Promessas de Salvação
I E eles continuam vindo Cavalgando seus sonhos Açoitados pelo chicote do pesadelo Na poeira da fome e da miséria Desembocando na abstrata noite de concreto Um pastel com caldo de cana por última Ceia Paga com o troco do carnê de um Baú Abarrotado de promessas de Felicidade II O doce da boca é uma ilusão do açúcar A cidade amarga com cheiro de diesel III A ganância vagueia procurando por todos Enquanto a sorte bebe cachaça no fundo do prostíbulo Ratos se perdem em labirintos de lares desconstruídos Sombras tortas vagando no preto da noite Nas esquinas das janelas através do vidro Nos esgotos do luxo girando pra lá e pra cá IV O dinheiro do mundo pertence aos mesmos Abutres do dia que devoram a noite E a fome do povo ronca na garganta No rente da navalha da fera que lhes explora Enquanto o pulso pulsar V Uma multidão pendurada no tempo Entre a crença e o mistério sem luz que os proteja Presos nas manchetes sangrentas dos jornais Vivendo as noticias do medo e mentiras sociais Enrolados no peixe da salvação Vendidos por um vigário ao preço de um conto VI O mesmo gado alimentado com projetos de futuro Apenas trocam de políticos e currais No eterno escambo de promessas por votos Viajando quilômetros para não sair do lugar Terminam soterrados nos escombros dos barracos Da mesma favela que lhes abriu os braços VII Os filhos do sertão anseiam a cidade Onde a fome os espera na calçada do Fast Food Sob a mesma marquise Adornada do grande EME Micrococáceas de Milionários e Miseráveis Habitando o mesmo Miasma do EME que os separa VIII Uma oração busca consolo no companheiro Divino Que olha a terra ardendo no calor dos cânticos de louvores Sob o Terço de Brilhantes dos Cardeais senhores do mundo E outros cobradores de pedágio para o céu IX Deitadas sobre os espinhos da coroa de um rei de pedintes Que recebeu na face o beijo da morte e prometeu voltar Descansam inocentes almas pálidas de olhos profundos Esquecidas que a salvação que lhes foi prometida Chegará apenas no dia que o mundo acabar
(AeSSeCê)
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