para quê?

Data 15/01/2011 14:16:14 | Tópico: Poemas

Serei amanhã numa nuvem concreta
apenas a água que cai da manhã

deserta

a língua de fogo numa flor de terra

despida do vermelho do tempo e da guerra

e não mais usarei de palavras vestidas

ruidosas.

Talvez continue vendo,sem ver
todas a poesia contida nas prosas

mas serei o silêncio do vento nas rosas
apenas sentido na nudez

da madrugada


um tudo num nada,
uma sombra calada.


Um homem caminha sobre si
e pisa o céu doloroso
subindo o caule
verde negro
do seu corpo inteiro

tão belo como horroroso.

Em face do desenho esférico do mundo
abre mãos e estremece em linhas.

diz-se azul

escreve-se nas tintas
do que pinta

e chora

olhos e olhos
aos molhos

fechados
abertos

amontoados

mortos.

Montanha
calada
da paisagem humana
desenhada numa imagem
de fundo.

Observo
o defunto,

eu,
o defunto
sem olhos,

e pergunto:
porque penso?
que assunto há?

para quê o verbo?



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=170708