Falo com os versos, como se foras tu...

Data 05/09/2007 10:10:05 | Tópico: Poemas -> Amor

É manhã,
não mais que uma manhã de um qualquer dia.

Das frinchas entreabertas,
filtram-se tufos de luz.
Escorrem-se em projecções difusas de espelhos
provindas dos beirais de ventos.

Na parede branca
rebusco um barco, um barco encalhado lá no fundo,
por debaixo das vagas.
As sombras prosseguem-se indolentes.
Abúlicas.
Diabólicas.

Não temo.
Rastejo e sou junco de rio, de joelhos em sangue
nas laminas do teu brilho.

Avanço. Avançamos.
Na génese hiperbólica, na força criadora da semente,
na força centrípeta,
e de repente,
desvendamos um mundo de brandura e de verdade,
um mundo em que os nossos sentidos
se abraçam aos ritmos das tempestades.

Enleados,
por debaixo de um Sol de cardos, meu amado,
entregamo-nos a uma força maior e convergente,
e as magnólias explodem-se vivas,
entre o sonho e a realidade…

É manhã,
não mais que uma manhã de um qualquer dia
…abro os olhos e sorrio.
Na grafonola antiga toca “Nocturne” de Chopin.
Uma lágrima desliza-me o rosto.
É rota de presença naufragada à vista de porto.

Emudeço …
Falo com os versos, como se foras tu.
E o mundo dos versos,
um mundo mudo, responde-me sempre
em ecos de silêncio vazio.

Ao lado, o rio!!!




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