radiografia do poema

Data 21/02/2011 21:26:12 | Tópico: Poemas

para a minha karla


o peixe sim morre pelo anzol
o poema morre pela boca
o poema deve ser descarado e triste
o poema deve ser escarrado e belo
o poema não deve viver de beber estrelas
(porre de luz)
nem de gravar corações no braço
o poema deve ser chegada
mas de malas prontas para a partida
o poema deve ser um vômito
um olhar de pavor na primeira esquina
o poema não deve dever nada a ninguém
não se faz um poema com trinta dinheiros
nem com o olhar acanhado de corpos nus
no dia seguinte - no dia seguinte
quando as línguas se roçam e não dizem palavras
quando os corpos já se conhecem
e sabem o mapa do gozo
o caminho de um e outro amante se descobrindo num só (entranhas loucas do poema)
um poema não se faz adivinhando um firmamento
descobrindo mentirosas estrelas
um poema não se constrói de pau duro
e coxas abertas - não
um poema não se resume em ais
um poema se resume meia hora depois do amor
numa cozinha
numa frigideira
óleo quente
e dois ovos fritos mergulhados
na mesma fatia de pão


o poema...

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júlio



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