
Vácuo cantado
Data 16/01/2011 16:48:57 | Tópico: Poemas
| Cada passo que dou é mais vago, Cada vez que inspiro tremo. Cada sorriso sem afago Desiludido ao extremo.
Cada memória é pincelada Com tintas de jamais outra vez, Cores de vida pintada Só com dois tons ou três.
Afixo na parede cada lembrança, Cada momento bem passado, Atiro uma pedra à esperança Por me ter de tal forma deixado.
Alimento-me do fumo do vício, E tento então raciocinar, Mas o tempo não corre propício Ao que costumava cronometrar.
Este vazio que se instalou... Esta falta que me irrequieta... Qual a seta que trespassou A leda alma deste poeta?
Falem-me de felicidade, E vos apontarei o dedo! Se é que existe tal verdade, Alguém guarda bem o segredo.
Falem-me então de amor, E mostrarei o meu medo, Só quem já sentiu tal dor, Desnudará o bruxedo.
Contem-me histórias de embalar, Tão doces que adormeço... Estive até agora a tentar, Mas a dormir, não apareço.
Instalo no dia umas reticências Assinalando a probabilidade. Mas envolto em várias fragrâncias, Sou derrotado pela realidade.
Quando poderei retratar-me tranquilo? Quando perderei a aflição? Penso em mim, nela, nisto e naquilo, Mas pense agora ou ontem, no que pense, Sempre permanece a questão.
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