oito divagações para regressar devagar

Data 19/02/2011 01:12:20 | Tópico: Poemas


(segunda)

semel emissum volat irreparabile verbum"
(a palavra uma vez pronunciada voa irreparável)



há tanta coisa mordida no meu peito calado
essas coisas que abrutecem e magoam
que já não consigo dormir como dormia
ficar à chuva por dois minutos
descalça, desenhar pegadas na lama.
não sei descrever essas coisas
sei unicamente olhá-las
na linha fechada da exclusão
no seu interior sem nome.
há tantas coisas mordida ao cimo do meu ventre
ainda ontem ficavam ao meu colo
depressa as desabituei.
hoje são essas coisas mordidas
que piso com o meu peito pisado
acima do meu ventre
mas nenhum peso terá seu peso
a espessura exacta para as calar
e também a lenta mordedura
certa
de me fazer calar

É bem possível que já não regresse.



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