
Desentrelaço o silêncio
Data 20/09/2007 13:29:53 | Tópico: Poemas -> Amor
| Oiço-te manhã de chuva, em latidos de cães, a dizer de mim, mais do que penso.
Desentrelaço o silêncio, e, gota a gota, uma a uma, escuto-te no arrepio de carraças fixas sobre o pelo. De carraças que se não amedrontam no bafo denso dum tempo.
Não mais que o silêncio a varrer o frio desta manhã.
Não mais que uma rosa amarela a enlaçar o rosto na timidez de um lenço. Este, que enroupa fio a fio, o cabelo espargido dos astros p'los cabeços.
Nos meus olhos a voracidade inconcebível de um fogo que arde extinto, sem combustível, sem oxigénio… Um fogo buliçoso e pleno a resvalar em lâminas desiguais, quais labaredas furtivas sobre vagas, no desacerto do verbo.
À força suprema de uma oscilação insana, abocanho o sal da lágrima que se não isenta de te amar na alma, de ser afago, recado de chuva e pranto no teu rosto no teu lábio entreaberto em que se oculta a prova de que a gota é mar, é mar principiado, Oceano aberto no mutismo silenciado do canto.
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