Ausência (Jorge Luis Borges)
Data 17/01/2011 23:32:07 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Eu haverei de erguer a vasta vida que ainda é o teu espelho: cada manhã hei-de reconstruí-la.
Desde que te afastaste, quantos lugares se tornam vãos e sem sentido, iguais a luzes acesas de dia.
Tardes que te abrigaram a imagem, música em que sempre me esperavas, palavras desse tempo, terei de as destruir com as minhas mãos.
Em que ribanceira esconderei a alma pra que não veja a tua ausência, que como um sol terrível, sem ocaso, brilha definitiva e sem piedade?
A tua ausência cerca-me como a corda à garganta. O mar ao que se afunda.
Jorge Luis Borges, poeta argentino, Nobel de literatura.
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