No silêncio nocturno das coisas paradas, o paradigma das sombras salta das paredes para o chão, desce de degrau em degrau, e sobe nas cortinas fechadas na noite, como um acto teatral entrecortado.
Por uma janela entreaberta deixa-se entrar a luz da lua, prenhe de brancos e de cinzas, o qual ao longe permite ouvir o uivar dos cães, dementes pela alvura das estrelas, com crianças agitadas na loucura da macia infância.
O Teatro está em ruínas e há muito é pouso de prostitutas e outros vícios, que por ali deambulam seu revés, alimentados de lixo humano, cantando para esquecer o seu fado, mais triste que este rio, que poluído, defeca gases.
Tudo é escombros e lembranças de ter-se tido ali alguma coisa, alguma vez, com multidões aplaudindo de pé, pedindo por mais; mas uma janela desfalece de pobre e cai na rua em estilhaços, trazendo à realidade o nado-morto.
Jorge Humberto 10/03/11
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