Gatafunhos

Data 20/01/2011 16:07:17 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Confusa
Demente
Descrente
Lágrima minha
Sem poente
Rola, rodopia
E não se conforma sozinha
Arrepia
E sofre
Sem norte
Por sorte
D’uma'lma minha

E é esteira
E é caleira
E é chuva miudinha a sarapintar as vidraças
Espelho trancando a noite
Dia clareando a sorte
E eu sou sonho
E levo comigo a desgraça
E sou chalaça
Sem alma
E sou garça no rio
No meu rio
E sou cio no mar
No teu mar
E fome no teu corpo
A esmagar-me
O baixo ventre
E sou mulher simplesmente
E sou gente
Gente que sente
Desacerto d’uma lágrima minha

E é somente
Um pingo de luar
A irrigar a plebe
Sortilégio d’um carisma sem graça
Dá-me a sua graça
E é a noite
Sem fundo
E é o dia soturno
E é o mundo
Sem mundo
E são olhos pardos
E lobos a descer da montanha
Uivos laicos
Desacertos no meu colo fechado
E acervos
E cardos
E giestas
E tojos
E rosmaninhos
Gatafunhos nos meus olhos

E são musgos
E ventos tardios nos socalcos
E talentos nos estios
E é a fome
É a fome
A estalar-me os ossos
E são esmolas
E estolas a aplaudir os chacais
E jornais funcionais
Nas mãos do pobres
Mendigos a acudir nos abrigos sepulcrais

E eu sou um magote a trote
Em busca de jóias raras, tão raras
E os meus olhos são malhas cismadas
Nos teus
E os teus são-me adornos baptismais



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