O LUAR DE SAPUCAIA: A HERDEIRA ( FINAL REEDITADO )

Data 07/02/2011 15:43:43 | Tópico: Contos -> Policiais

Jane se sentia aliviada. Parecia que tudo voltava ao normal em sua vida. Podia andar na rua sem medo agora...
Na delegacia de Sapucaia, o delegado fazia perguntas à Rubens:
_ Então sr Rubens, o senhor era " namorado" de Lorraine. Não notava algum comportamento diferente do normal?
_ Sim, algumas vezes.
_ E isso não lhe deixava preocupado? Se ela fosse uma assassina, por exemplo?
_ Não, ela não chegaria a tanto. Era apenas uma mulher amargurada pelos "fantasmas" do seu passado.
_ Ah, era? E pode me falar disso?
_ Tinha ciúmes do irmão. Não vivia bem com Adriana também. Resolveu ir embora de Sapucaia, e aí foi que a conheci no Rio.
_ Sim, entendo. E ela tinha parentes no Rio?
_ Apenas um primo chamado Breno. Que também já morreu.
_ Hum... Bem, e o senhor o conheceu também?
_ Sim, fomos apresentados por Lorraine. De vez em quando, saíamos os três.
_ Bem, por hoje é só. Mas aguarde notícias minhas, pretendo lhe chamar de novo.
_ Sim, estarei pronto quando me chamar. Até logo.
_ Até logo.
O delegado sabia que ele escondia muitas coisas, e já começava achar que ele seria o cúmplice de Lorraine.
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Jane recebeu um bilhete por debaixo da porta do escritório. Abriu curiosa. Por que alguém faria isso? Era só entregar em suas mãos...
O bilhete dizia:
'Jane, sei que matou Britto, se quiser maiores detalhes, vá até Sapucaia. Deixarei um envelope relatando tudo, embaixo de um dos bancos da praça.
O envelope será azul
ASS: Um amigo.'
Muito intrigante isso. Se a pessoa sabe, porque não vai direto ao delegado do caso? Isso está cheirando à armadilha. Será Rubens? Mas, que interesse ele teria agora em me eliminar, se Lorraine está morta e não pode reclamar a herança?
Vou direto para quem isso interessa: A polícia. Levarei o bilhete.
Determinda, tomou um banho e trocou de roupa.
Saiu e pegou mais uma vez o rumo de Sapucaia...
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Aquela praça já estava se tornando parte de sua vida. Observava Jane...
Dirigiu-se para a delegacia. Foi anunciada por um ajudante do delegado.
O delegado ficou surpreso com a visita:
_ Srta Jane, a herdeira de Patrick Lima? Pode mandar entrar sim.
Ela não gostaria de estar em uma delegacia, mas era isso que tinha de fazer. Foi direto ao assunto:
_ Sr delegado, obrigada por me receber. Estou com um bilhtee que foi deixado embaixo de minha porta. Leia, por favor.
Ela entregou ao delegado, aguardou instantes, ansiosa para que ele dissesse alguma coisa.
_ Srta Jane, pode ir até lá? Seria como isca. A pessoa que escreveu esse bilhte, com certeza vai estar lá escondida em alguma parte, ou mesmo sentada normalmente em um dos bancos da praça, para se certificar que apanhará o envelope azul.
_ Mas vou ficar visada se fizer isso. Corro risco sabendo a verdade. Prefiro sinceramente não saber de nada.
_ Ajude na investigação, por favor srta Jane. É nossa chance, os assassinatos podem estar todos interligados.
_ Ok, delegado. Mas digo-lhe com certeza que não foi Lorraine quem matou ou mandou matar Jorge Britto.
_ E como sabe?
_ Ela me confessou ser a mandante do assassinato de 3 pessoas quando estava bêbada: Adriana, Breno e Patrick. Rubens seu amante, cuidou de tudo para ela.
Lorraine não tinha interesse nenhum em matar o advogado, até porque, cedo ou tarde teria de entrar em contato com ele, para reclamar a herança.
_ Isso faz sentido. Ainda assim, preciso que faça o favor de ir até lá pegar o envelope.
_ Está bem, mas quero que um policial esteja sempre por perto, cuidando da minha segurança tanto aqui, como no Rio.
_ Será como deseja, fique tranquila.
Ela foi apresentada ao policial que estaria
à paisana, cuidando para que nada acontecesse com ela.
Saíram da delegacia, em direção à praça.Não demorou muito e Jane achou o envelope debaixo de um dos bancos. Uma pessoa observava atrás de uma árvore forndosa, e sorria com satisfação:
" Pronto. Está feito. Acabo de vez com a única pedra no meu sapato".
Jane abriu o envelope, e ficou de boca aberta quando soube finalmente quem matara o advogado. Guardou na bolsa e dirigiu-se de novo para delegacia, seguida do policial que a escoltava discretamente...
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Ao entrar na delegacia, Jane foi direto ao delegado, desta vez sem ser anunciada. Ele a esperava mesmo...
Entregou o envelope, ele abriu. Sua reação parecia de increduliadade.
"MAS TUDO É POSSÍVEL NESSE MUNDO"...
Jane foi dizendo com a calma que lhe era peculiar:
_ Uma coisa dessas não pode ser dada como certa. Alguém poderia querer incriminar essa pessoa.
_ Pode até ser isso srta Jane. Mas também pode ser verdade o que diz aqui. Terei de investigar.
_ Bem, acho que minha participação acaba aqui. Gostaria da segurança do policial pelo menos por duas semanas, pois volto para o Rio agora e quero me sentir segura lá também.
_ Sem problemas, srta Jane. A srta foi muito útil nessa investigação, eu agradeço.
Apertaram as mãos e Jane seguiu de volta ao Rio.
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Dias depois, o delegado tinha a certeza que a pessoa tinha mesmo assassinado Jorge Britto.
Bastava agora pedir a prisão preventiva, para que não "sumisse do mapa".
E Rubens também seria preso, pelos outros assassinatos...
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Rubens estava eufórico. Como sou inteligente! Pensava...
Uma viatura cuidava de levar alguém para a delegacia.
'Finalmente estou livre desse caso todo. Nunca mais volto aqui!'
Pegou sua inseparável mochila, e deu adeus à Sapucaia. Não imaginava que o delegado já sabia de toda verdade...
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Jane sentia uma sensação estranha... Seu sexto sentido lhe dizia mais uma vez: " CUIDADO".
Mas, quem lhe faria mal? Não, definitivamente estava imaginando coisas! Trataria de se acalmar.
O silêncio da noite não fazia com que ela dormisse. Pensava que aquelas alturas alguém estaria pagando pela morte de Britto. Olhava pela janela de seu quarto a lua, como sempre gostava de fazer em noites insones.
MAS NÃO ERA O LUAR DE SAPUCAIA... LÁ ERA MÁGICO!
Mergulhada em seus pensamentos, não percebeu que alguém entrara de mansinho, forçando a porta dos fundos, onde era a cozinha.
Ela voltava para a cama agora, tentava o sono novamente. Se remexia, e nada do sono aparecer. Resolveu tomar um copo de leite morno. Traria sono e mataria a fome, porque seu estômago já reclamava. Tinha o hábito de tomar leite de madrugada desde criança.
Acendeu a luz da cozinha.
ARREGALOU OS OLHOS QUANDO O VIU EM SUA FRENTE: ERA RUBENS!
Ele segurou os braços dela dominando-a. Jane gritou pedindo ajuda. Mas o guarda costas estava nocauteado, no chão da varanda da frente.
Ele lacrou a boca de Jane com uma mordaça.
Disse então, com a voz bem grossa:
_ Pensou que sairia dessa, sem que eu completasse meu último servicinho para Lorraine?
Ele ria com o desepero que os olhos dela mostravam...
Ele ainda não tinha pensado como matá-la.
"MAS NÃO DEIXARIA DE SER NAQUELA MADRUGADA."
Que lugar melhor para vingar Lorraine, do que a casa da priminha?
Ela teria de morrer ali mesmo. Deu vários socos em Jane, e o rosto dela já começava a ficar inchado... Se apanhasse mais um pouco estaria morta!
Foi quando o ruído das sirenes, tormaram-se bem fortes. A polícia estava ali! Mas como? Ele nocauteara o policial!
Jane já estava sem forças, lutando para sobreviver, as dores estavam mais fortes agora...
Ele teria de escapar dali, pulou para a casa da vizinha, a de D. Matilde... Escondeu-se no quintal escuro. Mas não contava com o cão que estava solto, vigiando a casa... Foi praticamente mutilado pelo cão, da raça pitbull. Seus gritos de socorro acordaram toda a vizinhança. Não foi difícil prender o sujeito, estava em carne viva! Entretanto, um dos tiros para afastar o cão, pegou em cheio. O cão caiu morto.
Jane estava presa na cozinha ainda, ouvia o barulho de tudo que acontecia do lado de fora, na vizinhança. Mas e o segurança, onde estava? Alguém teria que se lembrar dela.
A polícia entrou na casa de Jane, depois que viram o segurança caído, tonto, ainda no chão...
Encontraram-na finalmente... Agradecia silenciosamente à Deus.
O guarda quando fora nocauteado, ainda teve tempo, antes de cair no chão, para apertar o celular na chamada automática de emergência. E foi rastreada a chamada de socorro...
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Na delegacia de Sapucaia, dias depois, duas pessoas faziam uma careação:
Rubens e a esposa de Britto.
Ela era a mulher que matara o advogado.
Aconteceu assim:
Depois de tomar uma droga imperceptível na bebida, (que Rubens usara no caso de Breno) ela o deixou no chão, cortando os pulsos dele, para parecer suicídio.
O resto foi encenação...
Rubens havia persuadido Susane, (era esse o nome dela) à matar o marido, pois se metia muito no caso de Lorraine. Inclusive avisando ao delegado antes, que ela estava viva. Se Lorraine fosse presa, fatalmente Rubens seria também. Pois ela o levaria junto... Além do mais, estando viúva, eles poderiam se encontrar sem correr o risco de ser dada como adultera. Uma viúva poderia se relacionar com quem quisesse...
Assim, depois de tudo explicado, e de um julgamento, os dois pagaram por seus crimes. Terminando assim, com a série de assassinatos que começara com a mente doentia de Lorraine, seguida dos instintos assassinos de Rubens e a cabeça fraca, guiada apenas pela lúxúria de amante, da linda mulher de Jorge Britto.
Jane pode voltar à sua vida tranquila no Rio, passando os finais de semana em Sapucaia, principalmente quando a lua estava cheia e brilhante...
"Luar de Sapucaia, não tem igual", pensava observando da janela... Na casa que um dia, foi palco de tantas tramas e desarmonias...
Afinal, Jane pode dizer:
"FIM DO JOGO!"

FÁTIMA ABREU







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