
Poesia Da Vida Em Marcha (Mário Lago)
Data 14/01/2011 00:45:30 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| A poesia da vida em marcha tem ritmo diferente.
Ritmo irregular e desigual de milhões de martelos batidos descompassadamente por milhões de mãos; de milhões de enxadas movidas desordenadamente por milhões de braços; de milhões de pés andando desesperadamente não se sabe para onde.
A poesia da vida em marcha tem música diferente.
Música sem som das sirenes das oficinas, dos apitos das locomotivas, dos roncos dos motores, dos gritos das revoltas interiores dos homem que sofrem nas oficinas, queimam os pulmões nas caldeiras das locomotivas e morrem de fome nas fábricas de motores.
A poesia da vida em marcha tem rimas diferentes.
Rimas sem música, sem versos que terminam em sílabas iguais. Rimas de palavras diferentes, com o mesmo sentido na boca dos que sofrem.
Rimas de palavras que rimam apenas na idéia, no pensamento. Rimas estranhas de tirania com sofrimento, de sofrimento com união.
De união com liberdade.
A poesia da vida em marcha tem cadência diferente.
Cadência de passos trôpegos das crianças sem pão, das mulheres sem lar, dos homens sem trabalho. Cadência brutal das patas de cavalos pisando carne, de patas de cavalos pisando sangue dos homens sem trabalho, das mulheres sem lar, das crianças sem pão.
Cadência violenta de braços se estirando num esforço cada vez maior como quem empurra qualquer coisa. Cadência confiante, enérgica, de punhos cerrados batendo, batendo, batendo, de uma só vez, simultaneamente, compassadamente, como quem derruba qualquer coisa.
Mário Lago, ator e poeta.
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