[O Adormecer das Ilusões]

Data 05/03/2011 18:21:18 | Tópico: Poemas

Da proporção entre as coisas,
pouco sabemos; assim,
erramos ora por excesso,
ora por falta de agir e de exprimir.

Mas aquilo sim, que era falta de senso,
pois, na ânsia de construir um transporte
para as suas ilusões de criança,
ele usou pregos de mata-burros
para firmar uma caixeta de goiabada!

Sob o peso e o impacto de tais cravos,
o frágil carrinho das ilusões desmantelou-se,
seus cacos ficaram espalhados na varanda,
e o menino, vário como toda criança,
pensou então num modo laçar estrelas,
queria, agora, ter um carro de fogo!
Logo viu: quis muito, pôde pouco...

De tanta falta de senso de proporção,
de tanto sonhar impossibilidades,
só lhe restou mesmo ir contemplar
os trens que partiam da cidade:
ali, sem ter de exercer vontades,
viu que o entardecer faz crescer o vazio,
e impõe esperas, ou adormece ilusões...

[Que sei eu de construir ilusões...
usando cravos de mata-burros?!
De esperas e vazios, sei alguma coisa...]


[Penas do Desterro, 13 de fevereiro de 2011]



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