Bebo de ti, amado ...

Data 06/09/2007 13:34:15 | Tópico: Poemas -> Amor

Bebo de ti, amado, estrépitos de rouquidão
quando, num sono permanentemente acordado,
navego,
da palavra sussurrada ao meu ouvido,
o tálamo exaltado do teu rio,
do teu riso,
sem jangada, bóia ou barco.

Bebo enaltecida
a seiva
a saliva
a ardência anunciada na sementeira da paixão
e, da terra até então infecundada,
germina, tal crisálida aberta,
a minha alma,
a minha essência de secreta flor-de-liz,
num cálice orgânico de cetim.

Sorvo de ti, amado,
gota a gota,
bago a bago,
o derramamento dos corpos verdes dos silêncios
numa taça erguida à memória do passado,
onde me abrigo, nas luas do teu afago,
resguardada dos ventos
sustidos p’los dedos abertos da tua mão.

Bebo, sugando,
cada rima,
cada verso,
dum sonho germinado em palco incerto,
na inviolabilidade deste afecto.

Tomo-te de assalto quando, esgotado na foz,
és poema a explodir-se dentro de mim
e no mutismo da palavra,
florescem estrelas em nós.




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