
MEUS SONETOS VOLUME 125
Data 29/12/2010 09:42:11 | Tópico: Sonetos
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Perdeu-se numa noite vã, sozinha, O rumo que pensara ter achado. Encanto que eu quisera e nunca vinha Deixando o coração desabrigado
Migrantes amarguras retornando Depois de tanto tempo. Fui feliz. Agora só pergunto aonde e quando Terei aquilo tudo que bem quis
E um dia fora meu, ao menos quase. A vida preparando uma surpresa Repete como a lua cada fase O peito enamorado, simples presa
Do jogo de viver, fria pantera, Ao preparar seu bote já me espera... Marcos Loures
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Perdoe se hoje visto-me de inverno, Distante da sonhada primavera. Aonde se florisse amor tão terno, Apenas solidão, meu peito espera.
A fonte dos desejos vira inferno No peito de quem sonha e desespera, Arcando com meus erros, eu hiberno O sonho que em delírios se tempera.
Arranjos tão diversos, ventos frios, Etéreas emoções, risos sombrios, Extensos os desertos de minha alma.
Sem oásis, prossigo tão sozinho, A morte vem chegando de mansinho, E incrível paradoxo, já me acalma... Marcos Loures
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Perdoe se hoje o mel se torna amargo, O tempo de viver vai se escoando, Enquanto o sentimento, vil, embargo, As sortes se despedem, triste bando.
Decifro os meus enigmas, e percebo O quanto nada fui e nem serei. O fel que tantas vezes quero e bebo, Traduz o que na vida eu encontrei.
Um velho sacripanta sem descanso, Um resto que inda teima em persistir, Sabendo que distante do remanso, Apenas tempestade no porvir.
Se eu tento disfarçar em voz suave, Esqueço em meu olhar, terrível trave... Marcos Loures
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Perdoe se eu repito o título dos textos. Não tenho inspiração, apenas teimosia. Diferentes enfim, os diversos contextos Aonde, volta e meia, eu sonho poesia...
Sem ter esta alquimia, eu quebro o meu cadinho E enquanto a poesia esquece-se de mim Eu sigo noutra rota em busca do carinho Que um dia imaginei, florisse o meu jardim.
O sopro de algum vento envolto em falsas mantas Trazendo na verdade, escórias sacripantas Que um dia até tentei mudar. Novo cenário...
Mas nada foi em vão, e disso estou bem certo, Por mais que a seca venha, amor não me deserto Dizia o grã poeta. O canto é necessário! Marcos Loures
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Perdoe se eu errei ao decifrar Sinais que não consigo compreender Tomado pelos raios do luar, No sol eu comecei a me perder.
Vertendo uma esperança em negro mar, Deixei o nosso barco fenecer, Desculpe se não soube te encontrar Nem mesmo nos meus versos te dizer
Do sonho que se fez em pesadelo Na noite dolorida e tão distante. A vida a se mostrar mais inconstante,
Enredo meus desejos num novelo, E o fogo da vontade, da cobiça Transforma-se na areia movediça...
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Perdoe se eu cheguei em tua vida Num momento difícil. Traição... Tua alma apaixonada, mas perdida, Vagando sem destino ou direção,
Ao crer num novo amor, como saída, Tentou viver inútil emoção. Por mais que este vazio ainda agrida, Te magoar não foi minha intenção...
Eu sei o quanto amaste. Mas perdoe Por mais que a realidade ainda doe, Não quero me esconder em falsos panos.
Eu tenho dentro da alma cicatrizes, E sei quanto os teus dias, infelizes, Comigo foram simples desenganos... Marcos Loures
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Perdoe se em penumbras eu caminho, Sem deixar nem vestígios pela rua. A carne que se expõe, amarga e nua Demonstra escuridão na qual me alinho.
Coleto das esquinas cada espinho, E a noite em plenas trevas continua Ao contigenciar à velha lua A sorte, permaneço e vou sozinho...
Arrancando os meus olhos sonhadores O peito imerso em névoas apresento. O meu verso de amor, tão bolorento
Não serve mais. Esqueço-me das flores E beijo tão somente a realidade Expondo num museu, felicidade. Marcos Loures
8
Perdoe se cometo um adultério Falena; eu me entreguei em falsa luz. A vida vai passando num mistério Que embala nosso sonho e nos seduz.
Por vezes tanto eu quis sem ter critério E assim, a dor se mostra e reproduz O quanto desejei amor mais sério, Porém a noite trouxe imensa cruz.
É certo que caminho mais descrente De que um dia terei contentamento, Mas voa, sem juízo, o pensamento,
E quer ser mais feliz, fazendo urgente O que se necessita paciência. Por isso, meu amor, peço clemência...
9
Perdoe por meus erros e pecados, Matando a cada dia quem padece. Nos olhos da miséria, nova prece, Que emana em cada olhar dos desgraçados.
Não quero que me escute em altos brados, Nem mesmo que o meu braço já se engesse, Enganos que cometo, alma confesse Nos passos que inda dou, desencontrados.
Vieste para aquele que sofrendo Nas mãos de tantos ímpios vai morrendo, Mendigos, prostitutas... eu insisto
Assumo os meus pecados, Meu Senhor, Mas sei, ó Pai sublime, Deus do Amor: Pilatos, sendo omisso, matou CRISTO! Marcos Loures
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Perdoe meu amor se magoei Àquela a quem desejo de verdade... Meus passos são erráticos bem sei, Mas tento te trazer a claridade...
Meu vício e precipício são teus olhos, As tramas tantas chamas camas, amas... Nos amores as moras vêm em molhos. Perdoe se me embrenho lamas, bramas,
Talvez seja meu canto meio torto. Mas falo deste amor com fino trato, Embora meu caminho que é mar morto, O sonho sempre amar que sei abstrato,
É tudo que mais quero e que detenho, O beijo sempre trago, aqui o tenho...
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Perdoe pelos loucos subterfúgios, Tentara ter, talvez tua atenção. Buscando em torpes títulos, refúgios, Meus versos se perderam. Foi em vão.
Sonetos disfarçados de poemas, Algemas eu rompi. Não mais os faço. Navego sem ter pejos pelos temas Que ganham, d’ora em diante mais espaço.
Sou triste e da amargura me inebrio. Arcaicas fantasias, eu matei. Retomo a direção, vou ao vazio Que sempre coloriu a minha grei.
Rasgando assim a máscara que usara, Loquaz; minha agonia se declara...
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Perdoe pelos erros, todos meus, Estúpidos caminhos desvendei Fazendo do prazer a minha lei, Vencido pela insânia, trevas, breus.
Hedônicos carinhos, vãos, ateus, Mudaram num tormento antiga grei Só Deus sabe das dores que passei, Chorando a cada dia, o nosso adeus...
Nos braços da esperança, o meu alento, Inútil, disso eu sei, cada lamento, Porém ajuda sempre a caminhar
Quem tanto se perdeu e não sabia Do amor que se mostrando em alegria, E agora, quem me dera reencontrar? Marcos Loures
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Perdoe os versos tísicos que eu faço, Não são vasos de alguma dinastia. Apenas garatujas que num traço Expressam uma alma torpe e tão vazia.
A cada novo verso um erro crasso. Tentando impor silêncio à rebeldia No coração a força do cangaço, Nas mãos a pena escorre, vaga e fria.
Eu tento suavizar meu universo Que é duro e feito em trevas, nada mais. E quando em desamores tento o verso
Destroço do que sou, simples retalho, Embora sejam tolos tais jograis As sobras e meus cacos, amealho... Marcos Loures
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Perdoe minhas mãos que, calejadas, Expostas aos temíveis vendavais Demonstram cicatrizes e sinais Das urzes entre flores cultivadas.
O fardo de viver pesando tanto, A carne apodrecida se derrete, A morte vem cobrando já se frete Povoa minha noite o desencanto.
Olhar para o passado e ver somente O aborto inevitável da semente Matando em nascedouro a fantasia.
Os vermes, larvas, moscas, comensais Fazendo nos meus sonhos, bacanais, Serão a derradeira companhia.. Marcos Loures
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Perdoe meus ciúmes. Sou assim Vulcânica explosão de sentimentos Vivendo entre loucuras e tormentos, Matando cada flor do meu jardim.
Não sabes, na verdade de onde eu vim, Passando por terríveis sofrimentos O amor que dominando os pensamentos Às vezes diz talvez, ou não ou sim.
Eu tenho tanto medo de perder Embora sem coragem pra lutar Bebendo todo dia sem parar
Queria tão somente ter prazer, Derramas; sobre mim, farto perfume, Mas colho, em desatino, um vão ciúme...
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Perdoe meu amor, pelos enganos; A noite traz loucuras e néons Mudando nossos rumos, nossos planos, Perdidos entre danças, sonhos, sons.. Em bares, em boates, num festim, O risco de alegria e de tristeza. Só pude perceber quando, no fim, Nada mais haveria sobre a mesa Senão a conta inteira p’ra pagar, Das ilusões jogadas como certas. Nos rastros das estrelas, do luar, As ruas aparecem mais desertas. Esqueça, por favor, tanta revolta. E se puder amor, venha de volta!
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Perdoe este acidente de trabalho, Meus erros são comuns, o que fazer? Eu sei que tantas vezes me atrapalho, Porém que te garanto: é sem querer.
Por um dia melhor, sempre batalho, Tentando ter algum, raro prazer. Mas quando vejo assim um ato falho, Procuro pelo menos refazer.
Se eu gosto de teus lábios junto aos meus, Não fale e jamais pense num adeus Por sermos tão iguais é que eu te digo
Do amor que enquanto corta, cicatriza, Às vezes tempestade, noutras brisa, Mas nunca nos negou afeto e abrigo... Marcos Loures
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Perdoe esta amargura, sou assim. Desnudando minha alma nada tenho Senão a podridão deste jardim, Tão forte, por favor, não me contenho.
Escondo esta verdade sob o cenho, Mergulhos entre copos, rum e gim, Disfarço com sincero e franco empenho, Vivendo a negação espalho o sim.
Semáforos fechados, vida afora, Paisagem desbotada na janela, Enquanto a solidão, meu peito, vela,
A falsa garatuja revigora E mostra a quem me vê outra faceta, Do lúbrico escondido num asceta... Marcos Loures
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Perdoe esta amargura que hoje trago, Das velhas calmarias, tempestade. Se a chama do passado vem e invade, Negando a provisão causando estrago.
Não pude recolher do amor o bago, Nem tendo uma esperança que me aguarde, A morte que me ronda já vem tarde, Desta aguardente ardendo cada trago.
Enquanto pouco a pouco me apodreço O amor ao encontrar meu endereço, Tropeça nas escadas, nos degraus.
Sem bússola, astrolábio remo e leme, Um velho marinheiro agora teme Naufrágio inevitável destas naus...
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Perdoe companheira se eu não danço Conforme a melodia. Eu me embaraço Errando tantas vezes, sem compasso, Os pés sem direção, eu sei que tranço.
Se o dom da perfeição; jamais alcanço, Tropeço em cada verso errando o passo. Um erro cometido é sempre crasso, Destruo qualquer forma de remanso.
De pés quebrados são os meus sonetos, Apenas tão somente poemetos, Bebendo escuridão, esquecem luz.
Quem dera em contradança se eu pudesse Dizer de tanto amor que assim merece A verve de um Carlinhos de Jesus. Marcos Loures
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Perdidos, os meus olhos vão buscando Além do mar imenso, o teu olhar, Viajo em pensamento e te tocando, Percebo quanto é bom se apaixonar.
Meus dias na procura vão passando, E deixo-me em momentos navegar Depois em Porto belo, naufragando No corpo da sereia em preamar...
Meus versos em momentos rebuscaram, Porém ao te encontrarem, em lirismo Romperam da emoção, qualquer abismo.
Os ventos da mudança me tocaram, Fizeram deste pobre sonhador Um homem deslumbrado em pleno amor. Marcos Loures
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Perdido para sempre em tua rede Não quero me ausentar das belas teias, De teu amor eu tenho tanta sede Teu sangue se imiscui nas minhas veias.
Meus olhos se perdendo sem ter rumo Bebendo de teus olhos sonhadores, Eu quero deste amor inteiro o sumo, Eu quero me encantar com tuas flores.
Não vejo aterradoras diferenças Que possam impedir o nosso enlace, Pois saiba que teremos recompensas Se não nos ocultarmos. Nossa face
Em um espelho só já se mostrara Mostrando o que sentimos: jóia rara!
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Perdido num pé de vento Pelos bares da cidade Não me sai do pensamento Vinho amargo da saudade.
A paixão tomando assento Lembro os goles da amizade Que brindamos num momento Sonhando com liberdade...
Nossas noites num naufrágio De esperança em bebedeiras Meu silêncio, um tempo frágil
Desfraldando estas bandeiras Beba um copo, meu amigo, Liberdade inda persigo!
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Perdido nos prelúdios das manhãs, Buscando me encontrar, vagos desejos. Espaços transtornados, dores vãs; Tentei cantar a vida em teus solfejos...
Tuas unhas arranham, sangram lãs, Miscelâneas, vertigens toscos beijos... Natalinas as nozes, avelãs... Nas fornalhas forjando pães e queijos...
Vicejaste brilhantes esperanças. Me roubaste afinal minhas horas... Vieste com ternura de crianças,
Em tantos madrigais já te perdi. Em tantas tempestades nunca afloras, És o que não conheço mas vivi... Marcos Loures
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Perdido nas estrelas e nos mares, Cansado de saber que não virás, Remando contra tudo, bebo bares, Vagueio por montanhas, incapaz...
Flutuo pirilampo, teus luares, Quem sabe não serei enfim audaz... Penetre teus recônditos lugares, Encontre em teus amores, minha paz...
Termômetro quebrado, não te sinto, A febre que aparentas um engodo... Vulcão que sempre julgo esteja extinto,
Parcela principal me lembra o todo... O vinho que me deste, nunca tinto, Amor que muito muda, perde lodo... Marcos Loures
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Perdido em tanto amor Eu vago a noite inteira Buscando a companheira, Seu riso sedutor.
Vivendo com ardor, Paixão, nossa fogueira, Deitando numa esteira, Teu corpo tentador.
Desejo que nos rende, A vida nunca cansa, Amor, a noite avança,
Vontade que nos prende. No fogo que se acende, Contigo eterna dança... Marcos Loures
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Perdi, sem proteção, rosa dos ventos E vejo que não tenho ancoradouro O sol vai penetrando no meu couro, Rasgando em mais temíveis sofrimentos.
Os dias se esvaindo, frios, lentos, Esqueço o que pensara ser tesouro, No fogo da esperança não me douro. Felicidade é feita por momentos.
Na solitária ermida que escolhi, Não ouço quase nada, e sinto aqui Neste silêncio atroz em que me aninho
Apenas um distante e vil lamento, Sentido pelas lentes em que aumento. No quarto nem sequer um burburinho. Marcos Loures
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Perdendo no começo, vou embora. E deixo para trás somente adeus, Os sonhos desde agora não são meus, A sorte já se vai e não demora.
Apenas solidão inda decora Trazendo com mais força trevas, breus, Os olhos vão perdidos, são ateus E nada do que eu quis já se assenhora
Dos dias em pedaços destruídos, Os medos, com certeza, decididos Travando o que pensara ser saída.
A negação constante e repetida, Depois dos sonhos todos, esquecidos, Mudando todo o rumo de uma vida. Marcos Loures
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Perdi minha cabeça quando vi Na praia de Iracema esta morena, O sol tomando pleno toda a cena Dizia que a beleza estava ali.
Saber da fortaleza, eu entendi, Que a sorte sorridente já me acena, A mente num segundo concatena E volta a todo instante, busca a ti.
A doce sobremesa é merecida! Mudando a direção de minha vida, Num banquete tão farto eu me sacio
Além do que eu pensara merecer, Morena transformada em bem querer Goteja maravilhas de um rocio...
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Perdi faz tanto tempo, antigo trem Na curva mais fechada do caminho, A noite vem chegando de mansinho Mostrando que esperança ainda tem;
Cansado de sonhar, prossigo sem Certeza que me trague algum carinho. Não tendo mais o gosto de teu vinho, Relembro a noite imensa do meu bem...
Pensara ser possível ter algum Mesmo que pequenino, usando o zoom O amor pode ser claro. Nele eu boto
O que restou do sonho. O peito segue aberto, Mas vejo: se aproxima e está bem perto O pesadelo outrora tão remoto. Marcos Loures
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Perdeste teu condão, és falsa fada; Encantos que mentiste nunca os vi. Saíste tão sozinha, madrugada, Fugiste pro jamais, estás aqui?
Nos teus olhos servis, embriagada A rosa que plantei nunca pedi. A boca que negaste não beijada, Na sorte que predisse me perdi.
Não quero teu destino nem condão. Quero o sincero riso que me negas... Quero o fantasma doce que sugeres...
As mãos que me deliram sempre feres, As ruas que fugiste não navegas. A fada que morreu, meu coração! Marcos Loures
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Perder a liberdade e ser cativo, Decerto enlouquecer num sonho insano. Morrendo pouco a pouco, estando vivo, Errar pelo deserto, sem ter plano...
Vagar pelo infinito sem ter asas, Sentir a dor imensa e ser feliz. Queimar o coração, arder em brasas, Depois de tanta vida, um aprendiz...
Gostar do sangramento dolorido, Inebriar-se tanto sem ter vinho. Gastar o pensamento em puro olvido, Ouvir sinos tocando, passarinho...
Ser um espontâneo sofredor, Sou vítima de ti, amaro amor...
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Perdendo todo o rumo no teu mar, Mergulho no furor em convulsão; No labirinto sempre a aprofundar Na busca de teu corpo... Sedução!
Exploro pouco a pouco, devagar, Até chegar ao fim da expedição Pronto p’ro tesouro eu ir buscar Nas ilhas, penetrando em teu vulcão...
Amor enlanguescido deita a chama E queima neste mar tão ansioso. Vivendo o que teu corpo já reclama
Sabores e delitos que cometo, Num cálice, teu vinho mais gostoso, Orgástica emoção que enfim, prometo... Marcos Loures
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Perdendo o meu juízo, iscando o sonho, Pescando o teu amor, petisco raro. Caçando com sorriso, eu te proponho Um tempo encantador em dia claro.
Em ti eu me matizo, as cores ponho, Recebo o teu alvor, e assim declaro O vento sem aviso, antes medonho Agora em teu calor promete amparo.
Não és mero desejo, muito além Na boca a cada beijo, tudo bem, Eu vejo ter assim o que mais quis.
O sonho que tu és, realidade, Libertos os meus pés, tranqüilidade, Depois de tudo enfim: eu sou feliz! Marcos Loures
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Perdendo meta e rumo, sigo só. Sorvendo cada gota da tristeza Que expõe a solidão em farta mesa, Transforma uma esperança em ledo pó.
Ouvir a voz do vento e nada mais, Sentindo este vazio que não larga Enquanto a vida passa tão amarga, Notícias se repetem nos jornais...
No retrovisor; sombras da alegria, Gritando: fui feliz, mas a sangria Aos poucos me tornando assim anêmico.
O amor que outrora fora minha luz, Agora me pesando feito cruz, E o medo se transforma em mal endêmico...
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Perdemos tanto tempo em nossas vidas, Procurando um culpado pela sorte, Das noites tão cansadas, mal dormidas Da dor que nos invade, sempre forte.
Perdemos tanto tempo procurando No lixo que alimenta nossos filhos, Seguimos, sem saber, nos enganando. Os passos se perdendo noutros trilhos.
Amigos encontrei em cada ser, Não pude dar a chance de existir O que já deveria perceber Que apenas nosso amor pode impedir
O lixo que alimenta teus irmãos, Servido, sem querer, por nossas mãos...
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Perdemos a noção se é noite ou dia, Tomados por loucuras e desejos. O tempo desfilando essa magia, Refém desses carinhos, vários beijos...
Teu corpo se encharcando em poesia, Irradiando raros relampejos. Incêndios flamejantes da alegria No amor que não tem medos e nem pejos.
Deitados nestes sonhos, claros, nus, Sem regras nem limites, vou inteiro. Na entrega tão inteira, sem tabus...
Tua boca, delícias e prazeres. Um sentimento intenso e verdadeiro Acalmam os desejos de dois seres...
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Perdão com sua teia, amor recobre Moldando em bela tela uma obra prima, Um erro que depressa se descobre Não pode destruir a farta estima.
Primando por estar sempre contigo, Eu tive, na verdade este tropeço. Por isso, essa alegria que persigo, Pergunto – meu amor eu não mereço?
Escute a voz que vem do coração E deixe-se levar em um momento. A força inquestionável do perdão Aplaca em calmaria algum tormento.
Se necessário, mesmo de joelhos, Os olhos pranteados, já vermelhos.
39
Percorro tantas terras nesta busca, Encontro em desencontros rumo e meta, Se ao menos eu pudesse ser poeta A vida não seria assim tão brusca.
A claridade intensa que me ofusca Às vezes é funesta ou mais dileta, Minha alma sonhadora se completa Desejo em fogaréu queima, chamusca...
E quando feita em brasas; a vontade Afasta-se deveras da verdade E muda o meu caminho em um segundo.
Viver cada momento com vigor, É tudo o que inda insisto em te propor Na lava em explosão que ora me inundo...
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Percorro tais caminhos de cristal Dos sonhos delicados e excitantes Teu corpo se apresenta sensual Incenso se mistura a diamantes.
Quarando nossa vida no quintal Deitando sob os astros deslumbrantes, Mergulho em fantasia e no final Eu te amo muito mais que amei bem antes.
Montando num cavalo prateado, Nas asas vou buscando o nosso céu, Meu sonho se percebe extasiado,
As portas do infinito vão se abrindo Sabendo deste vôo do corcel E vejo o paraíso: céu infindo...
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Percorro os mesmos erros que de antanho Tomavam minha vida sem desculpas, O jogo que pensara outrora ganho, Percebe quando insólita me culpas.
E sei que nada disso tem resposta, Acordo e de manhã, bebo o café, Minha alma sobre a mesa segue exposta, Talvez eu necessite ter mais fé...
Perdão pelos enganos? Sim, eu peço. E quando me perdoas eu repito A queda e novamente me confesso, Fazendo rotineiro este meu rito.
Sem nexo, sem destino e sem noção, Na fútil expressão de teu perdão...
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Percorro com vigor tal bela estrada Que traz a eternidade como meta, Na senda mais florida, iluminada, Meu sonho, ser feliz, já se completa.
Ao perceber a sorte desejada O coração sincero de um poeta Percebe no teu peito, minha amada, A direção e o rumo desta seta
Que um deus quase menino desferiu, Ferindo enquanto cura em dor bendita. O toque mais audaz e mais sutil
Dos lábios de quem amo em minha boca, O peito enamorado enfim se agita Na mão que acaricia e me treslouca. Marcos Loures
43
Percorro as mansas tramas, nossas trilhas, E vejo quanto é duro ser feliz. As horas inconstantes andarilhas Nem sempre são do jeito que assim quis.
Tristezas invadindo quais matilhas Cortantes ilusões, vou por um triz. Nos mares de meus sonhos, poucas ilhas, As lágrimas fazendo um chafariz.
Meu peito empoeirado de saudade, Os cortes latejando, frias chagas, Enquanto tu me negas, não afagas,
Apago as luzes todas na janela. Saudade que é do amor uma seqüela, Negando com vigor, a claridade. Marcos Loures
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Percorro a velha senda, novamente Recolho antigas pedras, sem espinhos Entendo serem flóreos os caminhos Que uma alma enamorada enfim pressente.
Ciúme este temível delinqüente Transtorna tantas vezes, belos ninhos, Amores acoitados, pobrezinhos, Arrastam cada qual sua corrente.
Por vezes em tão frágeis expressões, Seus passos são em dores demarcados, Sem força não se escutam mais seus brados
Apenas em gemidos, seus refrões. Mas quando amor se dá em paz e glória, Nos olhos carinhosos, a vitória... Marcos Loures
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Percorro a cada noite, a vastidão Que nos separa, amada; ganho o astral Montado no cavalo/coração Estrelas recolhendo em meu bornal.
Tocando a bela lua em sedução Até chegar a ti, quando afinal Me entrego, sem temores à paixão; Matando esta saudade que é fatal.
Os raios da alegria, trago-os eu Teu mundo, neste instante, é todo meu, Num cofre delicado da ternura.
Distâncias não me importam, pois sou teu, E bebendo desta água que é tão pura, Esqueço a minha sede de amargura...
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Percorrendo teus vértices, natura, Encontrei as tais sombras que perdi! Reparei criador e criatura, No mesmo instante, morte conheci!
Quem fingia viver doce candura, Lambia-me, dizendo: Estou aqui! Serpente disfarçada de brandura. Em fatais sortilégios eu caí.
Agora, agonizante caminheiro, As cruzes que deixaste me penetram! As facas que jamais pensei adentram,
Deixando suas marcas e remendas... Quem sempre parecera verdadeiro. No fundo não passou de simples lendas!
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Percorrendo infinitos; línguas, bocas Vivendo com fartura este prazer Enquanto em meus carinhos tu alocas Desejos de sonhar e de viver.
Vagando pelos céus sem ter destino, Estendes a alegria na varanda Ao cheiro deste templo feminino Meu rumo em descaminho se desanda
Os olhos bandeirantes decifrando Enigmas, profecias e mensagens, O vento que se fez outrora brando Transporta inesquecíveis paisagens
E os genes misturados da esperança Traduzem destes lábios, a aliança... Marcos Loures
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Perco-me em teu carinho Paixão que me alucina Plantando sem espinho Prazer que assim domina Percorro um bom caminho Procuro fonte e mina.
Perceba quanto eu quero Pegar em cada mão, Pecado que venero Postulo esta emoção Plangente amor tão fero Partilhas da paixão...
Pensamento risonho Por tanto quanto eu sonho...
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Pércizo te contá o assucedido Pru móde resfriá minha cabeça. Amor mermo veiáco é distraído E faiz sujeito bão sofrê à beça.
Dispois de eu e a muié adivirtido A noite intêra, amor pregano peça Cismô di mi dexá dismilinguido Com quêxo inté no chão, Meu Deus ómessa!
Muié bixo matrero melindroso, Dispois de me falá tanta bestage, Ao recramá da fárta do tár gozo,
Qui do meu lado, disse nunca tinha, Falô cum ieu e disse éssas bobage Agora foi morá cum a vizinha...
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Percebo tua sombra em plena inquietude Circulando à solta em volta desta casa. O quanto já morreu inglória juventude É tanto quanto o fogo imenso que te abrasa.
Não tendo mais sequer a sombra da atitude, O gesto em solidão, disfarça e não me apraza. Querer que se perdeu além do que não pude Retrata este regalo aonde a vida ocasa.
Insone em paraíso eu busco insensatez Tragando gole a gole esgotos que deixaste. Reféns do que sonhei, em lástimas se fez
O jogo sem vitória aonde eu me embrenhei. Não quero neste amor ser tão somente um traste, Tampouco com sarcasmo, imagino-me rei. Marcos Loures
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Percebo tão distante algum sinal, Parece que isto é coisa do diabo E sem conexão, num baixo astral Aos poucos solitário eu já desabo.
Num gesto tão bacana e sem igual, Morena que domina, por quem babo Recado me mandou: caixa postal, A porra da internet virou quiabo
Escorregando assim, o quê que eu faço? Vontade de sarrar minha morena Xaveco vai virando este bagaço
Depois fico na mão, e sem ninguém O coração vadio já se empena Gosto de guarda-chuva agora vem... Marcos Loures
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Percebo renovado este jardim Depois do duro inverno que enfrentei, A paz do teu sorriso chega assim Mostrando todo amor que procurei.
Quem faz desta alegria meio e fim, Concebe neste amor, a sua lei, A boca delicada e carmesim, O paraíso em vida que eu beijei.
Não quero mais a dor de estar sozinho, No toque mais preciso e mais sutil, Recebo o teu carinho tão gentil
Aqueço com paixões o nosso ninho. No fogo que me queima e que me invade, Amor transmite paz, felicidade... Marcos Loures
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Percebo que em qualquer lugar que chego Eu vejo o mesmo aviso que me diz. Que estás sendo filmado: Ri feliz! E logo fico quieto, isso eu não nego.
Cansado de martelo sendo prego Não leio mais palavras tão gentis. Diabo no meu corpo que eu carrego Em frases delicadas e sutis.
Por isso meu amigo e companheiro, No nono mandamento eu me estrepei Depois de batalhar o tempo inteiro
Lutando contra a força e quente chama, Deparo com as tábuas, as da lei: Sorria amigo: a sua mulher me ama!
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Percebo quanto vale uma amizade Ao ver a solidão que me devora. Depois de ter negado a claridade, Minha alma, sem apoio, sempre chora. Talvez, quem sabe, nunca seja tarde Por isso estou pedindo: vem agora, Mostrando como é boa a liberdade Sem medo e sem temor, a qualquer hora. Desculpe este lamento que remeto Em versos desmedidos e sem métrica. O que tentei; aborto de um soneto, Foi para te dizer, querido amigo, Não deixe que esta vida seja tétrica, Preciso de teu braço aqui. Comigo...
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Percebo quanto é belo o teu cantar Ourives de raríssimo talento Expressa com vigor o sentimento Transforma em mel o sal de todo o mar.
Alvissareiro sonho a se mostrar Nas palavras que dizes me apascento Imaginando um mundo sem tormento Levado pelo etéreo... Navegar.
Zarpando no infinito, poesia Arcanjos, querubins; na fantasia Amiga das palavras e poemas
Zelosa companheira sem algemas Zéfiros mis; transpões em teu afã Irmã; saiba que sou; de ti, um fã...
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Percebo quando perco meu caminho Em meio a tantas plagas e desertos. Se sinto vulnerável teu carinho, Pressinto que os amores são incertos.
Aos poucos, outros rumos penetrando, Em sendas mais românticas, divinas; Voando qual corcel, o céu rasgando, Rompendo destes sonhos as cortinas...
No brado que te canto, minha amada, Deitado no teu colo, o sonho dorme. Amor que já se adentra em madrugada, Prazer que tanto quero, assim, enorme...
Amor que tantas vezes, sensual; Te elevo, no meu sonho, em pedestal!
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Percebo quando o olhar, querida, cerras, Em doces convulsões vai se tomando, Nas nossas aventuras, paz e guerras, Ternuras que nos lambem, devorando. Gemidos incontidos, quase berras, Relances que se mostram sempre quando
A noite se faz rara, o supra-sumo, Vertigens e delitos, louca estrada Aonde nosso caso encontra o rumo E pede que tarde uma alvorada. Tomamos desta fruta todo o sumo Com sede, alma voraz, alucinada.
Olhares tão sedentos querem mais, A dose se repete: é bom demais!
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Percebo quando chegas de mansinho, o teu perfume invade toda a casa. depois da fria noite tão sozinho, meu corpo te recebe, aceso em brasa.
sedento de desejos e carinho vontade de te ter cedo me abrasa o fogo incendiando o nosso ninho, a sede que domina tanto apraza.
Sentindo a tua pele me roçando, meus dedos te apalpando com ternura, o amor se demonstrando na procura
num vento em calmaria, audaz e brando, o amor jamais será deveras fútil tampouco o versejar será inútil... Marcos Loures
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Percebo os delicados, doces lábios; Refém de teus carinhos; nada temo... Amores encantados sabem sábios Contra más desventuras, sempre remo...
Tão atraente, te desejo tanto... Delicadeza imensa, borboleta, Tocando levemente traz encanto Voando em liberdade, meu cometa...
Eu quero a construção de amor eterno A cada novo dia se edifica Na massa do carinho, sempre terno; Amor quando demais ninguém explica
E corre mansamente para o mar, Já sabendo em que porto se atracar...
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Percebo o quanto é bom o amor da gente Em púrpura deslinda-se a paixão, Espalhando as estrelas pelo chão Vestindo a fantasia intensamente.
No quanto o sol brilhante se apresente Fazendo eternidade num verão, Meus olhos outras fonte não verão Cruzando esse horizonte em luz plangente.
Na busca por teu corpo, gozo e riso, Corcéis vencendo chuvas de granizo, Sidéreas explosões, mares invento.
Vislumbro dos umbrais; plena e serena Magnitude sublime em que se acena, A lua desmaiando; o firmamento. Marcos Loures
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Percebo nos teus olhos, tanto frio; Certezas, já não tenho, nem as sei. Amores são segredos, vou vazio, Lembranças desse tempo em que fui rei.
Agora que não temo mais; vadio. Confesso que não penso e nem pensei, Em meio a temporais, inundo o rio, Por onde tantas vezes naufraguei...
Não vou mais me entregar ao sofrimento Nem mesmo uma saudade me maltrata Velhice vai chegando sem tormento
Nem posso maldizer, um só momento o quanto que já tive e - sei - perdi, valeu a pena tudo o que vivi!
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Percebo neste amor, uma saída Que possa permitir sobrevivência, Não tendo nesta vida coincidência, Minha alma já não segue distraída.
Invado tua praia mais querida E bebo tua boca em transparência, Amor que represando uma demência Fascina enquanto trama a despedida.
Às vezes me pergunto sem respostas, Se as mesas do banquete foram postas Ao ver tua presença iluminando.
Por mares nunca dantes explorados, Com olhos e sorrisos mais safados, Meu barco nos teus mares navegando. Marcos Loures
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Percebo nesta chuva uma saudade Na lembrança ancestral que me acompanha, Do tempo em que viver a liberdade Correndo inda criança na campanha.
Canteiros tão floridos, primaveras, O teu sorriso manso a convidar... Num claro sentimento já temperas; Com sonhos e folguedos, nosso amar.
O vento do passado diz teu nome, Os meus olhos fechados te percebem, Aos poucos tua imagem vai e some, Meus lábios são beijados e recebem
Do vento e desta chuva tal carinho, Te sinto, meu amor, não vou sozinho...
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Percebo na fumaça que se esvai, Após cada tragada em meu cigarro, Que a vida, pouco a pouco também vai Sem ter sequer um cais, aonde amarro
O resto de esperança que me trai, E rindo assim de mim, tirando um sarro, Capota a solidão quando distrai Tombando em cada curva em que me esbarro
Com sonhos lá de outra hora mais feliz, Perdida nos entraves do caminho, Legado a simples pedra, em puro espinho,
Resquício de um passado onde, aprendiz, Meu coração pensou-se enamorado, Agora, sem destino abandonado...
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Percebo na chegada de outro dia Um sopro de esperança de um futuro Que traga nossa vida em harmonia, Amenizando o chão, por vezes duro.
Quem dera se pudesse, a poesia, Trazer a claridade que procuro, A vida não seria assim tão fria, O mundo não seria tão escuro.
Fazer de cada ser o teu irmão, Além de obrigação, uma esperança De termos bem mais juntos a união
Que tanto foi sonhada por um Deus Exemplo de que um sonho em aliança Transforma em claridade tantos breus..
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Percebo meu futuro da janela Espero mas não posso mais contar Com a luz, com o brilho do luar Já que nem toda noite se revela.
Meu barco vai sem quilha e perde a vela Dentro de pouco tempo, naufragar. Não quero ser sozinho e peço par, Amor que me liberta desta cela
Por onde nem a luz deu sua cara, Corcel que voa solto já dispara Em busca de outro céu já não se cansa.
No risco que permite minha caça Amor que não consigo se esvoaça E dorme nos teus braços,esperança!
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Percebo meu futuro da janela Espero mas não posso mais contar Com a luz, com o brilho do luar Já que nem toda noite se revela.
Meu barco vai sem quilha e perde a vela Dentro de pouco tempo, naufragar. Não quero ser sozinho e peço par, Amor que me liberta desta cela
Por onde nem a luz deu sua cara, Corcel que voa solto já dispara Em busca de outro céu não se repete.
No risco que permite minha caça Amor que não consigo se esvoaça E dorme nos teus braços, ó Valdete! Marcos Loures
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Percebo em tua vulva quando engole O falo endurecido e tão guloso, Sentada sobre mim, mansinha bole Até que me derrame todo o gozo.
Depois de salivada em lambidelas Teu grelo tão durinho me esbarrando Cavalgas sobre mim e me revelas Com seios no meu rosto resvalando.
Abrindo tuas polpas com as mãos, Encontro logo atrás ânus sedento. E apalpo bulinando os belos vãos
Que quero penetrar com fúria imensa, Pois sei que tu preferes violento O fogo que te atiça em recompensa...
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Percebo em tua carta Que a vida não foi boa, Na dor que sei tão farta Meu pensamento voa
Rainha sem coroa, A sorte te descarta Porém na voz que ecoa Que a glória enfim reparta
Um cheiro de esperança Talvez, felicidade, Na carta que me alcança
Relembro esta amizade Dos tempos de criança Tanta prosperidade...
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Percebo em teu sorriso tal desdém De quem se mostra assim, superior. Buscando uma resposta, mas ninguém Sabe dizer por dádiva ou favor. Do nada em que surgiste, nada vem, Nem mesmo uma mortalha a me compor.
Perguntas, ( ironia?) por que choras? Não vês o meu amor, que é tão imenso? Demoram-se distantes, ledas horas; O dia transcorrendo seco e tenso. Vitrais das esperanças quando estouras No corte que provocas, mal intenso,
Recebo em estilhaços, fundos cortes, Sabores variados têm as mortes... Marcos Loures
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Percebo em teu abraço dedicado A sorte que comigo se avizinha Deixando bem distante um vento irado, A vida não será mais tão sozinha.
Querida, caminhando do teu lado, Eu sei que a solidão é bem mesquinha, Andando par a par, bem compassado Meu braço nos teus passos já se alinha.
E assim, amiga, vejo que outro dia Virá com plenitude em força exata. Na amizade este efeito de cascata
Nos torna bem mais fortes, disso eu sei. Além do que jamais conheceria, A paz tão soberana eu encontrei...
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Percebo em catedral as ilusões imensas Desde que eu encontrei antigas casamatas Dentro do coração, reverberando datas Vestígios do que fui, perfídias matam crenças.
Palavras que deixei, cintilações suspensas, Se nada mais fizer serão decerto ingratas Mas vejo que perdi meu rumo nestas matas E tenho uma certeza em luzes tão intensas
De que jamais verei o que pensei ser meu, Amores; já não tenho. Amizades? Talvez... O brado em que me moldo, encontra insensatez
E mostra em meu futuro o muito que morreu. Por vezes o meu sonho esbarra na verdade Imagem refletida espera a claridade...
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Percebo em cada passo nesta estrada, Pegadas pareadas, mesmas trilhas. Na senda que se fez delineada Florida por jasmins, rosas e tílias.
Idílios são marcados, cada curva Representa um momento mais difícil. As duras tempestades, tanta chuva, Nas lutas, teu fuzil, obus e míssil
Mirando sobre todas as trincheiras Destas dificuldades que encontramos. Paz, carinho e amizade são bandeiras Que sempre, sem temores, ostentamos.
Ao ver, da vida, os rastros que eu já fiz, Entendo, enfim, por que, sou bem feliz!
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Percebo com clareza uma sereia Alcoólatra e sedenta de prazeres, Desnuda nessa cama me incendeia E como este banquete em mil talheres.
Sorrisos derramando a lua cheia Divindades em forma de mulheres, Quem vaga pelas tramas não receia E sabe na verdade o que mais queres.
Em todos os momentos magistrais Roubando o bom perfume dos rosais Eu sinto uma explosão de amor em mim.
No rum que tu destilas todo dia, Respostas à pergunta que sabia Do quanto é mavioso o meu jardim. Marcos Loures
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Percebo a sensação de liberdade Trazida pelo vento da esperança. Caminho a procurar felicidade, Distantes ilusões, amor alcança...
Eu sinto que estes sonhos seculares Se perdem no deslumbre das estrelas. Invento novas asas, caço os ares, Querendo assim, talvez, compreendê-las.
Porém nada encontrando, volto tonto; Sem medo, sem espanto ou poesia. Estrelas aos milhares; louco, conto. Na liberdade que percebo, fantasia.
E sinto que somente amor alcança O rastro que perdi, d’uma esperança!
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Percebo a maravilha em mil matizes Da tarde que adormece no horizonte... Entrego-me a momentos mais felizes Da vida, inesgotável e calma fonte.
Esqueço meus temores, cicatrizes, Aguardo que esta lua já se aponte, Estrelas roubam cena quais atrizes. O sol vai desabando trás um monte...
Eu conto as horas todas te esperando, A noite te trará pós o sol-pôr. Deste caleidoscópio sinto quando
Tua presença amiga, enfim virá; Trazendo novo verso a se compor, E a lua, nos meus braços, dormirá..
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Percebo a curva aberta que promete Delícias e loucuras em que esbalde Aquele que mansinho se arremete Nas coxas bem gostosas. Mas, debalde
A moça se recusa e então não fode. A bunda volumosa uma bela anca, Que andando com molejo, assim sacode Mostrando todo o fogo de potranca.
Queria tão somente penetrar E desfrutar de todo este deleite Porém a rapariga não quer dar Quiçá fosse beber todo o meu leite.
Insisto e nada tenho. Vou sonhar Com dia em que eu puder a penetrar... Marcos Loures
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Percebi desde o dia em que chegaste Que a casa se mostrou mais perfumada. A sorte, num segundo tu mudaste. Das trevas que eu vivera? Resta nada.
Vieste qual um sonho de ventura Tornando minha vida mais bonita. A vida que eu tivera, triste e dura, Refaz-se bem distante da desdita.
Ao ver-te, tela rara em quadro belo, Percebo quanto posso ser feliz. Por isso em cada verso de revelo O que meu coração por certo, diz.
Agora que eu te tenho aqui comigo, Saudade vai morrendo, vil castigo... Marcos Loures
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Percebes quanto a lua se desnuda E deita sobre nós seu raro brilho, O coração, nos sonhos, andarilho Entrega-se qual pássaro na muda
E tendo a fantasia que o acuda Repete, taquicárdico, estribilho Enquanto em teu olhar me maravilho A história num instante, tudo muda.
Na fome de sentir o teu carinho, Eu vejo o teu reflexo no mar E sinto amor intenso ao mergulhar
Sorvendo no teu corpo, pão e vinho; A boca de quem amo me alimenta Constante tempestade que apascenta... Marcos Loures
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Percebe a vida calma e mais bonita Um velho trovador em versos mansos. Já tendo todo o sonho em que acredita Descansa toda noite em teus remansos.
No colo da mulher tão desejada Uma certeza imensa se descreve, A boca mais suave a ser beijada Calando dentro em mim inverno e neve.
A vida me trazendo o refrigério Que tanto procurara, há tanto tempo. Desejo se tornando firme, férreo Vencendo qualquer medo ou contratempo.
Semeias esperança em meu caminho Inebriante sonho, um raro vinho... Marcos Loures
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Perceba: quando a gente não se quer, Cansado de viver monotonia, A vida vai perdendo a poesia, Sabor inebriante hoje é qualquer.
No doce remelexo da mulher O olhar embevecido fantasia E quando vê surgido um novo dia Entrega-se ao cortejo que vier.
Depois de algum momento de ilusão, A ventania traz a brisa calma, E o velho turbilhão esquecendo a alma,
Mudando de figura e de expressão Prepara uma bonança costumeira; Paixão é tempestade, mas ligeira...
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Perceba que o perfume não mudou, As rosas rebrotaram, esperanças... Apenas um espinho que sobrou Deixado nos armários das lembranças.
A roupa envelhecida embolorou Não merece de ti tantas fianças. O quanto tu desejas sempre alcanças No olhar em que a verdade se mostrou
Desnuda das mortalhas do passado, Vibrantes emoções serão benquistas Só peço, minha amiga não desistas,
Estando sempre aqui, bem do teu lado. Refaça tua vida dos escombros, Eu te ofereço sempre amigos ombros...
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Perceba que minha alma está ferida, Lacrada, destroçada pelo vento... Mortalha caminhando em plena vida. O luto não me sai do pensamento.
Levaste, sem saber, rumo e guarida; Deixaste neste escambo, sofrimento... Não vejo mais a lua Aparecida Sumiste nos espaços. Peço ungüento.
Misturo meus delitos e meus erros. Procuro teus olhares, altos cerros, Não vejo nem sinal da criatura
Que tantas vezes trouxe-me ternura. Procuro por teu rosto. Noite escura Reflete meu olhar. Caricatura... Marcos Loures
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Perceba que ao final nada teremos Senão velhos artigos, cacarecos, Retalhos que jamais esqueceremos Ressoam do passado, antigos ecos.
Além do que pensamos, concebemos, Encruzilhadas morrem nestes becos E quando tolamente os revivemos Os rios que sonhávamos? Vãos, secos...
Escombros e fantasmas renascidos, Os sons que se repetem nos ouvidos Decerto estão mudados pelo tempo...
E a doce sinfonia que ora escuto, Ladrido da ilusão, um verso bruto Que fora tão somente contratempo...
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Perceba o colibri esfuziante Que busca em cada flor a companheira Voando sobre a senda fascinante, Mergulha em bela rosa/feiticeira.
Ao ver esta presença lisonjeira, A flor se modifica e num instante Enrubescida, entrega-se ligeira, Fecunda-se no pólen provocante.
A sedutora imagem toma a tela, Enquanto a fantasia se revela O amor quando em amor se faz tão cândido.
O olhar do beija flor enamorado, Iridescente lume irradiado, Expressa este delírio farto e lânguido...
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Pepitas de raríssima beleza, Tesouros entre covas, grutas,minas Paisagens que me trazes, diamantinas. Amores, estalagens e a princesa
Que deita enlanguescente e com destreza Com tua mansidão já me dominas Angústias e temores exterminas, Nos ares campesinos, a nobreza.
Arguta, tu percebes meus tormentos E trazes como alento o teu sorriso, Em plena turbulência, calmaria...
Amar-te é ter nas mãos rosa dos ventos Fazendo este percurso mais preciso A voz que me apascenta, assim me guia... Marcos Loures
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Penumbras dentro da alma, frio intenso. Os restos do que fomos pelas ruas, Escombros onde ainda tu flutuas Em meio a tempestades. Medo imenso...
Na vida que tivemos, quando eu penso, Encontro as mesmas trevas. Continuas Vagando por estrelas várias, nuas, Distante do que eu quero, vivo e penso.
Amortalhado sonho me acompanha Numa fantasmagórica ilusão. Sombra deste passado que me entranha
Amordaçando assim, o meu futuro. Procuro sem domínio, a solução Porém o coração prossegue escuro... Marcos Loures
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Penumbras adentrando estes umbrais Tomando em agonia uma emoção Transtorna num instante o coração Trazendo as ilusões, duras venais;
Ouvindo em crocitar: o nunca mais Que chega aqui em forma de oração Quem sabe em novo sonho outra expressão Permita que se veja, ao longe, o cais.
Unindo sentimentos tão dispersos, Encantos percebidos em teus versos Decerto a vida inteira revigora.
Nas mãos da redentora poesia, Quando este castelo se recria, Funéreas tempestades vão embora. Marcos Loures
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Pensei que voltarias: ilusão... Veredas tão diversas; prosseguiste Deixando o peito agônico e tão triste Cercado por angústia e solidão.
Aos poucos fui perdendo assim meu chão Apenas esperança cega em riste, O afeto na verdade não resiste À negra tempestade, ao furacão.
Minguando a cada dia, morro aos poucos, Meus versos se tornando insanos, loucos, E a poesia agora me abandona.
Viver sem ter sequer uma alegria A lua em desencanto se escondia No mar de onde os fantasmas vêm à tona...
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Pensei que fosses minha, até sonhei... Dançavas a nudez dos meus desejos. Teu corpo, mansamente, decorei Em carícias, delícias, loucos beijos.
Pensei que poderia ser teu rei... Me ensinavas seus cantos em solfejos; Navegávamos mares que não sei. Nesses belos pomares, frutas, queijos...
Um plenilúnio eterno, minha vida... Em serenatas, lúdico serão... A dor envergonhada, vai perdida...
Viver sem conhecer perdas, perdão. Embalando em teus braços, fantasia... Acordei solitário... Era ilusão!
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Pensei que conhecesse meus desejos... Pensei, apenas soube dos meus erros Ao conhecer os campos dos desterros Onde repousam, néscios, nossos beijos!
Procurei por entranhas e sentidos, Os vales, cordilheiras, foram vãos. Pensávamos amores como irmãos No fundo, sentimentos corrompidos...
Agora, que conheço meus defeitos, Meus lábios te procuram, como um sol... Meus olhos devorando fartos peitos.
Na vida, esse delírio já me incrusta Eu te amo e te procuro; girassol Na tua majestade, a sorte augusta...
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Pensei que ainda houvesse algum milagre Capaz de nos salvar da solidão. Enquanto esta tristeza já avinagre O que restou sem ter nem compaixão.
Sem ter uma alegria que consagre Caminho em diferente direção O gosto que restou, deveras agre, Não deixa, disso eu sei, mais solução
Insolvente este amor, não tem remédio, Deixando por herança, imenso tédio Fagulhas não prevendo mais incêndios.
Dos vasos que quebraste, tantos cacos, Meus argumentos foram muito fracos, Mas nem que eu escrevesse mil compêndios...
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Pensava que era minha esta esperança De um dia ser feliz. O tempo passa E a noite deste inverno já se avança, O gosto da alegria se esfumaça
E fica sepultada na lembrança ! O passo, o velho laço, paço e praça; Um sonho (ser feliz) depressa cansa, O medo me transforma logo em caça.
Em toda a sensação de vento e frio, A nau que trama a vida já naufraga, O meu peito restando assim vazio
Não deixa nem a sombra da alegria, Apenas solidão amarga afaga; E uma esperança tola, em fantasia...
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Pensava já ter visto nesta vida De tudo, mas me pegas de surpresa… A pobre da moçoila, simples presa Da fera sem vergonha e desmedida.
A história sendo assim tão bem urdida Não deixa, para a vítima, defesa, E quando reparar; é sobremesa E a moça sem saber vira comida...
E o canalha palita então seus dentes, Destrói mil casamentos e noivados E quando enfim percebem, os coitados
Tocados pelos olhos tão dementes, Inutilmente, sofrem, penam, choram... E como fosse mágica: evaporam..
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Pensara simplesmente na saída Distante dos meus olhos sofredores, Revivo a cada instante; antigas dores, Resquícios do que outrora se quis vida.
Retornando à mesmice, minha lida, O céu já não tem mais nem brilho ou cores, Ao velho coração restam pudores, Aguardo, na chegada, a despedida...
Quem sabe se pudesse refazer Caminhos que aprendi a percorrer Em meio a tantas pedras; a rotina...
O peso do passado em minhas costas, Perdi há tanto tempo estas apostas E exposta vai minha alma, pequenina...
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Pensara ser talvez a solução Que poderia, enfim, me redimir. Depois de tanto tempo em solidão O amor me prometia um bom porvir.
Usando tão somente uma emoção Não pude perceber nem impedir, Que após alguns momentos de ilusão, Mostraste que tu eras. E ao partir
Deixaste tuas marcas no meu peito Retratos deste amor que eu quis sereno Espalhaste na casa que foi tua.
Matando o que eu sonhara e desse jeito Trazendo à minha vida, o teu veneno, Realidade fez-se nua e crua...
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Pensara ser a lua tão fiel Que desarmei em vão meu coração. Depois de tanto tempo, esta emoção Girando como fosse um carrossel.
Nas fases do satélite cruel Apenas descompasso e solidão, O amor que tanto eu quis gritando não Coberto pelas nuvens, negro véu.
Assim, ao crer na lua como um porto, Eu vi o nosso amor, agora morto Distante dos faróis deste luar.
Sozinho pela noite tão escura, O brilho se transforma em amargura, Que faço se não soube, assim te amar? Marcos Loures
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Pensara que já fora derrotado Depois da luta intensa, resta o nada, O vaso em que esperança foi plantada Está em algum canto, abandonado.
Não quero descobrir se no meu fado Estrela se tomou em derrocada, No tumor que cultivo, uma tragada Espelha o rio inerte do passado.
Nos cárceres privados dos meus sonhos, Olhares que me miram são bisonhos Matando uma alvorada em agonia.
Um resto de esperança soerguida Permite vislumbrar alguma vida Nas mãos de quem adoro; a poesia Marcos Loures
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Pensara que esse amor já se acabasse Nas curvas que derrapa a cada dia. Tentara acreditar simples disfarce A máscara que usara, de alegria...
Pensara que teu braço mais cansado, Envolto nos abraços fosse frio, A mansidão do tempo, lado a lado, O coração exaspera e vai vazio...
Pensara que jamais fosse tão franco Ao ver envelhecer quem tanto amei, Nestes cabelos, neve, todo branco O manto da saudade que guardei...
Mas nada, eu percebendo que inda te amo, Com olhos no passado, porvir tramo...
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Pensara na verdade num cordel, Talvez fosse melhor, mas sem ter tempo Nem medo de castigo lá do céu, Neste soneto vou sem contratempo
Falar de um fato insólito que eu soube Que um dia aconteceu com meu cunhado. Apenas, meu amigo, a mim já coube Dizer o que deveras foi contado.
Um dia passeando em noite cheia Clarão no qual a mata se incendeia Ouvindo um tal relincho em noite fria.
Correndo e sem cabeça. Viu jumento Armado com terrível instrumento. A culpa? Desta tal pedofilia... Marcos Loures
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