ELEGIA A UM CERTO JÚLIO SARAIVA(republicação, a título de memória)

Data 13/01/2011 09:11:19 | Tópico: Poemas

aos meus amigos mortos


aspiro o pó branco dos meus dias
organizo a festa do dia seguinte
num baile de máscaras dancei com a morte
a lua cheia me salvou
minha loucura meu bem é quase santa
por isto estou sempre rezando
trago palavras de missa na ponta língua
mesmo quando blasfemo estou rezando

aspiro o pó branco dos meus dias
sou o meu pior inimigo
aquele que ataca pelas costas
firo-me todos os dias com o punhal que trago nos olhos
depois vou dormir tranquilo
certo do dever cumprido

aspiro o pó branco dos meus dias
o poeta que fui aos vinte anos morreu
afogado num bar numa noite de mil novecentos e qualquer coisa
envenenado de soneto
nos braços de uma mulher que nunca existiu

aspiro o pó branco dos meus dias

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júlio


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