Não me sigas o corpo

Data 02/01/2011 21:53:10 | Tópico: Poemas

Não me sigas o corpo, que esse é só um apenas entre a parecença e os baixios na geografia dos passos.
O meu torso é um busto que posa nas pernas escrivaninhas um vexame transferidor de oblíquos meridianos em pausa.
Porque fizeram estradas com dois sentidos, cruzamentos que arredam costumes aproximados e rumam os homens a planear a dor em endereços distantes…
O corpo é errado, é a alma vista de lado, o dizer do querer enviesado, um balão sem ar, o comboio parado, que engravida a terra de úteros infelizes e mulheres sós no apeadeiro onde brincam crianças com lancheiras tristes.
Sibilo longa a metragem do amor nos labirintos do não sei…
Tenho uma bomba atómica de sorrisos em utopia nos meus jardins assombrados de ser…
Mão, coisas do abraço, nódoas de arco-íris, retratos do antigamente e as casas caiadas com festas de laranja e cores vivas de lençóis queridos…
Melodias de clorofila no inverno de mentol e o Verão, a Primavera numa colcha de folhas onde se acalma o sol de Outono.
Eu durmo pelos cantos urgentes onde o sono me chora breve.
As latas de Coca-Cola, o chão dos bandidos, o rosário de beatas e papel de pastilha no terminal dos comboios…
Só há carros porque há longe…
Somos filhos dos séculos e das estradas.
Não me sigas o corpo, que esse é só um apenas entre a parecença e os baixios na geografia dos passos.
Dá-me a mão…
Renasce em mim…
Vamos fechar as rotundas e chocar olhos nos olhos…
E rir, rir…
Das multas que nos inventam, por estarmos embriagados no carrossel da vida .
Não me sigas o corpo...
Segue-me o caminho.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=168730