora se bordando em fios de ouro Futuro possa ser iluminado E a paz nosso sublime ancoradouro.
Assim, amiga eu vejo a solução Matando em nascedouro a solidão... Marcos Loures
5
Nos botecos da cidade Eu me sentindo em Havana Cativa sinceridade Quem conhece não se engana.
Maria da Soledade Minha Musa soberana Entranhada na saudade Transformando noite insana,
Aguardente que me traga A noite nunca tem fim. Boneca de porcelana
Nos seus dentes de marfim, Rosário de perna abana E me engole feito draga...
6
Nos beijos que trocamos, mil mergulhos Vontade de ficar e não sair. No mar de nosso amor, tantos marulhos E os sinos, repicando... Vou pedir
Que Nunca mais ressurjam pedregulhos Que nada mais irá nos impedir Nem medos, nem temores nem orgulhos Feridos, que nos possam distrair
Do rumo deste amor que é meu encanto Do canto deste amor que é meu aprumo. Vivendo no prazer de ter teu canto,
Sabendo que jamais te perderei, Agora novamente acerto o rumo, E vivo minha vida como um rei.
7
Nos beijos que passeiam sem juízo, Vertendo em mil loucuras, o prazer; As bocas chegarão ao paraíso, Caminho tão gostoso a percorrer.
Nos arrepios fortes, os gemidos, Sussurros que não pedem tradução, Os dedos se misturam, decididos, Alagam de desejo e de paixão.
Quero te beijar, tão manso, os pés, E viajar teu corpo sem demora, Meu mundo se perdendo em teu convés Toda esta beleza, tenso, explora,
Na noite prometida, sem barreiras, Sabor destas entradas e bandeiras...
8
Nos beijos e carinhos, nossos tráficos Uma expressão fantástica de paz Capaz de sonegar momentos trágicos No quanto amor se entrega, um sonho traz.
Sereno sentimento, vento manso, Helênica beleza na mulher Que em plena tentação agora alcanço, Remanso em transparência que se quer.
Sequer guardando sobras ou retalhos Atalhos descobertos mudam sinas, Das árvores em flores, ramos galhos Tu sabes quantas vezes me dominas
Minando estas defesas que eu tivera, Dignificando amor em primavera...
9
Nos bares e botecos que bebemos As horas vão correndo sem sentirmos. Do mundo que viemos não sabemos O quanto que é preciso dividirmos.
As noites se passando nestes bares
Em meio a tantas festas que fazemos. A cena se repete por lugares Distantes dos planetas que viemos.
Falamos de batalhas, velhas lutas, Lutamos por viver em liberdade. Brindamos às mais belas prostitutas Que rondam nestes bares da cidade...
Amigo, tanto tempo se passou, Prostitutas... O bar... O que restou?
10
Nos bares da cidade em noite clara, Olhares são trocados, sexo e riso. Amores que em motéis a noite ampara Vivendo num momento, o paraíso.
Os corpos desnudados, cara a cara O beijo se tornando mais preciso; Nas raves, nas baladas, se dispara O mar extasiante sem aviso.
Nas coxas das meninas, olhos fixos, Fetiches e loucuras, sangue e gozo. Amando em profusão qual fossem bichos
Rolando pelas ruas, os desejos, Sorvendo mil prazeres, caprichoso O mundo transtornado, sem ter pejos...
11
Nos arredores da cidade, engano. Abertos sentimentos, em saudade. Vagando sem destino, qual insano, Na busca por amor ou amizade.
Todo o pó desta estrada quando espano Rebrilha com um ar de falsidade O medo que me toma, desumano, Esconde em verso triste, esta verdade.
Nas mãos que cultivaram, um rastelo Deixou a dor por certo em cicatriz. No canto de quem fora mais feliz,
Apenas um retrato em que revelo, A sorte de viver só por um triz, Querendo, minha amiga, o teu castelo...
12
Nos áridos caminhos desse amor Que trama tantas urzes quanto espinhos Trazendo tanto frio no calor, O medo de morrermos tão sozinhos...
O fogo que queimando nos impede De termos nossos rumos sempre abertos, Amor que tanto cobra e tanto pede Deixando nossos olhos descobertos.
Amor que dilacera, seta, espadas, Nos campos mais terríveis de batalha; Nas buscas das manhãs, das alvoradas, A dor que recolheu também espalha...
Amor de flamejante tentação, Abrindo em seu caminho, o coração!
13
Nos arcos onde somos também seta Amor fazendo sempre confusão. Quem dera se eu pudesse ser poeta Talvez eu vislumbrasse solução.
Porém amor se torna sonho e meta Deixando para trás a sensação Da vida se mostrando mais completa Embora traduzindo turbilhão.
Eu quero ser teu cais e teu saveiro Vivendo este tormento alvissareiro Em forças desiguais, somos mutantes.
Ao mesmo tempo enquanto tu não vens Percebo as maravilhas das miragens Nas bocas que encontrando; tão distantes. Marcos Loures
14
Nos ajuda a navegar Cada sonho que se trace, Mergulhando no luar Sem ter nada que me embace
Venha ser amor e par No perfeito desenlace Quem te viu já quer provar, Sem temor e sem disfarce.
Alimenta o coração Tanto gozo prometido Nesta nova direção
O meu passo segue audaz. Todo o bem já prometido Nosso amor, decerto traz... Marcos Loures
15
Nos corpos sem fronteira, eu já me abrigo Nas locas, tocas, furnas eu me entranho, No gozo insaciável eu persigo O amor que assim se dá, forte e tamanho.
Total insensatez em fogo intenso Estampa nos teus olhos maravilhas, Urgências nos tocando, eu quero e penso Poder já desvendar as tuas trilhas
E ter a recompensa mais gostosa Na orgástica loucura que se entorna, A noite que se dá maravilhosa Decerto em lua intensa ela retorna
Trazendo a mesma sede que inebria No jogo que nos doma e sevicia... Marcos Loures
16
Nos corpos mutilados de crianças, A vida transcorrendo calmamente... De nada servirão, as tais lembranças. Não restarão sequer na nossa mente.
As fotos de famintas esperanças; Esquecidas, jogadas, simplesmente... A morte sem sentido, mas não cansas De tentar prosseguir, vida demente...
Tenho todo cansaço e sangro à toa. A vida, bem sei; vida é muito boa... Pena que esses retratos não se calam...
Toda boca faminta de justiça Recebe, em troca, escarro da cobiça. Em silêncio, pedindo, nada falam...
Marcos Loures
17
Nos claustros dissemina-se a luxúria! Muita vez em onânico romance Aquilo que p’ra outrem mostra-se incúria Para outros, do prazer única chance. Nas faces mais venais em plena fúria Inveja de quem tem a performance
Mais sublime num ato em que se faz Com toda plenitude soberana Caminho bem mais certo que ao nirvana Se mostra verdadeiro embora audaz. Um gesto corriqueiro em que se explana Do que nossa Natura é mais capaz.
Nem sempre se é possível um dueto, Por isso amor, em solo, eu me arremeto...
18
Nos céus de nosso amor, claros espaços Abrindo em leque imenso, as esperanças. Nos olhos penetrantes, frios aços, Licores inebriam. Festas, danças.
As penitências geram feras mansas, Os olhos se tornando bem mais baços, Enquanto os altos cumes; cedo alcanças Os corpos remoídos deitam; lassos.
Os laços que nos unem sendo frágeis, Embora em plena fuga sejam ágeis, Rompendo no momento mais azado,
Permitem que eu me esgueire pelas ruas, E vendo estas paredes negras, nuas, Pensara que já fora derrotado. Marcos Loures
19
Nos cascos do cavalo que montei, As horas que passamos não têm preço. Nas léguas que caminho, perco a lei As crinas das meninas adereço.
O talhe de teu rosto que sonhei Não posso descobrir, está do avesso... Paixão que no deserto não deixei. O dono do cavalo foi o rei...
Patrício de meus sonhos quer maneira De mergulhar insano no passado. Amante que não tive, é estrangeira,
A tarde se desfaz nessa penumbra. A morte que me deste, assim assado. Na ponte das traíras se vislumbra... Marcos Loures
20
Nos canteiros mais belos da esperança plantei a rara rosa mais perfeita. Menina que recordo em fita e trança florindo em minha vida já refeita do sonho que se fez em gozo e dança. Agora em vivo amor, vai satisfeita.
O céu que te encontrou me trouxe o brilho no qual eu me matizo todo dia. Cantar o santo amor como estribilho fazendo deste canto em poesia o rumo em que, feliz, eu sempre trilho, deitando-me nos ombros da alegria.
Tu és todo o perfume do jardim que, um dia, Deus guardou só para mim... Marcos Loures
21
Nos campos que diviso, florescentes, As lágrimas me deste com ardume Nas ânsias dessas dores envolventes Amores vão perdendo o seu perfume.
Não deixe que os medos mais potentes Transbordem em correntes de ciúme As mãos que se procuram, diferentes, Ao mesmo tempo abraçam meu queixume.
Toda a minha tristeza se destila Em versos que não posso concluir. Amor ao mesmo tempo me aniquila
E traz essa certeza, desventura. Nas flores nosso amor vai confluir Salvando-se quem sabe, na ternura... Marcos Loures
22
Nos campos mais formosos d’onde vens, As águas violentas deste rio... Escondes as malícias, más origens, No prado verdejante deste estio.
Recebendo as mensagens dessas nuvens, Espreito teu olhar tão manso e frio, Quem prometia calmaria, aragens, Demonstra um coração falso e vazio.
Nas cores maviosas deste abril, Os olhos da pantera se disfarçam, O céu emoldurado, belo anil,
Transmuda-se feroz quando sorris, Destinos diferentes já se traçam... Com outra, eu te garanto, fui feliz! Marcos Loures
23
Nós caminhamos juntos pela vida... Deixando nossas marcas no caminho; Em cada novo dia, a despedida, Desfeita em mil promessas de carinho...
Nós caminhamos juntos lado a lado, Embora tantas vezes mais distantes. Amor sempre compensa apaixonado, Vivendo da loucura, dois amantes...
Que sabem muito bem o quanto dói Saudades de quem tanto se quer bem. Amor em desamor cedo corrói, Depois de pouco tempo, sem ninguém...
Mas quando, em nosso caso, tanto amor; Desfaz-se e se refaz em pleno ardor...
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Nos bronzes da memória esculturada, Eu vejo esta mulher que não esqueço. U’a página da vida amarelada, Guardada com carinho e tanto apreço.
Nada apaga esse nome, nem a foto Batida há tanto tempo, na emoção; Parece que foi ontem, mas remoto, O tempo que tivemos em paixão.
E nada apagará o que senti, Nem mesmo esta distância insuperável. Vivendo a fantasia, estou em ti; Sentindo o teu carinho desejável.
Me falam que morreste. Que mentira. Tu vives bem aqui. Nada te tira...
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Nos braços; eu te oferto mil amores E todo o sentimento que quiser. Nós somos dois amigos sonhadores, Lutando contra tudo o que vier.
Eu ofereço a ti, querida, as flores Que representam sempre uma mulher, Nascendo no meu peito os redentores Momentos mais profundos, sem quaisquer
Empecilhos que impeçam nosso rumo Na busca pelo sonho, ser feliz, Contigo, companheira, eu me aprumo
E faço desta vida o que bem quis. A lua que nos cobre, traz o brilho, Mostrando que amizade é nosso trilho...
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Nos braços indiscretos de um amor Às vezes eu acerto o meu caminho, Porém o desacerto faz seu ninho, E toma todo o cais, estivador.
O peso que carrego em pranto e dor, Enquanto na verdade em desalinho, Nos colos de outros sonhos eu me alinho, Resumos de um eterno sofredor.
Alvíssaras e augúrios tão diversos, Prenúncio de um difícil caminhar. Alvorecendo em névoas, solitário,
Estendo meu olhar por universos Não tendo nem reflexo a contemplar, Nos sonhos: pesadelos, medos vários... Marcos Loures
27
Nos braços estendidos, a esperança De termos novos dias mais audazes. Passado adormecido na lembrança Tramando novos sonhos mais capazes.
Eu quero mergulhar nos teus espaços Vergel deste futuro que ansiara Cabendo nestas matas, nossos passos Na busca esmeraldina, jóia rara...
E sinto nos teus olhos, verde-mar As cores necessárias para a vida. Ensina-me, querida, o que é amar, Lição que dentro da alma está perdida...
Eu quero deste verde em seu matiz Uma esperança inteira: ser feliz!
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Nos braços deste nobre jardineiro, Amor já se pretende em colibri, Voando sobre um céu chega ligeiro Na flor maravilhosa que hoje eu vi.
Menino sonhador, agora velho Guardando o tempo inteiro esta esperança, Amor no qual em paz procuro espelho Causando no meu peito, temperança.
Às franjas desta lua, a serenata Em trovas, delicados madrigais, A lua que ressurge cor de prata Estende raios belos, magistrais.
Assim, um sonhador em versos canta Amor que nos recobre, rara manta...
29
Nunca mais irei cantar, Se não tenho junto a mim, Esta estrela que ao brilhar Toma conta do jardim. Quem me dera te encantar Neste amor que não tem fim.
Sem temer qualquer tempesta, Coração aberto e leve, Este amor é o que me resta, O meu verso já se atreve Poesia traz a festa Afastando frio e neve.
Venha ser a companheira Que sonhei a vida inteira...
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Nunca fomos comparsas nem amigos, Catalisamos várias tempestades... Corremos os diversos vãos perigos, As marcas que ficaram são cobardes...
Os pastos que venci, nossos umbigos, A terra não permite falsidades, Não posso competir versos e trigos Com olhos que teimaram santidade!!!
Se vi, depois da curva assassinato, Não queimo meu quintal nem meu jardim. O parco que me embarco, simples mato.
Amor que tempestuo chega ao fim... Na porta que futura meu retrato, Pasmado, meu passado morto em mim... Marcos Loures
31
Numa uniformidade que, bendita, Torna-nos prisioneiros e libertos, Os passos que já foram mais incertos Reféns de uma comum e bela dita,
Lapidam a raríssima pepita Deixando bem distantes os desertos, Mostrando que em caminhos tão abertos Uma alma que em outra alma já acredita
Percorre um infinito em mesmo passo, Os rastros sendo os mesmos nos permitem Falarmos de união, um comum traço
Que faz-nos diferentes, mas iguais, Sem fronteiras, divisas que limitem Em eclipses divinos e totais... Marcos Loures
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Numa tenda, desértica paisagem... Tempestades de areia, ventania... Pensamento pedindo uma passagem Que faça renascer tal fantasia...
Distante de teus olhos, u’a visagem... A lua no deserto em pleno dia... O que quer me dizer essa mensagem? Eu me recordo, pleno de Maria...
Maria que se foi do meu camelo, Esperança mediúnica fugiu... Essa areia penetra em meu cabelo...
Maria onde estará? Ninguém a viu... Numa tenda, desertos por passar... Maria, refletindo esse luar... Marcos Loures
33
Numa luta incessante pela vida Algozes e canalhas no caminho. A sorte quase sempre em despedida Ausência de amizade e de carinho.
Coração tropical alma perdida Na lâmina cruel, amargo vinho. A luta tantas vezes já vencida O canto se tornando vão, sozinho...
Rosas distantes, mãos encarceradas Em tal profundidade, o desamor. As hóstias da esperança destroçadas
O parto da promessa em frio aborto. Apenas o sorriso por pendor Irônico caminho, cego e morto...
34
Numa ilusão divina, devaneia O pensamento e encontra esta mulher Maré feita esperança sempre cheia, Expressa todo o bem que já se quer.
O rio vai descendo em cachoeiras, Nas curvas e meandros toca as margens. Descendo por teu corpo em corredeiras, Bendigo, extasiado, tais viagens.
Neste desenho mágico, eu me embrenho Invado tuas matas ciliares Beleza ao meu dispor, não me contenho Adentro o mais sublime dos altares
No quadro divinal a se compor, Sobejas esperanças; traça amor. Marcos Loures
35
Numa ilha isolada No meio do mar Estrela dourada Fazendo sonhar
Na lua encantada, A praia a beijar Mostrando que nada Nos vai separar...
Netuno sou eu Querendo a sereia Deitada na areia,
Amor concebeu A filha da lua, Que enfim, beijo... nua
36
Numa hora branda, plena de ternura Caminho sob os raios do luar... Sabendo que passamos tal tortura Espero nesta curva o teu olhar.
Ouvindo num murmúrio, a mansa fonte Que tantas vezes mata nossa sede, Olhando para a lua no horizonte Espero descansar em seio e rede...
A noite é calma e longa... A madrugada, Trazendo a brisa mansa em calmaria, Deitados, descansando nesta estrada Aguardamos nascer de novo dia...
E peço teu amor, p’ra sempre, agora, No brilho e maravilha d’uma aurora!
37
Numa explosão extrema em cada passo Caminho entre os espinhos, pedregulhos, Ouvindo nas marés, loucos marulhos, Meu peito vai se abrindo e cede espaço
Um novo amanhecer, agora eu traço, Deixando para trás velhos entulhos, Enterro o que guardara, meus orgulhos Fortalecendo assim, os nossos laços.
Aprendo estas lições que me ensinaste, Contendo uma erosão, cessa o desgaste, Atada em nossos pés a mesma anilha.
Fomento uma alegria renovada, Depois da dura e fria madrugada, Um novo alvorecer, meu canto trilha.
38
Numa explosão de lúbricos desejos Nas penumbras, ritos sensuais. Vou roçando meus lábios, tatos, beijos... Explodem em delírios tão carnais...
Corôo meu mergulho no teu mar Navego cada gota de suor.
Procuro cada ponto vasculhar, Vontade de te amar é bem maior...
Seu corpo debruçado sobre o meu Num colossal furor que se explodiu. De tanto amor que amor se renasceu Embrenho em teus caminhos til por til...
Transfundo pro teu corpo meu prazer; Encharcas-me; vontade de viver!
39
Numa esperança viva, ela agoniza, E morre pouco a pouco, lentamente, Quem fora sempre sórdida, inclemente, Transforma-se num vento manso, em brisa.
Às vezes um sorriso mimetiza, Retrato que se mostra opalescente, Porém amor já deixa transparente E o sentimento em paz à glória visa.
Ao vê-la padecendo, eu regozijo De todos os temores já me alijo, Recebo o bom frescor da primavera.
Ao ter do manso amor clara certeza, Levado por divina correnteza, Esqueço a solidão, temível fera Marcos Loures
40
Numa emoção sincera Ele se encerra E faz bem mais possível ser feliz. Palavra que se espalha em vale e serra Do puro amor sagrado já nos diz.
Meu peito em sofrimento se desterra Sentindo que o amor vai por um triz. Porém uma esperança se descerra Mudando todo o céu, novo matiz.
Nas cores e nas crenças tão diversas, Por mais que sejam almas mais dispersas Ao crerem neste ser que nos criou
Os homens podem ter uma esperança Em toda humanidade esta aliança Do amor que em amizade transbordou. Marcos Loures
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Numa corbelha de rosas Num buquê tão perfumado. Tuas mãos tão olorosas Colibri apaixonado
Recolhe pólen da flor Engravida, faz feliz. Assim também nosso amor, Do jeito que a gente quis...
Recebendo teus anseios Na maciez desta pele Na beleza dos teus seios Tanto desejo compele...
Na beleza toda nua, De prazeres, vai, flutua...
42
Numa certeza plena em recompensa Eu procurei reconhecer o amor Em sua face mais cruel, propor A nossa vida com certeza intensa.
A lua cheia que se fez imensa Banhando a Terra num clarão, louvor, Na claridade poderá compor Um sonho lindo que do amor convença
Felicidade; um mero sonho em vão, Tomando tudo, renegando o chão As rosas em caminhos espinhosos,
Um vaga-lume poderá dizer Dessa mistura feita em dor/prazer Amores, sofrimentos ,risos, gozos..
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Numa carícia densa e tão suave Espero te encontrar e decifrar-te Que a vida não nos traga mais entrave Que amor seja movido ao poder da arte.
Que as frases que me dizes com ternura Nos façam mais unidos pela glória. Que sempre se demonstre tão mais pura A luz que nos mostrou nossa vitória...
Meus olhos hão de olhar o meu futuro Imerso nos teus olhos refletores. Por mais que nosso chão pareça duro, Recolha com carinho nossas flores.
Se nunca amei demais agora sei, Por certo, na verdade, nunca amei!
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Numa amizade imensa, eu descortino, Futuro mais gentil em gozo pleno. Seguindo da alegria cada aceno, Eu volto num momento a ser menino
Que tantas vezes sonha com destino Que seja vigoroso, mas sereno, E quando em mar bravio eu me enveneno, Ouvindo a voz amiga já me domino
E cevo a mais perfeita floração Que é feita com real dedicação, E sempre valoriza o jardineiro.
Assim ao ter nas mãos o meu futuro, Encontro a maravilha que procuro Trazendo a placidez ao meu ribeiro... Marcos Loures
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Numa álgida saudade, a minha vida Aguarda pelo sonho em liberdade, De ter sua missão feita e cumprida, Podendo renascer em amizade
Aquela sensação de estar perdida A luz que nos guiava, na verdade, É quase ladainha tão comprida Que trama, pouco a pouco ansiedade...
Meus olhos são dois velhos camponeses, Cevados em tristezas e martírios. Meus versos se inebriam em delírios
Na angústia que se mostra tantas vezes. Porém a sorte grande já se abriga Na tua mão mais forte, minha amiga...
46
Numa álgica expressão, calor e medo, Senzalas e medonhas tempestades. O amor ao decifrar cada segredo Perambulando à solta nas cidades;
Enquanto nos condena ao vil degredo, Esboça num sorriso falsidades, Mudando vez em quando cada enredo, Irônico nos traz ansiedades.
Fogueira das vaidades incendeia, Nos laços sem pudor, a frágil teia Tecida por aranha traiçoeira.
Invento um Paraíso que não creio, E sem querer, insano; chamo e ateio Fomentando afinal, esta fogueira...
47
Num vendaval, a insana tempestade Fornalha de fulgores indizíveis, Potências em vigor e claridade, Fazendo nossas noites mais incríveis.
Nos paços, praças, passos liberdade, Dois corpos que se tramam invencíveis Voando por espaços, veleidade, Luxúrias e desejos infalíveis...
Em êxtase, enlanguescem quando abarcam Mil sóis feitos fogueiras e calores, Nem mesmo satisfeitos não atracam,
Encaram terremotos e tempestas, Adentram turbilhões explodem cores, Em fogos de artifício, gozos, festas... Marcos Loures
48
Num vendaval divino e tão fantástico, A sensação de ser, enfim, feliz. No gozo mais convulso, o corpo espástico O todo que eu desejo e sempre quis
Na trama deste amor, puro e bombástico Deixei de ser apenas aprendiz. Na doce profusão um sonho orgástico Deitando inundação qual chafariz
De mucos e salivas misturados, Arrebentando assim, uma barragem Carinhos tão audazes sem pecados,
Vorazes nossos corpos se procuram, Fazendo pelas noites tal viagem, Prazeres quando eternos se perduram...
49
Num toque deslumbrante, iridescente, Após a chuva intensa em sol brilhante A gente se treslouca e de repente Demonstra-se em audácia, provocante.
Sugando a sacra seiva qual demente, Um gozo tão real e mais constante Vontade não se afasta mais da gente Na trama sem igual e inebriante.
Depois da tarde morna, em vão marasmo, Um chafariz explode em tanto orgasmo, Vibrando numa uníssona vontade.
Arrancas em suspiros e gemidos, Caminhos tão gostosos percorridos, Trazendo ao nosso amor; paz, liberdade... Marcos Loures
11150
Nuvens negras, no céu plúmbeo, escuro... Não deixa nem promessa de bonança... O rosto que enrugaste, forte, duro, Mortalha do que fui, nem esperança...
O tempo me apodrece, me maturo, Não resisto, morreu esta criança... O céu vai refletindo, não me curo; A mocidade vive na lembrança...
Reflexos dessas nuvens, a minha alma... A vida já deixou de ser risonha... Já morta a juventude, nada acalma...
Não posso resistir à natureza... Quem morre devagar, nunca mais sonha, De tanta tempestade, uma tristeza...
51
Nuvens de algodão tomando o céu, Em formas tão diversas e mutáveis Lembrando-me de dias mais amáveis; Porém a vida expõe seu carrossel
E torna assim amargo o antigo mel Momentos que julgara intermináveis, Imagens delicadas e incontáveis, Tomando este horizonte em branco véu...
Agora nuvens grises se aproximam Formando este cenário plúmbeo e fero, Desejos e pudores vãos se esgrimam
E tudo o que eu queria se afastando E quando neste inverno eu me tempero, O céu outrora claro se nublando...
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Nus tempo que nóis era mais filiz E nunca apercebia munto bem. Levano a nossa vida por um triz Sodade desses tempo vai e vem...
Vévia te quereno; o que se diz De uma cabra apaxonado por arguem Se pudesse fazê o que bem quis Num sobrava mais nada nem ninguém...
Vancê vinha cuns decote tão fermoso As maminha zóiava. Ô trem bão... Uns perfume de frô. Era gostoso
O tempo que passamo mais se foi... Sôdade martratando o coração. Mugino de tristeza como um boi...
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Nunca tome cuidados com a vida Viva e nunca pergunte: perfume! Permita que a vontade; sim, decida. Toda matéria orgânica é estrume.
Por isso, meu amigo toda a lida Tem sua face escura e também lume A porta da chegada e da saída A mesma, como sempre; de costume.
Sou velho, sou refém, mas nada temo. Apenas o não ser ou ser mal feito A vida traz o barco e traz o remo.
De véspera não morro, só respiro. Amigo, se tu queres abra o peito. A bala não se perde, ganha o tiro.
54
Nunca planeje a vida; ela nos trai... Os dias não repetem nem as horas... É certo: se subiu, decerto cai. Se ris hoje, amanhã; saiba, tu choras..
A fruta que hoje é doce, foi azeda, Depois que amadurece, fica boa... O fogo que se queima em labareda Nas cinzas se devora, depois voa...
O gosto delicado sobre a mesa, Amor transforma a dor no teu sorriso. Viver é sobretudo, uma surpresa. Por isso faça aqui seu paraíso...
Não tema teu futuro, Deus provêm. Depois, o fim, escuro, e mais ninguém...
55
Nunca ninguém que não conhece pensa Nas tuas cicatrizes, nos teus lanhos... Éramos, sem sabermos, dois estranhos, A quem a morte sorria; clara e densa...
Vivíamos em fuga, atroz ofensa, Computando agonias como ganhos... Embebido nos teus olhos castanhos, colecionava a dor de uma descrença.
Minha alma se mostrando em tal fastio Negando a correnteza, mata o rio. Nas águas nauseabundas se afogavam
Tuas linfas, quais ninfas me excitaram, E num jogo indecente me mostraram: Criaturas insólitas se amavam! Marcos Loures
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Nunca mais terei os prados Onde a vida foi feliz Meus dias tão machucados Minha sorte, meretriz!
Onde foram rosas, cardos, As flores nunca mais lis Meus ermos estão cansados Esperança pede bis!
Mas nunca mais retornei Aos verdes campos que tive Por tantos mundos errei
Algozes noites cercaram, Tal fantasma sobrevive... Os campos já se secaram! Marcos Loures
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Nunca mais reviver a tua foto, Nem revirar gavetas, nem passado. Me perdoe, se tanto andei errado, Minha vida,um retrato tão remoto...
Se pesas tanto assim, eu não camboto, Seria pelo menos de bom grado. Gerando o que jamais fora gerado O quadro principal de cores loto.
E o logo sem clichê, novo formato, Aonde se mostrar amor contrato, Contraltos, sobressaltos, saltos esmos.
Meus dias se repetem. Da rotina A voz que inda reclama desafina, E os erros que de crassos, sempre os mesmos... Marcos Loures
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Nunca mais poderei dizer ao vento, Deste sonho deixado num verão; Minha velha quimera, solidão, Nunca me permitiu esquecimento...
Tantas vezes deixei meu sentimento Coberto pelas luas do sertão; Descobrindo o sentido do perdão, Acaricio feras, sofrimento...
Meus dentes que sangravam; já caídos, Meu tempo que julguei ser aliado, Deixaram os meus nervos contraídos.
Percebi, no final dessa jornada, Que nunca medi cada passo dado. Minha vida; no fundo, não foi nada!
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Num recomeço terno e desejado Dos mais profundos sonhos e prazeres Nesta loucura imensa, esses dois seres Percebem que o amor é comum Fado.
Segredo, beijo e riso demonstrado Em todos os momentos, afazeres, Numa explosão de gozo estes quereres Demonstram o caminho tão sonhado.
Gemidos e suspiros, gritos roucos, Os lábios se procuram como loucos E singram pelos corpos já desnudos.
Ficamos, num segundo, quietos, mudos, E logo arrebentamos tantos diques. E peço-te querida que aqui fiques... Marcos Loures
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Num prazer indelével, lábios buscam Momentos de fantástica explosão, Palavras, sortilégios, não rebuscam O amor se entrega à força em sedução.
Sentindo esta fartura de desejos Não posso me conter e em ti mergulho, O gozo deste sonho que sem pejos Não teme mais espinho ou pedregulho.
Eu quero decifrar os teus segredos, Ressôo cada verso que me fazes Ao abalar com força minhas bases
Querência já suplanta velhos medos, Magia que em teu corpo se revela, Num multicor matiz, rara aquarela... Marcos Loures
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Num passo decidido Caminho em teu jardim, Amor se fez florido, Brilhando dentro em mim. O tempo transcorrido No nosso amor sem fim,
A vida que encontrei Mostrando sem receios, Um mundo que sonhei, Percebe os novos veios Por onde eu me enfronhei.
Do que já fora trágico, Amor fez sonho mágico... Marcos Loures
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Num novo e mavioso alvorecer, A vida prometera um paraíso, Porém na madrugada eu pude ver Um passo tão difícil e impreciso
De quem eu aprendera, num momento Falar em paz imensa e sedução. O fogo que queimara embora lento Um dia talvez fosse qual vulcão.
A noite que se fez então mais fria Matou o que se quis e o que sonhei, O dia renasceu sem poesia. De tudo o que eu quisera, nada sei.
Distante do que eu pude imaginar, Hoje eu decidi: vou te deixar! Marcos Loures
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Num ninho em que se encontram cobros, cobras Mineiro vai comendo bem quietinho. Não quero deste amor, tu sabes, sobras Eu quero ter inteiro o teu carinho.
Tocando com jeitinho tuas dobras, Fazendo sem barulho ou burburinho Enquanto em sacolejo, tu desdobras Rebolas com vontade, de mansinho...
A vizinhança aqui, neste recanto Xereta o que fazemos, sabes bem. Depois por não ter pau, com pau já vem
Metendo o seu bedelho em todo canto. Um homem que desfila sem mulher, Olhando de soslaio é um voyeur... Marcos Loures
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Num ninho de serpentes viperinas Nascemos. Minha amiga e companheira Nas gemelares noites uterinas Bebemos da sangria costumeira.
Nos territórios marcas das urinas Que a vida trouxe em faca derradeira, O quanto não seremos descortinas Entranhas estas lamas corriqueiras
Vazantes e remendos temerários, Seguimos nossos passos pelos becos. Em párias espelhares nossos ecos,
As cicatrizes, nossos relicários Expostas como chagas, cicatrizes, Nesta cumplicidade entre infelizes.. Marcos Loures
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Num mundo tão diverso e tão caótico O pacto que fizemos não valeu, Meu verso sendo assim mais estrambótico Depois de tudo resta o que fui eu.
Andando pelas ruas, velho gótico Sabendo que sem nada já morreu Na boca da morena o meu narcótico Limite do meu sonho se rompeu.
Quem sabe no Japão Paris ou México Encontre uma palavra no meu léxico Que possa traduzir a transfusão
Do quanto que te quis e não quiseste Gerando no final a amarga peste Que pode maltratar meu coração! Marcos Loures
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Num mundo tão cruel sigo perdido A vida não trará um novo norte, Jogado à correnteza, sei da sorte Mostrada neste sonho dolorido.
Tocado pelo vento, vou vencido, Sem ter da fantasia algum suporte, Restando tão somente um gozo: a morte, Destino benfazejo a ser cumprido.
Caminho em solilóquio e ninguém vê. Sou triste, e disso faço o meu porquê Morrendo a cada instante, assim eu vou.
A insônia me domina e na verdade O tempo destilando a realidade Demonstra este vazio que hoje sou...
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Num mundo tantas vezes material, Poder sentir que existe ainda amor É como reaver a frágil flor Que um dia se perdeu num temporal.
Florindo novamente, triunfal, Renasce com beleza e com vigor Num quadro divinal a recompor Paisagem sedutora e sensual.
Refém dos meus anseios, insensato, Secara a placidez deste regato, Tornando poluído o meu caminho,
Engodos devorados; noite fria, Mas quando a paisagem se recria Percebo que não sigo mais sozinho...
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Num mundo que se faz pra sempre junto; Eu encontrei no teu desejo a luz Na primavera desse amor conjunto O brilho intenso que ao luar induz
O passo dado em soberana rota Em tal mergulho desvendei o mar Deixando a dor em solidão remota É nesse encanto que eu desejo amar
O timoneiro saberá trazer Dos temporais encontrará bonanças Conhecedor das manhas do querer Reconhecendo assim marés mais mansas
Também encantos deste sonho eu crio Vagando por teu corpo, meu navio Marcos Loures
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Num mundo que o desejo concebeu Eu sigo cada passo que tu deixas Adentro este infinito teu e meu, Esqueço que tivera, outrora, queixas
A gueixa amorenada Diva bela, Suaves transparências, fogaréus, Caminhos delicados que revela Permitem que se toquem sonhos, céus...
Tua presença aqui, reveladora Tornando cada passo mais audaz, Imagem fartas vezes redentora Um bem insuperável já me traz.
E assim, dois viajantes do infinito Fazendo da alegria, o mesmo rito... Marcos Loures
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Num mundo entre delírios vislumbrado, A marca da pantera em minhas costas, Dos jogos mais audazes que tu gostas O gozo com certeza é contemplado.
De todo sofrimento do passado Da dor que me cortava em frias postas, As sortes com certeza estão repostas O dia surgirá abençoado.
Palavra proferida em noite calma, Limpando e desenhando, adentra alma E mostra ser possível a alegria.
Amor revigorando o dia-a-dia Retira do caminho abrolho, erica É força que em si mesma o bem explica... Marcos Loures
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Num mundo aonde impera a torpe violência, As ganas de vencer a qualquer custo ou preço, A glória de quem ganha é ver queda e tropeço, Até na poesia, amarga virulência
A sociedade inerte, o sonho em decadência, O riso disfarçado, apenas adereço, O amor agonizando, estúpido endereço, Amizade morrendo. Eu creio na incumbência
Da poesia como ungüento que permita Um remédio talvez, que cure a humanidade. O amor tão desprezado, a mais rara pepita
Nas boates motéis, trocado pelo pó, Demonstra amargamente a dura realidade De um povo que se perde, espúrio, vão e só...
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Num momento infeliz tu me disseste, Que poderia até, de mim, gostar. Achei, por um segundo, ser um teste, Não cria ser possível me enganar
Por horas, dias, meses, sul e leste, Em todos os lugares; só pensar Nisso... Hoje percebi que o que fizeste Fora somente chiste. Devagar,
A esperanças, pobres andarilhas Perdendo o rumo e tino desde cedo Voando sem ter asas, novas trilhas...
Conhecer, sentir, todo esse segredo! Naufragar nas mais belas dessas ilhas... Agora sei, retorno ao meu degredo... Marcos Loures
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Num meio aonde impera a mesquinhez, Durante muito tempo aqui me expus Nos versos, os reflexos semi nus Nos quais a poesia não se fez.
Excêntricos poetas, a altivez Demonstra, com certeza cada cruz, Imagem desfocada reproduz Distante da verdade, o que tu lês.
Metáforas jogadas num esgoto, Melindres dos estúpidos falazes, O dedo na ferida quando boto
Ensimesmados cães ladram em volta. As fétidas mortalhas que tu fazes No estômago me causam só revolta...
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Num mar em tempestade, tão bravio; Recebo o teu carinho, minha amada. Inundação, calor, loucura e frio, Numa avalanche imensa, barricada.
No céu avermelhado deste estio, Atravessas o tempo, fogo e fada. Acendes meu desejo, bom pavio Na cama em vida plena, serenada...
Sacias nossa sede e nossa fome No gosto deste incêndio que consome Em toda a paz, dormindo na quietude
Do depois neste encanto que nos doma, O mundo em que vivemos, na redoma; Refaz em segundo a juventude...
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Num mar de amor, imenso; mergulhar, Viajo pelas ondas dos teus braços... Querida, se soubesses deste amar Que toma sem juízo, meus espaços Virias no oceano navegar Comigo. Não negavas teus abraços... Depois em branca areia se cansar Na fome renovada nos abraços... O mar te espera... Foges... O que faço? Se tanto quero amar, mas nunca estás... O teu nome na praia, quando traço Penso tão somente em te trazer Momentos de ternura, amor e paz Regados com mil doses de prazer!
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Num maço de cigarro, botequim, Num copo de cerveja, bate-papo, Palácio ou na casinha de sopapo, Na roça, no pomar ou no jardim.
No princípio, no meio, até o fim, Eu tento, mas te juro, não escapo, Se o príncipe virou depressa um sapo, Teu passo vem depressa para mim...
Separe joio e trigo, por favor, Verás quanto é possível num amor A tal felicidade ser completa.
Mas quando a solidão chegar a ti, Perceberás que estou, amada, aqui, Mentiras? Simples sonhos de poeta... Marcos Loures
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Num lúbrico desejo te penetro E faço de teu corpo meu altar, Tu guardas num instante o rijo cetro E sabe deste encanto desfrutar.
Prazeres que me dás ao entubar Num remelexo intenso, tais misturas, Depois o leite sente derramar Neste ato de carinho que procuras.
Enlanguescente, olhando para mim, Aguardo em nossas cevas floração Fagulhas esparramas; vou ao fim Depois de tua doce felação.
Na noite que se mostra em alegria, Desejos se traduzem sodomia... Marcos Loures
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Num lírico desejo que se explana Em ventos tão suaves, primavera. Amor que quanto amor em amor gera, Força primordial e soberana.
Nos polens e nos grãos vida cigana Se dando num acaso, sem espera, Carinhos tão gentis da dura fera, Que ronronando, ao longe nos engana,
No sumo de uma fruta, no perfume Das rosas e jasmins, ou no entoar Do canto de mil grilos, feito em grito
Da vida a perfeição em raro lume, Chegando em explosão ou devagar, Recende a belos gozos, infinito...
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Num lírico caminho em que desvendo Belezas que me trazes, doce sonho. Amar além de tudo, o que eu proponho, No vértice da vida, percebendo
O quanto é necessário uma esperança A quem amando sabe ser feliz, Não quero mais a vida por um triz, Ausência de temores já me alcança
Atando meu destino em tuas sendas, Recebo de teus lábios ricas prendas, E teimo em ser só teu, e nada mais.
Recolho-te em meu colo, meu regaço, Voando, eu me liberto e ganho espaço No Porto de teus braços, faço o cais... Marcos Loures
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Num leque de vontades e desejos Escolho toda noite a mesma senha. Enquanto corpo em corpo já se embrenha Os gozos prometidos são sobejos.
O coração procura realejos No velho sentimento que contenha A carta no correio amor empenha Cansado dos requebros e molejos.
Brincar de esconde-esconde é muito bom, Guardando os meus guardados nesta loca Sininho em meu ouvido logo toca
Morena cor de jambo, meu bombom Que sabe ter carinhos tão ecléticos Domina os meus prazeres diabéticos...
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Num jogo aonde o jugo não existe A justa sensação de ser feliz. Deixando para trás o que for triste Amor tão delicado bebe o bis.
Um coração que aponta sempre em riste A força de ser sempre o que se diz. Sonatas, madrigais em tudo insiste Até que alguém trouxer sobrepeliz.
Vitória celebrada com certeza Nesta união que é luso-brasileira Vislumbro em nossa vida tal beleza
Que nada calará mais nossa voz. Vencidos pela luz alvissareira Ataremos enfim, os fortes nós... Marcos Loures
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Num jardim tão repleto de outras flores E cores que não posso traduzir No canto desses pássaros, amores, Procuro meu amor, venho pedir.
As horas mais doridas que hoje passo São passos que perdi na longa estrada Deitando meu cansaço em teu cansaço, Depois de certo tempo, quase nada...
Bem sei que tanto insistes em dizer Das dores que penamos na distância, Agora, meu amor, eu não vou crer Nos medos que tramaram discrepância...
As flores tão formosas no jardim, Amores machucando tanto
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Num gozo sem igual; eu me consumo Tornando os meus sentidos mais sensíveis Bebendo de teu corpo todo o sumo Compartilhando sonhos invencíveis.
Vestígios de mim mesmo; encontro em ti Pegadas espalhadas neste porto. No veio de teus braços me perdi Ao nosso amanhecer eu me reporto
E faço deste mote o meu cantar. Tu trazes com firmeza, égide, escudo. Sem fronteiras, teus mares navegar Mergulho delicia e vou com tudo.
Ao destemer enganos me liberto, Contigo o céu jamais nasce encoberto... Marcos Loures
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Num gozo rotineiro e desejado, Neste redemoinho em seda pura, Momentos de prazer e de loucura Subindo, lagartixa no telhado,
A gata mais gostosa do pedaço, Menina sedutora e seduzida, Arranha minha pele e distraída Descansa seus furores no meu braço.
Mordisco o teu pescoço, em arrepios, Desvendo tuas matas, vales, rios E segues delirante, cada passo.
Fartura prometida na colheita, O amor que trama amor já se deleita E ocupa pouco a pouco, todo espaço...
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Num terno abraço; o sentimento exponho Ternura entre momentos de prazer. Amor que se mostrando como um sonho Permite mil cometas percorrer.
Nos lábios de quem amo, amor proponho E quero além. Navegarei teu ser Um tempo com certeza mais risonho, Delírios, fantasias, passo a ter.
E cada vez mais perto do Eldorado Num Xangri-lá fantástico, cometo Em transes divinais, cada soneto
Deixando o coração alvoroçado, Fazendo deste verso uma bandeira Cigana poesia, aventureira... Marcos Loures
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Num tempo mais suave, em esperança, Meus olhos se entregando com ternura. O quanto se deseja; amiga alcança Espalhando entre nós farta brandura.
A noite tão escura do passado Permite a lua mansa da amizade. Um mundo assim sublime e delicado Permite se dizer: felicidade.
Eu tenho em minhas mãos a rara glória De ter uma pessoa sem igual, E nela traduzindo uma vitória O dia amanhecendo triunfal.
Eu agradeço enfim, à companheira A sorte que se mostra verdadeira... Marcos Loures
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Num tempo em que mulheres e quitandas Misturam-se com tal impropriedade, Amar alguém que seja de verdade É coisa bem difícil nestas bandas.
O amor ao perceber tantas demandas, Descreve um arco feito em liberdade E enquanto a poesia nos invade, Percebe a fôrma mágica quando andas.
E sabe a raridade desta jóia, Vencendo um tempo trágico em tramóia, Vê minha Tróia em ti, vitória régia.
E dentre as várias flores do jardim, Sabendo cultivar o amor em mim, Dentre centenas, tantas, alma elege-a.
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Num templo abandonado no deserto, Encontro tua imagem, cristalina. Dos sonhos que já tive, estive perto, Imagem tão risonha, me alucina!
Não sabia: sonhava ou mais desperto, À sombra do retrato, minha sina! Amor, o sentimento que eu oferto, Àquela cuja imagem determina.
Um sonho? Vão delírio de um poeta? Não posso precisar, falta certeza. Qual força me enlouquece e arquiteta
O rosto desta bela criatura? Em pleno afresco fosco, esta beleza, A amada Christiane brilha, pura!
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Num sorriso de menino Vejo a glória de sonhar, Tendo nas mãos o destino, Enfrentando o céu e o mar,
Neste encanto eu imagino Como é belo navegar Mesmo o sol estando a pino Nada impede de chegar
Tramas várias, vida traz, Sendo sempre tão audaz Coração adolescente
Vence os medos e procelas, Sem saber de quaisquer celas Muda o mundo, de repente...
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Num sonho tão sublime de viver, Ouvindo, em comoção, tal sinfonia Que mostra a mais perfeita sintonia Na qual eu quero, agora, me perder.
Entranha em convulsão todo o meu ser, Imagem que se dá em maestria Música se espalhando, amor porfia E trama um novo tempo de prazer.
Partícipes do mesmo encantamento, Não deixe que se esvaia tal beleza, É nela que alegria se represa
O gozo que em delírios eu fomento Perfaz a cada verso um bem supremo, Nos laços de teus braços, eu me algemo... Marcos Loures
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Num sonho me encontrara apaixonado No susto que tomei ao ver meu nome Escrito na parede ali grifado, De certa forma tudo se consome.
E nada mais falava, só te ouvia, Estampado no meu peito este retrato, Tal qual fosse te olhar mas nada via, Alucinado sonho, vero fato...
Chamavas por meu nome, te indaguei E vi que então fugir era impossível. Aos poucos no delírio me entreguei Vivendo a sensação tão mais incrível
De amar em tempestade, calmamente, Meu nome no teu nome, de repente...
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Num sensual delírio; escultural, Vencida pelo cheiro da esperança. Aberto o coração sentindo astral Que pela noite inteira sempre avança...
Estrelas transtornadas se diluem Encarnam os amores que sonhara. As horas nos desejos já se fluem E formam a beleza tão mais rara...
Eu vejo nosso amor vagando incerto Com pálpebras fechadas te imagino. Singrando tanto mar, montes, deserto; Sem rumo, sem final, um peregrino...
E sonho com teu corpo junto ao meu, Amor que em nossos trilhos, se perdeu...
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Num sarro magistral, delicioso, Promessa de uma foda inesquecível, Lambendo o teu grelinho é fabuloso O amor que a gente faz, decerto incrível.
Servindo com tesão farto banquete, Boquetes, teu cuzinho e tua xana, Ouvindo a tua voz pedindo: METE! Sentir tua explosão, louca e sacana.
O teu perfume raro e sensual, A foda prometida tão gostosa Incêndio que se mostra magistral
A gente se diverte enquanto goza, Fazendo deste amor, que é virtual Delícia sem igual, maravilhosa.
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Num ritual diuturno, o pensamento Transporta-me num átimo a teus braços Vencendo em fantasias os espaços Eu chego junto a ti em um momento.
Cumprindo com carinhos este intento Escutas; ansiosa, mansos passos Percebes os sinais e quaisquer traços Que possam aguçar teus sentimentos
Ao deixares a porta semi-aberta Permites que eu adentre tua casa Quem tanto te deseja não se atrasa
E entrando por debaixo da coberta Encontra a delicada insensatez, Ao perceber da sílfide, a nudez... Marcos Loures
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Num êxtase divino te persigo, Recendes tantas rosas, teus perfumes. Por vezes encantado, não consigo; Esqueço nossas crises de ciúmes.
São versos que abandono, sem sentido. São ruas sem saída, quase nada... Vivendo desse amor que não duvido, Sabendo que te tenho, minha amada;
Mesmo assim me embaraço neste amor, Que sei ser muito mais que merecia. Jorrando em nossa vida, com fervor, A febre de te amar, já me vicia.
Eu quero mergulhar neste oceano, Do amor que sempre nega o desengano..
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Num esplendor divino, flórea senda, Voláteis sensações tão evasivas, Qual crepuscular luz. Amor desvenda Origens destas formas mais altivas;
Num vértice florido, seda e renda Em peles e desejos, carnes vivas. Um beduíno encontra em sua venda As mãos tão delicadas, receptivas.
Irrompes no meu quarto, rastros de ouro, Escalas minha cama, curvas raras. Deslinda-se num átimo o tesouro
Tomado em meus carinhos, astro e lume. As sombras na parede, belas, caras, Inebriado, bebo o teu perfume...
Marcos Loures
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Num deus iluminado e imprevisível Que toma a nossa vida em fantasia, Entrego-me sem medo e por incrível Que pareça, percebo esta alegria.
Talvez inanidade: tu dirás. Mas é o que inda resta dentro em mim, Assim ainda creio ter em paz A flor imaculada em meu jardim.
A par da luta intensa que não cessa, Eu sinto a provisão se avolumando, Nos olhos da esperança uma promessa Calando qualquer forma de desmando.
Amargos sentimentos lá se vão, Sobrando tão somente esta emoção... Marcos Loures
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Num deslumbrante sonho feito em luz Sorvendo da esperança gota a gota. Amor que enlouquecendo me conduz Salvando uma alma triste e quase rota. Efeito desejado se produz Toda a tristeza enfim, assim, se esgota.
Colorem-se meus dias nos matizes Que roubo de teus olhos, meus faróis, Na imensidão do mar vôos felizes De quem imaginou belos atóis Do quanto que sofri, nem cicatrizes Ardendo esta vontade em raios, sóis...
Adentro teus mistérios e segredos, Aos poucos, adentrar teus arvoredos...
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Num desejo impudico tanto quero, Dessa boca sevícias e carinho, Ir roçando, bem manso, vagarinho. Pois em cada centímetro eu te espero...
Quero o romper da aurora audaz e fero, Volúpias e delírios, num caminho Que possa transformar quem foi sozinho, Nas múltiplas fornalhas desse acero...
Num frêmito voraz, tornar-te nua, Tentando penetrar a tua rua, Invadindo, posseiro, tuas lavras...
Transgredir os sentidos e palavras, Minhas mãos penetrando teus espaços, Depois, juntarmos, lúbricos cansaços...
Marcos Loures
11200
Num descompasso imenso, o coração Trazendo tantas marcas deste amor, Olhando para os céus busco amplidão Restando só meu peito, sonhador.
O verso se perdendo sem razão O dia magoando, mata a flor, Que há tempos esperando a floração Morreu sem ter carinhos. Resta a dor.
Quem dera se eu pudesse. Ah! Quem me dera... Porém inverno nega a primavera E deixa tão somente um vento frio...
O peito enamorado já se cala, Apenas solidão adentra a sala Sobrando do que fomos, o vazio... Marcos Loures
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