
MEUS SONETOS VOLUME 116
Data 26/12/2010 09:43:12 | Tópico: Sonetos
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1
O mundo vai girando, em seu destino Adentro com total sofreguidão A cada novo dia, uma lição Que fala deste amor, velho menino.
Que sabe e reconhece quando o sino Conclama para a festa em sedução Deixando bem distante a sensação Do medo que me dói se me amofino.
Somenos importância tem agora Momento em que sofremos dissabores. Pois mesmo na tristeza que apavora
Sabemos que contamos com frescores Da toda esta bonança prometida, Razão de amar demais, do bem da vida... Marcos Loures
2
O mundo parecia um tanto estranho, Não temia sequer um velho mimo... Nas obras que bronzeias , puro estanho, Meus versos não traduzem quanto estimo...
O medo de morrer é tão tacanho, A pedra que me deste, criou limo... Nas vezes que lutamos, sempre ganho, Os olhos dessa amada, vivo, primo...
Não sei bem porque, sempre me repele, O sol que não tivemos, vive ocaso... Penetra mais profundo carne e pele,
Nas sombras do que tive, por acaso... O resto de esperanças vai, expele... No tempo que tivemos, puro atraso...
3
Ó moça misteriosa, quero ter Contigo tantas noites bem safadas, As pernas com tesão arreganhadas Deitando sem pudor nosso prazer.
Vontade de tocar e te fuder As horas sem limites, devoradas, Fronteiras com tesão escancaradas Sem nada que inda possa nos prender...
Chupar o teu grelinho, ser teu macho, Tocando com desejo acendo o facho Sabendo desfrutar de tua luz.
Vencer as resistências que inda trazes, Deixando nossas noites mais audazes Moldando em maravilha os corpos nus...
4
O meu tempero é tua boca amarga; Meus dentes, tentativas de mordida. Não quero mais sangrar a despedida, Nem quero sentir tudo qu’alma embarga...
Minha carta, postada, tudo alarga; Só meu desejo, nunca mais traz vida, Minha vida fecunda e bem curtida; Não suporta, nos ombros, essa carga...
Disseste-me verdades incompletas, Navegante perdido, tão sem metas. Meu rumo, sem ter prumo nem ter rima.
Faz de tudo, machuca a auto-estima, Finges doçura, exalas teus venenos E no final das contas, restou menos...
5
O meu sonho carrega meu transporte, Me leva esta amplidão, me faz humano.. Bem sei que logo após a curva, morte... Nada me impedirá, nenhum engano;
Rutilas, abscedas, pedes corte. No meu subconsciente, um velho plano, Viver passou a ser o meu esporte, Voando tanto sonho, aeroplano...
Sou, instintivamente mais horrendo, Meu rosto, teus carinhos transfigura... Nas horas mais vazias, sou adendo...
Não resta nem a sombra, sou errante... A noite me destinas, mais escura... Meu sonho desmorona, derrapante...
6
O meu peito se afoga no desejo De ser o teu destino, sina e rumo. Sentir da sorte o gosto no bafejo E não perder a vida, leve fumo... Tu sabes, já faz tempo, eu te cortejo Pois quero te provar, delícia e sumo, Agora que percebo, nesse ensejo, Aos poucos, nessa idéia me acostumo... A febre de sonhar nunca me larga, Eu quero poder ser senhor, cativo, Amor crava sem dó, a doce adarga, Que traz prazer como uma hemorragia, Morrendo neste amor, estou mais vivo, Vivendo sem sofrer, morro alegria!
7
O meu peito doendo tua ausência, Na presença da morte que adivinho... Te peço, meu amor, tenha clemência, Não me deixes aqui, morrer sozinho...
Sou criança e preciso do teu seio, Sou poeta e desejo o teu amor... A saudade tão próxima já veio, Agora talvez chegue o desamor...
A presença me cura da saudade, Desamor se combate com carinhos... Meu destino: buscar felicidade, Que só vejo nos nossos mansos ninhos...
E se amor estivesse aqui, querida. Mais eterna seria tua vida!
8
O meu passado feito em desabrigo Deixando no meu peito a cicatriz, Agora ao ter o sonho que persigo, Eu sinto finalmente ser feliz.
Não quero mais o riso tão atroz De quem se deu ao luxo de um sarcasmo. Às vezes escutando a tua voz Eu fico sem defesas, mesmo pasmo.
Porém entendo enfim, os teus ciúmes, Em expressão diversa, diz amor. Ouvindo em calmaria tais queixumes, Respiro sem espinhos, bela flor.
Amor que se permite ao colibri, Beleza assim igual, eu nunca vi...
9
O meu olhar passeia calmamente, Observando caminhos mais audazes. Em meio aos arrepios, o amor sente Delírios furiosos e vorazes.
Tua nudez convida claramente Enquanto os teus desejos satisfazes Ao gozo tão profuso, plenamente, As pernas me prendendo quais tenazes.
Orgasmos repetidos, mesa farta, Teu corpo do meu corpo não se aparta, Querendo sempre mais e sem descanso.
O amor ao encontrar tal direção, Provocando tsunami em turbilhão Encontra finalmente o seu remanso... Marcos Loures
10
O meu olhar cadê? Você levou... Deixando tão somente esta distância Que nunca mais traduz o que restou, Fez do meu coração, u’a triste estância,
Onde esperança, cega, se arribou... Talvez possa dizer: foi petulância De quem amou demais; por fim, levou Seus cacos carregados desde a infância
Em busca de curar o que não cura, Nem pretenderá toda medicina. A dor da solidão, nem toda jura
Nem reza, benzeção, nem a morfina, Podem amenizar; nem atadura Estanca essa sangria... Desatina...
11
O meu hábito antigo de entregar Meu pensamento inteiro ao mago amor, Qual fosse necessário ter o mar Com ânsias de um real navegador.
Trazendo à luz do dia tantos sonhos Vivendo a fantasia sem saber Que mais que nos pareçam tão risonhos, Os sonhos têm sua hora de viver.
Sofrendo com desgastes da paixão, Aos poucos endureço o sentimento, Mas como convencer minha emoção De que tudo tem hora e tem momento?
O vento deste amor bateu na porta, Abri... Me constipei; mas o que importa?
12
O meu futuro me parece incerto, Não traz sequer a mansidão do amigo... Por tantas vezes conheci deserto; Nas noites frias percebi perigo...
Te quis, perdi, amor estava perto; Mas de repente conheci jazigo. Morrendo amor, deixando o peito aberto O que farei? Resposta está contigo...
Mal posso crer! Não te direi mais nada... Não tenho pressa mas, por certo, mentes... O meu futuro a sonegar estrada,
Não restará, talvez, nem teu retrato... Procuro tanto, quem me dera lentes! Seguindo a trilha, afogarei regato... Marcos Loures
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O meu destino é corcel quase indomável Que nada nem ninguém pode conter. Às vezes tão sereno e tão amável Por outras eu me perco sem saber... Sou vésper e também sou o final, Às vezes temerário ou temeroso, Mas sempre quando estouro é natural Que eu sofra mais de dor do que de gozo. Solitário qual lobo que se vai, Morrendo tão distante da matilha, A sorte nos meus dedos já se esvai, E busco em nosso amor caminho e trilha... Quem sabe me acomodes ou me cures, Mas eu te peço, amor, jamais tortures...
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O meu destino agora eu já refaço E traço com firmeza nova senda. Ao ter bem junto a mim a bela prenda Esqueço totalmente do cansaço
Buscando nestes céus maior espaço Mistérios nossa vida, assim desvenda, Deitando uma alegria em mesma tenda Contigo caminhando passo a passo.
Recebo o teu gostar como reflexo Do quanto que eu te gosto e te desejo. Vibrando dentro em nós amor intenso.
A vida vai ganhando rumo e nexo, Um paraíso em vida, enfim prevejo, Sonhando com teu bem me recompenso... Marcos Loures
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O meu desejo expresso e manifesto De ter comigo sempre os olhos belos Daquela a quem pretendo assim retê-los Em cada novo passo ou mesmo gesto
Embora o meu passado desonesto Impeça, na verdade, de querê-los. Na maciez da pele, leves velos, Encontro este querer ao qual me empresto.
Que dera se pudesse, em esperança, Tocar teu corpo ao menos, uma vez. A vida assim teria enfim, um senso.
Porém quem traz negrume na lembrança Não pode cometer a insensatez De ter em suas mãos, amor imenso...
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O meu desejo busca, alucinado, O teu perfume doce e sedutor, Deitar-me calmamente do teu lado, Fazendo toda noite, insano amor. Vibrando meu prazer extasiado, Estou aqui, querida, ao teu dispor...
Sentir a carne dura da morena, Os seios maviosos, boca, dentes... Despetalando assim, essa açucena Tocado por desejos mais prementes. O vento tão distante já me acena Estarmos bem juntinho... também sentes?
Brincarmos... mil carinhos e loucuras... Ternuras e vontades são torturas...
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O meu corpo já te quer Nesta cama, em meu colchão Teus encantos de mulher Dominando o coração.
Venha tudo o que vier Nem mais temo a solidão Terás tudo o que quiser Farto amor, louca paixão,
Doce delírio afinal, Pois teu corpo sensual Se entregando intensamente
Muda agora todo o rumo, Nos teus braços eu me aprumo Sem temor que me atormente...
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O meu coração bate tão confuso Melodia do amor desafinada, Horário? Nem sequer sabendo o fuso Perdido, vai caindo em cada escada, Amor fazendo a festa em claro abuso Não resta de alegria quase nada.
A boca que eu pretendo não me beija, Aquela que me beija, eu não pretendo, A paz de um grande amor, o que deseja, Sem rumo, coração vai se perdendo. De todo um bom prazer que sempre almeja O medo de sofrer chega, vencendo.
Mas tenho uma esperança, mesmo pouca, Beijando, sem critério, qualquer boca...
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O meu contentamento está ao teu cuidado. És dona do meu Fado e minha fantasia; A vida que pretendo, em tua companhia! Por tantas vezes tive a dor de ter errado
Mas mesmo assim, jamais, me deixaste de lado, Solitário, tristonho... Um canto de alegria, Hino à felicidade, a bela melodia Que traz o teu perdão; ao meu pior pecado.
Traze-me em toda angústia, o dom desta ventura, Saber que te terei, mesmo na dor obscura. Saber que estás comigo enfrentando as tempestas.
Desculpe-me se trago a marca da lembrança Do tempo que sofria em busca da esperança. Raissa, teu amor traduz todas as festas! Marcos Loures
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O meu canto tristonho, outono em primavera... Promessas deste sol desfeitas num segundo! Quem dera me esconder desta cruel quimera.. Do brilho da esperança, embalde, já me inundo...
O gosto desta boca, amor enfim, quem dera! A vida que pretendo esgota num segundo; Abre, no peito triste, a colossal cratera. Rasgando o coração, um corte tão profundo!
Sem você, já me perco... O meu rumo, deserto... Sem você nada tenho, o que resta sou eu. Sem você o meu canto, em pranto se verteu.
Sem você... Pesadelo... Eu nunca mais desperto! Sem você : ter um Deus no qual não crê É triste seguir só, morrendo sem você! Marcos Loures
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O meu canto ideal, enlanguescente, Cintila nos teus olhos, tranqüiliza... Tramando meu sonhar resplandecente, Sereno e tão macio feito brisa...
Numa limpidez tanta que me acalma, Transportando o teu nome pelo espaço. Reflete toda esperança de minha alma, Incrustada nos versos que te faço.
O meu canto ideal ter trará paz, A mesma paz que quero nos meus dias. Poder saber que nunca fui capaz De poder te negar tais fantasias...
Louvando essa beleza, intensa e pura. O canto que proponho à formosura!
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O meu barco, teimosa, abalroaste, Não deixaste sequer restar o casco... Por tantos nossos mares, navegaste, Restando, tão somente nojo e asco...
Na noite alta, silêncio de deserto... Ouvindo tantos grilos e corujas, Sonhando pesadelos, nada perto... Sorrisos transformados garatujas...
Não tenho mais meu barco, peço cais... Não tenho mais sentido, perco a paz... No ancoradouro brusco da saudade,
As falésias impedem desembarque, Amor que me juraste, de verdade, No fundo nunca vive, foi de araque... Marcos Loures
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O meu barco não afunda, Nem se destrói a canoa, Nossa amizade profunda, Tu bem sabes quanto é boa,
Nesta tentação que abunda O meu pensamento voa, A minha alma vagabunda Vagando sozinha, à toa...
Quero o beijo cearense Desta moça tão faceira, Só por isso amada pense
E não faça tal besteira, Meu amor não te convence? Pare com a choradeira... Marcos Loures
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O meu amor te busca a cada dia Usando dos diversos subterfúgios Sabendo que contigo a poesia Encontra nas tempestas, seus refúgios.
Perdoe o talvez pareça audácia, Mas sinto o teu perfume, vejo os seios, E o amor enaltecendo sem falácia Enfrenta os vendavais, mata os receios.
Causando no meu peito tal incêndio, Dos fogaréus eu bebo cada chama, Falar de nosso amor? Vale um compêndio, Num infindável canto em bela trama.
Do quanto que te quero, um infinito, Moto contínuo expressa o mesmo rito...
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O meu barco à deriva em mar profundo, Quem dera o timoneiro coração Soubesse decifrar em um segundo As tantas variáveis do timão.
Enquanto nos sentidos me aprofundo, Não posso conceber a direção, Velhusco desejar de um vagabundo, Ao léu se faz insano e sem perdão,
Versar sobre os segredos de um amor, Querências muito além do que consigo, E o sonho tanta vez enganador
Reluz na falsidade de um cristal Que trago como fosse um bom abrigo; Porém trama o naufrágio desta nau.
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O meu amor tristonho e cuidadoso Percebe que em meus olhos, água cai. Bebendo meus desejos, noite trai Dourando minha estrada em paz e gozo.
Fazendo desta valsa vala e vela, Ardendo em lacrimejo olhos sedentos. A vida se desfaz em bagatela Açodam minhas dores, fortes ventos.
Se eu priorizo o gosto das maçãs Guardadas no embornal de uma saudade. As horas sem destino morrem vãs, Nos automóveis sinto a quantidade
De curvas que fizeram; sonhos meus Jogados nos caminhos cantam pneus...
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O meu amor é tortura que me acalma. Mansidão que atormenta e desatina; É corpo que pretende ser minha alma. É doçura cativa que domina.
O meu amor é frágil e me entorpece, Tatuagem que sangra e cicatriza. Delírios de prazer em plena prece. É mão que tanto fere quanto alisa.
Meu amor que me dá; tanto me tira, É vaso que se quebra e não conserta. Ao mesmo tempo beija e já me atira. É dádiva que rouba a própria oferta.
O meu amor é tanto e toma espaço, Máscara de mim mesmo; em quem disfarço...
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O meu amor é tanto, mas sozinho... Quem me dera poder dizer a ela De toda esta vontade de carinho. À noite a solidão já se revela
Em cada brilho frio de uma estrela Esta tristeza imensa que não passa. Meu barco se perdendo, nau sem vela A vida sem sentido se esfumaça...
Quem dera ter coragem de dizer Do amor que me domina e não se cansa. Assim talvez pudesse renascer Nos olhos de quem ama, uma esperança...
Quem sabe, meu amor... Ah Quem me dera... Veria, finalmente, a primavera!
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O meu amor calado nada cobra, Apenas um sorriso; satisfeito. Vivendo meu amor, do que te sobra; O fato de te amar é meu direito.
Não quero que tu sofras se não amas. Porém eu estarei a te esperar... Sem fogo morrem logo tantas chamas, Sem lua como haver, então, luar?
Te espero, tão silente e desejoso. Embora leve os restos, não reclamo. No fundo até me sinto mais vaidoso Por esse simples fato: sim, eu te amo...
Não peço teu amor, nem ser amado... Permita que eu te queira, assim calado...
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O meu afeto traduzido amor Espera por teu braço nessa esquina... Não pude traduzir se foi pavor, A noite que me deste me ilumina...
O ramo de esperança mata a flor. O pranto que verti se descortina. O tango que dançamos sem calor, Não pode seduzir quem se alucina...
Reflexo dos espelhos mal secreto, O parto que não fiz me trouxe aborto. Nas mãos um arremedo, morto feto. Nos olhos as inúteis ilações...
Meu anjo embriagado morre torto. São fúteis nossa podres comunhões!
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O mesmo mar que trouxe esta sereia Levou o teu cantar para outra praia. Saudades que deixou na fina areia Uma outra solução amor ensaia...
Eu trago no meu peito, amor secreto, Que enfrenta o duro mar forte e bravio. Amor que me deixara tão inquieto Sem a sereia fica mais sombrio...
Mergulho procurando outra visagem Que faça meu amor recomeçar. Ao ver essa morena; outra viagem, Encontro novo amor em meio ao mar.
Depois de tanto tempo sem ninguém, Amor que sempre quis, agora vem...
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O mento que o mentor nunca media, No dia que me deste nunca minto. As vendas nos teus olhos meio dia, Faz tempo que não sei do vinho tinto.
As danças impossíveis nessa orgia Dos corpos enredados nada sinto, Explodes nas delícias de Maria, Me embebedas, vadia, num absinto...
Se não vou, configuras um acinte, Se não quero apimento e sou mentor. Dos anos que vivemos, mais de vinte,
Os olhos se perderam sem pudor... As camas desfazemos num sprint, Os sexos misturados com requinte... Marcos Loures
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O mel que adoça a boca do poeta Se feito com carinho, o que me importa? Eunuco de emoções, os sonhos corta Das refeições jamais pede a completa.
Figura desdenhosa se repleta Comendo no banquete a amarga torta Não pari sentimento, mas aborta Placenta mal formada enfim ejeta.
Depois vem carrancudo encher o saco, Querendo do prazer, quem sabe um naco; Vestido de palhaço segue assim.
O amor transmite a todos, tanta paz Não sei o que fazer com capataz Que ceva tanto abrolho em seu jardim... Marcos Loures
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O mel da vida encontro em teus carinhos Tragando cada gozo encantador. Imperam os sentidos, bebo os vinhos Que emanas em desejos, com ardor.
No inebriante gosto de teus beijos, Num êxtase adentrando belas furnas Trocando assim humores e desejos, Sofreguidão de entregas mil, noturnas...
Em fartas sobremesas, mato a fome, E vago em tua pele; geometrias, Na louca insensatez que nos consome, Demonstras tuas prendas, maestrias...
Sorvendo deste cálice, eu pressinto, Embriaguez divina de um absinto.. Marcos Loures
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O medo vai distante, se perdendo Depois da derrocada uma bonança Formada pelas mãos de uma aliança A noite em novo dia se vertendo.
Embora te pareça algum remendo Espero traduzir por esperança O sonho de uma vida bem mais mansa. Mas sinto que inda está; forte, chovendo...
O gosto mesmo amargo, ácido, azedo Da boca que beijara desde cedo Já torna suportável o dia-a-dia
Maçã do rosto, na romã dos seios Converto a fantasia em outros veios Roubando mesmo falsa, uma alegria... Marcos Loures
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O medo se espalhando, nega a sorte Omite a redenção que se procura. Fomenta uma expressão feita amargura Arranca dos meus pés qualquer suporte.
A dor que se agiganta, aumenta o porte E aporta bem distante uma ternura. No pote que negou uma água pura A cada novo sonho, outro recorte.
Assédios da ilusão são desastrosos, Perfazem de per si os caprichosos Caminhos enganosos do prazer.
Espúrias fantasias são vendidas Resultam em discórdias pressentidas No enfado de buscar e nada ter. Marcos Loures
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O medo que eu trazia? Joguei fora, Deitando toda noite em solidão Uma ilusão decerto revigora E mesmo que repita sempre o não
O gosto de vitória não demora. Fazendo da esperança o meu refrão Canção feita em delícia se decora E mostra pra quem sabe, a direção.
Dançando nos botecos e motéis, Bebendo dos teus vinhos mais cruéis Recebo deste amor um novo impulso.
Enquanto em fantasia ainda pulso, Embora tanta vez intempestivo, Nas sombras deste encanto eu sobrevivo... Marcos Loures
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O medo que eu tivera de poder Dizer sem ser ridículo, as palavras Que trazem subtendidas o prazer Que é feito um labutar em ricas lavras,
Perdeu-se quando fiz um personagem Que tinha uma esperança que não creio, Falando de um amor, leda miragem, De uma beleza exposta em carne e seio.
Agora, envelhecido, mas não vil, Eu tenho inda um restinho de ilusão Embora mitigada pelo frio,
De ter, quem sabe, amor calmo e gentil, Que traga finalmente a floração Neste jardim que morre tão vazio... Marcos Loures
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O medo de viver vai se extinguindo Enquanto amor domina toda a cena, Vivenciando a paz que ressurgindo Já deixa nossa vida mais amena.
O quanto do teu lado, amor, deslindo A mansidão que em luzes concatena O tempo de sonhar, assim, cumprindo Fazendo do meu peito, calma arena.
Beber desta alegria, ser feliz É tudo o que se quer, amor prediz O quanto fantasia vaticina.
Na boca delicada que se dá, Beleza que decerto mudará Transformação bendita, pois divina. Marcos Loures
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O medo de sofrer que me tomava Morria ao perceber teu braço forte Sabia que, decerto eu encontrava Poder que nos transforma dando um norte.
A solidão que queima feito lava Provoca dentro da alma um fundo corte. Muitas vezes sozinho então cismava Distante do que penso ser a sorte.
Em procelas,às vezes somos vítimas Tempestades convulsas, más, marítimas Tomando já de assalto o meu saveiro.
Mas tendo uma amizade timoneira A calmaria volta costumeira. Que bom ter um amigo verdadeiro...
41
O medo de ser livre na verdade Impede que eu consiga te dizer Do amor que nos trazendo liberdade Vasculha e pede um novo alvorecer.
A seda dos cabelos, a saudade O porto que se perde sem querer, Alvissareira lua em claridade Revive qualquer sonho de prazer.
Fazendo qual marujo em mar revolto, O pensamento quer ser bem mais solto E em olhos diferentes busca o cais.
Marcado pra morrer de tanto amor, Que faço deste peito, um impostor, Que quer a cada noite sempre mais? Marcos Loures
42
O medo de perder quem tanto quis Voltar meus olhos tristes para trás. Não sei se poderei ser mais feliz Se a noite que chegar não trouxer mais
O brilho de teus olhos. Por um triz, Bem sei que não soubera mais da paz; Meu peito enamorado sempre diz Que tudo que há de bom teu canto traz;
Mas sinto que perdi o teu amor, O vento que te trouxe já não canta Agora o dia passa num torpor,
Neste mormaço sofro e te desejo... Vontade de te ter é tanta... tanta. Somente uma saudade, ao longe, vejo...
43
O medo de morrer sem ser feliz Sem ter este infinito que traduz O verso mais bonito que já fiz Em meio a tempestade, em tanta luz.
Não sou nenhum ególatra, querida, Apenas já me sinto satisfeito De ter-te encontrado em minha vida, Mostrando quanto amar é um direito.
O medo de morrer já me abandona Agora sou-te inteiro e me desdobro Ao ver tua pureza de madona, Cuidados e carinhos já redobro.
Eu quero te poupar das convulsões Imensas dos delírios das paixões... Marcos Loures
44
O medo de morrer que me tocava Causando em minha vida um fundo corte, Transmuda-se em desejo bem mais forte De um jeito que jamais imaginava.
Estúpido; nas ruas ,quando andava Nas madrugadas frias, cheiro forte Da podridão de uma alma que recorte Os sonhos em que, tolo, eu me banhava.
Nos goles da aguardente, confissões, Esparsas cicatrizes se acumulam, Invés de porta aberta, paredões;
Em troca de um sorriso, cusparadas. Somente as podres bocas que me osculam Se mostram mais amigas, camaradas...
45
O mecânico dos sonhos Medalhão traz no seu peito. Se os meus dias enfadonhos, Poesia dá um jeito.
Revolver mares tristonhos Vou insone no meu leito, Os meus dias são medonhos, Mas eu sigo satisfeito
Por saber que ainda tenho A vontade de lutar, Sendo assim fecho o meu cenho
E não volto a procurar, Se não venho ou se me embrenho, Não terei em ti meu par... Marcos Loures
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O mar, em seu bramir clama teu nome, Sereia que deveras foi tão minha, E a solidão que agora já se aninha Aos poucos, dolorida, me consome.
A lua sob as nuvens quando some Deixando a claridade em que continha Minha alma sonhadora; desalinha A estrada sem ninguém que ainda dome
Este corcel insano em desvario, Deixando tão somente escuro e frio; Uma esperança foge, tão fugaz.
Quem dera se eu tivesse nestes céus O brilho de mil sóis em fogaréus Vulcânica expressão de amor e paz...
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O mar tão tenebroso; forte, audaz Invade a mansa praia, ganha a rua. O vento na borrasca é tão voraz, E a tempestade louca, continua... No sal que esta procela sempre traz Minha alma se perdendo, não flutua. Num turbilhão de dores pede paz, Olhando para a calma, imensa lua... Buscando o equilíbrio, já tonteia, E tropeçando cai. Depois levanta, Também alucinada se incendeia. E volta calmamente para o chão, Depois desta loucura; livre, canta. O que fazer Meu Deus, desta paixão?
48
O mar que, enluarado é um convite Ao sonho mais audaz e delicado. Encontro-me deveras fascinado, Por mais que teu olhar sempre me evite.
Escrevo nas paredes, num grafite, Teu nome tanta vez anunciado, Não sei se isso é desejo ou se é pecado, Só não respeitarei qualquer limite.
Abençoados dias? Não os vejo, Lacaio e servidor deste desejo Almejo a liberdade e vejo a cela.
Buscara neste amor, diapasão, Porém a chuva inunda este sertão Num paradoxo, o sol do amor congela...
49
O mar que vem lambendo, praia, areia, Trazendo em seu marulho uma cantiga Da moça tão bonita, uma sereia, Que o coração feliz, agora abriga.
A lua que surgiu no céu clareia Deitando sobre o mar amante amiga E louca de desejos se incendeia Fazendo com que a noite assim prossiga
Nós dois enamorados, mar e lua, Também a cada noite misturamos Beleza de uma deusa semi-nua
Com fogo de um cigano coração, E cada vez mais sólidos, amamos, Nos laços tresloucados da paixão... Marcos Loures
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O mar que nos separa – que ironia- Também nos traz profunda sensação Da dor de uma distância e da alegria Que traça com mais força esta união.
Parece que o destino nos faria Atados em diversa concepção Enquanto a noite cai, e aqui se esfria A tua cama esquenta-se em verão.
Olhando para as ondas, adivinho Que do outro lado está quem tanto eu quero Perambulando a esmo e tão sozinho
Quem dera se pudesse entrar no mar E refazer a rota em que eu espero Sabendo conjugar o verbo amar....
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O mar que me levou; levou amor Nas ondas deste mar sempre vou eu Vivendo destas águas lavrador Quem lava minhas mágoas, já morreu...
As bocas que me beijam minha e sua Os beijos que negastes quem me dá? Desejo por desejo continua E te pergunto sempre: quem vem lá?
Lá, por onde vou; tento navegar Os beijos que me destes nada mais, Eu beijo tantas ondas do meu mar, Quisera meu amor, chegar ao cais...
As ondas que me beijam, tanto mar, Pequenas são ondinas, vão passar...
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O mar que me deixou nunca retorna As ondas traiçoeiras já se riam... Vulcano se esquecendo da bigorna Nossos amores, mares não seriam...
O tempo que ressoa não contorna Abismos que mergulho se perdiam. Das algas que decoram, a vida orna O templo dos amores que morriam...
Esse mar que Netuno nunca quis, Os mares dos amores de Afrodite. Percebo que jamais serei feliz
Pelo retorno dessas ondas nuas. Nos amores ninguém mais acredita, As dores que vivemos sangram cruas...
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O mar que me carrega vida afora Dizendo deste amor que nunca veio. Quem dera ter na vida algum esteio, O tempo nunca pára e vai embora.
Enquanto uma esperança me devora Leme da minha vida segue alheio; Se há porto, eu desconheço e já não creio, Alma; até sorriso comemora
Amando o que pensei felicidade, Desilusão turvando a claridade A dor de não te ter domina a cena.
Por mais que seja apenas tão fugaz Somente uma alegria satisfaz Deixando; mesmo em falso, a vida plena...
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O mar que em tempestade me transporta À praia dos meus sonhos, dor imensa. Deixando sem tramelas, minha porta, Quem sabe em minha morte, a recompensa...
A negritude da alma, tão imensa, Nem mesmo um sonho vem e me conforta, Estrada em que passei, antiga e torta, Na tosca solidão, cruel e densa
Encontro esta tristeza que se soma Ao medo de viver em sofrimento. O mar que na loucura de um tormento,
Em ondas movediças tudo toma. Seu canto me transporta em agonia Deixando este sabor de maresia...
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O mar quando se quebra em alva areia Debaixo deste intenso e belo sol, Já traz notícias frescas da sereia Que está daqui distante. Meu farol.
A chama da paixão quando incendeia Não me deixa ver nada em arrebol, A lua prometida, clara e cheia Em beleza tão rara, assim, de escol
Virá trazer ao pobre trovador Lembranças doutros tempos, madrigais, Andando pelas ruas lá do Porto
Arfando de vontade em pleno ardor, Falando de verbenas e trigais... Olhando para a areia; tão absorto... Marcos Loures
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O mar quando se esfuma em mansa areia Tocando a minha pele, me arrepia. No canto delicado da sereia O amor somente traz melancolia.
Enquanto uma alma tola fantasia, O sol tão inclemente me incendeia, Quem dera se eu tivesse em alegria, A lua prometida, imensa e cheia...
Mas nada do que eu quis se realiza, Tampouco o vendaval promete brisa, Apenas a tristeza continua
Tomando este cenário; uma miragem Vislumbro no horizonte. Uma bobagem, A noite vem chegando sem a lua... Marcos Loures
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O mar nos procurando em ondas mais ferozes Talvez por ter ciúme; arrebenta na areia Os ventos vêm buscar em rajadas velozes Aquela que bem sei por ser linda sereia
Desperta num momento em todos os algozes Inveja mais audaz, a todos incendeia. Também a tempestade em seus braços atrozes Até a lua mansa, ao vê-la não clareia
Esconde-se depressa atrás da negra bruma Um oceano então troveja enquanto espuma... Sereia sou teu par, jamais o negarei.
E volto a te buscar sem medo da tempesta Pois sei que tenho agora o que eu já procurei E o coração se acalma, anda em perene festa... Marcos Loures
58
O mar com seus mistérios de sereia Se ri desta esperança que não sei. Seria se pudesse nesta areia Certezas de saber que sou teu rei.
Eu sinto que se tinto-me do mar, Extintos os meus medos, sem motivo, Pressinto quando insisto em te amar Que aos poucos sobre o mar eu sobrevivo.
E quero se não sabes navegar Nas vagas desfilar nosso desejo Se sou ou se não fomos sem luar Espero te saber a cada beijo.
O mar com seus mistérios me domina, Sereia venha ser minha menina!
59
O manso caminhar por esta vida, Em tantas tempestades, sempre acalma. Certeza de uma paz já ressurgida, Com toda uma alegria dentro da alma.
Por mais que seja sonho, nunca deixe De ter esta esperança dentro em ti. Amor que multiplica pão e peixe Num acalanto doce, sempre vi.
Espero que este amor seja contigo O mesmo que comigo já caminha. Amor que nos protege, bom abrigo, Na dor e na tristeza nos aninha...
Amor que se traduz sinceridade, No rumo das estrelas, amizade...
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O mal de amar demais penetra fundo E rasga a minha pele expõe meu cerne, Da podridão em vida eu já me inundo Minha alma neste inverno que se hiberne.
Tocando a fria chaga feita amor Sorvendo cada gota, sofrimento, O manto que me cobre enganador Sorrindo em calmaria traz tormento.
Na luta sem final, a liberdade Jamais alcançarei, tenho a certeza. Rondando em minha cama esta saudade Transporta tanta angústia, dor, tristeza...
Amar e ser feliz. Ah! Quem me dera, Talvez ressuscitasse a primavera! Marcos Loures
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Ó lua plena, amiga e companheira! Na plenitude orgástica do céu, No lampadário belo vens inteira Qual fosse a primaz deste bordel.
Fantástica expressão mais verdadeira Do medo e da beleza fel e mel. Da vida que passei, lua primeira, És trama e contração vivo dossel...
Envolta inspiração deste cometa, Que em volta de teus brilhos, navegante... Decifras os meus mantras, és poeta,
Meu plenilúnio! Tuas tramas, trilhas, Dominas todo espaço, delirante, As loucas, as amantes, tuas filhas! Marcos Loures
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Ó lua dos amantes, porcelana Noturna, vigilante do meu sono, Enquanto tantas vezes no abandono Encontro sua imagem soberana.
A vida em tempestade, louca, insana, Vagando feito um cão, pobre e sem dono, Diáfana ilusão, triste ressono, E a deusa com seus brilhos, quase humana
Penetra nas janelas, meus umbrais, Prateia com seus raios imortais Derrama em noite clara, a fantasia.
Ó velha companheira dos poetas, Luares, de Cupido são as setas Argênteas maravilhas sensuais...
Marcos Loures
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Ó lua dadivosa em rara prata Deitando-se argentina sobre ti, Beleza interminável que retrata Constelação profana em que te vi.
Derrama-se em fulgores sobre a mata Trazendo um sol imenso. Percebi Que a vida que se fora intemerata Demonstra o quanto tive e já perdi.
Aspérrima ilusão que nos tomara, Legando ao meu pomar a fruta amara Num último soneto, eu tento em vão
Falar destas estrelas que negaste Dos sonhos, pesadelos, num contraste Estendem sobre nós, desilusão. Marcos Loures
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O lobo tocaiando um bom cordeiro Em garras afiadas, dura fera. Sangrando o corpo frágil por inteiro Numa ironia plena se tempera.
Quem teve um lobo assim por companheiro Não sabe na verdade o que o espera; Canalha não se sabe pelo cheiro, No riso de amizade se venera
O corte destas garras afiadas Entrando numa carne tão macia, Devora o bicho ingênuo em mil porções.
Fazendo em amizades tais fornadas, O lobo numa espreita, o dente afia Nas artimanhas feitas eleições... Marcos Loures
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O leme que nos guia, o pensamento, Nos leva para o cais de amor sincero. Tu és o que desejo e que mais quero, Não deixo de quere-te um só momento.
Na força tão voraz do sentimento Em lábios e carinhos me tempero Nos vôos da esperança me libero E nos teus braços vivo o meu intento;
Ser teu é tudo aquilo que eu pedia Aos astros, búzios, guias, Orixás; Sabendo que, de noite, tu virás
Meu canto se repleta em alegria. Felicidade amada, sempre traz Os sonhos, as vontades, poesia...
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O laço que te prende não converte, Amor que negaste,em doce mar... O frio que produzes nunca verte, As mangas arregaço e vou lutar.
Nas horas mais difíceis não se inverte Os símbolos vorazes vão sangrar... Meu corpo que deixaste mais inerte, No norte que me lego me estampar...
O laço foi brinquedo de criança Mordaz que me deixou sem sortimento. Nada faz repetindo, tudo avança.
O parto que não vinga é sentimento. O medo que delegas sem fiança Do laço que me deu contentamento... Marcos Loures
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O laço em que se deu meu Bom Jesus De amor, farta amizade e no perdão, Tocando bem mais fundo o coração Impede em meu caminho; a dura cruz.
O brilho nos meus olhos reproduz O brilho que se mostra em redenção Negando desde sempre a servidão Demonstração de paz em glória e luz.
Meu verso é muito frágil, disso eu sei, Num mundo em que vingança vira lei Cada homem sendo lobo, devora homem.
As esperanças, logo se consomem, Não resta mais sequer fraternidade. Quem sabe a solução feita amizade? Marcos Loures
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O jogo sempre foi carta marcada, Perdendo no começo, vou embora, O tempo de viver já não demora Mostrando a mais temível derrocada,
A morte se fazendo anunciada, Olhar fixo e distante se decora Apenas solidão vem e deplora Rompendo em negras nuvens a alvorada.
Parceiros que se foram no caminho, Prossigo, de teimoso, e vou sozinho, Farsantes os sorrisos que legaste.
Depois de ter somente solidão, Sementes arrancadas deste chão, O sonho se perdeu neste contraste. Marcos Loures
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O jegue vai seguindo o pobre Zé Que um dia foi querer fazer bobiça Deixando o seu jumento já de pé Com olhos de vontade e de cobiça
Tal asno na verdade barrigudo, Não pára de sonhar com o seu dono. Mal sabe este coitado que é chifrudo, Companheiro de uma égua? Fome e sono.
Agora o tal gorducho não suporta E atenta com saudades do barranco. Por mais que com chicote o Zé deporta O bicho relinchando e mesmo manco
Pedindo pra tomar outra cravada Vem logo com a cauda levantada!
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O imenso bem da vida se resume No gozo deste puro sentimento, Tomando no meu peito o seu assento, Acentuando mais que de costume,
Portanto que este tempo já se esfume, Eu sinto a profusão do manso vento Que em calmaria vence algum tormento Chegando num instante, ápice e cume.
Soletrando a fantástica emoção, Bebendo cada gota da poção Que tanto me inebria quão conquista.
Imagem deslumbrante que diviso, No toque sensual, doce e preciso, Decifra o paraíso que diviso...
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O homem, sendo fera insaciável, Bebendo do cadáver de um irmão, Até que chegue enfim a podridão Em cena tão venal e degradável.
Às vezes num sorriso tão amável Se esconde este farsante, vil ladrão Mostrando ser carinho, um intrujão Disfarça-se num ser inimputável.
Dos sonhos/pesadelos que tiveste O gozo dos abutres, fome e peste, Vergastas sobre as costas dos mendigos,
Eu digo que talvez uma esperança Se crie quando amor em aliança Permita que sejamos mais amigos... Marcos Loures
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O homem guarda a fera, em sua vida cresce; Na mão que me maltrata, a dura tirania. Na luz que sempre nega, a fera já rugia. A mesma mão que bate, a outra me oferece!
A boca que pragueja, esquece-se na prece. Palavra que consola, a mesma que injuria. A morte deste amor, é sua fantasia! O canto que me ofende, a ti ele apetece.
O gosto da derrota; emolduras em glória, A queda que me corta; em ti, vira vitória. Depois de tanta dor, a ponte de safena.
Não mais estás aqui, fingiste ser mais nobre. A vida traça um plano, espero que te cobre. E quanto a mim, irei na luz de Madalena! Marcos Loures
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O homem foi criado por um Deus Que é pleno no perdão e na bondade, No amor que proclamou em amizade, Negando o que pensaram os ateus.
Um Pai tão Soberano e tão amigo, Que sabe quanto amor é necessário, Mudado num demônio temerário Por aqueles que sabem do perigo
Do povo se sentir mais bem amado E ter noção perfeita do poder, Que em todos deve ser compartilhado, Perfeita maravilha que é viver.
Diabo ao ser criado, amigo veja, Não precisava; havia já a Igreja!
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O herdeiro de Davi, pobres judeus, Pensavam que viesse libertar Da dura escravidão cruel sem par, Como preconizara o Santo Deus.
O povo que vivia em negros breus, O archote da esperança a se mostrar Humilde servidor do intenso amar Andando com mendigos, com ateus
Ao ver tal heresia, com certeza, Tomados por rancor e por tristeza Sangraram este rei. Eis a verdade.
No corpo ensangüentado do cordeiro, O sentido real e verdadeiro: Veio pra libertar a humanidade! Marcos Loures
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O grande lago; restos da saudade, Que jamais se secara, já me aborta.. Não há senão resquício que me invade, Trazendo corrimão, soleira e porta...
O meu lacustre sonho, quem o nade? A mansidão feroz, a vida torta... Meus beijos e carinhos, quem há de? Um vento malicioso, o lago corta...
Meu mundo adormecido nessas margens, Os trapos que me deste, já os rasgo... O trâmite seguinte, suicídio!
Amor que me entregaste, sei clamídio, O beijo que me deste, nele engasgo, Meu grande lago, aborta essas viagens...
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O gozo que se mostra em fino trato Bebendo com fartura cada gole Procuro o teu carinho que console Curando com prestezas um maltrato.
Uma ânsia pela qual eu me arrebato Enquanto a fantasia já me engole Deixando o nosso corpo calmo e mole, Tornando uma tristeza, desacato.
Depois de andar de ti distante, Vontade me tomando, galopante, Não deixa que eu sossegue um só segundo.
Agora que percebo estás por perto, De toda a dor, em pleno amor, deserto Neste mergulho intenso, eu me aprofundo... Marcos Loures
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O gozo em sedução depressa invade O coração de quem se deu sem medo, Calando num momento a tempestade Amor já vai mudando antigo enredo.
Seara deste sonho; tão formosa Em flóreas escaladas alça infinitos Perfume inebriante de uma rosa, Odorífero prado em novos ritos.
Nas Formas de luares, cristalinas Espalhas entre nós imagens claras, Vencendo estas cinzentas, vãs neblinas, Adoça nossas vidas tão amaras.
Constelações supremas, almas puras No amor encontram vivas as ternuras... Marcos Loures
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O gozo de viver, depressa avisa, Deitando no aconchego, meu carinho, Galopa o meu cavalo em mão precisa Vagando pelo espaço, passarinho.
Ao ver-me nos teus braços, liberdade, Sentindo todo o mundo festejar, Tocado pela imensa claridade Encontro nos teus braços, o luar.
Vontade de voar, estar liberto Ganhar toda a amplidão por um momento, O rumo que procuro, estando aberto Chegando de mansinho queima lento.
O vento que se espalha sobre nós, Alçando o pensamento, vem veloz... Marcos Loures
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O gozo da amizade, gosto e gesto Ao qual em calmaria nós nos damos, O verso mais sublime que façamos Demonstra a mansidão à qual me presto.
E a cada novo dia mais atesto Que a vida sem senzalas, servos e amos Expressa na igualdade destes ramos Que enfrentam temporal frio e funesto
Unidos pela mesma luta iremos Usando em precisão braços e remos Jangada enfrentará um vasto mar.
Amiga não descanso um só momento Contigo já não temo mais tormento, Sem nada nem ninguém a separar...
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O gosto tão sublime de um pecado Convida a minha Musa para a dança Quem vive esta esperança é consolado A cada novo embarque na lembrança.
Meu rio desemborca neste mar Amargas ilusões se esvaem em bando As andorinhas chegam devagar, O céu vai novamente clareando.
Andando por desérticas paragens Durante tanto tempo eu esperei Felicidade imensa nas aragens Nas quais por ledas vezes me entranhei.
Distante das marés, da fina areia, Ouvindo o canto nobre da sereia..
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O gosto que deixaste, sempre doce, Não posso me esquecer de teu encanto... Quem dera não viesse e nunca fosse. Jamais repetiria o mesmo canto...
Te leva a mesma dor que um dia trouxe As lágrimas que formam todo o pranto... Quem nunca mais voltou, sequer mostrou-se Não deixa soçobrar, me causa espanto!
O gosto que levaste sempre amaro, Entendo tuas mágoas mais doridas... Amar é necessário ter preparo,
Minhas palavras ferem, bem o sei... As últimas lembranças vão perdidas... Ultrajo com frieza a mansa lei... Marcos Loures
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O gosto mavioso do prazer Enoja muita gente, eu não sabia E agora, infelizmente passo a crer Que o gozo te provoca uma alergia.
O amor é um sentimento já caduco, Eu disso não duvido, pra essa gente; Coitado do sujeito, sendo eunuco Se mostra a cada dia, descontente.
Brincando com palavras, sigo assim, Um velho serelepe e jovial Que gosta de carinho. De onde eu vim
As coisas são mais simples, eu garanto, Se eu gosto da morena sensual, Não sei porque isso causa tanto espanto! Marcos Loures
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O gosto delicado da cicuta Que tomo ao ler inúteis fantasias Da agônica expressa que ora me enluta Matando aos poucos minhas velharias.
Enquanto me restar a força em luta, Resistirei às tais velhacarias, Semente que macula qualquer fruta, Já não sei decifrar dicotomias.
Arquétipos jogados pelos ventos Definham o que outrora se fez belo, Se em versos tão arcaicos me congelo
Nunca pude aceitar pobres ungüentos. A trava dos meus olhos diz que, cego, Em meio a podres águas, eu navego...
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O gosto da tortura sangra lábios Provoca, sem pudor, carnificina, Os riscos assumidos pelos sábios Fazendo da emoção, uma oficina
Derramam tanto sangue no caminho, Exangue, inda procuro alguma chance, Da morte a cada instante eu me avizinho Por mais que a vista ainda não a alcance;
Minha oração na ponta do punhal, Rasgando a velharia que inda trago. Perene sensação traz ao mortal Falsa noção de ser sempre mal pago.
Não vou ficar catando em miopia Os restos moribundos da alegria...
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O gosto da saudade vai distante; Mas deixa no meu peito cicatrizes, As alegrias foram quais atrizes Trocando os personagens num instante.
O dia que se fez assim marcante, Tomado tão somente por deslizes, Querendo em aquarela que matizes Fazendo o dia ser mais deslumbrante,
Porém uma esperança vai-se embora E deixa este vazio desde agora, Tomando a minha vida por inteira.
Na chuva em que se deu alagação A sorte procurada vai ao chão, Desaba desta enorme ribanceira. Marcos Loures
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O gosto da maçã e da pimenta Que encontro no teu corpo meu amor, Decerto; tantos diques arrebenta Invade sem sequer saber de dor...
Morena que desejo totalmente Imersa neste mar de branca areia Devoro teus olhares num repente Acordo, nos meus braços, a sereia...
Decido mergulhar neste oceano, As ondas me lambendo, cada poro. Não posso mais querer segundo plano, Explano essa ternura e me evaporo,
Refaço minha pele em tua pele, A louca tempestade me compele...
87
O gosto avinagrado da saudade Lembrando do vigor de um verde vinho Morrendo sem saber felicidade O peito do poeta é tão sozinho.
Quem dera se tivesse a liberdade De ter em profusão, tanto carinho, A vida se propaga em falsidade, Amor ainda faz seu burburinho
Se um dia ela voltasse para mim! Talvez algum sorriso ainda houvera Porém a solidão, temível fera
Prepara em dor solene, amargo fim. O cheiro do tempero da morena De longe, no passado, ainda acena...
Marcos Loures
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Ó gata não se esqueça Que amor igual ao nosso Por mais que não pareça Também me dá um troço
Decerto que enlouqueça E nele me remoço Coração prega peça Nem reação esboço...
Um gato de telhado Vadio contumaz Jogado assim de lado,
Será que ele é capaz? Desafina o miado... E tremedeira traz... Marcos Loures
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O gás aberto, morte s’aproxima... A vida não passou desse dilema. Não resta nem sequer minha auto estima; Quem dera resolver esse problema:
Se Maria está, prefiro que redima Seus erros, revertendo o velho tema. Se não, vou procurando, sem ter clima, Transtornar, transformando meu poema.
O peito aberto, o gás não pacifica. O cheiro forte, morte e liberdade... A noite é pobre, como a vida é rica!
Nas trovoadas lânguida tempesta... O gás aberto, o cheiro forte invade... Podemos começar a nossa festa! Marcos Loures
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O fruto mais bendito diz amor E traz delícias fartas, com certeza, Comendo cada gomo, num torpor Devoro todo o prato e sobremesa.
Na romã delicada de teus seios Maçãs maravilhas, sedução. Adentro com tesão divinos veios Encontro a mais sublime sensação
Das águas que derramas sobre mim, Farturas entre seixos, corredeiras, Regando com prazer nosso jardim, Tocando cada margem das ribeiras
Enchente esparramando com fartura Orvalhos que me dás, santa loucura... Marcos Loures
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O frio traz Regina e chocolate, Minhas mãos procurando por você, Somente encontram vagos sem por que, Esse frio aumentando, tudo abate...
Só queria saber deste combate Desavisada a mente me faz crer, Que nunca mais irei, ao menos, ter Os carinhos que esquentam; quero amar-te!
Nem os lábios suaves de Regina. Grávido dos desejos abortados... Queria e a procuro, tristes fados,
Sua mão que eu queria; a mais divina Perdida nessa gélida matina, Somente deixa os sonhos congelados...
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O frio se perdendo bem distante Enquanto em nossos corpos fogo intenso. Bebendo desta fonte radiante Penetro este horizonte e nele penso,
Amando o teu amor a cada instante No riso satisfeito, recompenso O dia que se fora torturante E sinto nosso amor, enorme, imenso...
Não deixe que este canto um dia cale A vida não perdoa quem vacila, A cada novo dia, sempre fale
Do tempo de viver o nosso caso, Se o homem, pois, foi feito de uma argila, No amor a eternidade não tem prazo...
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O frio que cortava o pensamento No fio da navalha sempre andei. Querendo desfrutar deste momento Percebo que jamais conseguirei...
Cortando qual um aço mais feroz, Bem fundo em minha carne lacerada, O gosto da saudade invade a foz Do rio que morria sem ter nada.
Sou verso e sou reverso da medalha, Apenas um despojo que carregas, Bem fundo e sem sentido a faca talha Um coração exposto em várias pregas.
E calo meu sorriso em vil destroço, Na morte de minha alma, já remoço...
Marcos Loures
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O frio em minhas mãos, tremores tantos, Enrijece meus dedos, corta fundo. Atravessando o tempo num segundo Eu busco a primavera em seus encantos.
Procuro os teus sinais vasculho os cantos, Vagando sem descanso pelo mundo. Em vértices diversos me aprofundo E colho tão somente, dores, prantos.
Quisera poder ter a claridade De ter sempre comigo a liberdade E nela o pleno amor já se entranhando.
E quando sinto enfim o teu sorriso, Percebo como fora algum aviso Tentáculos da sorte nos tocando. Marcos Loures
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O frio desta noite me conforta, Nas trevas eu encontro o meu abrigo, O peito num refúgio tranca a porta Bebendo da tristeza, o vento amigo.
Meu barco no vazio já se aporta E segue sem destino. Assim consigo Sangrar o que esta vida tola exorta Na solidão, jamais algum perigo.
Espero mansamente pelo fim Que eu sei redimirá meus sofrimentos. Atravessando em paz tantos tormentos
Silêncio traduzindo o que há em mim, A calma nesta noite amarga e gris Dizendo: finalmente eu sou feliz!
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O fogo que em teu corpo, amada, ardia Chamando para as loas ao desejo. Destino deste amor que se cumpria Com toda claridade de sobejo. É mais do que viver em fantasia É lume de esperança que prevejo.
Da dor de uma saudade feita em neve, Verão que no teu corpo já me inunda. A mão que acaricia, mansa e leve, Traz emoção sincera e tão profunda, Que a lua deste amor não seja breve No fogo e na paixão que se oriunda
Do coração sofrido de um poeta Que em teus carinhos vive e se completa...
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O fogo que ela espalha já me alcança Criança moça feita bela musa. Abusa, tira a blusa em contradança Balança os seus quadris, vem sem recusa.
Cafuza me confunde e faz de mim Semente que plantada no canteiro Expressa e se confessa até o fim Maltrata em pouca e boas, jardineiro.
Na nata desta nata sensação O verso traz complexos sentimentos Sem nexo vou buscando diversão Versão que dou aos acontecimentos.
Nas asas destas sanhas, passarinhos À sombra tão serena dos carinhos.
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O fogo que devora e não sossega Na trama que entrelaça nossas pernas Amor que este desejo jamais nega Promessa de alegrias sempre ternas.
Vem logo que esta noite nos diz tanto Não deixe pra depois, te quero agora. Enquanto em fantasias eu me encanto Tua presença, amada, o corpo implora.
Cavalgas fantasias mais ardentes Espalhas tantas luzes nessa cama Desejos mais vorazes, envolventes Da sorte dos prazeres, toda a gama.
Assim inevitável te dizer Do quanto é tão imenso, o bem querer... Marcos Loures
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O fogo delicado das paixões Devora pouco a pouco e nos consome, Sem nada que o controle nem o dome, Causando sem parar, ebulições.
Fartando-se dos gozos; corações, Somente no prazer sacia a fome Enquanto em suas mãos as rédeas; tome Provoca tempestades, furacões.
Que a chama não se esgote ou arrefeça, E a cada novo tempo sempre cresça, Incendiando os sonhos e as vontades.
Assim, num fogaréu incontrolável, O Paraíso sendo, enfim palpável Ao lado das incríveis claridades...
11600
O fogo da saudade é mais audaz, Não deixa sobrevir qualquer concórdia. Enquanto a solidão amarga traz A vida sem mudanças, monocórdia.
Ardendo nos meus olhos tal fumaça Que enquanto não cessar o fogaréu Aos poucos o que resta, assim esgarça Fadando à treva imensa, este meu céu.
A carapuça agora já me cabe, Não tenho outras palavras por dizer, Bem antes que o castelo, enfim desabe, Quem sabe, tenho a sorte de morrer.
Vivendo na mais frágil frialdade, A pele se esvaindo na saudade...
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