...como de palavras para a boca

Data 06/02/2011 14:54:17 | Tópico: Crónicas

Às vezes pergunto-me se há palavras que cheguem. É que elas gastam-se tão vertiginosamente, às vezes tão levianamente, que temo morram bocas à míngua delas...
E não me venham dizer que para a fome, basta um olhar de sim - empatia. Ou um abraço de com - paixão. Palavras são essenciais. Há que plantar palavras com urgência, para a sobrevivência. Ou poupá-las como bem essencial, para que na sede nos valham como sinais de fogo na aridez extensa da nossa perdição - seja ela dentro de nós mesmos, ou fora de nós, no limiar de intraduções latentes.
Mas, enfim, no iminente esgotamento das palavras, ou no gritante desperdício delas, sempre nos restarão as inflecções. O tom, a força, o ritmo, a melodia, a humidade, a secura, a brandura, a rugosidade, a leveza, a profundidade, a ironia ou a graça.
E valha-nos a inocência do ouvido... porque, até uma palavra sem polimento, na boca da ingenuidade, pode ser de uma graciosidade acetinada e calorosa - assim o queira a boa-fé de quem a ouve!



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=174234