
Silêncio rasgado
Data 05/09/2007 09:17:30 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Pouco mais me resta que ouvir a música feita de notas suaves formando o coro de vozes que rasgam o silêncio;
A pouco mais me atrevo que seguir o caminho feito de pedra nua onde o eco dos meus passos rasga o silêncio;
Imagino a cor das palavras ditas por gente que não sabe falar e dou por mim a ouvir, sem escutar, o ensinamento nascido do silêncio rasgado;
Partilho a herança dos sonhos agitados pelo arrependimento, com a resistência que conforta a imaginação alimentada pelo silêncio;
Silêncio apunhalado pelos gritos alucinantes dos loucos que escrevem mas que não sabem ler;
Silêncio rasgado pela solidão acompanhada de segredos guardados na escuridão;
São segredos quentes que cresceram no frio da visão dos que não sabem ver, são palavras ouvidas de passagem que provocaram a ira dos loucos que rasgam a noite em busca do silêncio;
Que digo, quando calado? Que calo, quando adormeço embalado no som rasgado pelo silêncio? Não mais sou que louco quando me refugio na ilha imaginária rodeada pelo silêncio?
É preciso avisar que o silêncio rasga a ligação criada de palavras imaginárias dirigidas a pessoas faltas de ouvir? Mas, avisar quem? - a Ti, que não ouves? - a Ti, que não falas? - a Ti, que não sabes? - a Ti, que não queres?
Então, que mais me resta que seguir o caminho povoado de vozes rasgadas pelo silêncio?
Talvez pouco, (não sei se nada) talvez muito, (não sei se tudo); Talvez esteja escrito que só saboreie o gosto amargo das palavras que ouço no silêncio; Talvez me esteja traçado o rumo certo de incertezas que povoam o labirinto onde as saídas estejam fechadas por muros de silêncio;
Talvez, quem sabe, possa um dia rasgar as páginas do meu livro branco de palavras coloridas em tons carregados de silêncio e escreva, no que delas restar, a mais bela mensagem que as vozes possam partilhar sem se atreverem a perturbar o silêncio que transmitirá, por só o silêncio ser a forma de dar vida à noite povoada de seres errantes;
O silêncio cresce, o silêncio agita-se, como gota silenciosa a cair em terra onde o tempo parou para a queda não perturbar o sono profundo dos que não querem acordar envoltos em palavras que não querem ouvir;
Mas o silêncio alastra e lança o seu aviso na escuridão de luz plena de visões fantasmagóricas de renúncia;
Mas o silêncio ecoa nos passos que se dirigem apressados, rumo ao incerto que fabricou sonhos plenos de realização, derrotados pela vã esperança de um dia serem Verdade; E, ao caminhar só, embalado por cânticos fabricados de notas suaves de silêncio, mais uma vez Te encontrei - Solidão, velha companheira.
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