Hiato Poético

Data 14/02/2011 17:20:54 | Tópico: Textos -> Outros

Uma nova etapa começa. Vez ou outra, a caneta descansa sobre o papel rabiscado, rasurado, com manchas da caneca de café. O aspirante a poeta suspira, e encara o silêncio como um axioma por excelência, uma muralha neutra que apenas existe e que é necessária se viver. Após vários dias tragando este mesmo silêncio, a única coisa que resta é secar a caneca enquanto a chuva do verão desaba frases do lado de fora e o peito capta a mensagem de soslaio.

Tenho pensado bastante nos últimos dias. É excelente ter algo pelo que se orgulhar, ter amigos e familiares com quem partilhar, conquistar até a simpatia de desconhecidos. Um bom trabalho é feito com calma e em conjunto, ninguém consegue nada sozinho. É por saber que não estou remando solitário nesse barco que justifico a ausência de novos textos, estes que traduzem sentimentos e que as pessoas respondem elogiosas, lhe impulsionando a continuar, a seguir traduzindo, confiante.

Mas todo poeta é fatídico. O que nos é cena se revela no verso; o que é verso nos é o inverso e por aí vai, a vida flui pra que isso sempre contribua. Dessa maneira, a poesia funciona como uma aura solene perpassando nosso dia; poesia não se trata de arquitetura de versos, rimas fáceis, pobres, ricas, brancas, ABAB: o lado B verdadeiro é que o melhor poeta do mundo morreu no anonimato da sabedoria popular; soube ser eterno, soube só saber tocar.

Eu escrevo poesia porque eu escrevo poesia. Não há por quê. É um fato inconstante que me completa, ou me ajuda na minha pesquisa, que, no mínimo, me alivia. A poesia é a única arte que existe; é a ligação da lente do fotógrafo com a mente do fotografado; nada de gravura, é o contato da tela com o pincel, do escultor com o cinzel, do amor e do homem, a poesia é Deus, que também não tem nome.

“De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo” já dizia a Adélia Prado, tradutora fiel da sutileza. E é nesse hiato poético, como chamo, que me encontro. Talvez seja a hora de me focar na nova etapa, que é me fixar na Literatura; acho mesmo que é a hora de viver a minha própria poesia, aquela que está registrada no meu livro, aquela que me dá conselhos, aquela que não tem volta. E eis a explicação para os sumiços literários: estou vivendo novos dias, respirando os novos ares de velhos lugares, reencontrando a luz do meio dia nas estrelas do poente.

É tempo de renovação. Grato a Deus pela conquista; orgulhoso de mim pela coragem. Assim me cito para melhor dizer: “sendo assim, a vida se resolve sem promessas. São minhas as juras que ainda restam, ao lado da janela, guardadas… na caixinha do sal”. Fui ali temperar minha vida, amigos…

Hemisfério está pronto. Quero me aprontar também.







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