Seria pouco, sempre escasso, meu amado ...

Data 08/09/2007 18:26:57 | Tópico: Poemas -> Amor

Seria pouco, meu amado, sempre pouco,
falar do Sol a despontar da tua voz
de lirismo rouco,
do timbre ruborescido que me galvaniza
na noite inapagável do meu dia…

Seria pouco, sempre escasso, meu amado,
falar num verso
num poema
numa eclética prosa,
do quanto imenso é o bíblico delírio,
de ser mulher, sem nunca ser, no abstracto
dum cântico dulcíssimo e furioso,
no arrojo dum vento bravio que me volatiliza
e me desfolha, pétala a pétala, carmim de rosa,
dentro dum tempo por acontecer.

Seria parco, meu amado, sempre parco
falar dum sopro, leve, nu e descalço,
dum afago controverso,
que me degola,
que me estrangula em derrocada e excesso …

Que me faz ser não mais do que fina folha,
desfalecida em sussurros,
em murmúrios,
em arrojos de meninice e ternura,
pulsados de luz em forma pura…

E que me eleva
num plano descompassado,
me percorre ávido o pousio do corpo
em epílogos melódicos da mais profana loucura…

Seria diminuto, imensamente exíguo,
reduzir à dimensão do verso, por maior,
por mais compacto,
o sentimento,
o dilacerar da carne em espanto,
o rumorejar afónico das constelações do meu pranto,
a cada segundo,
a cada átomo infinitésimo de um momento
em que te ausentas em horizontes de bruma e névoa,

… em que as horas se quedam suspensas
e que eu me ausento, etérea, em dores de espera,
(e sou poema, e sou quimera...)
… de uma só palavra, dum só instante.

E que, na ausência, o corpo se eleva e já é pó,
e já é apenas e tão só …
o eco desconcertante e manifesto
num ímpeto de sons silenos de sinos em lamento.

… e vento, e vento!




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